Acidemia Metilmalônica: Tudo o que você precisa saber sobre diagnóstico, genética e tratamento

A acidemia metilmalônica (AMM ou MMA ou MAM) ou acidúria metilmalônica é uma doença metabólica rara que afeta a capacidade do corpo de processar certos aminoácidos essenciais. Embora possa ser grave, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem melhorar significativamente o prognóstico.

O que é a acidemia metilmalônica?

A AMM é causada por defeitos na enzima metilmalonil-CoA mutase (MMUT) ou em genes relacionados ao metabolismo da vitamina B12 (como MMAA, MMAB e MMACHC). Esses defeitos levam ao acúmulo de ácido metilmalônico, causando acidose metabólica, crises metabólicas e, em casos graves, comprometimento de órgãos vitais.

A doença pode se apresentar de formas variadas, dependendo do tipo genético e da gravidade da mutação.

Genética e polimorfismos de risco

A AMM é geneticamente heterogênea. Os principais subtipos são:

  • mut⁰ (deficiência total da MMUT): forma grave, com sintomas neonatais intensos. Polimorfismos comuns: c.19C>T, c.52C>T, c.91C>T, c.278G>A, c.322C>T.

  • mut⁻ (deficiência parcial da MMUT): sintomas podem aparecer na infância precoce; polimorfismos: c.299A>G, c.566A>T, c.828G>C, c.947A>G, c.2080C>T.

  • cblA (defeito na entrega de adenosilcobalamina): geralmente leve, bom prognóstico; variantes: c.394C>T, c.567dupT.

  • cblB (defeito na síntese de adenosilcobalamina): variabilidade clínica; variantes: c.96T>C, c.174_175delAG.

  • cblC (defeito na síntese de adenosilcobalamina e metilcobalamina): formas neonatais graves; variantes: c.394C>T, c.567dupT, c.609G>A.

Os polimorfismos identificam o risco, ajudam no diagnóstico precoce e orientam a expectativa de resposta ao tratamento.

Idade típica de suspeita clínica

  • Neonatal (primeiras semanas de vida): formas mut⁰ ou cblC graves → crises metabólicas intensas, vômitos, letargia, acidose grave.

  • Infância precoce (1–12 meses): mut⁻ e cblB → sintomas intermitentes, atraso no crescimento e crises desencadeadas por infecção ou jejum.

  • Infância tardia / adolescência: cblA e formas leves de mut⁻ → sintomas mais brandos, crises menos frequentes.

O teste do pezinho expandido é essencial para diagnóstico precoce, permitindo intervenção antes do primeiro episódio grave.

Tratamento

O tratamento da AMM depende do subtipo e da gravidade:

Crise aguda

  • Suspender temporariamente proteínas e fornecer calorias por via IV (glicose e lipídios) para evitar catabolismo.

  • L-carnitina IV, glicina (250mg/kg/dia) e B2 para eliminar ácidos orgânicos acumulados.

  • Correção de acidose metabólica e hiperamonemia (diálise em casos graves).

  • Hidroxocobalamina IV nos subtipos responsivos (cblA, cblB, alguns mut⁻).

  • Antibióticos (como metronidazol) para reduzir produção intestinal de propionato.

Tratamento crônico

  • Dieta hipoproteica controlada: limitar aminoácidos precursores do propionil-CoA.

  • Suplementos: L-carnitina, vitamina B12 (hidroxocobalamina) nos subtipos responsivos.

  • Acompanhamento metabólico regular: monitoramento de ácido metilmalônico, função renal, crescimento e desenvolvimento.

  • Transplante hepático ou hepatorrenal em casos graves, para reduzir crises metabólicas.

Observação importante: a adenosilcobalamina é o cofator ativo da MMUT, mas não é administrada diretamente via intravenosa; usa-se hidroxocobalamina, que é convertida em AdoCbl dentro das células.

