Efeitos do Extrato de Vitis vinifera na Função Cognitiva em Idosos Saudáveis

Estudo recente avaliou os potenciais benefícios do extrato de Vitis vinifera — a videira, fonte das uvas — sobre a função cognitiva em adultos mais velhos, um tema de crescente interesse diante do envelhecimento populacional e do aumento dos casos de declínio cognitivo.

Com o avanço da idade, é comum observar uma redução gradual nas capacidades cognitivas, incluindo memória, atenção e velocidade de processamento mental. Tais mudanças podem afetar a qualidade de vida e a independência dos idosos. Por isso, há um interesse crescente em intervenções não farmacológicas que possam preservar ou até melhorar essas funções.

O extrato de Vitis vinifera é rico em polifenóis — compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Estudos pré-clínicos sugerem que esses polifenóis podem proteger os neurônios contra o estresse oxidativo e a inflamação, fatores implicados no declínio cognitivo e em doenças neurodegenerativas.

Metodologia do Estudo

O ensaio clínico foi:

  • Randomizado (aleatorizado), assegurando que a distribuição dos participantes entre os grupos de intervenção e controle ocorresse ao acaso, eliminando vieses sistemáticos.

  • Duplo-cego, garantindo que nem os participantes nem os avaliadores soubessem quem recebia o extrato ou o placebo, minimizando efeitos psicológicos e vieses de observação.

  • Placebo controlado, permitindo comparar os efeitos do extrato com um controle inerte e isolando o impacto da intervenção.

Participaram adultos idosos saudáveis, sem diagnósticos de demência ou outras condições neurológicas, para avaliar o efeito do extrato no funcionamento cerebral normal do envelhecimento.

Os participantes passaram por uma bateria de testes neuropsicológicos antes e após o período de intervenção, que mediam:

  • Memória de curto e longo prazo

  • Atenção sustentada

  • Velocidade de processamento

  • Funções executivas (planejamento, tomada de decisão)

Esses testes são padrões amplamente reconhecidos para detectar mudanças na função cognitiva. Após triagem e avaliação dos testes, os indivíduos incluídos foram alocados aleatoriamente a um dos dois grupos de braço e tratados de acordo com o protocolo: (1) o primeiro grupo (N = 57) foi suplementado oralmente uma vez ao dia com 250 mg de Cognigrape® (Bionap srl, Itália) e (2) o segundo grupo (N = 54) foi suplementado oralmente uma vez ao dia com uma cápsula de placebo. A randomização por blocos de 3 (2 + 1) foi duplo-cega. Blocos sucessivos foram balanceados por 2 s. Cada cápsula única de Cognigrape® (250 mg) continha extrato de fruta de V. vinifera e maltodextrina (30–40%).

O extrato de V. vinifera consistia em proantocianidinas (> 9% p/p) e antocianinas como malvidina-3-glicosídeo (4–5% p/p), conforme verificado por espectrofotometria. As cápsulas de placebo não continham extrato de V. vinifera e eram compostas apenas de maltodextrina. Nem os indivíduos recrutados nem os pesquisadores foram capazes de diferenciar entre os dois tratamentos diferentes.

Os dados indicaram que os participantes que receberam o extrato de Vitis vinifera apresentaram uma melhora estatisticamente significativa em medidas de memória e atenção em comparação ao grupo placebo. Além disso, foram observadas tendências positivas na velocidade de processamento e funções executivas, embora algumas não atingissem significância estatística.

Esses resultados sugerem que os compostos presentes no extrato podem modular processos neurobiológicos relacionados à plasticidade cerebral e à proteção contra danos oxidativos.

Mecanismos Biológicos Prováveis

Os polifenóis do extrato provavelmente exercem efeitos neuroprotetores por meio de:

  • Redução do estresse oxidativo: neutralizando radicais livres que danificam células nervosas.

  • Atividade anti-inflamatória: diminuindo a inflamação cerebral, associada à perda neuronal.

  • Melhora da circulação cerebral: facilitando a oxigenação e nutrição dos tecidos cerebrais.

  • Modulação da sinalização neuronal: favorecendo a comunicação entre neurônios e a formação de novas conexões sinápticas.

Implicações e Limitações

Este estudo reforça a possibilidade do uso de suplementos naturais à base de Vitis vinifera como estratégia para a manutenção da função cognitiva em idosos saudáveis. Porém, ressalta-se que:

  • A duração do estudo pode ser limitada para avaliar efeitos a longo prazo.

  • A amostra restrita a indivíduos saudáveis não permite generalizar os resultados para pessoas com comprometimento cognitivo.

  • Mais investigações são necessárias para esclarecer dosagens ideais, mecanismos exatos e efeitos em diferentes populações.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Pesquisa Liga Antiácidos Populares ao Risco de Demência

O estudo intitulado Proton pump inhibitors and dementia: A nationwide population-based study, publicado na revista Alzheimer’s & Dementia em 2024, investigou a possível associação entre o uso de inibidores da bomba de protões (IBPs) e o risco de demência.

