Intolerância à lactose pode ser revertida?

Vocês sabem que tudo na vida depende, certo? Sua intolerância à lactose é genética ou adquirida?

Se você sempre digeriu bem leite, iogurte e queijo e de repente para de conseguir digerir, investigue o intestino! Cerca de 30% da população mundial, principalmente em povos do norte da Europa e seus descendentes mantém a produção da enzima lactase durante toda a vida. Ou seja, não desenvolvem intolerância à lactose permanente. Mas podem desenvolver, em alguns momentos a hipolactasia secundária.

O que é hipolactasia secundária?

Acontece em pessoas geneticamente persistentes, perdem a enzima lactase em decorrência de doenças ou lesões no intestino, como doença celíaca, SIBO, doença inflamatória intestinal, infecções ou desnutrição. Se a causa for adequadamente tratada é comum, a lactase voltar a ser produzida e a intolerância some.

Nunca digeri bem leite, por quê?

A maior parte das pessoas possuem algum grau de intolerância à lactose. Isto é o que chamamos de hipolactasia primária, devido a não persistência da produção de lactase. Este é o padrão biológico de quase todos os mamíferos. Acontece pois muitas pessoas possuem um gene que faz com que a produção da enzima lactase — responsável por digerir a lactose — diminua progressivamente após a infância, já após desmame. Isso pode causar sintomas como gases, cólicas e diarreia ao consumir leite e derivados. Isso atinge cerca de 70% da população mundial. É a intolerância à lactose genética.

Mas, olha que interessante!! Em estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition (2024) os pesquisadores selecionaram indivíduos com esse genótipo de não persistência na produção de lactase e fizeram uma suplementação diária de lactose. Durante o estudo, eles analisaram:

  • A microbiota intestinal (as bactérias do intestino);

  • Os sintomas de intolerância;

  • E como essas mudanças se relacionavam.

Principais descobertas

  1. Adaptação bacteriana: após algumas semanas de consumo diário, a microbiota intestinal mudou significativamente, com aumento de bactérias capazes de fermentar a lactose.

  2. Redução dos sintomas: muitos participantes relataram menor desconforto intestinal ao final do período — mesmo sem aumento da produção de lactase. Essas bactérias produzem β-galactosidase, que quebra a lactose em glicose + galactose → transformadas em ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs). E, diferente de outras bactérias, as bifidobactérias não produzem gases a partir da lactose.

  3. Tolerância funcional: isso sugere que o corpo pode se adaptar pela ação das bactérias, e não apenas por mudanças genéticas ou enzimáticas. A atividade da β-galactosidase fecal dobrou. O teste de hidrogênio expirado (marcador de má digestão) caiu 1,5x e os sintomas permaneceram leves.

Na prática:
- A intolerância à lactose é genética, mas o limiar de tolerância é individual.
- Muitos intolerantes podem consumir pequenas a moderadas quantidades sem sintomas.
- A microbiota é chave na adaptação: com lactose regular, o intestino aprende a lidar melhor. Ou seja, um intestino bom é a chave mais importante!
- A restrição total nem sempre é necessária — o segredo é dose, frequência e contexto alimentar.

Lembre, entretanto, que além de intolerância ao carboidrato lactose, também existe a alergia às proteínas do leite. Precisa de ajuda? Marque sua consulta de nutrição: www.andreiatorres.com/consultoria

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Desafio HCl e teste do bicarbonato

O HCL (ácido clorídrico) é produzido no estômago e é fundamental para a digestão — especialmente das proteínas — e para a absorção de minerais como ferro, cálcio e zinco e vitamina B12. Produzimos HCl quando estamos com fome, quando consumimos proteína e quando estamos nervosos. Sem HCl a digestão fica prejudicada.

A betaína HCl é um suplemento extraído da beterraba, sendo a fonte natural mais significativa deste composto. Faz a função ácida do estômago, ajudando a:

• Ativar o pepsinogênio em pepsina

• Melhorar a digestão de proteínas

• Favorecer a absorção de ferro, zinco e B12

• Reduzir fermentação e disbiose

O desafio do HCl é uma forma polêmica de testar a acidez estomacal. Mas o que é este desafio?

Desafio HCl

Geralmente, o teste é feito com betaína HCl em cápsulas. A pessoa ingere uma cápsula de betaína HCl (100mg) com uma refeição proteica.

Observe se há sensação de aquecimento ou queimação no estômago.

  • Se sentir queimação leve ou calor epigástrico, seu estômago já tem acidez suficiente → suspenda.

  • Se não sentir nada, pode indicar baixa acidez. Com acompanhamento nutricional, a dose pode ser aumentada gradualmente até leve calor (sem desconforto). Esta estratégia é contra-indicada para pessoas com:

  • Gastrite ativa, úlcera ou refluxo grave;

  • Idosos com risco de sangramento,

  • Uso de anti-inflamatórios ou anticoagulantes.

Ao restaurar o pH ácido, a digestão melhora, a pepsina volta a agir e os sintomas de empachamento e fermentação diminuem. Mas lembre-se: A digestão começa na boca. Mastigue bem. Se não dá tempo de mastigar tudo, coma menos. Coma com consciência, com calma.

