Traumatismo craniano aumenta risco de doenças neurodegenerativas

A imagem abaixo ilustra os processos celulares envolvidos após um traumatismo cranioencefálico (TBI, do inglês "traumatic brain injury"), com foco na ativação da microglia e nas respostas inflamatórias.

O traumatismo cranioencefálico (TBI) leva à disfunção da barreira hematoencefálica (BBB) e à entrada de endotoxinas no sistema nervoso. Isso causa inflamação e estresse oxidativo.

A microglia é uma das células mais importantes do sistema nervoso central — e um dos maiores alvos de estudo em neuroinflamação, lesão cerebral (como TBI) e doenças neurodegenerativas. Pense nela como os “guardas de segurança” do sistema nervoso central.

Ela é responsável por:

  • Detectar perigos (como infecções, lesões ou proteínas tóxicas),

  • Remover células mortas e detritos (função fagocítica),

  • Liberar substâncias inflamatórias ou protetoras, dependendo da situação.

Quando há traumatismo craniano, as mitocôndrias sofrem dano e liberam proteínas pró-apoptóticas (que geram morte de células do cérebro). A proteína HMGB1 é liberada do núcleo e vai para o exterior da célula.

A HMGB1 (High Mobility Group Box 1) é uma proteína multifuncional com papel importante tanto dentro quanto fora das células, especialmente em contextos de inflamação, lesões e doenças neurodegenerativas. Dentro da célula, a HMGB1 atua como uma proteína estrutural do DNA. Ela ajuda na organização da cromatina e na regulação da transcrição gênica (ou seja, influencia como os genes são lidos e expressos).

Quando a célula sofre dano, estresse ou morte, a HMGB1 pode ser liberada no ambiente extracelular. Nessa forma, ela age como uma alarmina — um sinal de alerta para o sistema imunológico. Ela ativa células imunes (como a microglia no cérebro) e desencadeia respostas inflamatórias.

A HMGB1 faz isso, ligando-se a receptores como TLR4 e RAGE na superfície de células imunes. Isso ativa vias inflamatórias, incluindo o fator NF-κB, aumentando a produção de citocinas inflamatórias.

TLR4 (Toll-Like Receptor 4) é um receptor do sistema imunológico inato.
Ele fica na membrana de células imunes (como microglia no cérebro) e atua como um sensor de perigo.

  • Seu papel é detectar ameaças — como bactérias (LPS), vírus ou moléculas liberadas por células danificadas, como a HMGB1.

  • Quando o TLR4 reconhece algo “anormal”, ele ativa uma cascata inflamatória poderosa.

Quando HMGB1 é liberada (por exemplo, após lesão cerebral), ela se liga ao TLR4 na microglia ou outras células. Isso gera:

  1. Ativação da via de sinalização do TLR4, envolvendo adaptadores como MyD88 e TRIF.

  2. Ativação do fator de transcrição NF-κB, que entra no núcleo da célula.

  3. Produção de citocinas inflamatórias como TNF-α, IL-1β e IL-6.

  4. Amplificação da inflamação, que pode causar mais lesão celular e manter o ciclo inflamatório.

O ciclo vicioso (neuroinflamação crônica)

O TBI causa a liberação de HMGB1 → ativa TLR4 → inflamação → mais dano celular → mais HMGB1 liberada...

Isso é um ciclo inflamatório autoalimentado que pode persistir e contribuir para degeneração progressiva do cérebro. Por isso, este processo é estudado como alvo terapêutico não só no traumatismo craniano, mas também no Alzheimer, esclerose múltipla, e outras condições neurodegenerativas.

Pesquisadores estão desenvolvendo inibidores de HMGB1 ou TLR4 como potenciais terapias para TBI, Alzheimer, Parkinson, etc. Exemplos: BoxA (inibidor de HMGB1), TAK-242 (bloqueador de TLR4).

As sirtuínas (ou SIRTs) são uma família de proteínas que têm ganhado muito destaque na pesquisa biomédica — especialmente em doenças relacionadas ao cérebro, inflamação, metabolismo e envelhecimento. Elas são vistas como reguladoras mestres da saúde celular, e têm papel central em proteger o cérebro após lesões como o TBI.

O que são as sirtuínas?

