Genética e ritmo circadiano

A rotação diária da Terra em seu eixo e a revolução anual ao redor do Sol têm efeitos significativos em nossos "ritmos biológicos". Desenvolvemos relógios circadianos moleculares endógenos para sincronizar nossos ritmos comportamentais, biológicos e metabólicos com sinais ambientais, com o objetivo de ter o melhor desempenho em um período de 24 horas. A regulação circadiana coordenada dos ciclos sono/vigília, repouso/atividade, jejum/alimentação e ciclos catabólicos/anabólicos é crucial para a saúde ideal.

Os ritmos circadianos na expressão genética sincronizam processos bioquímicos e fluxos metabólicos com o ambiente externo, permitindo que o organismo funcione efetivamente em resposta a desafios fisiológicos previsíveis. Uma perda de sincronização pode alterar a gama fisiológica de ritmos, levando a distúrbios metabólicos e doenças, ou seja, cronopatologia.

A imagem acima representa a regulação genética do ritmo circadiano, destacando genes e proteínas essenciais para a sincronização dos ciclos biológicos com estímulos ambientais, como a luz solar.

Genes da imagem:

  1. Entrada de Luz e Ativação de Genes Relógio:

    A luz solar ativa células ganglionares da retina, estimulando a expressão do gene PER2 via CREB (proteína de ligação ao elemento de resposta ao AMP cíclico). Outros genes como PER1, PER3, CRY1 e CRY2 também são regulados pela luz.

    Exposição à luz solar pela manhã (idealmente nos primeiros 30-60 minutos após acordar) ativa o gene PER2, ajustando o relógio biológico.

    Evitar luz azul à noite (de telas e lâmpadas LED) previne a supressão da melatonina, essencial para o sono e regulação dos genes circadianos.

  2. Mecanismo Molecular do Relógio Circadiano:

    No núcleo celular, os genes CLOCK e ARNTL (BMAL1) formam um heterodímero e se ligam a regiões chamadas EBOX para ativar a transcrição de genes do ciclo circadiano, como PER1, PER2, PER3, CRY1 e CRY2. Essas proteínas formam complexos que, ao longo do tempo, inibem sua própria transcrição, criando um ciclo oscilatório de aproximadamente 24 horas.

    A alimentação influencia diretamente genes como CLOCK, BMAL1, PER, CRY e ROR, regulando o metabolismo e o ciclo circadiano. Alimentos que ajudam na regulação circadiana:

  • Triptofano (precursor da melatonina)

    • Presente em: ovos, queijo, peru, banana, castanhas, cacau.

    • Favorece a síntese de melatonina e serotonina, melhorando o sono e o humor.

  • Magnésio (essencial para a função do CLOCK)

    • Fontes: amêndoas, espinafre, sementes de abóbora, cacau.

    • Modula a expressão dos genes circadianos e melhora a qualidade do sono.

  • Vitamina B6 (cofator da conversão de triptofano em serotonina e melatonina)

    • Fontes: banana, salmão, batata-doce, abacate.

    • Atua na síntese de neurotransmissores e no gene PDXK.

  • Vitamina B12 e Metilcobalamina (importante para ritmos metabólicos)

    • Fontes: carne vermelha, ovos, leite, frutos do mar.

    • Regula a produção de melatonina e a resposta ao ciclo circadiano.

  • Ácidos graxos ômega-3 (anti-inflamatório e modulador de genes circadianos)

    • Fontes: peixes gordurosos (salmão, sardinha), linhaça, chia.

    • Estimula genes como BMAL1 e ROR e reduz inflamações que afetam o ritmo circadiano.

  • Resveratrol e Polifenóis (favorecem a expressão de CLOCK e BMAL1)

    • Fontes: uva, vinho tinto, cacau, chá verde.

    • Melhoram a sensibilidade à insulina e ajudam no controle dos ciclos metabólicos.