E o teste do bicarbonato?

O “teste do bicarbonato do arroto” (ou “teste do arroto com bicarbonato”) é um método caseiro e popular que muitas pessoas usam para avaliar a acidez do estômago — mas não é um teste validado cientificamente. A versão mais comum é assim:

  1. Em jejum, você mistura 1/4 de colher de chá de bicarbonato de sódio em meio copo de água.

  2. Bebe a mistura.

  3. Espera para ver em quanto tempo arrota.

A teoria por trás do teste é que o bicarbonato (uma substância alcalina) reage com o ácido clorídrico do estômago, produzindo dióxido de carbono (CO₂) — o gás que causaria o arroto.

Segundo a crença popular:

  • Se você arrotar em menos de 2 minutos, teria ácido suficiente (digestão normal).

  • Se demorar mais de 5 minutos, teria “pouco ácido no estômago” (hipocloridria).

O importante é observar-se. Ouça o seu corpo, ele tem muita inteligência.

👅 Benefícios de mastigar bem

  1. Estimula a produção de ácido clorídrico (HCL) — o ato de mastigar e saborear envia sinais ao cérebro para liberar enzimas e ácido no estômago.

  2. Reduz a sobrecarga digestiva — quanto mais triturado o alimento chega ao estômago, mais fácil é a ação do HCl e das enzimas.

  3. Melhora a absorção de nutrientes — partículas menores de alimento são melhor aproveitadas pelo intestino.

  4. Previne refluxo e gases — a digestão eficiente evita fermentação e desconfortos.

  5. Promove saciedade — mastigar lentamente permite que o cérebro perceba quando o corpo está satisfeito.

Cuidado

  • Não use se houver gastrite, úlcera ou refluxo ativo

  • Evite com anti-inflamatórios

  • Não combine com pancreatina (pH opostos)

  • Tome no meio da refeição, nunca em jejum

  • Não tome sem necessidade

🧠 A Betaína HCl não é para quem tem azia — é para quem perdeu o ácido que desperta a digestão. Também não é para quem quer emagrecer. Se você quer emagrecer deixe seu corpo produzir tudo o que precisa, com isso gasta energia. Se você toma enzimas sem necessidade, seu corpo não precisa produzí-las. Isso também vale para amilase, maltase, lactase, sacarase, DPP-IV, lipase, DAO, etc.

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📚 Yago MR, Frymoyer AR, Smelick GS, Frassetto LA, Budha NR, Dresser MJ, Ware JA, Benet LZ. Gastric reacidification with betaine HCl in healthy volunteers with rabeprazole-induced hypochlorhydria. Mol Pharm. 2013 Nov 4;10(11):4032-7. doi: 10.1021/mp4003738. Epub 2013 Sep 10. PMID: 23980906; PMCID: PMC3946491.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Metabolismo do álcool (etanol)

O metabolismo do etanol (álcool etílico) é o conjunto de reações bioquímicas que o organismo utiliza para absorver, oxidar e eliminar o álcool do corpo. A maior parte desse processo ocorre no fígado, embora pequenas quantidades também sejam metabolizadas no estômago e eliminadas pelos pulmões e rins.

1. Absorção do etanol

  • O etanol é absorvido rapidamente pelo trato gastrointestinal, principalmente:

    • 20% no estômago

    • 80% no intestino delgado

  • Como é uma molécula pequena e solúvel em água e gordura, ele difunde-se facilmente pelas membranas celulares e entra na circulação sanguínea.

  • A concentração máxima no sangue ocorre cerca de 30 a 90 minutos após a ingestão.

2. Metabolismo hepático (principal via)

Cerca de 90–95% do etanol ingerido é metabolizado no fígado, em três etapas principais:

Etapa 1 – Oxidação do etanol a acetaldeído

O NADH produzido aumenta a razão NADH/NAD⁺, o que tem consequências metabólicas importantes (ver abaixo).

Etapa 2 – Conversão de acetaldeído em acetato

O acetaldeído é tóxico — é o principal responsável pela ressaca e danos hepáticos. O acetato formado é menos tóxico.

Etapa 3 – Conversão do acetato em CO₂ e H₂O

3. Outras vias metabólicas (quando o consumo é alto)

Quando a via da ADH satura, o organismo usa sistemas secundários:

a) Microssomal (MEOS – sistema oxidativo do etanol no retículo endoplasmático liso)

  • Enzima principal: CYP2E1 (citocromo P450)

  • Usa NADPH e oxigênio

  • Aumenta com o uso crônico de álcool → indução enzimática

  • Gera radicais livres, contribuindo para o estresse oxidativo hepático

b) Catalase (peroxissomos)

  • Menos importante (≈ 2%)

  • Oxida etanol utilizando peróxido de hidrogênio (H₂O₂)

4. Consequências metabólicas do álcool

O excesso de NADH gerado nas reações anteriores causa desequilíbrio redox no fígado:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/