São enzimas dependentes de NAD+ (ou seja, só funcionam na presença dessa molécula) que desacetilam outras proteínas. Essa modificação regula a expressão de genes, resposta ao estresse, metabolismo energético, e muito mais. As principais sirtuínas envolvidas no cérebro são SIRT1, SIRT2, SIRT3 e SIRT6.

SIRT1 – A mais estudada:

  • Reduz inflamação → inibe o fator NF-κB.

  • Protege os neurônios → ativa genes de sobrevivência celular.

  • Melhora função mitocondrial → estimula PGC-1α (um regulador da biogênese mitocondrial).

  • Inibe apoptose → ou seja, evita a morte celular.

No TBI: SIRT1 reduz o dano neuronal e melhora a recuperação funcional.

SIRT2

  • Regula o ciclo celular e inflamação.

  • Pode ter efeitos protetores ou prejudiciais, dependendo do contexto.

  • Está associada a neurodegeneração em Parkinson, por exemplo.

SIRT3 – Guardiã mitocondrial:

  • Atua diretamente nas mitocôndrias.

  • Reduz estresse oxidativo ao ativar enzimas como SOD2 (superóxido dismutase 2).

  • Melhora a eficiência energética celular.

No TBI: ajuda a preservar a função mitocondrial e reduzir a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS).

SIRT6

  • Atua na reparação do DNA e no controle de inflamação crônica.

  • Pode proteger contra o envelhecimento cerebral precoce.

As sirtuínas (SIRT1–SIRT7) dependem de NAD⁺ para funcionar — e sua atividade pode ser influenciada por:

  • Nutrientes

  • Fitoquímicos (compostos bioativos de plantas)

  • Estilo de vida (como jejum, exercício)

Modular as sirtuínas (por exemplo, com ativadores como o resveratrol) pode:

  • Reduzir a inflamação e o estresse oxidativo,

  • Proteger as mitocôndrias,

  • Prevenir a morte neuronal,

  • Ajudar na recuperação após TBI e prevenir doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e ELA.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estresse e doenças neurodegenerativas

A imagem do artigo "Crosstalk between Oxidative Stress and Inflammation Caused by Noise and Air Pollution—Implications for Neurodegenerative Diseases" mostra como o estresse causado por ruídos ambientais (ocupacionais, rodoviários, ferroviários, aeronáuticos) pode levar a processos de neuroinflamação, estresse oxidativo e neurodegeneração.

Ruídos altos (da rua, de aeronaves, no trabalho ou mesmo atividades de lazer podem gerar estresse por duas vias:

  • Via direta (alta intensidade sonora) → pode causar:

    • Perda auditiva

    • Distúrbios do sono

  • Via indireta (baixa intensidade sonora) → causa:

    • Irritação

    • Dificuldades de comunicação

    • Distúrbios do sono

    • Impacto cognitivo

Corpo e cérebro estão interligados. Estruturas como ínsula, córtex pré-frontal medial (mPFC), hipotálamo, amígdala, hipocampo no cérebro e adrenal são afetadas.

Ativação do eixo HPA e Sistema Nervoso Central

Em situação de estresse o CRH (hormônio liberador de corticotropina) é liberado pelo hipotálamo, ativando a hipófise, que libera hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH estimula as glândulas adrenais a produzirem:

  • Catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) – resposta do sistema nervoso simpático

  • Glicocorticoides (cortisol) – resposta endócrina

Inflamação e estresse oxidativo

As catecolaminas e glicocorticoides, especialmente em estresse crônico, causam ativação do NF-κB (fator de transcrição pró-inflamatório) e liberação de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6, IL-1β). Isso leva a:

  • Neuroinflamação

  • Estresse oxidativo

  • Degeneração neuronal (risco aumentado de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson)

Ciclo vicioso

O estresse crônico gera resistência ao cortisol, uma resposta inflamatória exacerbada e mais dano neuronal. Ou seja, cuidar dos níveis de estresse é muito importante para envelhecermos com um cérebro saudável. Faça yoga, durma bem e reduza a carga de trabalho. Além disso, evite sons altos!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Por que no Parkinson a L-DOPA é usada com a carbidopa?