    Estratégias de Estilo de Vida

    1. Jejum Intermitente e Horários Regulares de Alimentação

      • Comer sempre nos mesmos horários ajusta genes como PER1 e PER2.

      • O jejum intermitente estimula SIRT1, que interage com CLOCK e BMAL1.

    2. Exercício Físico

      • Atividade física pela manhã aumenta a expressão de BMAL1 e CLOCK, promovendo um ritmo metabólico estável.

      • Treinos noturnos intensos podem atrasar a liberação de melatonina e alterar PER2.

    3. Sono de Qualidade

      • Dormir em um ambiente escuro preserva a produção de melatonina e melhora a sincronização circadiana.

      • Evitar cafeína e refeições pesadas à noite reduz a desregulação de CLOCK e PER.

    4. Exposição ao Frio

      • Banhos frios ou exposição ao frio ativam o metabolismo de gordura marrom e regulam genes circadianos como PER1 e ROR.

    3. Regulação por Fatores Adicionais:

    RORA, RORB e RORC regulam positivamente ARNTL, enquanto NR1D1 (REV-ERB) age como um inibidor. GSK3B, um alvo do lítio, modula a estabilidade de proteínas do ciclo circadiano.

  • Vitamina D: estimula a expressão de RORs. Fontes: sol, peixes gordurosos, gema de ovo.

  • Resveratrol e Polifenóis: modulam RORs e melhoram ritmos circadianos. Fontes: cacau, chá verde, uvas.

  • DHA (Ômega-3): regula a expressão de RORA e RORB, promovendo neuroproteção. Fontes: salmão, sardinha, chia.

  • Exposição à luz solar matinal: essencial para manter a atividade circadiana correta.

    Como ativar NR1D1:

    • Exercício físico moderado: melhora a função de REV-ERBα.

    • Carboidratos complexos à noite: ajudam a regular o ciclo NR1D1-BMAL1.

    • Cafeína pela manhã: promove a ativação de NR1D1.

    4. Relação com o Metabolismo e a Saúde:

    MTNR1A e MTNR1B são receptores de melatonina, hormônio regulador do sono. Pyridoxal phosphate (Pdxk) e vitamina B6 influenciam a síntese de neurotransmissores. LDHA participa da regulação redox, conectando metabolismo energético e ritmos circadianos.

⚡ Como otimizar a sinalização de melatonina:

  • Evitar luz artificial azul após o pôr do sol.

  • Alimentos ricos em triptofano: ovos, nozes, cacau e peru.

  • Jejum noturno de pelo menos 12 horas: melhora a sensibilidade à melatonina.

  • Magnésio e zinco: aumentam a expressão de MTNR1A/B. Fontes: castanhas, sementes de abóbora.

⚡ Como modular LDHA naturalmente:

  • Treino HIIT e exercícios de resistência: aumentam a expressão de LDHA.

  • Dieta cetogênica ou baixa em carboidratos: reduz a necessidade de LDHA.

  • Evitar picos glicêmicos: excesso de açúcar pode desregular LDHA.

A desregulação desses genes pode levar a cronopatologias, como distúrbios do sono, metabolismo alterado e doenças neurológicas. O equilíbrio circadiano é essencial para a manutenção da saúde física e mental.

Pequenos ajustes no estilo de vida têm um impacto significativo na expressão genética, melhorando saúde metabólica, sono e desempenho cognitivo.

✅ Luz solar matinal ☀️
✅ Exercícios físicos regulares 🏋️‍♂️
✅ Jejum intermitente ⏳
✅ Dieta rica em magnésio, ômega-3, vitamina D e triptofano 🥑🐟🥚
✅ Evitar luz azul e cafeína à noite 📱🚫

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Produção Alimentar, escolhas individuais e Sustentabilidade

A produção alimentar desempenha um papel fundamental na segurança alimentar global, garantindo o abastecimento de alimentos para a população. No entanto, o modelo tradicional de produção tem gerado impactos ambientais significativos, como desmatamento, emissão de gases de efeito estufa, degradação do solo e desperdício de recursos hídricos. Diante desse cenário, a busca por métodos sustentáveis de produção alimentar tornou-se essencial para equilibrar a demanda crescente por alimentos e a preservação do meio ambiente.

