Importância da Nutrição na Insuficiência Cardíaca

A nutrição desempenha um papel crucial no manejo da insuficiência cardíaca (IC), influenciando tanto os sintomas quanto o prognóstico geral. Deficiências nutricionais podem exacerbar os sintomas da IC e estão associadas a desfechos mais desfavoráveis, incluindo aumento das taxas de mortalidade e hospitalização.

Alguns estudos sugerem que a dieta mediterrânea pode melhorar a função cardíaca e a qualidade de vida em pacientes com IC. Outra dieta bastante estudada é a Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH), mas com resultados inferiores à dieta mediterrânea. Outros estudos mostram que uma dieta com baixo teor de carboidratos pode melhorar a saturação de oxigênio em pacientes com IC, sugerindo potenciais benefícios para a função respiratória. Em relação à alimentos específicos há evidências de que iogurtes probióticos podem melhorar o estado inflamatório e antioxidante na IC crônica.

Suplementos também são estudados, incluindo Tiamina (vitamina B1), Ubiquinol (coenzima Q10 ativa), D-ribose e L-arginina: Esses suplementos demonstraram melhorar a fração de ejeção do ventrículo esquerdo, uma medida fundamental da função cardíaca.

Proteína do Soro do Leite (whey) e Melatonina têm efeitos positivos na função endotelial em pacientes com IC. Deficiências de micronutrientes devem ser corrigidas pois podem predizer desfechos mais desfavoráveis ​​em pacientes com IC, incluindo menor sobrevida livre de eventos. Ômega-3 também deve ser ajustado na dieta.

A adaptação das intervenções nutricionais às necessidades individuais pode reduzir a mortalidade e os eventos cardiovasculares em pacientes com IC com alto risco nutricional. Ajustes em relação à ingestão calórica com base no índice de massa corporal (IMC) são fundamentais. Uma dieta hipocalórica é benéfica para pacientes obesos com IC, enquanto a ingestão hipercalórica auxilia pacientes com baixo peso.

A educação nutricional abrangente deve incluir orientações sobre a ingestão ideal de proteínas, micronutrientes e calorias, além das restrições de sódio e água. Além disso, a combinação de exercícios com modificações dietéticas pode melhorar a composição corporal e a capacidade de exercício em pacientes com IC.

Por fim, existe uma ligação significativa entre disbiose intestinal e insuficiência cardíaca (IC). A insuficiência cardíaca tem sido associada à disbiose intestinal, caracterizada por baixa diversidade bacteriana e crescimento excessivo de bactérias potencialmente patogênicas. Essa disbiose pode levar ao aumento da permeabilidade intestinal, permitindo que metabólitos derivados de bactérias entrem na corrente sanguínea, o que está ligado à progressão da IC.

A disbiose pode desencadear inflamação sistêmica, um fator conhecido na fisiopatologia da insuficiência cardíaca. Níveis elevados de N-óxido de trimetilamina (TMAO), um metabólito derivado da microbiota intestinal, têm sido correlacionados a desfechos desfavoráveis ​​em pacientes com IC.

A disbiose intestinal é influenciada por e pode exacerbar condições crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão, que são fatores de risco para insuficiência cardíaca. A interação entre essas condições e a microbiota intestinal pode criar um ciclo que piora tanto a saúde intestinal quanto os desfechos cardiovasculares.

Assim, a modulação da microbiota intestinal por meio de mudanças alimentares ou outras intervenções pode oferecer novas estratégias terapêuticas para o manejo da insuficiência cardíaca e seus fatores de risco associados.

Para tratar a disbiose intestinal em pacientes com insuficiência cardíaca, diversas estratégias eficazes foram identificadas com base em estudos recentes:

  • Dieta rica em fibras pode promover o crescimento de bactérias intestinais benéficas e aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), que são cruciais para a saúde intestinal e podem ter efeitos cardioprotetores.

  • Uso de probióticos demonstrou potencial para melhorar a composição da microbiota intestinal e pode auxiliar no tratamento da insuficiência cardíaca. Os probióticos podem restaurar o equilíbrio da flora intestinal e reduzir a inflamação.

  • Prebióticos, que servem de alimento para bactérias benéficas, também podem auxiliar a saúde intestinal e melhorar as vias metabólicas associadas à insuficiência cardíaca.

  • Evitação de alimentos ultraprocessados: desequilibram ainda mais a microbiota, além de serem ricos em sódio, conservantes e corantes prejudiciais.

  • Transplante de Microbiota Fecal (TMF): nova abordagem para restaurar a diversidade e a função da microbiota intestinal, potencialmente revertendo a disbiose em pacientes com insuficiência cardíaca.