A L-DOPA (levodopa) é o tratamento mais eficaz e amplamente utilizado para a Doença de Parkinson — um distúrbio neurodegenerativo caracterizado pela perda progressiva de neurônios dopaminérgicos na substância negra do cérebro.

Por que a L-DOPA é usada no Parkinson?

O Parkinson causa uma redução drástica na dopamina cerebral, especialmente nas vias motoras (via nigroestriatal). A dopamina não atravessa a barreira hematoencefálica, então não pode ser administrada diretamente.

A L-DOPA é o precursor imediato da dopamina e consegue atravessar a barreira hematoencefálica. No cérebro, a L-DOPA é convertida em dopamina pela enzima dopa-descarboxilase, restaurando os níveis desse neurotransmissor.

Efeitos da L-DOPA:

  • Melhora os sintomas motores: rigidez, bradicinesia (lentidão), tremores, instabilidade postural.

  • Alivia o comprometimento funcional e melhora a qualidade de vida nos estágios iniciais e intermediários da doença.

Formas de administração:

A L-DOPA é sempre administrada com um inibidor da dopa-descarboxilase periférica (como carbidopa ou benserazida) para:

  • Evitar sua conversão em dopamina fora do cérebro

  • Reduzir efeitos colaterais periféricos (náuseas, vômitos, hipotensão)

  • Aumentar a quantidade que chega ao cérebro

Ex: Sinemet (L-DOPA + Carbidopa), Prolopa (L-DOPA + Benserazida)

Problemas com o uso prolongado:

  • Flutuações motoras ("efeito liga-desliga"): os sintomas voltam entre as doses.

  • Discinesias: movimentos involuntários anormais, causados por excesso de dopamina em certas regiões.

  • Redução da resposta ao longo dos anos: tolerância ou progressão da perda neuronal.

Por isso, muitas vezes os médicos iniciam o tratamento com agonistas dopaminérgicos ou combinam diferentes classes de fármacos para adiar o uso exclusivo da L-DOPA ou potencializar seus efeitos.

Tratamentos para Parkinson

Estratégias terapêuticas:

  • Em pacientes jovens: muitas vezes começa-se com agonistas dopaminérgicos para postergar o uso da L-DOPA.

  • Em pacientes idosos ou com sintomas mais intensos: L-DOPA é geralmente a escolha inicial.

  • Com o tempo, são feitas combinações personalizadas entre essas classes para melhorar o controle dos sintomas e minimizar os efeitos colaterais.

Linha do tempo do tratamento do Parkinson

Estágio Inicial (diagnóstico recente, sintomas leves)

  • Objetivo: Controlar sintomas com o menor risco de efeitos colaterais a longo prazo, sem administração de L-DOPA para postergar discinesias.

  • Tratamento comum:

    • Agonistas dopaminérgicos (ex: pramipexol, ropinirol)

    • Ou inibidores da MAO-B (ex: rasagilina) em casos muito leves

Estágio Moderado (sintomas mais evidentes, início de impacto funcional)

  • Objetivo: Melhorar o controle motor, manter a qualidade de vida.

  • Tratamento comum:

    • L-DOPA + carbidopa/benserazida

    • Pode-se manter agonistas dopaminérgicos em associação

    • Adição de inibidores da COMT para prolongar o efeito da L-DOPA

  • Efeitos colaterais: náusea, hipotensão, sonolência

Estágio Avançado (anos após o início, flutuações motoras)

  • Problemas comuns:

    • Flutuações motoras ("liga-desliga")

    • Discinesias (movimentos involuntários)

  • Estratégias de ajuste:

    • Fracionar a dose de L-DOPA (mais vezes ao dia)

    • Adicionar amantadina para reduzir discinesias

    • Otimizar dose de agonistas dopaminérgicos ou COMT/MAO-B

    • Considerar formulações de liberação controlada (L-DOPA XR, patch de rotigotina)

Estágio Muito Avançado (resistência a medicamentos orais, complicações graves)

  • Opções terapêuticas mais intensivas:

    • Infusão contínua de L-DOPA intestinal (Duodopa)

    • Estimulação cerebral profunda (DBS): implante cirúrgico que modula circuitos motores

    • Suporte multidisciplinar (fisioterapia, fono, nutrição, psicologia)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/