Inflamação e depressão: causas, mecanismos e consequências

A inflamação cerebral pode ser desencadeada por diferentes fatores, incluindo:

  1. Infecções: Vírus, bactérias ou fungos podem ativar a microglia e promover a liberação de citocinas inflamatórias. Exemplos: meningite, encefalite, infecção sistêmica.

  2. Doenças autoimunes: Condições como esclerose múltipla e lúpus podem gerar inflamação crônica no sistema nervoso central.

  3. Estresse crônico: Aumento do cortisol e ativação da resposta imune levam à inflamação sistêmica e cerebral.

  4. Doenças metabólicas e inflamatórias sistêmicas: Diabetes tipo 2, obesidade e síndrome metabólica aumentam a inflamação, afetando a função cerebral.

  5. Envelhecimento

    O envelhecimento está associado a um estado inflamatório crônico de baixo grau ("inflammaging"), que prejudica o metabolismo neuronal.

  6. Exposição a toxinas ou poluentes: Poluentes do ar, pesticidas e metais pesados ativam a microglia e aumentam a inflamação.

A imagem a seguir demonstra o impacto da inflamação no metabolismo de neurotransmissores como serotonina (5-HT), dopamina (DA) e noradrenalina (NE). Esse processo pode ser desencadeado por diversas causas e levar a várias consequências.

Como a ativação da micróglia afeta o cérebro?

  • Ativação da resposta inflamatória: microglia ou macrófagos liberam citocinas inflamatórias, como IFNs, IL-1β e TNF. Essas citocinas aumentam a atividade da indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO), que converte triptofano em quinurenina.

  • Redução dos precursores de neurotransmissores: o aumento da via da quinurenina reduz a disponibilidade de triptofano e/ou tirosina. Como esses aminoácidos são precursores essenciais para a síntese de serotonina e dopamina, sua diminuição prejudica a produção desses neurotransmissores.

  • Danos à síntese de neurotransmissores: a conversão de BH4 (tetrahidrobiopterina) em BH2 é aumentada. BH4 é um cofator essencial para as enzimas triptofano hidroxilase (TPH) e tirosina hidroxilase (TH), responsáveis pela síntese de serotonina e dopamina. A diminuição de BH4 prejudica ainda mais essa síntese. Polimorfismos genéticos (como MTHFR) e carências nutricionais (como B9 e B12) agravam o problema.

  • Aumento da recaptação e redução da neurotransmissão: o estresse inflamatório ativa a p38 MAPK, que aumenta a expressão de transportadores de recaptação de neurotransmissores (SERT, DAT e NET). Isso resulta em menor disponibilidade de serotonina, dopamina e noradrenalina na fenda sináptica, contribuindo para sintomas de depressão e fadiga.

Consequências da neuroinflamação

  • Alterações de humor

  • Sintomas depressivos e anedonia

  • Déficits cognitivos

  • Fadiga e falta de motivação

  • Sintomas de TDAH

  • Aumento do risco de doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Disbiose Intestinal como Motor da Neuroinflamação no Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade: Uma Revisão das Evidências Atuais

O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento prevalente, caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Evidências emergentes sugerem uma ligação entre a disbiose da microbiota intestinal e a neuroinflamação como um possível fator contribuinte para a fisiopatologia do TDAH. Esta revisão explora os achados atuais sobre o eixo intestino-cérebro, os mecanismos pelos quais a disbiose intestinal pode impulsionar a neuroinflamação no TDAH e potenciais intervenções terapêuticas direcionadas à microbiota intestinal.

O TDAH afeta aproximadamente 5-10% das crianças em todo o mundo e frequentemente persiste na vida adulta. Embora fatores genéticos e ambientais contribuam para sua etiologia, estudos recentes destacaram o papel da microbiota intestinal na modulação da função cerebral e do comportamento. O eixo intestino-cérebro, um sistema de comunicação bidirecional, sugere que desequilíbrios microbianos podem contribuir para processos neuroinflamatórios subjacentes ao TDAH.

O Eixo Intestino-Cérebro e a Neuroinflamação

O eixo intestino-cérebro envolve vias neurais, endócrinas e imunológicas. A microbiota intestinal influencia a função cerebral através de:

  • Produção de metabólitos neuroativos (ex.: ácidos graxos de cadeia curta, neurotransmissores)

  • Modulação do sistema imunológico e respostas inflamatórias

  • Regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA)

A disbiose, ou um desequilíbrio na microbiota intestinal, tem sido associada ao aumento da permeabilidade intestinal ("intestino permeável"), levando à inflamação sistêmica e respostas neuroinflamatórias. Níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6, foram relatados em pacientes com TDAH, apoiando essa conexão.

