Glutamina e ansiedade

Do ponto de vista Bioquímico, a Ansiedade está associada a alterações nos níveis de Neurotransmissores e Hormônios (dentre outras coisas). A alimentação tem um papel muito importante na saúde neuronal e mental. Nutrientes específicos apoiam, previnem e corrigem alterações metabólicas associadas a diversos transtornos mentais.

E, enquanto existem nutrientes que ajudam a relaxar o cérebro (como magnésio), outros compostos podem excitar o cérebro. É o caso da glutamina em alguns pacientes.

A glutamina é um aminoácido extremamente abundante e versátil. Pode ser convertida em glutamato por ação da glutaminase. O glutamato, por sua vez, pode ser convertido em alfacetoglutarato (intermediário do ciclo de Krebs) pela ação da glutamato desidrogenase (GDH). Essas reações são fundamentais no metabolismo energético, especialmente em tecidos com alta demanda como intestino, fígado e cérebro.

Quando ingerimos glutamina pela dieta ou suplementação, a maior parte é usada pelas células do intestino para manutenção da própria integridade estrutural. O excedente que chega ao fígado será usado nas reações de transaminação (AST/ALT) ou convertido em energia. Muito pouco da glutamina chega intacta ao cérebro.

Aminoácidos que entram no ciclo de krebs via alfa-cetoglutarato

Suplementação de glutamina é geralmente segura, mas precisamos ter cautela em algumas situações

Como a glutamina tem muitos destinos antes de atingir o SNC, o risco de excitação glutamatérgica central é baixo na maioria das pessoas. Contudo, devemos ter cautela em algumas situações, incluindo:

TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Polimorfismos genéticos podem afetar a expressão de transportadores de glutamato (EAATs). Isso dificulta a recaptação do glutamato pelos astrócitos, levando ao seu acúmulo sináptico.

Resultado: Excitotoxicidade e piora dos sintomas.

Conduta sugerida: Evitar glutamina → usar glicina ou colágeno para reparo intestinal.

Ansiedade / Enxaqueca:

O excesso de glutamato pode ser resultado da neuroinflamação e estresse oxidativo, não necessariamente de má função genética. Aqui, o problema é a diminuição da GAD (glutamato descarboxilase) ou da recaptação astrocítica.

Conduta sugerida: Reduzir neuroinflamação e melhorar metabolismo mitocondrial.

Hiperinsuinemia

A enzima glutamato desidrogenase (GDH) converte glutamato em alfacetoglutarato. Alta insulina e excesso de acetil-CoA levam à produção de malonil-CoA. A malonil-CoA inibe a GDH.

Resultado: glutamato não é convertido em alfacetoglutarato → ele se acumula. Isso é crítico, pois excesso de glutamato ativa receptores NMDA, gerando excitação neuronal exagerada.

A dieta low carb (incluindo a cetogênica) tem sido usada em casos de pacientes com transtorno de ansiedade e transtorno bipolar que não respondem bem a medicação, uma vez que um subgrupo parece ter alterações do metabolismo glicolítico cerebral. Também podemos pensar na modulação do receptor NMDA:

  • Suplemenação de magnésio: inibidor fisiológico do receptor NMDA. Em condições normais, o magnésio se liga ao canal do receptor NMDA, bloqueando a entrada de cálcio e sódio. Quando o nível de magnésio é baixo, o receptor NMDA se torna mais propenso à ativação, o que pode levar à excitotoxicidade e danos neuronais, especialmente em doenças neurodegenerativas.

  • Ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA): encontrados em peixes e outros alimentos, têm efeitos protetores no cérebro. Esses ácidos graxos podem modulação positivamente a função do receptor NMDA, ajudando na neuroplasticidade e no fortalecimento das sinapses. Eles também podem reduzir a inflamação no cérebro, que está associada à disfunção do NMDA.

  • Vitamina E: tem propriedades antioxidantes e pode proteger os neurônios contra o estresse oxidativo, que está relacionado ao mau funcionamento do receptor NMDA e à neurodegeneração. O estresse oxidativo pode afetar negativamente a função do receptor e, consequentemente, o aprendizado e a memória.

  • Zinco: desempenha um papel importante na regulação do receptor NMDA. Em níveis normais, ele pode modular a atividade do receptor, enquanto o excesso de zinco pode resultar em disfunção e neurotoxicidade. O zinco também é importante para a sinalização celular e a plasticidade sináptica, que são mediadas pelo NMDA. No caso de ansiedade recomenda-se  manter niveis de zinco próximos de 100 no exame de sangue.

  • Curcumina: principal composto bioativo da cúrcuma, tem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes que podem afetar positivamente a função do receptor NMDA. Ela pode ajudar a reduzir a ativação excessiva do receptor e a excitotoxicidade, frequentemente observada em doenças como Alzheimer.

  • Fosfatidilserina: essencial para a função cognitiva e pode ter efeitos moduladores sobre o receptor NMDA. A fosfatidilserina, em particular, pode ajudar na plasticidade sináptica mediada pelo NMDA, favorecendo processos de aprendizagem e memória.

  • Vitamina D: também está envolvida na regulação do receptor NMDA. Ela pode promover a expressão de genes relacionados à plasticidade sináptica e ao funcionamento do receptor, além de influenciar a ativação do NMDA de maneira que favoreça o equilíbrio entre excitação e inibição no cérebro.

