Má nutrição materna e alterações do neurodesenvolvimento fetal

A desnutrição e as alterações no microbioma intestinal da mãe afetam o desenvolvimento neurológico precoce, particularmente nos primeiros 1000 dias de vida (da gestação até os dois primeiros anos). Esse período é crítico para o desenvolvimento cerebral, e fatores ambientais como nutrição e a composição do microbioma intestinal podem moldar profundamente os desfechos cognitivos, comportamentais e neurológicos.

Desnutrição e neurodesenvolvimento

A desnutrição infantil (tanto subnutrição quanto má qualidade nutricional) está fortemente associada a:

  • Redução no volume cerebral total.

  • Atrasos na mielinização.

  • Deficiências cognitivas duradouras (especialmente em linguagem, atenção e função executiva).

Durante o desenvolvimento, o cérebro tem altas demandas metabólicas e nutricionais (ácidos graxos essenciais, ferro, zinco, vitaminas B, etc.). A deficiência desses elementos prejudica vias de sinalização cruciais, neurogênese e plasticidade sináptica (Coley, & Hsiao, 2021).

Microbioma intestinal como mediador

O microbioma intestinal — conjunto de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal — é cada vez mais reconhecido como um modulador do eixo intestino-cérebro. Ele influencia:

  • A produção de neurotransmissores e neuromoduladores (ex: GABA, serotonina).

  • A resposta imune (inflamação sistêmica e neuroinflamação).

  • O metabolismo de nutrientes críticos para o cérebro.

Bebês desnutridos geralmente apresentam microbiota imatura e disbiótica (composição anormal), o que compromete o desenvolvimento saudável do cérebro.

Evidências experimentais e clínicas

  • Modelos animais: Camundongos com desnutrição e microbiota alterada apresentam déficits em aprendizado e memória, alterações na arquitetura cerebral e níveis anormais de citocinas inflamatórias.

  • Estudos clínicos em humanos: Crianças em países de baixa e média renda mostram correlação entre microbioma imaturo, baixo ganho ponderal e baixo desempenho em testes cognitivos.

Além disso, experimentos de transplante fecal mostraram que a microbiota de crianças desnutridas pode, por si só, induzir falhas de crescimento e problemas comportamentais quando transplantada em modelos animais.

Janela crítica de intervenção

A modulação do microbioma e da nutrição nesse período sensível pode ser uma oportunidade poderosa para:

  • Prevenir déficits cognitivos.

  • Reduzir desigualdades de desenvolvimento.

  • Potencializar programas de intervenção precoce (como suplementação alimentar e probióticos/microbiota direcionada).

O desenvolvimento neurológico infantil não é determinado apenas pela genética ou pela nutrição isolada, mas também por interações complexas entre dieta, microbioma e maturação cerebral. A desnutrição e a disbiose microbiana são fatores críticos e modificáveis que afetam profundamente o neurodesenvolvimento. Intervenções precoces e integradas podem ter efeitos duradouros na saúde cognitiva e emocional.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Você é o que as suas bactérias intestinais comem

A microbiota intestinal (trilhões de microrganismos no nosso intestino) atua como um elo entre a dieta e a saúde. Ela transforma alimentos em metabólitos que afetam o metabolismo, a inflamação e até o sistema imunológico!

Dietas saudáveis tendem a ser ricas em fibras, gorduras insaturadas e polifenóis, e pobres em gorduras saturadas, sal e carboidratos refinados. Já o padrão alimentar ocidental moderno — ultraprocessados, calorias densas e baixo teor de fibras — está associado a obesidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares.

Microbiota como mediadora

A microbiota age como um fator ambiental importante, interagindo com nutrientes da dieta para gerar metabólitos (como AGCC, ácidos biliares secundários e aminas) que modulam diretamente a saúde do hospedeiro . Esses metabólitos influenciam:

  • Inflamação sistêmica

  • Integridade da barreira intestinal

  • Sensibilidade à insulina

  • Função metabólica geral

3. Impactos de padrões alimentares

Dieta ocidental

  • Baixa variedade microbiana e menor produção de AGCC

  • Predominância de bactérias pró-inflamatórias

  • Aumento da permeabilidade intestinal (endotoxemia)

  • Contribuição para resistência insulínica, obesidade e doenças crônicas

Dieta Mediterrânea e baseada em plantas

  • Alta diversidade microbiana, com aumento de Bifidobacterium, Bacteroides, Faecalibacterium, Roseburia

  • Elevação dos AGCC (butirato, acetato, propionato), que reforçam a barreira intestinal, reduzem inflamação e promovem regulação glicêmica

  • Polifenóis e gorduras insaturadas (como azeite de oliva) atuam como prebióticos naturais, favorecendo bactérias anti-inflamatórias

4. Mecanismos celulares e moleculares

  • AGCC ativam receptores GPR41/GPR43, estimulam GLP-1 e PYY, regulam apetite, glicemia e gordura corporal

  • Ácidos biliares secundários modulam FXR e TGR5, influenciando metabolismo de lipídios e sensibilidade à insulina

