A microbiota intestinal (trilhões de microrganismos no nosso intestino) atua como um elo entre a dieta e a saúde. Ela transforma alimentos em metabólitos que afetam o metabolismo, a inflamação e até o sistema imunológico!
Dietas saudáveis tendem a ser ricas em fibras, gorduras insaturadas e polifenóis, e pobres em gorduras saturadas, sal e carboidratos refinados. Já o padrão alimentar ocidental moderno — ultraprocessados, calorias densas e baixo teor de fibras — está associado a obesidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares.
Microbiota como mediadora
A microbiota age como um fator ambiental importante, interagindo com nutrientes da dieta para gerar metabólitos (como AGCC, ácidos biliares secundários e aminas) que modulam diretamente a saúde do hospedeiro . Esses metabólitos influenciam:
Inflamação sistêmica
Integridade da barreira intestinal
Sensibilidade à insulina
Função metabólica geral
3. Impactos de padrões alimentares
Dieta ocidental
Baixa variedade microbiana e menor produção de AGCC
Predominância de bactérias pró-inflamatórias
Aumento da permeabilidade intestinal (endotoxemia)
Contribuição para resistência insulínica, obesidade e doenças crônicas
Dieta Mediterrânea e baseada em plantas
Alta diversidade microbiana, com aumento de Bifidobacterium, Bacteroides, Faecalibacterium, Roseburia
Elevação dos AGCC (butirato, acetato, propionato), que reforçam a barreira intestinal, reduzem inflamação e promovem regulação glicêmica
Polifenóis e gorduras insaturadas (como azeite de oliva) atuam como prebióticos naturais, favorecendo bactérias anti-inflamatórias
4. Mecanismos celulares e moleculares
AGCC ativam receptores GPR41/GPR43, estimulam GLP-1 e PYY, regulam apetite, glicemia e gordura corporal
Ácidos biliares secundários modulam FXR e TGR5, influenciando metabolismo de lipídios e sensibilidade à insulina
Proteólise bacteriana em dietas ricas em proteína animal produz compostos tóxicos (BCFAs, indóis, aminas) que impactam negativamente a mucosa intestinal e aumentam inflamação
5. Aplicações clínicas: exemplo da diabetes gestacional (DMG)
Gestantes com DMG exibem microbiota com menor diversidade e aumento de bactérias pró-inflamatórias como Fusobacterium, Ruminococcus e Blautia, e redução de Faecalibacterium e Akkermansia
Intervenções alimentares (dieta Mediterrânea, fibras, prebióticos/probióticos, baixa IG) associam-se a aumento de SCFAs, melhora da barreira intestinal e redução da inflamação – fatores que contribuem para prevenir DMG
6. Recomendações para o leitor
Priorize fibras prebióticas — consumidas em cereais integrais, legumes e vegetais — para estimular bactérias benéficas e gerar AGCC.
Adote gorduras insaturadas e polifenóis — presentes no azeite, nozes, frutas e chás — para favorecer uma microbiota anti-inflamatória.
Evite ultraprocessados, açúcar refinado e gorduras saturadas — minimizando a criação de um ambiente intestinal prejudicial.
Considere probióticos/prebióticos clínicos especialmente em condições metabólicas (como DMG), observando evidências que mostram melhora de marcadores inflamatórios e metabólicos.
Microbiota e Transtorno do Espectro do Autismo
Estudos também apontam conexões entre a microbiota intestinal e o transtorno do espectro autista (TEA). Crianças com autismo frequentemente apresentam alterações na composição microbiana e na permeabilidade intestinal. Intervenções nutricionais e ajustes no padrão alimentar vêm sendo investigados como aliados no cuidado e na regulação de sintomas gastrointestinais e comportamentais.
Cuidar do seu intestino é cuidar da sua saúde como um todo. Seu prato influencia até suas células — e possivelmente também seu cérebro.