Prognóstico

O prognóstico depende de vários fatores:

  • mut⁰: formas graves, mortalidade alta na infância sem manejo intensivo.

  • mut⁻: variabilidade; boa sobrevida com tratamento adequado.

  • cblA: geralmente bom; expectativa de vida próxima do normal.

  • cblB / cblC: dependente da resposta à vitamina B12 e controle metabólico; risco de complicações neurológicas e renais.

Repercussões cognitivas

As repercussões cognitivas são comuns, especialmente em:

  • formas graves (mut⁰, cblC neonatal)

  • crises metabólicas repetidas ou não tratadas

Principais efeitos:

  • Atraso global do desenvolvimento

  • Déficits de memória, atenção e funções executivas

  • Problemas de coordenação motora

  • Em casos graves, atraso mental profundo

Fatores que melhoram o prognóstico cognitivo: diagnóstico precoce, controle metabólico adequado e tratamento com hidroxocobalamina nos subtipos responsivos.

E se ácido metilmalônico aumentar em outras fases da vida?

O ácido metilmalônico pode aumentar em qualquer pessoa, mesmo que não tenham mutações de MMUT. Isto pode acontecer no caso de deficiência de B12, causada por abuso e álcool, dieta vegana sem suplementação, disbiose, medicações inibidoras da bomba de prótons, envelhecimento e hipocloridria. As consequências da deficiência de B12 nestes casos inclui: elevação de homocisteína, fadiga, depressão, hiperreflexia, neuropatia periférica, infecções do trato respiratório superior, desordens gastrointestinais, anemia (mascarada muitas vezes pelo ácido fólico, vitamina B9), doença isquêmica do coração, acidente vascular cerebral e trombose venosa profunda. O tratamento neste caso é a administração de adenosilcobalamina, retirada do álcool e tratamento da disbiose, conforme o caso. Monitoramos o sucesso da terapia com exames metabolômicos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O que são senoterapêuticos?

O envelhecimento é um processo complexo em que a pele perde sua funcionalidade e vitalidade. Um dos protagonistas desse declínio são as células senescentes: células que deixam de se dividir, mas permanecem ativas, desencadeando efeitos irreversíveis no tecido.

Células senescentes: são células que pararam de se dividir, mas não morrem. Elas se acumulam com a idade ou após danos (como radiação, inflamação, estresse oxidativo).

Mas como identificamos essas células? Entre os biomarcadores de senescência, o mais confiável é a enzima senescence-associated beta-galactosidase (SA-β-gal). Outros sinais incluem a presença de uma resposta estável de dano ao DNA (DDR), o acúmulo de espécies reativas de oxigênio (ROS) e o fenótipo secretor associado à senescência (SASP) — que libera moléculas inflamatórias capazes de comprometer a pele vizinha.

Células senescentes secretam moléculas inflamatórias e pró-envelhecimento (o chamado SASP – Senescence-Associated Secretory Phenotype) que prejudicam os tecidos e estão ligadas a envelhecimento, câncer, fibrose, Alzheimer, diabetes, entre outros.

Então como frear este processo? Com estratégias de estilo de vida saudável (atividade física, sono de qualidade, alimentação balanceada, gerenciamento do estresse) e a senoterapia: estratégias para eliminar ou neutralizar células senescentes. 

Senoterapêuticos de origem natural, especialmente polifenóis como quercetina, naringenina e apigenina, têm se mostrado promissores ao reduzir o SASP e prevenir o acúmulo dessas células — possivelmente bloqueando sinais que promovem sua sobrevivência

"Senoterapêutico" é um termo usado em biomedicina para se referir a estratégias, substâncias ou intervenções que atuam sobre células senescentes. Um senoterapêutico é qualquer abordagem que:

  1. Elimina células senescentes (essas drogas são chamadas senolíticos).

    • Exemplo: dasatinibe, quercetina, navitoclax.

  2. Modula a atividade dessas células, reduzindo os efeitos nocivos sem necessariamente destruí-las (senomórficos ou senostáticos).

