Estudos de autópsia verbal

O estudo de autópsia verbal (AV) é um método de investigação utilizado para determinar a causa de morte em populações onde a certificação médica do óbito é limitada ou inexistente. Ele se baseia na coleta de informações sobre os sintomas, histórico médico e circunstâncias da morte por meio de entrevistas com familiares ou cuidadores do falecido.

Objetivos da Autópsia Verbal

  • Estimar causas de morte em regiões sem acesso a registros médicos confiáveis.

  • Auxiliar no planejamento de políticas de saúde pública.

  • Melhorar a vigilância epidemiológica, especialmente em países de baixa e média renda.

Como é Realizado o Estudo

  1. Entrevista Estruturada: Um questionário padronizado é aplicado a familiares ou cuidadores próximos do falecido.

  2. Coleta de Informações: Os entrevistadores perguntam sobre sinais, sintomas e eventos que precederam a morte.

  3. Análise dos Dados:

    • Especialistas (médicos ou algoritmos computacionais) interpretam os relatos para inferir uma possível causa de morte.

  4. Classificação das Causas: Os dados são agrupados e analisados estatisticamente para determinar padrões de mortalidade na população estudada.

Limitações

  • Possibilidade de viés de memória dos entrevistados.

  • Dificuldade em diagnosticar doenças com sintomas inespecíficos.

  • Dependência de classificações padronizadas, como o CID-10.

Importância

A autópsia verbal tem sido fundamental em estudos populacionais, como os conduzidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Global Burden of Disease (GBD), ajudando a preencher lacunas de dados sobre mortalidade em países com sistemas de saúde precários.

1. Aplicações na Psiquiatria

A AV pode ser usada para estudar mortes associadas a transtornos mentais e comportamentais, especialmente em locais onde os registros médicos são escassos. Algumas aplicações incluem:

🧠 Investigação de Suicídios

Muitos casos de suicídio não são oficialmente registrados devido ao estigma ou à falta de documentação adequada. A AV ajuda a identificar fatores de risco (histórico de depressão, abuso de substâncias, eventos estressantes). Permite uma estimativa mais precisa da taxa de suicídio em diferentes populações.

💊 Morte Relacionada ao Uso de Substâncias

Investiga óbitos ligados a transtornos por uso de álcool e drogas. Ajuda a identificar padrões de overdose e intoxicação, contribuindo para políticas de redução de danos.

🧩 Transtornos Psiquiátricos e Mortalidade Prematura

Pessoas com esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão grave tendem a ter menor expectativa de vida devido a comorbidades. A AV pode analisar se a causa de morte está relacionada a fatores como falta de tratamento adequado, negligência ou suicídio.

2. Aplicações na Nutrição

A AV também é amplamente utilizada na nutrição e saúde materno-infantil, especialmente para investigar mortes por causas nutricionais. Algumas aplicações incluem:

🍎 Mortalidade Infantil e Desnutrição

Investigação de mortes por desnutrição severa, incluindo marasmo e kwashiorkor. Análise de impacto de deficiências nutricionais (ex.: vitamina A, ferro, zinco) na mortalidade infantil.

🥦 Doenças Crônicas Relacionadas à Nutrição

A AV pode ser usada para identificar padrões de mortalidade por diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, avaliando hábitos alimentares relatados por familiares. Investiga a relação entre desnutrição na infância e mortalidade precoce por doenças crônicas na vida adulta.

🍼 Mortalidade Materna e Nutrição

Avalia a relação entre anemia, deficiências nutricionais e complicações na gravidez que levaram à morte materna. Investiga se a alimentação inadequada contribuiu para riscos de hemorragias e infecções pós-parto.

Conclusão

A autópsia verbal é uma ferramenta poderosa para entender padrões de mortalidade ligados a transtornos psiquiátricos e problemas nutricionais. Seus dados podem ajudar a formular políticas públicas, melhorar a prevenção de doenças e direcionar investimentos em saúde mental e nutrição. Aprenda mais sobre nutrição e psiquiatria na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Espectro da suicidalidade

A suicidalidade refere-se ao espectro de pensamentos e comportamentos relacionados ao suicídio, incluindo desde pensamentos suicidas até tentativas e o ato em si. O diagrama abaixo apresenta um modelo explicativo da suicidalidade, destacando os diferentes níveis de comportamento autolesivo e suicida.

1. Pensamentos Suicidas

  • Podem ser passivos (desejo de não estar vivo, mas sem um plano) ou ativos (ideação suicida com intenção e planejamento).

  • Esses pensamentos podem evoluir para comportamentos suicidas encobertos, como exposição a riscos ou falar sobre a própria morte de maneira indireta.

2. Autolesão Deliberada

  • Inclui qualquer tipo de autolesão intencional, que pode ou não ter uma intenção suicida.

  • Pode ser uma forma de lidar com sofrimento emocional sem necessariamente ter intenção de morrer.

3. Caminhos da Autolesão Deliberada

A partir da autolesão, podem surgir diferentes desfechos:

  • Autolesão sem intenção suicida → Pode estar ligada à regulação emocional, mas pode evoluir para um risco maior de suicídio.