  • Inibidores de Enzimas Microbianas: Atingir vias microbianas específicas, como aquelas envolvidas na produção de N-óxido de trimetilamina (TMAO), pode ajudar a mitigar os efeitos adversos da disbiose na saúde cardíaca.

  • Antibióticos: em alguns casos (especialmente na SIBO), o uso criterioso de antibióticos pode ser considerado para reduzir populações bacterianas nocivas, embora isso deva ser abordado com cautela devido aos potenciais efeitos colaterais na saúde intestinal geral.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online

Referências

Lennie, TA., Andreae, C., Rayens, MK., Song, EK., Dunbar, SB., Pressler, SJ., Heo, S., Kim, J., & Moser, DK. (2018). Micronutrient Deficiency Independently Predicts Time to Event in Patients With Heart Failure. Journal of the American Heart Association.

Stewart, MW., Traylor, AC., & Bratzke, LC. (2015). Nutrition and Cognition in Older Adults With Heart Failure: A Systematic Review. Journal of gerontological nursing.

Bianchi, VE. (2019). Nutrition in chronic heart failure patients: a systematic review. Heart failure reviews.

Yu, X., Chen, Q., & Xu Lou, I. (2024). Dietary strategies and nutritional supplements in the management of heart failure: a systematic review. Frontiers in nutrition.

Wickman, BE., Enkhmaa, B., Ridberg, R., Romero, E., Cadeiras, M., Meyers, F., & Steinberg, F. (2021). Dietary Management of Heart Failure: DASH Diet and Precision Nutrition Perspectives. Nutrients.

González-Islas, D., Orea-Tejeda, A., Castillo-Martínez, L., Olvera-Mayorga, G., Rodríguez-García, WD., Santillán-Díaz, C., Keirnes-Davis, C., & Vaquero-Barbosa, N. (2017). The effects of a low-carbohydrate diet on oxygen saturation in heart failure patients: a randomized controlled clinical trial. Nutricion hospitalaria.

Lennie, TA., Moser, DK., Biddle, MJ., Welsh, D., Bruckner, GG., Thomas, DT., Rayens, MK., & Bailey, AL. (2013). Nutrition intervention to decrease symptoms in patients with advanced heart failure. Research in nursing & health.

Dotare, T., Maeda, D., Matsue, Y., Nakamura, Y., Sunayama, T., Iso, T., Nakade, T., & Minamino, T. (2024). Nutrition Assessment and Education of Patients with Heart Failure by Cardiologists. International heart journal.

Oka, RK. & Sanders, MG. (2005). The impact of exercise on body composition and nutritional intake in patients with heart failure. Progress in cardiovascular nursing.

Lupu, VV., Adam Raileanu, A., Mihai, CM., Morariu, ID., Lupu, A., Starcea, IM., Frasinariu, OE., Mocanu, A., Dragan, F., & Fotea, S. (2023). The Implication of the Gut Microbiome in Heart Failure. Cells.

Kitai, T., Kirsop, J., & Tang, WH. (2016). Exploring the Microbiome in Heart Failure. Current heart failure reports.

Sata, Y., Marques, FZ., & Kaye, DM. (2020). The Emerging Role of Gut Dysbiosis in Cardio-metabolic Risk Factors for Heart Failure. Current hypertension reports.

Fadhillah, FS., Habibah, K., Juniarto, AZ., Sobirin, MA., Maharani, N., & Pramono, A. (2025). Diet and the gut microbiota profiles in individuals at risk of chronic heart failure - A review on the Asian population. Asia Pacific journal of clinical nutrition.

Chen, X., Li, HY., Hu, XM., Zhang, Y., & Zhang, SY. (2019). Current understanding of gut microbiota alterations and related therapeutic intervention strategies in heart failure. Chinese medical journal.

Jia, Q., Li, H., Zhou, H., Zhang, X., Zhang, A., Xie, Y., Li, Y., Lv, S., & Zhang, J. (2019). Role and Effective Therapeutic Target of Gut Microbiota in Heart Failure. Cardiovascular therapeutics.

Branchereau, M., Burcelin, R., & Heymes, C. (2019). The gut microbiome and heart failure: A better gut for a better heart. Reviews in endocrine & metabolic disorders.

Epelde, F. (2025). The Role of the Gut Microbiota in Heart Failure: Pathophysiological Insights and Future Perspectives. Medicina (Kaunas, Lithuania).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Importância da Vitamina B12 em Transtornos Neuropsiquiátricos

A vitamina B12, essencial para o funcionamento adequado do sistema nervoso, tem sido amplamente estudada por sua relação com a saúde mental e cognitiva. Uma deficiência dessa vitamina pode trazer sérias consequências neurológicas e neuropsiquiátricas — e muitas vezes passa despercebida.

