Neuroinflamação no autismo

Há pesquisas sugerindo que níveis mais altos de suporte no autismo (como os níveis 2 e 3 do DSM-5) podem estar associados a maior neuroinflamação. Uma hipótese é a de que pessoas diagnosticadas no espectro autista com maior severidade dos sintomas podem apresentar aumento da ativação microglial e níveis elevados de citocinas inflamatórias no cérebro e no líquido cefalorraquidiano.

A partir de dentes de leite doados por crianças com e sem autismo, os grupos de pesquisa liderados pelos neurocientistas brasileiros Patricia Beltrão Braga, da USP, e Alysson R. Muotri, da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, confirmaram que uma inflamação em células cerebrais chamadas astrócitos pode estar associada ao desenvolvimento de uma forma grave desse transtorno. Mais importante: ao menos em laboratório, o controle da inflamação nos astrócitos reverteu alterações que ela provoca nos neurônios, as células responsáveis por transmitir e armazenar informações no cérebro e que se encontram mais imaturas nessa forma de autismo (1).

No entanto, essa relação ainda não é totalmente compreendida. A neuroinflamação pode estar envolvida em alguns dos mecanismos do autismo, mas não é necessariamente a causa direta da necessidade de suporte mais alto. Outros fatores, como diferenças na conectividade cerebral, genética e metabolismo, também desempenham um papel importante.

Um estudo indicou que anormalidades neuroimunes, incluindo neuroinflamação, podem contribuir para a diversidade de fenótipos autistas. Isso sugere que a neuroinflamação pode desempenhar um papel na condição geral de indivíduos com autismo, apesar de nem sempre se correlacionar ao nível de suporte necessário (2).

Outro estudo explorou a relação entre habilidades da teoria da mente e gravidade do autismo, indicando que crianças com autismo mais grave (e potencialmente maiores necessidades de suporte) foram identificadas por meio de suas habilidades cognitivas. No entanto, este estudo não abordou a neuroinflamação diretamente (3).

Um estudo observacional separado destacou que adultos autistas relataram necessidades não atendidas relacionadas à saúde mental e condições de neurodesenvolvimento, mas, novamente, não estabeleceu uma ligação direta com a neuroinflamação (4).

Referências

1) Russo FB, Freitas BC, Pignatari GC, Fernandes IR, Sebat J, Muotri AR, Beltrão-Braga PCB. Modeling the Interplay Between Neurons and Astrocytes in Autism Using Human Induced Pluripotent Stem Cells. Biol Psychiatry. 2018 Apr 1;83(7):569-578. doi: 10.1016/j.biopsych.2017.09.021. Epub 2017 Oct 3. PMID: 29129319.

2) CA Pardo et al. Immunity, neuroglia and neuroinflammation in autism. International review of psychiatry (Abingdon, England) (2006). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16401547/

3) M Hoogenhout et al. Theory of mind predicts severity level in autism. Autism : the international journal of research and practice (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27493232/

4) C Jose et al. The Associations Between Clinical, Social, Financial Factors and Unmet Needs of Autistic Adults: Results from an Observational Study. Autism in adulthood : challenges and management (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36605370/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Possíveis mecanismos antidepressivos do Ômega-3

A imagem a seguir apresenta um diagrama que explica os possíveis mecanismos antidepressivos dos ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 (PUFAs) no sistema nervoso central. O centro do diagrama destaca os efeitos diretos dos ômega-3, enquanto os círculos ao redor mostram como esses efeitos interagem com diferentes processos neurológicos.

  1. Ômega-3 PUFAs (Centro)

    • Afetam a fluidez da membrana celular.

    • Regulam a atividade de proteínas de membrana.

    • Influenciam a montagem de complexos de proteínas e lipídios.

  2. Neuroinflamação

    • Produzem metabólitos anti-inflamatórios (maresinas, protectinas, resolvinas).

    • Atuam em receptores de membrana ou intracelulares (GPR120, PPAR-γ, TLR-4).

    • Modulam a fagocitose de micróglia, exocitose neuroendócrina e liberação de neurotransmissores.

  3. Estresse Oxidativo

    • Aumentam a resistência celular ao estresse.

    • Melhoram a capacidade antioxidante.

    • Alteram o perfil lipídico e previnem a peroxidação lipídica.