  • Tentativa de suicídio → Quando há intenção de acabar com a própria vida, podendo ser:

    • De fato (resulta em danos sérios ou morte)

    • Abortada (a pessoa interrompe antes de concluir)

    • Interrompida (alguém ou algo impede a conclusão)

4. Espectro de Suicidalidade

O diagrama também menciona o "espectro", que inclui casos como overdoses ou suicídio assistido, indicando que a suicidalidade pode se manifestar de diferentes maneiras.

5. Resultado Final: Suicídio

Se os pensamentos e comportamentos suicidas não forem identificados e tratados, podem resultar no suicídio propriamente dito.

Esse modelo ajuda a entender que a suicidalidade é um processo que pode começar com pensamentos sutis e evoluir para tentativas. A intervenção precoce em qualquer etapa pode salvar vidas. Se você ou alguém que conhece está passando por isso, buscar ajuda profissional é essencial.

Por que a taxa de suicídio é tão alta na Groelândia?

A Groelândia tem uma das taxas de suicídio mais altas do mundo, e isso se deve a uma combinação de fatores históricos, sociais, culturais e ambientais. Possíveis causas serão discutidas abaixo.

Dados de 2023

1. História de Colonização e Mudança Cultural

A Groelândia passou por mudanças rápidas e drásticas desde que foi colonizada pela Dinamarca. A modernização forçada e a perda de tradições inuítes causaram um choque cultural profundo. Muitos jovens cresceram sem uma identidade cultural bem definida, o que gerou crises emocionais e sociais.

2. Isolamento e Condições Extremas

O clima frio e a escuridão prolongada no inverno podem afetar a saúde mental, contribuindo para depressão e outros transtornos. Além disso, muitas comunidades são extremamente isoladas, tornando difícil o acesso a apoio psicológico ou redes de suporte.

3. Abuso de Álcool e Problemas Sociais

O abuso de álcool é um problema sério na Groelândia e está frequentemente ligado a casos de violência doméstica, depressão e suicídio. Isso cria um ciclo de sofrimento que afeta especialmente os jovens.

4. Altas Taxas de Suicídio Entre Jovens

A maioria dos suicídios ocorre entre adolescentes e jovens adultos (15 a 29 anos). Muitas vezes, esses suicídios são impulsivos e estão relacionados a problemas familiares, abuso ou falta de perspectivas para o futuro.

5. Tabu e Falta de Apoio Psicológico

Embora o suicídio seja um problema conhecido, ainda há estigma em buscar ajuda psicológica. Além disso, os serviços de saúde mental são limitados, especialmente em áreas remotas.

Tentativas de Solução

O governo da Groelândia e a Dinamarca vêm implementando programas de prevenção, incluindo campanhas de conscientização, linhas de apoio e maior acesso a serviços de saúde mental. No entanto, mudar esse cenário leva tempo e exige um esforço contínuo.

A situação é complexa e reflete não apenas questões individuais, mas também problemas estruturais de longa data.

Aumento da taxa de suicídio no Brasil

O suicídio é uma questão de saúde pública no Brasil, apresentando um aumento significativo nos últimos anos. Entre 2010 e 2019, houve um crescimento de 43% nos casos de suicídio, passando de 9.454 para 13.523 ocorrências anuais.

Em 2019, a taxa de suicídios no país foi de 6,4 por 100 mil habitantes. O problema é maior entre idosos. Contudo, a taxa de crescimento é ainda mais alarmante entre adolescentes e jovens:

  • Adolescentes (10 a 19 anos): Houve um aumento de 81% na taxa de suicídio, passando de 3,5 para 6,4 por 100 mil adolescentes entre 2010 e 2019.

  • Jovens (15 a 29 anos): O suicídio é a quarta causa de morte nessa faixa etária.

Distribuição Geográfica

As taxas de suicídio variam entre as unidades federativas:

  • Rio Grande do Sul: Apresenta a maior taxa, com 10,2 suicídios por 100 mil habitantes.

  • Mato Grosso do Sul: Taxa de 8,66 por 100 mil habitantes.

  • Santa Catarina: Taxa de 8,58 por 100 mil habitantes.

Esses dados destacam a necessidade de políticas públicas eficazes e campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo, para prevenir o suicídio e promover a saúde mental no país. Uma importante discussão é o contato com agrotóxicos e o aumento das taxas de suicídio, especialmente nas populações rurais (Faria et al., 2014). Enquanto o mundo está arroxando cada vez mais o cerco aos agrotóxicos, no Brasil novos agrotóxicos são liberados todos os anos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Metabólitos microbianos na urina

Este exame apresenta uma análise de metabólitos microbianos na urina, indicando possíveis desbalanços metabólicos e disbiose intestinal. Vamos interpretar os resultados:

Metabólitos Microbianos de Aminoácido

  • 4-Hidroxifenilacético Ácido (160.0 nmol/mg)Normal, dentro da faixa de referência (85.8 - 902.3). Relacionado ao metabolismo da tirosina ou tiramina. Aumenta em caso de infecções e inflamação por excesso de Clostridium, Klebisiela, Pseudomonas, Proteus. Averiguar em caso de aumento se a dieta está excessivamente proteica. Em caso de valores baixos, averiguar se a dieta está hipoproteica. Suplementação de quercetina também parece reduzir este marcador.