Práticas Sustentáveis na Produção Alimentar

  1. Agricultura Orgânica: Reduz o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, promovendo a saúde do solo e a biodiversidade.

  2. Agroecologia: Integra conhecimentos tradicionais e científicos para criar sistemas agrícolas sustentáveis e resilientes.

  3. Agricultura de Precisão: Utiliza tecnologias para otimizar o uso de insumos, reduzindo desperdício e impactos ambientais.

  4. Uso Eficiente da Água: Adoção de sistemas de irrigação inteligentes e captação de água da chuva para reduzir o consumo hídrico.

  5. Redução do Desperdício Alimentar: Implementação de estratégias para evitar perdas na cadeia produtiva e conscientizar consumidores sobre o consumo responsável.

  6. Agricultura Regenerativa: Práticas que restauram a fertilidade do solo, aumentam a biodiversidade e capturam carbono da atmosfera.

Benefícios da Produção Sustentável

  • Preservação dos Recursos Naturais: Minimiza o impacto sobre o solo, a água e os ecossistemas naturais.

  • Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa: Práticas sustentáveis contribuem para a mitigação das mudanças climáticas.

  • Alimentação Mais Saudável: Produção livre de agroquímicos reduz riscos à saúde humana.

  • Fortalecimento da Economia Local: Pequenos agricultores são beneficiados com a valorização de práticas sustentáveis.

Escolhas Individuais e Sustentabilidade

As escolhas individuais têm um impacto significativo na sustentabilidade da produção alimentar. Consumidores podem contribuir para um sistema mais sustentável ao adotar hábitos como:

  • Preferência por Produtos Locais e Orgânicos: Reduzem a pegada de carbono associada ao transporte de alimentos e incentivam a produção sustentável.

  • Diminuição do Consumo de Carne: A pecuária e a produção de alimentos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios, estão intimamente ligadas ao desmatamento, sendo responsáveis por mais de 80% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, acelerando o aquecimento global e as emergências climáticas.
    Uma dieta vegana seria a mais sustentável. Mas não é simples. Talvez você ou sua família não estejam prontos. Se você não consegue eliminar os produtos de origem animal não se aflija. Reduzindo o consumo em 50% já faz toda a diferença para o planeta. É o que chamam de dieta flexitariana ou semivegetariana. O relatório da comissão EAT-Lancet, encabeçado pelo pesquisador de Harvard, o professor Dr. Walter Willett sugere uma métrica mais fácil de adaptar no dia a dia:

    • Laticínios: 0 a 250 g/dia

    • Carne de vaca, cordeiro e porco: 0 a 28 g/dia (1 porção de 110 g a cada 4 dias)

    • Carne de frango ou outras aves: 0 a 58 g/dia (1 porção de 120 g a cada 2 dias)

    • Ovos: 0 a 25 g/dia (1 unidade a cada 2 dias)

    • Peixes: 0 a 100 g/dia (1 porção de 100 g por dia)

  • Redução do Desperdício Alimentar: Planejar refeições, armazenar alimentos corretamente e aproveitar integralmente os ingredientes ajudam a evitar desperdício.

  • Uso Consciente de Recursos: Reduzir o consumo de água e energia na cozinha também contribui para a sustentabilidade.

  • Apoio a Empresas Sustentáveis: Escolher marcas e produtores comprometidos com boas práticas ambientais e sociais fortalece o mercado de alimentos sustentáveis.