Objetivo do Estudo

Os IBPs, como omeprazol e pantoprazol, são amplamente utilizados para tratar condições gástricas, como refluxo ácido e úlceras. No entanto, estudos anteriores apresentaram resultados conflitantes sobre a relação entre o uso desses medicamentos e o desenvolvimento de demência. Este estudo visou esclarecer essa associação, considerando a idade no momento do diagnóstico de demência e o tempo de exposição aos IBPs.

Metodologia

Utilizando dados de registros nacionais da Dinamarca, os pesquisadores analisaram uma coorte de 1.983.785 indivíduos com idades entre 60 e 75 anos, acompanhados de 2000 a 2018. Durante o período de acompanhamento, foram identificados 99.384 casos de demência. Os participantes foram categorizados com base no uso de IBPs e na idade ao diagnóstico de demência.

Resultados Principais

O uso de IBPs foi associado a um aumento no risco de demência, especialmente em idades mais jovens:

  • Idade 60–69 anos: aumento de 36% no risco (IRR 1,36)

  • Idade 70–79 anos: aumento de 12% (IRR 1,12)

  • Idade 80–89 anos: aumento de 6% (IRR 1,06)

  • Idade 90+ anos: sem associação significativa (IRR 1,03)alz-journals.onlinelibrary.wiley.com

  • O risco de demência aumentou com a duração prolongada do uso de IBPs, independentemente de quando o tratamento foi iniciado.

Possíveis Mecanismos Biológicos

Embora o estudo não tenha estabelecido uma relação causal, pesquisas anteriores sugerem que os IBPs podem atravessar a barreira hematoencefálica e afetar a função neuronal, possivelmente inibindo a enzima responsável pela síntese de acetilcolina, um neurotransmissor crucial para a memória. Além disso, estudos em animais indicam que os IBPs podem aumentar os níveis de beta-amiloide no cérebro, uma proteína associada à doença de Alzheimer.

Implicações para Pacientes e Profissionais de Saúde

Dado o uso generalizado de IBPs, especialmente entre idosos, os resultados deste estudo sugerem a necessidade de cautela na prescrição desses medicamentos. Profissionais de saúde devem avaliar cuidadosamente a necessidade de IBPs em cada paciente, considerando alternativas terapêuticas quando apropriado. Pacientes não devem interromper o uso de IBPs sem orientação médica, mas é aconselhável discutir os riscos e benefícios com seu médico.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

COGUMELOS PARA REDUÇÃO DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA

Sabia que a inflamação aguda (de curta duração) é necessária para o ganho de massa muscular? Basta lembrar da dor que sentimos após um treino intenso. Por exemplo, o treino de resistência (como musculação) causa microlesões nas fibras musculares, o que gera uma resposta inflamatória controlada. Isso ativa células satélites e leva à reparação e hipertrofia. Contudo, essa inflamação vai embora rapidinho e é para ser assim mesmo. Se usarmos suplementos antiinflamatórios ou medicamentos antiinflamatórios mais rapidamente esta inflamação se resolve, mas pior é o resultado em termos de anabolismo. Ou seja, parar a inflamação rápido demais impede as adaptações musculares e há menos ganho de massa magra.

Já a inflamação crônica (prolongada ou sistêmica) prejudica o ganho de massa muscular. Isso ocorre porque:

  • Eleva níveis de citocinas inflamatórias como IL-6, TNF-α, que inibem a síntese proteica.

  • Pode causar resistência à insulina e prejuízo na sinalização de mTOR, que é crucial para a construção muscular.

Podemos modular esta inflamação crônica com estratégias adequadas, treino adequado, sono adequado. Inflamação crônica é um fator de risco para aterosclerose, infarto, diabetes, obesidade, artrite, envelhecimento precoce…

Aquela pessoa que vive com dores pode usar cogumelos que modulam o sistema imune e reduzem a inflamação. Alguns exemplos:

🍄 Agaricus blazei (Cogumelo do Sol)

  • É um cogumelo medicinal usado tradicionalmente no Brasil e no Japão.

  • Seus efeitos principais:

    • Imunomodulador: ajuda a equilibrar a resposta do sistema imune.

    • Anti-inflamatório leve: pode reduzir citocinas inflamatórias em excesso.

    • Antioxidante: combate o estresse oxidativo, que também interfere na recuperação muscular.

    • Potencial adaptógeno: pode melhorar o equilíbrio geral do corpo sob estresse.

🏋️‍♂️ Agaricus e Hipertrofia

  • O uso de Agaricus blazei pode ajudar indiretamente no ganho de massa muscular se:

    • Reduz a inflamação crônica ou excesso de estresse oxidativo.

    • Melhora a recuperação pós-treino, permitindo treinos mais consistentes e intensos.

    • Apoia o sistema imune, evitando doenças que atrapalham o progresso.

Porém, não é um suplemento anabólico direto. Ele complementa uma boa nutrição, treino e descanso.

Dica Prática

Se você está buscando hipertrofia:

  • Mantenha a inflamação aguda dos treinos, mas evite fontes de inflamação crônica (como má alimentação, estresse crônico, sono ruim).

  • Pode usar Agaricus como suporte, mas ele não substitui dieta hiperproteica, sono adequado e treino eficiente.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/