  • Ácido Indolacético (36.6 H nmol/mg)Alto (superior ao limite de 13.7), podendo indicar metabolismo desordenado do triptofano, possivelmente devido a disbiose intestinal. Pode aumentar no desequilíbrio entre bifidobactérias, bacteroides, bacillus, pseudomonas, E. coli. Averiguar se a dieta possui fibra adequada. É comum dar valor baixo em indivíduos obesos, com esteatose hepática, doença inflamatória intestinal e diabetes. A inflamação pode reduzir a disponibilidade de triptofano.

Metabólitos Microbianos de Polifenóis

  • Ácido 3,4-DihidroxihidrocínâmicoNão detectado (<DL), sem significado clínico relevante. Composto formado principalmente por Clostridium spp., bifidobactérias, lactobacílus e eubactérias a partir do consumo de polifenois da dieta. Tem propriedades antioxidantes e antiinflamatórias. Níveis altos são associados a alto consumo de polifenois do café, beterraba ou azeitonas. Baixos níveis indicam baixo consumo de polifenóis ou baixa diversidade bacteriana.

  • Ácido 3,5-Dihidroxibenzóico (475.1 H nmol/mg)Elevado (acima de 277.1), possivelmente indicando fermentação bacteriana aumentada no intestino. Níveis altos associados a níveis mais altos de consumo de cereais integrais. Baixos níveis podem estar associados a baixo consumo de cereais integrais ou disbiose intestinal.

  • Ácido 4-Hidroxibenzóico (5.0 nmol/mg)Dentro do normal (<14.9). Costuma aumentar com alto consumo de ácido benzóico como preservativo de alimentos industrializados. Formado por bactérias como Clostridium e Eubacterium. Altos níveis são associados a alto consumo de polifenois, como antocianinas ou aumento do hormônio FSH. Baixos níveis associados a baixo consumo de polifenóis ou disbiose.

  • Ácido Benzóico (564.8 H nmol/mg)Elevado (acima de 488.0), podendo estar relacionado ao metabolismo bacteriano anormal e sobrecarga hepática. Escherichia coli, Bifidobactérias e Lactobacilus produzem ácido benzóico, que pode inibir o crescimento de microorganismos patogênicos. Contudo, o ácido benzóico se une facilmente à glicina e os níveis tendem a permanecer mais baixos. Também é encontrado no brócolis, pimenta, como preservativo de frutas, sucos, vinho, chás. Suplementação de glicina e B5 reduzem os níveis de ácido benzóico.

  • Ácido Hipúrico (406.8 H nmol/mg)Elevado (acima de 291.9), frequentemente associado ao consumo de polifenóis ou disbiose intestinal. O corpo converte ácido benzóico em ácido hipúrico para excreção. Altos níveis de ácido hipúrico são associados a maior diversidade microbiana e melhor saúde intestinal. É visto aumentado em indivíduos mais aderentes à dieta mediterrânica. Os níveis também aumenta com consumo de frutas, vinho e chás. Níveis excessivamente aumentados são comuns em indivíduos com Clostridia spp. Níveis baixos indicam baixa diversidade microbiana. Altos níveis de ácido benzóico e baixos níveis de ácido hipúrico associam-se a pior saúde hepática.

Metabólito Microbiano de Isoflavona

  • EquolNão detectado (<DL), sem significado clínico relevante. É um metabólito bacteriano benéfico associado ao consumo de soja. Tem atividade antioxidante. Níveis aumentados estão associados a maior consumo de isoflavonas da soja, tofu, tempeh ou miso. Níveis baixos estão associados a baixo consumo de soja. Mulheres com muitos sintomas de TPM geralmente não produzem equol.

Avaliação Fúngica

  • Arabitinol (2.9 nmol/mg)Dentro do normal (<9.0), sugerindo ausência de crescimento excessivo de leveduras como Candida e Rhotdotorula spp, que transformam arabinose, glicose ou glicerol em arabinitol. Quando elevado indica excesso de fungos. Níveis dentro do normal ou baixos é o que esperamos.

Resumo da Interpretação

Resultados deste paciente indicam disbiose intestinal, principalmente pelo aumento do ácido indolacético, 3,5-dihidroxibenzóico, benzóico e hipúrico. Pode haver metabolismo alterado do triptofano e fermentação excessiva de polifenóis. O aumento de ácido benzóico e hipúrico pode estar ligado a um aumento na ingestão de polifenóis ou metabolismo bacteriano alterado. Nenhum sinal de crescimento excessivo de fungos.

Possíveis Recomendações

Confirmar e tratar a disbiose intestinal e avaliar dieta (reduzir consumo excessivo de polifenóis, se necessário).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/