A transição para uma produção alimentar mais sustentável é um desafio global que exige colaboração entre governos, setor privado e consumidores. Ao adotar práticas conscientes, é possível garantir a segurança alimentar sem comprometer os recursos das futuras gerações.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Circularidade de sistemas alimentares

A circularidade de sistemas alimentares refere-se a um modelo sustentável de produção, distribuição e consumo de alimentos que busca minimizar desperdícios, otimizar o uso de recursos e regenerar ecossistemas. Esse conceito está alinhado com a economia circular, onde materiais e nutrientes são reaproveitados continuamente em um ciclo fechado.

Princípios da Circularidade nos Sistemas Alimentares

  1. Redução do Desperdício – Minimizar perdas ao longo da cadeia produtiva, desde o campo até o consumidor.

  2. Valorização de Resíduos – Transformar subprodutos e resíduos em novos recursos (ex.: compostagem, bioenergia, ração animal).

  3. Produção Regenerativa – Promover práticas agrícolas que regeneram o solo e reduzem impactos ambientais.

  4. Eficiência no Uso de Recursos – Otimizar água, energia e insumos para reduzir impactos ecológicos.

  5. Cadeias Curtas e Locais – Reduzir a pegada de carbono e fortalecer economias locais por meio de mercados regionais.

Exemplos de Práticas Circulares

  • Agricultura regenerativa: Uso de técnicas como agrofloresta e rotação de culturas.

  • Aproveitamento de resíduos alimentares: Reutilização de restos de alimentos para biogás, compostagem ou ração.

  • Embalagens sustentáveis: Uso de materiais biodegradáveis ou reutilizáveis.

  • Conexão entre setores: Indústrias de alimentos colaborando com outros setores (ex.: cervejarias fornecendo resíduos para a produção de ração).

A transição para sistemas alimentares circulares é essencial para enfrentar desafios como a crise climática, a segurança alimentar e a degradação ambiental.

O nutricionista desempenha um papel essencial na transição para sistemas alimentares circulares, atuando na promoção de práticas sustentáveis em diferentes etapas da cadeia alimentar. Sua atuação vai além da nutrição individual e inclui educação alimentar, redução do desperdício e incentivo a escolhas mais sustentáveis.

Como o Nutricionista se Integra à Circularidade dos Sistemas Alimentares?

  1. Educação e Conscientização

    • Orientar consumidores sobre escolhas alimentares sustentáveis, como o consumo de alimentos sazonais e locais.

    • Incentivar dietas com menor impacto ambiental, como a inclusão de mais vegetais e redução do consumo excessivo de ultraprocessados.

    • Ensinar técnicas para melhor aproveitamento dos alimentos, reduzindo desperdícios (ex.: uso integral de cascas, talos e sementes).

  2. Gestão e Redução do Desperdício Alimentar

    • Planejar cardápios em escolas, hospitais e empresas com foco na otimização de ingredientes e reaproveitamento.

    • Trabalhar em conjunto com cozinhas e refeitórios para minimizar sobras e melhorar a gestão de estoque.

    • Criar estratégias para reutilização de resíduos, como compostagem ou doação de alimentos.

  3. Promoção de Cadeias Alimentares Sustentáveis

    • Incentivar o consumo de produtos de pequenos produtores e da agricultura regenerativa.

    • Apoiar políticas públicas que promovam alimentação saudável e sustentável.

    • Participar de iniciativas de economia circular, como parcerias com produtores locais para otimizar o uso de alimentos.

  4. Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis

    • Colaborar com a indústria alimentícia no desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, como aqueles com menos desperdício na produção.

    • Explorar novas fontes de nutrientes sustentáveis, como proteínas alternativas (leguminosas, algas, insetos).

O nutricionista não apenas guia escolhas alimentares individuais, mas também influencia políticas, cadeias de suprimento e práticas de consumo para tornar os sistemas alimentares mais circulares e sustentáveis. Sua atuação é crucial para reduzir impactos ambientais sem comprometer a saúde e a segurança alimentar.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/