  4. Eixo Neuroendócrino (HPA)

    • Regulam a atividade de moléculas sinalizadoras (NF-κB, JNK, p38MAPK).

    • Modulam os níveis de neurotransmissores e hormônios (5-HT, DP, NE, eCBs, GC, hormônios femininos).

  5. Sistema de Neurotransmissores

    • Influenciam a expressão gênica de fatores como BDNF, COX-2, CREB, PPAR, Nrf2, TNF-α, IL-1β.

    • Regulam a plasticidade neural e sináptica.

  6. Neuroplasticidade e Sinapses

    • Afetam a proliferação, diferenciação, crescimento, senescência e apoptose celular.

    • Impactam processos ligados à neurodegeneração.

  7. Neurodegeneração

    • Relacionada à neuroinflamação, estresse oxidativo e redução da plasticidade neuronal.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Vitamina D e autismo

A relação entre os níveis de vitamina D e o transtorno do espectro autista (TEA) é apoiada por vários estudos que destacam o impacto potencial da deficiência de vitamina D no desenvolvimento e na gravidade do TEA. Aqui estão as principais descobertas:

Em 2010, já se discutia a possibilidade de que a carência dessa vitamina pudesse estar associada ao aumento da incidência do autismo na população, e estudos recentes parecem confirmar essa hipótese (5,6, 7).

Funções da Vitamina D e Seu Papel no Cérebro

A vitamina D é essencial para várias funções no organismo, como a absorção de cálcio, a proteção do material genético e a regulação da expressão de genes. Estudos indicam que sua deficiência aumenta o risco de diversas doenças, incluindo câncer de mama, doenças autoimunes, asma, doenças cardiovasculares, Alzheimer, Parkinson e obesidade (8).

Além disso, hoje sabemos que a vitamina D atua como um esteroide neuroativo, influenciando o desenvolvimento e a função cerebral. Ela é essencial para a mielinização dos neurônios e a formação de conexões entre eles (7).

Acredita-se que a vitamina D influencie o desenvolvimento e a função do cérebro por meio de vários mecanismos, incluindo modulação do sistema imunológico, ação antioxidante, regulação genética, redução da neuroinflamação (3,4).

Vitamina D e Autismo: A Conexão Científica

Pesquisas revelam que polimorfismos nos genes dos receptores de vitamina D (VDR) são mais comuns em crianças com TEA. Em um estudo com 480 crianças (237 com TEA e 243 neurotípicas), observou-se que esses polimorfismos estavam mais presentes no grupo autista, sugerindo que a vitamina D pode desempenhar um papel na patofisiologia do transtorno (9).

Um estudo envolvendo 1.529 crianças e adolescentes com TEA descobriu que aproximadamente 95% tinham deficiência ou insuficiência de vitamina D. Notavelmente, adolescentes de 11 a 18 anos exibiram níveis significativamente mais baixos de 25-hidroxivitamina D sérica em comparação com crianças mais novas (2).

Além disso, níveis reduzidos de vitamina D estão correlacionados com mais sintomas do autismo, avaliados por escalas como CARS e ABC. A suplementação da vitamina tem demonstrado benefícios na redução desses sintomas, especialmente em crianças pequenas (10)).

Suplementação de Vitamina D e Prevenção do Autismo

Vários estudos sugerem que o baixo status de vitamina D durante o desenvolvimento inicial pode ser um fator de risco ambiental para TEA. Por exemplo, pesquisas indicam que a deficiência de vitamina D na gravidez e na primeira infância pode levar à ocorrência de TEA (1).

Alguns estudos indicaram que a suplementação de vitamina D pode melhorar os sintomas do TEA, embora os mecanismos subjacentes permaneçam obscuros. Isso sugere uma via terapêutica potencial para gerenciar os sintomas do TEA por meio da intervenção com vitamina D (1).

Estudos indicam que a administração de vitamina D pode reduzir a incidência do TEA. Algumas recomendações incluem:

  • Crianças com autismo: 1.000 UI/dia até os 3 anos de idade ou cálculo por quilo de peso (300 UI/kg)

  • Mulheres que já possuem um filho com TEA: 5.000 UI/dia durante a gestação.

  • Recém-nascidos de mães com histórico de TEA na família: suplementação de 1.000 UI/dia até os 3 anos de idade. Outros estudos mostram doses maiores (2.000 UI)

Essa abordagem mostrou uma redução significativa no risco do transtorno, reduzindo a incidência de 20% para apenas 5% em famílias com histórico de TEA (11).

