Genética e metabolômica do lipedema

O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo, principalmente em membros inferiores, muitas vezes associada a dor, hematomas fáceis e dificuldade na perda de gordura com dieta ou exercício. Embora sua fisiopatologia ainda não seja completamente elucidada, estudos recentes têm explorado aspectos genéticos e metabolômicos dessa condição para entender melhor os mecanismos envolvidos.

O lipedema não é apenas um excesso de gordura; envolve:

  • Metabolismo lipídico alterado no tecido adiposo.

  • Inflamação crônica local.

  • Alterações no metabolismo de aminoácidos e energia.

  • Disfunção vascular e linfática subclínica.

A metabolômica nos ajuda a estudar tudo isso. Metabolômica é o estudo sistemático de metabólitos pequenos (como aminoácidos, lipídios, açúcares, ácidos orgânicos) em células, tecidos ou fluidos biológicos. Ela permite mapear o estado funcional do metabolismo de um organismo ou tecido em determinado momento.

No caso do lipedema, a metabolômica ajuda a identificar alterações específicas no tecido adiposo subcutâneo que diferenciam a doença da obesidade comum ou de outros edemas.

1. Alterações no metabolismo lipídico

Pacientes com lipedema apresentam alterações na composição e função do tecido adiposo. Observa-se aumento de adipócitos hipetrofiados, especialmente no tecido subcutâneo das pernas, mas sem o mesmo grau de resistência à insulina que o obesidade clássica.

Estudos metabolômicos identificaram diferenças em ácidos graxos livres e triglicerídeos específicos, sugerindo que o tecido adiposo do lipedema tem um metabolismo lipídico alterado.

2. Inflamação crônica de baixo grau

O tecido adiposo do lipedema apresenta infiltrado inflamatório aumentado, com presença de macrófagos e citocinas pró-inflamatórias. Metabolômica mostra alteração de metabólitos ligados a stress oxidativo e inflamação, como aumento de radicais livres, peroxidação lipídica e produtos da via do ácido araquidônico. Esses metabólitos podem contribuir para a sensibilidade à dor característica do lipedema.

3. Alterações nos aminoácidos e metabolismo energético

Alguns estudos detectaram alterações em aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), implicando desregulação na sinalização de insulina e no metabolismo energético local.

Há sugestão de que o tecido lipedematoso tem diferença na oxidação mitocondrial, podendo favorecer armazenamento de gordura ao invés de utilização como energia.

4. Metabolismo vascular e linfático

Metabolômica indica desequilíbrios em metabólitos ligados à função endotelial e permeabilidade vascular, o que pode explicar o edema e acúmulo de fluido intersticial frequentemente observado. Alterações nos glicolípides e esfingolípides podem afetar integridade da microvasculatura e facilitar inflamação local.

5. Potenciais biomarcadores

Pesquisas iniciais sugerem que determinados lipídios e aminoácidos podem servir como biomarcadores do lipedema, diferenciando-o de obesidade simples. Isso inclui variações em fosfolipídios, esfingolipídios e certos ácidos graxos oxidados.

Essas alterações metabolômicas ajudam a explicar a resistência do lipedema a dietas, a sensibilidade à dor e a propensão ao edema. O estudo desses perfis metabólicos pode abrir caminho para diagnósticos mais precisos e terapias direcionadas, incluindo intervenções farmacológicas e nutricionais.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Protegendo a matriz extracelular da pele

A matriz extracelular (MEC) da pele é uma rede de proteínas (como colágeno, elastina, fibronectina e laminina) e polissacarídeos (como glicosaminoglicanos e ácido hialurônico) que dá suporte estrutural, firmeza, elasticidade e hidratação à pele. Com o tempo, fatores internos (envelhecimento) e externos (radiação UV, poluição, estilo de vida) degradam a MEC, resultando em flacidez, rugas e perda de vitalidade.

Aqui estão formas de proteger e estimular a MEC da pele:

1. Proteção contra agressões externas

  • Filtro solar diário (FPS 30+): a radiação UV é o principal fator que degrada colágeno e elastina.

  • Proteção contra poluição e radicais livres: antioxidantes tópicos (vitamina C, E, resveratrol, niacinamida) ajudam a neutralizar danos oxidativos.

2. Estímulo da síntese da MEC

  • Retinoides (tretinoína, retinol, retinaldeído): estimulam fibroblastos a produzirem colágeno e elastina.

  • Peptídeos sinalizadores: ajudam a ativar a regeneração da MEC.

  • Ácido hialurônico: hidrata e contribui para o volume da matriz.

3. Nutrição e estilo de vida

  • Alimentação rica em antioxidantes (frutas vermelhas, vegetais, chá verde, cúrcuma).

  • Adequada ingestão de proteínas para fornecer aminoácidos ao colágeno.

  • Evitar tabaco e excesso de álcool, que aceleram a degradação da MEC.

4. Procedimentos dermatológicos que fortalecem a MEC

  • Laser fracionado, radiofrequência, ultrassom microfocado: estimulam fibroblastos e remodelam colágeno/elastina.

  • Microagulhamento: induz a produção de fatores de crescimento e colágeno.

