Estratégias terapêuticas na endometriose

A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória crônica caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora da cavidade uterina, causando dor pélvica, dismenorreia, dispareunia e, em muitos casos, infertilidade. Além dos sintomas ginecológicos, há forte associação com distúrbios gastrointestinais, frequentemente confundidos com síndrome do intestino irritável (SII) (Gonçalves et al., 2020).
Estudos recentes indicam um elo entre sensibilidade ao níquel (Ni) e endometriose, sugerindo que uma dieta pobre neste metal pode trazer benefícios significativos.

O Níquel na Alimentação e Seus Efeitos

O níquel é um metal amplamente distribuído no meio ambiente, cuja principal via de exposição em humanos é a dieta. Entre os alimentos ricos em níquel estão: tomate, cacau, alcaçuz, feijão, cogumelos, trigo integral, soja, cebola, alho, mariscos, nozes e alimentos enlatados (Borgi et al., 2015; Willers et al., 2013). Também está presente em muitas bijuterias.

O níquel exerce atividade estrogênica e pode afetar a mucosa intestinal, contribuindo para disbiose — um desequilíbrio da flora intestinal que prejudica a absorção de nutrientes e provoca sintomas gastrointestinais, como náuseas, gases, diarreia ou constipação (Gupta et al., 2015).

Evidências Científicas da Dieta Pobre em Níquel

Em estudo de intervenção publicado na Nutrients, 84 mulheres com endometriose e sintomas gastrointestinais foram submetidas a uma dieta pobre em níquel por três meses. Após o período, houve melhora significativa nos sintomas gastrointestinais, extra-intestinais e ginecológicos, incluindo dor pélvica crônica, dismenorreia e dispareunia (Gonçalves et al., 2020).

Outros estudos reforçam a associação entre alergia ao níquel e endometriose, com impacto direto na qualidade de vida e fertilidade (Borgi et al., 2015; Willers et al., 2013).

Dieta, Endometriose e Fertilidade

A exposição ao níquel pode reduzir a taxa de implantação embrionária, dificultando a gravidez em mulheres sensíveis ou intoxicadas pelo metal. Muitas vezes, essa condição é assintomática e detectada apenas por exames laboratoriais ou testes de alergia (Gupta et al., 2015).

Perspectivas Clínicas e Recomendações

  • Supervisão profissional: Dietas pobres em níquel reduzem a ingestão de alimentos ricos em nutrientes importantes (leguminosas, cereais integrais), portanto devem ser realizadas com acompanhamento médico e nutricional.

  • Abordagem integrativa: A dieta low-Ni pode ser combinada com outras estratégias alimentares estudadas na endometriose, como dieta anti-inflamatória, low-FODMAP e suplementação de ômega-3 (Lemos et al., 2023; Mazza et al., 2023).

Apesar da necessidade de mais evidências, os dados disponíveis sugerem que a avaliação e o controle da ingestão de níquel podem ser um avanço significativo no tratamento integrativo da doença.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Creatina não é recomendada na endometriose

De acordo com um estudo, o acúmulo de creatina no fluido peritoneal e nas células estromais endometriais ectópicas (CEEs) de pacientes com endometriose contribui para a progressão da doença. A suplementação de creatina reduz as concentrações celulares de ferro, mitigando o estresse oxidativo e a peroxidação lipídica, o que aumenta a viabilidade celular e previne a ferroptose em condições de alto teor de ferro. Essa resistência à ferroptose promove o desenvolvimento da endometriose.

O estudo sugere que a interação da creatina com a proteína príon (PrP) e seu papel na inibição da captação de ferro podem oferecer insights sobre novas estratégias terapêuticas para a endometriose. No entanto, isso implica que a creatina pode não ser benéfica para o tratamento da endometriose, mas sim contribuir para sua progressão.

Referência

S Chen et al. Creatine Promotes Endometriosis by Inducing Ferroptosis Resistance via Suppression of PrP. Advanced science (Weinheim, Baden-Wurttemberg, Germany) (2024).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Interpretação de HLAs para doença celíaca

Você saberia interpretar este exame?

Falo sobre esta interpretação neste vídeo:

Resumidamente, o resultado acima mostra uma predisposição genética ausente ou muito baixa para doença celíaca. Para haver predisposição significativa à doença celíaca, é necessário ter DQ2.5 completo (DQA105 + DQB102) ou DQ8 completo (DQA103 + DQB103:02), os quais não estão presentes no seu caso.

A presença isolada de DQA1*05 sem o alelo DQB1*02 confere risco mínimo ou quase nulo. Sem DQ2 e sem DQ8, a possibilidade de doença celíaca fica praticamente excluída, dada a altíssima sensibilidade negativa desse teste (praticamente 100%).

Lembre contudo, que o resultado positivo (com DQ2 ou DQ8) sozinho não confirmaria a doença celíaca, já que muitos portadores dessas variantes genéticas não desenvolvem a doença.

Estatísticas de prevalência

  • Mais de 95% dos celíacos possuem DQ2, e os demais 5–10% tipicamente têm DQ8.

  • No entanto, cerca de 30–40% da população geral carrega essas variantes genéticas sem desenvolver a doença.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/