O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento prevalente, caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Evidências emergentes sugerem uma ligação entre a disbiose da microbiota intestinal e a neuroinflamação como um possível fator contribuinte para a fisiopatologia do TDAH. Esta revisão explora os achados atuais sobre o eixo intestino-cérebro, os mecanismos pelos quais a disbiose intestinal pode impulsionar a neuroinflamação no TDAH e potenciais intervenções terapêuticas direcionadas à microbiota intestinal.
O TDAH afeta aproximadamente 5-10% das crianças em todo o mundo e frequentemente persiste na vida adulta. Embora fatores genéticos e ambientais contribuam para sua etiologia, estudos recentes destacaram o papel da microbiota intestinal na modulação da função cerebral e do comportamento. O eixo intestino-cérebro, um sistema de comunicação bidirecional, sugere que desequilíbrios microbianos podem contribuir para processos neuroinflamatórios subjacentes ao TDAH.
O Eixo Intestino-Cérebro e a Neuroinflamação
O eixo intestino-cérebro envolve vias neurais, endócrinas e imunológicas. A microbiota intestinal influencia a função cerebral através de:
Produção de metabólitos neuroativos (ex.: ácidos graxos de cadeia curta, neurotransmissores)
Modulação do sistema imunológico e respostas inflamatórias
Regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA)
A disbiose, ou um desequilíbrio na microbiota intestinal, tem sido associada ao aumento da permeabilidade intestinal ("intestino permeável"), levando à inflamação sistêmica e respostas neuroinflamatórias. Níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6, foram relatados em pacientes com TDAH, apoiando essa conexão.
Vários estudos identificaram alterações na composição do microbioma intestinal de indivíduos com TDAH, incluindo:
Redução nos níveis de bactérias benéficas (ex.: Bifidobacterium, Lactobacillus)
Aumento da abundância de microrganismos pró-inflamatórios (ex.: Bacteroides, Prevotella)
Metabólitos microbianos desregulados afetando as vias da dopamina e serotonina
Modelos animais também reforçam o papel da microbiota intestinal nos comportamentos semelhantes ao TDAH, onde roedores livres de germes ou tratados com antibióticos apresentam hiperatividade e déficits cognitivos.
Intervenções Terapêuticas Potenciais
A modulação da microbiota intestinal pode oferecer uma abordagem inovadora para o manejo dos sintomas do TDAH. Estratégias incluem:
Probióticos e Prebióticos: A suplementação com cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium demonstrou potencial na melhora da atenção e na redução da hiperatividade.
Intervenções Dietéticas: Dietas ricas em fibras, polifenóis e ácidos graxos ômega-3 podem promover um microbioma intestinal saudável e reduzir a inflamação.
Transplante de Microbiota Fecal (TMF): Embora ainda em estágios iniciais de pesquisa, o TMF tem mostrado potencial na modulação da composição microbiana intestinal e do comportamento.
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