Deficiência de Folato: Diagnóstico, Causas e Consequências

O folato (vitamina B9) é essencial para a síntese de DNA, RNA, metabolismo de aminoácidos e metilação de biomoléculas. Sua deficiência pode levar a anemia megaloblástica, distúrbios neurológicos e complicações na gravidez. A recomendação de folato (RDA) e a dose máxima (suplementação) variam de acordo com a faixa etária:

Abaixo estão algumas fontes de folato com a quantidade de folato por 100g do alimento:

  1. Fígado de boi: 290 mcg

  2. Feijão (cozido): 180 mcg

  3. Grão-de-bico (cozido): 172 mcg

  4. Espinafre (cozido): 194 mcg

  5. Aspargos (cozidos): 149 mcg

  6. Couve (cozida): 141 mcg

  7. Brócolis (cozidos): 108 mcg

  8. Alface (crua): 136 mcg

  9. Abacate: 81 mcg

  10. Laranja: 30 mcg

  11. Beterraba: 109 mcg

  12. Amendoim: 160 mcg

  13. Sementes de girassol: 237 mcg

  14. Morangos: 24 mcg

1. Diagnóstico da Deficiência de Folato

Exames Laboratoriais

Níveis séricos de folato

  • Valor normal: > 4 ng/mL

  • Deficiência: < 2 ng/mL

Níveis de folato eritrocitário (mais preciso para reservas de longo prazo)

  • Deficiência: < 150 ng/mL

Homocisteína plasmática

  • Aumento na deficiência de folato ou vitamina B12

  • Se B12 normal e homocisteína alta → sugere deficiência de folato

Ácido metilmalônico (MMA)

  • Normal na deficiência de folato

  • Aumentado na deficiência de B12, ajudando a diferenciar as duas

Hemograma

  • Anemia megaloblástica (VCM > 100 fL, macrócitos e neutrófilos hipersegmentados)

  • Leucopenia e trombocitopenia em casos graves

2. Causas da Deficiência de Folato

Baixa ingestão alimentar

  • Dieta pobre em vegetais folhosos, frutas cítricas, leguminosas e fígado

  • Alcoolismo crônico

Má absorção intestinal

  • Doença celíaca

  • Síndrome do intestino curto

  • Doença de Crohn

Aumento da demanda

  • Gravidez e lactação

  • Anemia hemolítica

  • Doenças inflamatórias crônicas

Interferência medicamentosa

  • Metotrexato (inibe DHFR)

  • Trimetoprima e pirimetamina (antibióticos que bloqueiam o metabolismo do folato)

  • Anticonvulsivantes (fenitoína, fenobarbital, carbamazepina, que aumentam metabolismo hepático do folato)

Defeitos genéticos

  • Mutação MTHFR (reduz conversão de 5,10-methylene-THF em 5-methyl-THF, afetando a metilação e aumentando a homocisteína)

3. Consequências da Deficiência de Folato

1. Anemia Megaloblástica

  • Diminuição da síntese de DNA → glóbulos vermelhos grandes e imaturos (VCM elevado)

  • Sintomas: fadiga, palidez, taquicardia, falta de ar

2. Distúrbios Neurológicos

  • Déficit cognitivo, depressão e neuropatia

  • Diferença para deficiência de B12: folato não causa degeneração da medula espinhal

3. Hiperhomocisteinemia e Risco Cardiovascular

  • Homocisteína alta → inflamação vascular e trombose

  • Aumenta risco de AVC e infarto

4. Complicações na Gravidez

  • Defeitos do tubo neural (DTN), como espinha bífida e anencefalia

  • Baixo peso ao nascer e parto prematuro

4. Tratamento e Prevenção

Suplementação de ácido fólico

  • 400 mcg/dia para adultos

  • 600 mcg/dia na gravidez (prevenção de DTN)

Correção da causa subjacente

  • Melhorar dieta

  • Tratar doenças intestinais

  • Ajustar medicações que interferem no folato

Cuidado com a suplementação excessiva. Falo sobre o tema neste outro artigo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Acido fólico em excesso

O folato (vitamina B9) é essencial para diversas funções do organismo, especialmente relacionadas ao metabolismo celular, síntese de DNA e formação de células sanguíneas. Aqui estão alguns dos principais motivos pelos quais essa vitamina é tão importante:

1. Síntese e Reparação do DNA

  • O folato é crucial para a produção e reparo do DNA e RNA, sendo essencial para o crescimento e a divisão celular.

  • Isso o torna particularmente importante durante períodos de rápido crescimento, como a gestação e a infância.

2. Desenvolvimento Fetal e Prevenção de Defeitos do Tubo Neural

  • Durante a gestação, a deficiência de folato pode causar defeitos no fechamento do tubo neural, como espinha bífida e anencefalia.

  • Por isso, a suplementação com ácido fólico (forma sintética do folato) é recomendada para gestantes no período periconcepcional.