  • Bioestimuladores injetáveis (ex.: ácido poli-L-lático, hidroxiapatita de cálcio): induzem síntese de matriz extracelular.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genes que influenciam o status de vitamina B12

A deficiência de B12 pode acontecer por vários motivos:

  • Redução na capacidade de absorção em idosos e pessoas com doenças inflamatórias intestinais (Crohn, colite ulcerativa), doença celíaca, pacientes pós-cirurgia bariátrica

  • Consumo insuficiente, por dietas restritas em B12

  • Uso de medicamentos (como metformina, fenformina e inibidores da bomba de prótons)

  • Infecção por HIV

  • Anemia perniciosa (investigar anticorpos anti-FI)

  • Alterações na microbiota intestinal

  • Polimorfismos genéticos

Muitos genes influenciam a absorção e metabolismo da B12. Estes genes aprecem circulados na cor azul na imagem abaixo:

1. Início da digestão (boca e estômago)

  • Saliva: a vitamina B₁₂ (B₁₂) se liga a proteínas (HC/TCN1, também chamada haptocorrina).

  • Estômago: As células parietais produzem ácido e o fator intrínseco (IF), essencial para absorção posterior.

Genes envolvidos: FUT2, FUT6 → relacionados a glicosilação e ao microbioma (influenciam infecções como H. pylori, que pode reduzir absorção).

O FUT2 (fucosiltransferase 2) é um dos genes mais estudados em relação à absorção de B12. Codifica uma enzima responsável por adicionar resíduos de fucose a glicanos, formando antígenos do grupo sanguíneo ABO nas secreções e superfícies mucosas. Ele tem relação tanto com o muco intestinal quanto com a absorção de vitamina B12:

O FUT2 determina o status de “secretor” ou “não-secretor”:

  • Secretores: expressam antígenos ABO nas secreções (muco, saliva, leite materno, etc.). Esses glicanos no muco funcionam como “receptores” e “nutrientes” para a microbiota intestinal.

  • Não-secretores (FUT2 nulo): não expressam esses antígenos no muco. Indivíduos não-secretores tendem a ter microbiota intestinal diferente (menos Bifidobacterium, por exemplo). Isso influencia barreira mucosa, imunidade e até suscetibilidade a infecções (ex.: norovírus). Indivíduos não-secretores tendem a ter níveis mais baixos de B12. A absorção de B12 no íleo depende do complexo B12–fator intrínseco ligar-se ao receptor cubilina. Acredita-se que isso ocorra porque a alteração no muco e na composição da microbiota afeta a produção, metabolismo ou disponibilidade de B12. Além disso, mudanças nos glicanos podem interferir na interação do fator intrínseco com a mucosa.

    • rs602662 (GG): tem níveis de B12 muito inferiores aos indivíduos AA.

    • rs492602 (AA e AG): possuem menores níveis de B12 do que indivíduos GG

    • rs601338: indivíduos AA tem menor capacidade de fixação de bifidobactéria nas mucosas do trato gastrointestinal, maior tendência à disbiose. Por outro lado, indivíduos GG são mais susceptíveis ao H. pylori, que gera danos à mucosa do estômago e maior interferência na absorção de B12.

2. Duodeno e Íleo terminal

O ácido libera a vitamina B₁₂ ligada às proteínas. A vitamina então se liga ao fator intrínseco (IF) para resistir à degradação.

Genes destacados: PON1, CUBN → participam do transporte do complexo B₁₂-IF através do íleo terminal (absorção intestinal).

  • CUBN rs11254363: alelo de risco é o A

3. Circulação no sangue

Após ser absorvida, a vitamina B₁₂ circula ligada a duas proteínas:

  • HC (haptocorrina)

  • TC/TCN2 (transcobalamina II) → forma biologicamente ativa para entrega aos tecidos.

    • TCN2 rs1801198: G é o alelo de risco

    • TC2 rs9606756: G é o alelo de risco

Estas proteínas ligam-se a TCbIR/CD320 → receptor de transcobalamina que permite a entrada da vitamina nas células.

4. Transporte e processamento intracelular

Uma vez dentro da célula, a vitamina B₁₂ passa por vários compartimentos e proteínas para se tornar funcional:

  • Lisosoma: liberação mediada por LMBD1, LMBRD1, ABCD4.

  • Citoplasma:

    • MTR (metionina sintase) e MTRR (metionina sintase redutase) usam a forma metilcobalamina.
      MTHFR influencia a regeneração de metilfolato, necessário para a reação da metionina sintase.

  • Mitocôndria:

    • MUT (metilmalonil-CoA mutase) usa a forma adenosilcobalamina.

    • MMAB, MMAA, MMACHC → participam da conversão da B₁₂ em suas formas ativas.

    • CLYBL, PRELID2 → envolvidos em transporte/metabolismo mitocondrial.

    • Núcleo: genes regulatórios como DNMT2, MS4A3, relacionados a metilação e regulação epigenética.

5. Armazenamento no fígado

O fígado funciona como reserva principal de vitamina B₁₂, reciclando e redistribuindo conforme necessário. Uma série de outras enzimas podem ser necessárias. Quer aprender mais sobre genética e nutrição? Acesse o curso Genômica nutricional

Alterações no consumo, na saúde dos órgãos ou genéticas podem influenciar os níveis de B12, tornando-os subótimos. Já no caso de aumento exagerado de B12 as causas parecem outras.

B12 pode aumentar muito?

Sim, suplementação exagerada é o principal motivo. Mas B12 também podem aumentar em caso de inflamação ou mesmo câncer. O processo inflamatório estimula os receptores celulares de membrana via Tol/ Like receptor (TLr) desviando a sinalização do IRS ( Insulin receptor substrate ) para via da serina quinase para evitar uma possível acidose metabólica com possível destruição da membrana externa mitocondrial.

Esses mediadores inflamatório aumentam os carreadores Holo Hc, transcobalamina I que carregam uma maior quantidade da vitamina B12 elevando para os níveis para patamares muitas vezes acima de 2000.

Podemos avaliar B12 sérica, Holo TC no plasma, homocisteína, ácido metilmalônico (soro ou urina). Falo destes exames neste outro texto.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/