Genética do TDAH

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental complexa caracterizada por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Estudos recentes indicam que as variações genéticas desempenham um papel fundamental na modulação das alterações cerebrais observadas em pacientes com TDAH, influenciando tanto a estrutura quanto a função cerebral [1].

Geneticamente, o TDAH apresenta alta herdabilidade, com múltiplos genes de efeito pequeno a moderado contribuindo para o risco da doença. Entre os genes mais estudados, aqueles que regulam neurotransmissores, especialmente dopamina e noradrenalina, como DRD4, DAT1 e SNAP25, demonstram associações significativas com mudanças em circuitos cerebrais relacionados ao controle executivo, atenção e regulação emocional.

Essas variações genéticas influenciam diretamente a neuroanatomia do cérebro, manifestando-se em alterações volumétricas em regiões-chave como o córtex pré-frontal, gânglios da base e cerebelo, áreas essenciais para funções cognitivas e comportamentais comprometidas no TDAH. Além disso, modificações na conectividade funcional entre essas regiões refletem déficits na integração neural, contribuindo para a sintomatologia clínica.

Por meio de estudos de neuroimagem associados à análise genética, foi possível observar que diferentes variantes genéticas não apenas aumentam a vulnerabilidade ao TDAH, mas também moldam o perfil neurobiológico individual do paciente, explicando a heterogeneidade fenotípica da doença. Essa abordagem integrada oferece perspectivas para a personalização do diagnóstico e intervenções terapêuticas, visando estratégias que considerem o perfil genético e cerebral específico de cada indivíduo.

Pesquisas identificaram vários genes candidatos ligados ao TDAH, particularmente aqueles envolvidos no sistema dopaminérgico:

  • Genes para Receptores de Dopamina: Os genes DRD4 e DRD5 foram implicados na suscetibilidade ao TDAH [2].

  • Gene para o Transportador de Dopamina: O gene DAT1 também está associado ao TDAH, com descobertas que sugerem um papel na base genética do transtorno [3].

Estudos Genéticos Moleculares

Estudos recentes destacaram associações positivas entre o TDAH e vários polimorfismos genéticos, particularmente em sistemas neurotransmissores (dopaminérgicos, serotoninérgicos e noradrenérgicos) e neurotrofinas como o BDNF [4].

Esforços colaborativos, como os do Consórcio Internacional de Genética do TDAH, concentram-se na identificação de variantes funcionais nesses genes e na compreensão de seus papéis no TDAH [2].

A compreensão dos fundamentos genéticos do TDAH pode aumentar a precisão diagnóstica e o desenvolvimento de biomarcadores confiáveis ​​para a previsão do risco da doença [3].

O conhecimento dos fatores genéticos que influenciam a resposta ao tratamento pode levar a abordagens terapêuticas mais personalizadas para indivíduos com TDAH [5].

De modo geral, embora tenha havido progresso significativo na compreensão da base genética do TDAH, os padrões de herança são complexos e influenciados por fatores ambientais. Pesquisas contínuas são essenciais para elucidar melhor essas relações e melhorar os resultados clínicos para pessoas afetadas pelo TDAH.

Referências

1) A Thapar et al. Genetic basis of attention deficit and hyperactivity. The British journal of psychiatry : the journal of mental science (1999). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10211163/

2) L Kent et al. Recent advances in the genetics of attention deficit hyperactivity disorder. Current psychiatry reports (2004). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15038917/

3) Z Hawi et al. Recent genetic advances in ADHD and diagnostic and therapeutic prospects. Expert review of neurotherapeutics (2003). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19810930/

4) JA Ramos-Quiroga et al. [Genetic advances in attention deficit hyperactivity disorder]. Revista de neurologia (2007). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17523112/

5) T Zayats et al. Recent advances in understanding of attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): how genetics are shaping our conceptualization of this disorder. F1000Research (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31824658/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genética x fatores ambientais no autismo

O papel da hereditariedade e dos fatores ambientais no autismo é significativo e complexo, como evidenciado por diversos estudos.

O autismo tem uma estimativa de hereditariedade de aproximadamente 90%, indicando um forte componente genético. Isso é corroborado por estudos com gêmeos que mostram uma hereditariedade muito alta para sintomas extremos de autismo, com estimativas em torno de 96% na infância e 87% na idade adulta [1].

Pesquisas sugerem que o autismo é influenciado por muitos genes, sem um único gene responsável. Estudos implicaram mais de 15 genes, com achados consistentes nos cromossomos 7q, 2q e 15q [2].

Embora a genética desempenhe um papel crucial, fatores ambientais também contribuem para o risco de autismo. Fatores como a exposição à poluição do ar e pesticidas têm sido associados ao aumento do risco de autismo, particularmente quando combinados com variações genéticas, como variações no número de cópias (VNCs) [3].

Além disso, há crescente evidência de que exposições ambientais durante o período pré-natal podem afetar criticamente o desenvolvimento do cérebro e aumentar o risco de transtorno do espectro autista (TEA). Fatores como infecções maternas, complicações obstétricas, diabetes gestacional, uso de medicamentos específicos (como ácido valproico) e deficiência de vitamina D foram identificados como potenciais riscos ambientais durante a gestação [5]. Esses fatores podem influenciar processos como inflamação fetal, estresse oxidativo e alterações epigenéticas, afetando a expressão gênica e a conectividade neural.