Evidências de Estudos Meta-Analíticos

Uma revisão abrangente analisou 34 estudos envolvendo 20.580 participantes. Os resultados indicaram que crianças e adolescentes com TEA apresentavam níveis significativamente mais baixos de vitamina D em comparação com grupos controle. Além disso, uma análise de 10 estudos revelou que a deficiência dessa vitamina aumenta em mais de cinco vezes o risco de desenvolver TEA (OR: 5.23, IC: 3.13-8.73, p < 0.0001).

Pesquisas também sugerem que baixos níveis maternos ou neonatais de vitamina D elevam em 54% a probabilidade de desenvolvimento de TEA (OR: 1.54, IC: 1.12-2.10, p = 0.0071). Esses achados reforçam a necessidade de monitoramento e intervenção precoce (12).

Referências:

1) J Wang et al. Research Progress on the Role of Vitamin D in Autism Spectrum Disorder. Frontiers in behavioral neuroscience (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35619598/

2) E Şengenç et al. Vitamin D levels in children and adolescents with autism. The Journal of international medical research (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32668174/

3) XY Duan et al. [Relationship between vitamin D and autism spectrum disorder]. Zhongguo dang dai er ke za zhi = Chinese journal of contemporary pediatrics (2013). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23965890/

4) L Alzghoul et al. Role of Vitamin D in Autism Spectrum Disorder. Current pharmaceutical design (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31755381/

5) Kittana, M.; Ahmadani, A.; Stojanovska, L.; Attlee, A. The Role of Vitamin D Supplementation in Children with Autism Spectrum Disorder: A Narrative Review. Nutrients 2022, 14, 26. https://doi.org/10.3390/nu14010026

6) Kinney DK, Barch DH, Chayka B, Napoleon S, Munir KM. Environmental risk factors for autism: do they help cause de novo genetic mutations that contribute to the disorder? Med Hypotheses. 2010 Jan;74(1):102-6. doi: 10.1016/j.mehy.2009.07.052. Epub 2009 Aug 21. PMID: 19699591; PMCID: PMC2788022.

7) Wang T, Shan L, Du L, Feng J, Xu Z, Staal WG, Jia F. Serum concentration of 25-hydroxyvitamin D in autism spectrum disorder: a systematic review and meta-analysis. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2016 Apr;25(4):341-50. doi: 10.1007/s00787-015-0786-1. Epub 2015 Oct 29. PMID: 26514973.

8) Muscogiuri G, Altieri B, Annweiler C, Balercia G, Pal HB, Boucher BJ, Cannell JJ, Foresta C, Grübler MR, Kotsa K, Mascitelli L, März W, Orio F, Pilz S, Tirabassi G, Colao A. Vitamin D and chronic diseases: the current state of the art. Arch Toxicol. 2017 Jan;91(1):97-107. doi: 10.1007/s00204-016-1804-x. Epub 2016 Jul 18. PMID: 27425218.

9) Coşkun S, Şimşek Ş, Camkurt MA, Çim A, Çelik SB. Association of polymorphisms in the vitamin D receptor gene and serum 25-hydroxyvitamin D levels in children with autism spectrum disorder. Gene. 2016 Aug 22;588(2):109-14. doi: 10.1016/j.gene.2016.05.004. Epub 2016 May 4. PMID: 27155524.

10) Feng, J., Shan, L., Du, L., Wang, B., Li, H., Wang, W., … Jia, F. (2016). Clinical improvement following vitamin D3 supplementation in Autism Spectrum Disorder. Nutritional Neuroscience, 20(5), 284–290. https://doi.org/10.1080/1028415X.2015.1123847

11) Stubbs G, Henley K, Green J. Autism: Will vitamin D supplementation during pregnancy and early childhood reduce the recurrence rate of autism in newborn siblings? Med Hypotheses. 2016 Mar;88:74-8. doi: 10.1016/j.mehy.2016.01.015. Epub 2016 Feb 2. PMID: 26880644.

12) Wang Z, Ding R, Wang J. The Association between Vitamin D Status and Autism Spectrum Disorder (ASD): A Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients. 2020 Dec 29;13(1):86. doi: 10.3390/nu13010086. PMID: 33383952; PMCID: PMC7824115.

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