3. Formação de Glóbulos Vermelhos (Prevenção da Anemia Megaloblástica)

  • O folato participa da produção de glóbulos vermelhos. Sua deficiência pode levar à anemia megaloblástica, caracterizada por células sanguíneas grandes e imaturas.

4. Metabolismo da Homocisteína e Saúde Cardiovascular

  • O folato ajuda na conversão da homocisteína em metionina, prevenindo o acúmulo excessivo de homocisteína no sangue.

  • Altos níveis de homocisteína estão associados a maior risco de doenças cardiovasculares.

5. Função do Sistema Nervoso e Saúde Mental

  • O folato está envolvido na produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, impactando o humor e a função cerebral.

  • Baixos níveis de folato estão associados a um maior risco de depressão e declínio cognitivo.

6. Sistema Imunológico e Metabolismo das Quinureninas

  • O folato influencia o metabolismo do triptofano e a via das quinureninas, que desempenham um papel na regulação imunológica.

  • Sua deficiência pode afetar a função das células imunológicas, reduzindo a capacidade do organismo de responder a infecções.

Avaliação de B9

7. Prevenção de Câncer (Mas com Cautela)

  • O folato pode ajudar na prevenção do câncer, pois participa da integridade do DNA e da regulação do crescimento celular.

  • No entanto, altas doses de ácido fólico sintético podem favorecer a progressão de células pré-cancerosas, por isso a suplementação deve ser bem monitorada.

A suplementação com ácido fólico (AF) é recomendada em algumas condições para evitar a deficiência de folato, como para mulheres no período periconcepcional e durante a gestação. Existe uma dose recomendada (RDA) e uma dose máxima (UL) a partir da qual pode trazer riscos à saúde. O UL para adultos é de 1.000 mcg/dia (1 mg/dia):

Consequências da suplementação de B9 em alta dose

Atualmente, existe uma preocupação quanto ao consumo excessivo de AF pela população pelo uso de suplementos com altas doses dessa vitamina. As vitaminas B6 e B2 agem como cofatores no metabolismo de um carbono, e o uso de altas doses de AF pode influenciar o metabolismo de ambas vitaminas e, consequentemente, interferir em metabolismos importantes das quais elas participam, como a via das quinureninas, e no sistema imune.

Estudo avaliou os efeitos da intervenção diária com uma alta dose de AF sobre marcadores do estado das vitaminas do complexo B, e as consequências sobre os metabólitos da via das quinureninas e o sistema imune em adultos saudáveis.

Participaram 64 indivíduos saudáveis que tomaram 5 mg de AF por 90 dias. Coletas de sangue foram realizadas antes (baseline) e após 45 e 90 dias de intervenção para avaliação do status sérico de folato, B6, B12, B2, B1, B3, triptofano, quinurenina e metabólitos, proteína C-reativa ultrassensível (PCRus) e concentrações de interleucina (IL)-6, IL-8, IL-10, interferon gama (IFN-γ) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α).

Também foi analisada a expressão de RNAm de DHFR (dihidrofolato redutase), MTHFR (metilenotetrahidrofolato redutase), IL8, TNFA e IFNG emleucócitos mononucleares (PBMC) e o número de células T regulatórias (Treg).

Houve um grande aumento das concentrações de folato sérico após 45 e 90 dias de intervenção com AF. Não houve diferença nas concentrações de vitamina B12 antes e após a intervenção. As concentrações séricas de P5P (B6 na forma ativa) foram semelhantes antes e após a intervenção, entretanto, um aumento de piridoxal sérico foi observado após 45 e 90 dias, e de PA após 45 dias, quando comparado ao baseline.

Riboflavina e riboflavina e flavina mononucleotídeo (FMN) foram maiores após 45 e 90 dias em relação ao baseline. A tiamina sérica foi menor após 45 dias, e as concentrações de tiamina e tiamina monofosfato (TMP) foram maiores após 90 dias quando comparados aos períodos anteriores. Não houve diferença nas concentrações de vitamina B3 antes e após a intervenção. Dentre os metabólitos da via das quinureninas, apenas o ácido antranílico apresentou aumento após 45 e 90 dias, enquanto o ácido picolínico diminuiu após 90 dias.

PCRus, IL-6, IL-8, IL-10, IFN-γ e TNF-α séricos foram semelhantes no baseline e após a intervenção. Um aumento da expressão de RNAm de DHFR (dihidrofolato redutase) e TNFA foi observado após, respectivamente, 90 dias e 45 e 90 dias de intervenção.

O aumento do ácido antranílico e a redução do ácido picolínico indicam uma modulação da via do triptofano, o que pode ter implicações para a síntese de NAD+ e para a função imunológica.

Apesar da ausência de alterações nos níveis séricos de citocinas inflamatórias (IL-6, IL-8, IL-10, IFN-γ e TNF-α), houve aumento da expressão do RNAm de TNFA, sugerindo um potencial efeito pró-inflamatório a nível molecular.