Fatores ambientais, incluindo perturbações no sistema imunológico e na homeostase do zinco, podem afetar a transmissão sináptica e acredita-se que interajam com predisposições genéticas [4].

Estudos indicam que a interação entre fatores genéticos (como as CNVs) e exposições ambientais pode elevar significativamente o risco de autismo. Por exemplo, um estudo descobriu que uma combinação de aumento da carga de CNVs e exposição ao ozônio estava associada a um risco muito maior de autismo do que qualquer um dos fatores isoladamente [3].

Em resumo, o autismo é um transtorno multifatorial em que tanto fatores genéticos hereditários quanto influências ambientais, especialmente durante o período pré-natal, desempenham papéis críticos em seu desenvolvimento. Compreender essas interações é essencial para futuras pesquisas e potenciais intervenções.

Referências:

  1. MI Martini et al. Age effects on autism heritability and etiological stability of autistic traits. Journal of child psychology and psychiatry, and allied disciplines (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38239074/

  2. SL Santangelo et al. What is known about autism: genes, brain, and behavior. American journal of pharmacogenomics (2005). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15813671/

  3. D Kim et al. The joint effect of air pollution exposure and copy number variation on risk for autism. Autism research (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28448694/

  4. AM Grabrucker et al. Environmental factors in autism. Frontiers in psychiatry (2013). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23346059/

  5. AH Lyall et al. Prenatal environmental risk factors for autism spectrum disorder and their potential mechanisms. Neurotoxicology (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27865776/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Pesticidas e autismo: causa ou coincidência?

A relação entre a exposição a pesticidas e os transtornos do espectro autista (TEA) tem sido objeto de diversos estudos, indicando potenciais associações.

Um estudo de caso-controle de base populacional na Califórnia constatou que a exposição pré-natal a pesticidas específicos (por exemplo, glifosato, clorpirifós, diazinona) estava associada a um risco aumentado de TEA. As razões de chances indicaram um aumento significativo do risco, particularmente para casos com deficiência intelectual comórbida [1].

Uma revisão sistemática de 29 estudos indicou que 12 estudos relataram associações significativas entre a exposição a pesticidas e as características do TEA. No entanto, a heterogeneidade dos estudos impede conclusões definitivas [2].

Outra revisão destacou que a exposição a baixos níveis de pesticidas durante períodos críticos do desenvolvimento cerebral pode contribuir para distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo TDAH e TEA. Isso sugere que mesmo níveis não tóxicos de pesticidas podem ter efeitos prejudiciais [3].

Estudo caso-controle mais recente investigou se a exposição ambiental a pesticidas — associada a intensiva prática agrícola — esteve relacionada ao maior risco de perturbações do espetro do autismo (ASD) na Espanha, entre 2000 e 2021 [4].

A mostra incluiu 52 393 residentes das áreas estudadas. Desses, 2 821 apresentavam diagnóstico de ASD. Dividiram-se áreas em segmentos de alta vs. baixa exposição a pesticidas, com 1 536 e 1 285 casos de ASD, respectivamente.

Prevalência geral de ASD (por 100 habitantes):

  • Alta exposição: 1,03

  • Baixa exposição: 0,76

  • Odds ratio (OR): 1,34 (intervalo de confiança 1,24‑1,44), p < 0,001

Interpretação estatística

  • Crianças residentes em zonas com maior aplicação agrícola de pesticidas apresentam risco ≈ 50% mais elevado de ASD.

  • O risco foi particularmente acentuado em rapazes.

  • Embora associativo, o modelo ajustado reforça uma ligação independente entre exposição e diagnóstico de ASD.

Pesquisas têm explorado mecanismos biológicos, como neuroexcitabilidade e estresse oxidativo, que podem vincular a exposição a pesticidas à fisiopatologia do autismo. Esses mecanismos fornecem uma explicação plausível de como os pesticidas podem influenciar o neurodesenvolvimento [5]. Outros mecanismos incluem a inibição da acetilcolinesterase, modificação de canais de sódio ou do sistema GABA e interferência endócrina que pode afetar o desenvolvimento cerebral.

Em resumo, embora existam evidências sugerindo uma relação entre a exposição a pesticidas e os transtornos do espectro autista, particularmente durante os estágios pré-natais e iniciais da vida, a necessidade de pesquisas mais direcionadas continua sendo crucial para estabelecer a causalidade e compreender os mecanismos subjacentes. Mas, de forma, geral, não parece uma coincidência a ligação entre o aumento do uso de pesticidas e o aumento na prevalência de TEA ao redor do mundo.

Referências

1) OS von Ehrenstein et al. Prenatal and infant exposure to ambient pesticides and autism spectrum disorder in children: population based case-control study. BMJ (Clinical research ed.) (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30894343/

2) L Tessari et al. Association Between Exposure to Pesticides and ADHD or Autism Spectrum Disorder: A Systematic Review of the Literature. Journal of attention disorders (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32697136/

3) JR Roberts et al. Children's low-level pesticide exposure and associations with autism and ADHD: a review. Pediatric research (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30337670/

4) AB Román et al. Exposure to Environmental Pesticides and the Risk of Autism Spectrum Disorders: A Population-Based Case-Control Study. Medicina (Kaunas) (2024). doi: 10.3390/medicina60030479

5) JF Shelton et al. Tipping the balance of autism risk: potential mechanisms linking pesticides and autism. Environmental health perspectives (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22534084/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/