    • Exemplo: rapamicina, metformina.

Ou seja, terapias senoterapêuticas têm como objetivo reduzir o impacto negativo das células senescentes no organismo, visando prolongar a saúde (healthspan) e até retardar aspectos do envelhecimento. Derivados de plantas são muito interessantes neste sentido:

As principais ações destes fitoquímicos com potencial senoterapêutico são a atividade antioxidante e antiinflamatória e a modulaçãod a microbiota intestinal. Você pode aprender mais sobre estes temas nos cursos online:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genética e metabolômica do lipedema

O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo, principalmente em membros inferiores, muitas vezes associada a dor, hematomas fáceis e dificuldade na perda de gordura com dieta ou exercício. Embora sua fisiopatologia ainda não seja completamente elucidada, estudos recentes têm explorado aspectos genéticos e metabolômicos dessa condição para entender melhor os mecanismos envolvidos.

O lipedema não é apenas um excesso de gordura; envolve:

  • Metabolismo lipídico alterado no tecido adiposo.

  • Inflamação crônica local.

  • Alterações no metabolismo de aminoácidos e energia.

  • Disfunção vascular e linfática subclínica.

A metabolômica nos ajuda a estudar tudo isso. Metabolômica é o estudo sistemático de metabólitos pequenos (como aminoácidos, lipídios, açúcares, ácidos orgânicos) em células, tecidos ou fluidos biológicos. Ela permite mapear o estado funcional do metabolismo de um organismo ou tecido em determinado momento.

No caso do lipedema, a metabolômica ajuda a identificar alterações específicas no tecido adiposo subcutâneo que diferenciam a doença da obesidade comum ou de outros edemas.

1. Alterações no metabolismo lipídico

Pacientes com lipedema apresentam alterações na composição e função do tecido adiposo. Observa-se aumento de adipócitos hipetrofiados, especialmente no tecido subcutâneo das pernas, mas sem o mesmo grau de resistência à insulina que o obesidade clássica.

Estudos metabolômicos identificaram diferenças em ácidos graxos livres e triglicerídeos específicos, sugerindo que o tecido adiposo do lipedema tem um metabolismo lipídico alterado.

2. Inflamação crônica de baixo grau

O tecido adiposo do lipedema apresenta infiltrado inflamatório aumentado, com presença de macrófagos e citocinas pró-inflamatórias. Metabolômica mostra alteração de metabólitos ligados a stress oxidativo e inflamação, como aumento de radicais livres, peroxidação lipídica e produtos da via do ácido araquidônico. Esses metabólitos podem contribuir para a sensibilidade à dor característica do lipedema.

3. Alterações nos aminoácidos e metabolismo energético

Alguns estudos detectaram alterações em aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), implicando desregulação na sinalização de insulina e no metabolismo energético local.

Há sugestão de que o tecido lipedematoso tem diferença na oxidação mitocondrial, podendo favorecer armazenamento de gordura ao invés de utilização como energia.

4. Metabolismo vascular e linfático

Metabolômica indica desequilíbrios em metabólitos ligados à função endotelial e permeabilidade vascular, o que pode explicar o edema e acúmulo de fluido intersticial frequentemente observado. Alterações nos glicolípides e esfingolípides podem afetar integridade da microvasculatura e facilitar inflamação local.

5. Potenciais biomarcadores

Pesquisas iniciais sugerem que determinados lipídios e aminoácidos podem servir como biomarcadores do lipedema, diferenciando-o de obesidade simples. Isso inclui variações em fosfolipídios, esfingolipídios e certos ácidos graxos oxidados.

Essas alterações metabolômicas ajudam a explicar a resistência do lipedema a dietas, a sensibilidade à dor e a propensão ao edema. O estudo desses perfis metabólicos pode abrir caminho para diagnósticos mais precisos e terapias direcionadas, incluindo intervenções farmacológicas e nutricionais.

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