A redução do número de células T regulatórias (Treg) após 90 dias pode ter implicações para a regulação da resposta imunológica, potencialmente favorecendo um estado inflamatório.

O aumento da expressão do gene DHFR (dihidrofolato redutase) sugere uma adaptação ao alto suprimento de folato, possivelmente para manter a homeostase do metabolismo do folato.

O aumento da expressão do gene TNFA (fator de necrose tumoral alfa) pode indicar uma ativação da resposta inflamatória em longo prazo. O estudo sugere que o uso prolongado de altas doses de ácido fólico pode modificar o metabolismo de vitaminas do complexo B, afetar a via das quinureninas e influenciar a regulação do sistema imune.

Esses achados reforçam a necessidade de cautela na suplementação indiscriminada de ácido fólico. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Medicina e nutrição 3.0

Os conceitos de Medicina 1.0, 2.0 e 3.0 representam a evolução dos cuidados de saúde em termos de tecnologia, envolvimento do paciente e uso de dados. Aqui está a diferença entre eles:

Medicina 1.0 (Medicina Tradicional)

  • Era: Pré-digital, cuidados de saúde tradicionais

  • Características:

    • Assistência centrada no médico (o médico como única autoridade)

    • Tecnologia limitada (registros em papel, ferramentas de diagnóstico básicas)

    • Abordagem reativa (foco no tratamento em vez da prevenção)

    • Tratamentos padronizados para todos

Medicina 2.0 (Medicina Digital e Baseada em Evidências)

  • Era: Revolução digital e da internet (final do século XX – início do século XXI)

  • Características:

    • Maior envolvimento do paciente (mais acesso à informação médica)

    • Adoção de Prontuários Eletrônicos (PEP)

    • Medicina baseada em evidências (MBE) orienta as decisões médicas

    • Surgimento de comunidades de saúde online e da telemedicina

    • Cuidados mais personalizados, mas ainda baseados em dados populacionais

Medicina 3.0 (Medicina Personalizada e Preditiva)

  • Era: Revolução da Inteligência Artificial, Big Data e Genômica (Presente e Futuro)

  • Características:

    • Medicina centrada no paciente e personalizada (adaptada à genética, estilo de vida e ambiente)

    • IA e aprendizado de máquina auxiliam no diagnóstico e tratamento

    • Tecnologia vestível e IoT para monitoramento contínuo da saúde

    • Abordagem preditiva e preventiva (detecção precoce de doenças)

    • Medicina de precisão (terapias direcionadas com base no perfil genético)

A Medicina 3.0 está transformando a saúde de um modelo reativo para um proativo, priorizando a prevenção e tratamentos altamente individualizados. Isto também se aplica à nutrição, refletindo mudanças na abordagem nutricional, personalização e uso de tecnologia para melhorar a saúde e prevenir doenças.

Nutrição 1.0 (Nutrição Tradicional)

  • Baseada em diretrizes gerais: recomendações padronizadas, como a pirâmide alimentar.

  • Foco na deficiência nutricional: tratamento de desnutrição, escorbuto, raquitismo.

  • Dieta única para todos: pouca consideração para diferenças individuais.

  • Consultas presenciais e pouco acompanhamento.

Nutrição 2.0 (Nutrição Baseada em Evidências e Digital)

  • Uso de estudos científicos para embasar recomendações nutricionais.

  • Dietas mais personalizadas: início da adaptação com base em estilo de vida e necessidades individuais.

  • Uso de aplicativos e tecnologia para rastrear alimentação, calorias e exercícios.

  • Expansão do conceito de alimentação funcional (alimentos que beneficiam a saúde além da nutrição básica).

  • Maior acesso à informação online, mas também aumento da desinformação.

Nutrição 3.0 (Nutrição Personalizada e Preditiva)

  • Nutrição de precisão: dietas personalizadas com base no DNA, microbiota intestinal e metabolismo.

  • Uso de Inteligência Artificial e Big Data para prever necessidades nutricionais e prevenir doenças.

  • Monitoramento contínuo com wearables (dispositivos vestíveis) que analisam glicose, metabolismo e respostas alimentares em tempo real.

  • Abordagem proativa e preventiva: foco na otimização da saúde antes do surgimento de doenças.

  • Uso de nutrigenômica e nutrigenética para entender como os genes influenciam a resposta aos alimentos.

Impacto na prática nutricional

  • Em vez de dietas genéricas, recomendações são feitas com base em exames genéticos, análise da microbiota intestinal e biomarcadores individuais.

  • Suplementação personalizada baseada em deficiências específicas, em vez de uma abordagem generalizada.

  • Maior precisão na prevenção de doenças metabólicas, como diabetes e obesidade, antes que elas se manifestem.

A Nutrição 3.0 representa uma grande mudança na forma como lidamos com a alimentação, tornando-a altamente individualizada e baseada em tecnologia. Assim como na medicina 3.0, foca na vida com a possibilidade de mais anos bem vividos. Marque aqui sua consulta de nutrição 3.0

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/