  • N-acetilcisteína: precursor do glutationa, um potente antioxidante, e pode ajudar a regular a atividade do receptor NMDA, especialmente em condições de estresse oxidativo ou excitotoxicidade, como em doenças neurodegenerativas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Metabolômica: urina x saliva

Exames metabolômicos urinários e salivares são ambos utilizados para analisar o metaboloma, ou seja, o conjunto de metabólitos presentes em uma amostra biológica. No entanto, eles diferem em vários aspectos importantes, principalmente quanto ao tipo de informação que fornecem, vantagens técnicas e adequação clínica. Abaixo, estão as principais diferenças:

🧠 4. Neurotransmissores e seus metabólitos

A saliva pode refletir concentrações agudas de neurotransmissores, como cortisol, dopamina e serotonina, sendo útil para monitoramento de estresse e função do eixo HPA.

A urina pode ser mais útil para avaliar metabólitos de neurotransmissores ao longo do tempo, pois reflete a excreção acumulada desses compostos. Exames metabolômicos urinários detectam metabólitos de neurotransmissores, como:

  • Ácido homovanílico (HVA) – dopamina

  • Ácido vanilmandélico (VMA) – adrenalina/noradrenalina

  • 5-HIAA – serotonina

Esses metabólitos são excretados pelos rins e refletem o metabolismo central e periférico dos neurotransmissores.

🔬 5. Metabólitos intestinais

  • Saliva: Pouco útil. Metabólitos intestinais quase não estão presentes em concentrações detectáveis na saliva. A saliva não reflete bem o ambiente microbiano intestinal.

  • Urina: Melhor opção, pois muitos metabólitos produzidos no intestino (pelas bactérias ou por fermentação de alimentos, como ácidos orgânicos, indóis, escatóis, etc.) são absorvidos pelo intestino, metabolizados pelo fígado e excretados na urina.

  • Detectáveis na urina:

    • Ácido hipúrico, ácido fenólico

    • Derivados do triptofano (indoxil sulfato, escatol)

    • Ácidos graxos de cadeia curta (em parte)

    • Marcadores de disbiose e permeabilidade intestinal (como o ácido D-láctico)

A metabolômica urinária é geralmente mais abrangente para avaliar metabolismo sistêmico, excreção de nutrientes e metabólitos microbianos. A metabolômica salivar pode ser vantajosa para avaliação rápida e não invasiva de biomarcadores específicos, especialmente relacionados ao estresse e à função neuroendócrina. No entanto, para muitas aplicações, a urina continua sendo o fluido biológico mais preciso e confiável.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estresse Oxidativo e TDAH: O Que a Ciência Está Revelando?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neurocomportamentais mais comuns da infância, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Tradicionalmente, ele tem sido associado a desequilíbrios nos neurotransmissores dopamina e noradrenalina, mas estudos recentes estão ampliando esse entendimento — e um dos protagonistas emergentes nessa nova perspectiva é o estresse oxidativo.

O que é estresse oxidativo?

Estresse oxidativo ocorre quando há um desequilíbrio entre radicais livres (espécies reativas de oxigênio - ROS) e a capacidade do corpo de neutralizá-los com antioxidantes. Esse desequilíbrio pode causar danos em estruturas celulares como proteínas, lipídios e DNA, afetando diretamente a saúde do cérebro.

TDAH e estresse oxidativo: qual a ligação?

Vários estudos demonstraram que crianças e adultos com TDAH apresentam níveis alterados de estresse oxidativo:

  • Uma meta-análise mostrou que indivíduos com TDAH têm níveis mais elevados de marcadores de estresse oxidativo, como o malondialdeído (MDA), embora não necessariamente apresentem menor atividade antioxidante basal [1].

  • A neuroinflamação e o estresse oxidativo podem agravar os sintomas do TDAH, afetando o funcionamento mitocondrial e aumentando a vulnerabilidade neuronal [2].

  • O estresse oxidativo em TDAH está intimamente ligado à ativação do sistema imune, com elevação de citocinas inflamatórias como IL-6, IL-1β e TNF-α, que também estão associadas a alterações no comportamento e cognição [3].

E os medicamentos?

Tratamentos farmacológicos convencionais, como o metilfenidato, embora eficazes para muitos pacientes, podem aumentar o estresse oxidativo, conforme demonstrado em estudos com modelos animais. Isso levanta a necessidade de explorar abordagens complementares para minimizar danos celulares.

🌿 A promessa dos antioxidantes

Frente a esses dados, a ciência começa a olhar para os antioxidantes dietéticos como potenciais aliados no tratamento do TDAH:

Substâncias como N-acetilcisteína, sulforafano e ômega-3 por sua capacidade de reduzir a inflamação e restaurar o equilíbrio redox [2]. A modulação do sistema imune e do estresse oxidativo por meio de dieta pode melhorar sintomas em pacientes com TDAH, sendo uma alternativa segura e não invasiva [4]. Compostos como flavonoides e polifenóis atuam também na expressão epigenética de genes associados à regulação do comportamento, o que os torna ainda mais promissores como coadjuvantes no manejo do transtorno.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/