Vários estudos identificaram alterações na composição do microbioma intestinal de indivíduos com TDAH, incluindo:

  • Redução nos níveis de bactérias benéficas (ex.: Bifidobacterium, Lactobacillus)

  • Aumento da abundância de microrganismos pró-inflamatórios (ex.: Bacteroides, Prevotella)

  • Metabólitos microbianos desregulados afetando as vias da dopamina e serotonina

Modelos animais também reforçam o papel da microbiota intestinal nos comportamentos semelhantes ao TDAH, onde roedores livres de germes ou tratados com antibióticos apresentam hiperatividade e déficits cognitivos.

Intervenções Terapêuticas Potenciais

A modulação da microbiota intestinal pode oferecer uma abordagem inovadora para o manejo dos sintomas do TDAH. Estratégias incluem:

  • Probióticos e Prebióticos: A suplementação com cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium demonstrou potencial na melhora da atenção e na redução da hiperatividade.

  • Intervenções Dietéticas: Dietas ricas em fibras, polifenóis e ácidos graxos ômega-3 podem promover um microbioma intestinal saudável e reduzir a inflamação.

  • Transplante de Microbiota Fecal (TMF): Embora ainda em estágios iniciais de pesquisa, o TMF tem mostrado potencial na modulação da composição microbiana intestinal e do comportamento.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Menopausa precoce acelera o envelhecimento

Variantes genéticas contribuem cerca de 50% para a variação da idade na menopausa. Por exemplo, a razão de chances de uma mulher ter uma menopausa precoce se sua mãe a teve é de 6,02. É uma razão de chances considerada ALTA na genética. Estudos recentes de associação genômica ampla (GWAS) identificaram várias variantes genéticas associadas à menopausa e insuficiência ovariana prematura (IOP).

Entre as causas não genéticas para menopausa precoce estão as doenças autoimunes. Quando o sistema imune está desregulado (como na doença de Addison e na tireoidite de Hashimoto), pode atacar os ovários. A remoção dos ovários (ooforectomia) gera a entrada precoce na menopausa. Outras cirurgias pélvicas aumentam o risco de falência ovariana precoce. Quimio e radioterapia também podem danificar os ovários, acelerando a entrada na menopausa. Infecções como caxumba, tabagismo, estresse elevado, deficiência de vitamina D, ômega-3, antioxidantes e excesso de carboidratos e alimentos ultraprocessados são outros fatores de risco.

Qual o problema de acontecer uma menopausa precoce?

A menopausa precoce está associada a um envelhecimento mais acelerado e consequentemente maior chance de desenvolvimento de algumas doenças, como cardiovasculares. Além da questão do planejamento familiar, já que hoje, as mulheres tem tido filhos mais tardiamente.

Os genes associados à menopausa precoce e IOP estão envolvidos no reparo e manutenção do DNA, bem como na função imunológica. Dados biológicos e epidemiológicos parecem indicar que o desempenho reprodutivo, idade da menopausa, e longevidade estão interligados por meio de fatores genéticos comuns envolvidos no reparo e manutenção do DNA. Caso esses sistemas falhem, ocorre a morte celular e o envelhecimento acelerado. Consequentemente, parece que o envelhecimento, como resultado do reparo disfuncional do DNA, é responsável pela falha na reprodução e pela subsequente ocorrência da menopausa.

A maioria desses genes está implicada no reparo do DNA e nas vias imunológicas, como já dito, e sugere que o envelhecimento ovariano é um indicador precoce do envelhecimento geral .

Menopausa precoce? Cuidado REDOBRADO na gestão da saúde.

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Referências

  • J Clin Invest. 2015 Jan;125(1):258-62. doi: 10.1172/JCI78473.

  • Hum Mol Genet. 2014 Jun 15;23(12):3327-42. doi: 10.1093/hmg/ddu041.

  • Hum Mol Genet. 2019 Apr 15;28(8):1392-1401. doi: 10.1093/hmg/ddz015.

  • J Assist Reprod Genet. 2014 Sep 18;31(12):1573–1585. doi: 10.1007/s10815-014-0342-9

  • Mol Genet Genomic Med. 2020 Jul 11;8(9):e1396. doi: 10.1002/mgg3.1396

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/