  • Proteólise bacteriana em dietas ricas em proteína animal produz compostos tóxicos (BCFAs, indóis, aminas) que impactam negativamente a mucosa intestinal e aumentam inflamação

5. Aplicações clínicas: exemplo da diabetes gestacional (DMG)

  • Gestantes com DMG exibem microbiota com menor diversidade e aumento de bactérias pró-inflamatórias como Fusobacterium, Ruminococcus e Blautia, e redução de Faecalibacterium e Akkermansia

  • Intervenções alimentares (dieta Mediterrânea, fibras, prebióticos/probióticos, baixa IG) associam-se a aumento de SCFAs, melhora da barreira intestinal e redução da inflamação – fatores que contribuem para prevenir DMG

6. Recomendações para o leitor

  1. Priorize fibras prebióticas — consumidas em cereais integrais, legumes e vegetais — para estimular bactérias benéficas e gerar AGCC.

  2. Adote gorduras insaturadas e polifenóis — presentes no azeite, nozes, frutas e chás — para favorecer uma microbiota anti-inflamatória.

  3. Evite ultraprocessados, açúcar refinado e gorduras saturadas — minimizando a criação de um ambiente intestinal prejudicial.

  4. Considere probióticos/prebióticos clínicos especialmente em condições metabólicas (como DMG), observando evidências que mostram melhora de marcadores inflamatórios e metabólicos.

Microbiota e Transtorno do Espectro do Autismo

Estudos também apontam conexões entre a microbiota intestinal e o transtorno do espectro autista (TEA). Crianças com autismo frequentemente apresentam alterações na composição microbiana e na permeabilidade intestinal. Intervenções nutricionais e ajustes no padrão alimentar vêm sendo investigados como aliados no cuidado e na regulação de sintomas gastrointestinais e comportamentais.

Cuidar do seu intestino é cuidar da sua saúde como um todo. Seu prato influencia até suas células — e possivelmente também seu cérebro.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

5 dicas para diminuir o consumo de carne

Você está com colesterol alto, ácido úrico alto, gota? A redução do consumo de carnes é importante. A carne pode ser uma fonte valiosa de nutrientes essenciais, como proteínas, ferro e vitamina B12. Contudo, uma dieta excessivamente dependente de carne pode significar uma maior ingestão de gordura saturada, purinas e colesterol. Isto está ligado a vários riscos para a saúde.

Especificamente, um elevado consumo de carne processada está associado a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares e problemas metabólicos. Além disso, sabemos agora que a carne vermelha está associada a um maior risco de desenvolver câncer de cólon e reto.

Trocar parte da carne por vegetais reduzirá estes ricos, sem carência de proteína. Além disso, você acabará consumindo mais fibras, vitaminas, minerais e polifenóis que beneficiarão sua microbiota intestinal. A microbiota saudável é composta por uma comunidade de bactérias benéficas que nos ajudam a digerir alimentos, melhoram nossa imunidade e até nossa saúde mental.

Como reduzir o consumo de carnes?

1. Comece devagar

Reduza a quantidade que você já consome ao meio e acrescente mais proteína vegetal (feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja…). Embora a carne seja certamente rica em proteínas, muitas plantas também o são. Então, por que não trocar a carne por tofu refogado ou experimentar pratos à base de lentilha, como dhals ou sopas? Você pode usar feijão em saladas e ensopados, e até mesmo em guloseimas assadas, como brownies de feijão.

Em vez de fazer da carne o foco da sua refeição, use pequenas quantidades para realçar os sabores gerais. Por exemplo, você pode adicionar uma pequena quantidade de frango magro em cubos a um refogado de legumes ou fazer caldo de carne para dar profundidade a uma sopa de legumes. Use a carne como guarnição e não como prato principal!

2. Adote um dia da semana sem carne

Já ouviu falar do “segunda-feira sem carne?”. É uma estratégia que vai diversificar sua dieta, melhorar sua saúde e contribuir para a saúde do planeta. Isto porque a produção de carne consome muita água, solo, gera muita poluição. Leia aqui dicas para uma alimentação sustentável.

3. Inspire-se na culinária global

Muitas cozinhas ao redor do mundo oferecem pratos deliciosos à base de plantas. Você pode começar com curry de lentilha ou grão de bico, falafel e homus ou burritos recheados com feijão. Alimentos à base de plantas podem ser um banquete para todos os sentidos. Grelhe pimentões, asse raízes como cenouras ou toste sementes para intensificar seus sabores.

4. Opte por vegetais carnudos

Alguns vegetais funcionam especialmente bem como substitutos da carne. Experimente berinjela fatiada (berinjela) em lasanha – ou jaca, em vez de carne de porco desfiada, em tacos. Varie também as texturas para acrescentar mais diversidade ao prato.

5. Tempere bem

As especiarias deixam tudo mais gostoso. Nada melhor do que uma refeição bem temperada. Visite restaurantes indianos, paquistaneses, mexicana, tailandesa e inspire-se! Especiarias realçam o sabor dos vegetais. Experimente com diferentes pimentas, páprica e massalas com combinações de pimentão, cominho, alho, gengibre, manjericão, lima, capim-limão, coentro, pimenta, cúrcuma...

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/