Deficiência de Vitamina B12: Um Problema Subestimado

Um estudo retrospectivo no sul da Índia constatou que, de 259 pacientes com deficiência de vitamina B12, 60 apresentavam sintomas neuropsiquiátricos. Estes incluíam distúrbios comportamentais, perda de memória e distúrbios sensório-motores. O estudo destacou que a deficiência de vitamina B12 é frequentemente negligenciada e pode exacerbar o declínio cognitivo e os fatores de risco vascular em doenças neuropsiquiátricas [1].

Contudo, quando o paciente já possui o diagnóstico de demência, como na doença de Alzheimer, a suplementação não é eficaz. Pelo menos este foi o resultado de revisão que examinou ensaios clínicos sobre os efeitos da suplementação de vitamina B12 na função cognitiva em idosos e indivíduos com demência [2].

Outra revisão sistemática mostrou que a suplementação de vitamina B12 em pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson só melhorou a cognição dos pacientes com deficiência preexistente [3]. A deficiência de vitamina B12 é tipicamente definida como níveis séricos abaixo de 220 pmol/L. A deficiência grave é caracterizada por níveis abaixo de 150 pmol/L, o que está associado a comprometimento cognitivo significativo [1] [3]. Contudo, muitos profissionais de saúde sugerem que níveis ideais estão na faixa dos 600 a 800 pmol/L.

Mecanismos de Ação

A vitamina B12 desempenha um papel crucial no catabolismo de monoaminas, que estão envolvidas em transtornos neuropsiquiátricos. A deficiência pode levar ao aumento dos níveis de homocisteína, contribuindo para a comorbidade vascular em doenças cerebrovasculares [1] [4].

A vitamina B12 tem sido explorada por seu potencial no tratamento da dor, demonstrando benefícios na regeneração nervosa e na inibição das vias de sinalização da dor. Pode servir como tratamento adjuvante para condições dolorosas [5].

Forma de administração da vitamina B12

A suplementação de B12 pode ser feita via oral, sublingual e parenteral (injeções). Todas as formas de tratamento são eficazes para corrigir a deficiência bioquímica [6] [3].

Resumo

A deficiência de vitamina B12 está associada a vários transtornos neuropsiquiátricos, incluindo declínio cognitivo e demência. Embora a suplementação possa corrigir deficiências bioquímicas, ela apenas melhora a cognição em pacientes com deficiências existentes. Os mecanismos envolvem o catabolismo de monoaminas e a regulação da homocisteína.

Referências

1) TG Issac et al. Vitamin B12 deficiency: an important reversible co-morbidity in neuropsychiatric manifestations. Indian journal of psychological medicine (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25722508/

2) R Malouf et al. Vitamin B12 for cognition. The Cochrane database of systematic reviews (2003). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12918012/

3) E Moore et al. Cognitive impairment and vitamin B12: a review. International psychogeriatrics (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22221769/

4) H Silver et al. Vitamin B12 levels are low in hospitalized psychiatric patients. The Israel journal of psychiatry and related sciences (2000). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10857271/

5) S Buesing et al. Vitamin B12 as a Treatment for Pain. Pain physician (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30700078/

6) et al. Vitamin B12 and cognitive function: an evidence-based analysis. Ontario health technology assessment series (2014). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24379897/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Impacto da disfunção mitocondrial no Transtorno Afetivo Bipolar

O comprometimento da função mitocondrial afeta o metabolismo energético neuronal, estabelecendo uma conexão direta com o desenvolvimento de transtornos mentais.

Múltiplos indicadores de disfunção mitocondrial e estresse oxidativo têm sido identificados em pacientes com transtorno bipolar. Durante as fases maníacas e depressivas, há aumento nos níveis de enzimas antioxidantes (SOD, CAT, GSH-Px) e elevação da peroxidação lipídica (medida por TBA-RS), acompanhados por variações nos níveis de óxido nítrico. Ademais, alterações no desempenho da cadeia de transporte de elétrons e redução na produção de ATP sugerem que a capacidade energética neuronal pode ser comprometida (Cyrino et al., 2020).

Esses achados apontam para uma associação entre a disfunção mitocondrial e as alterações celulares subjacentes aos transtornos mentais, especificamente no contexto do transtorno bipolar. A capacidade do corpo de gerenciar o estresse oxidativo pode estar comprometida no transtorno bipolar tornando o gerenciamento nutricional uma peça importante do tratamento.

O comprometimento do gerenciamento do estresse oxidativo pode levar a danos celulares e alterações na função cerebral, incluindo neuroplasticidade, mudanças em neurotransmissores, maior apoptose de neurônios, ativação de processos neuroinflamatórios e mudanças na sinalização de cálcio.

Podemos avaliar a função mitocondrial no transtorno bipolar por meio de testes metabolômicos. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/