O que é crononutrição?

A crononutrição é o campo de estudo que investiga a relação entre os horários das refeições, os ritmos biológicos do corpo (como o ritmo circadiano) e a saúde metabólica. Seu principal objetivo é entender como a sincronização da alimentação com os ciclos biológicos pode influenciar o metabolismo, a regulação hormonal, o peso corporal e o risco de doenças como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares.

Os principais objetos de estudo da crononutrição incluem:
Horários das refeições – Como a hora em que comemos afeta a absorção de nutrientes e o metabolismo.
Ritmo circadiano – O impacto dos ciclos biológicos de 24 horas na digestão, no gasto energético e no armazenamento de gordura.
Jejum intermitente e restrição alimentar temporal – Como períodos sem ingestão de alimentos influenciam a saúde.
Hormônios metabólicos – Como a insulina, leptina, cortisol e grelina variam ao longo do dia e afetam a fome e o metabolismo.
Influência do sono e da luz – Como fatores externos, como qualidade do sono e exposição à luz, modulam a relação entre alimentação e metabolismo.

Esse campo tem ganhado destaque na nutrição personalizada, mostrando que não é só o que comemos, mas também quando comemos que importa.

Crononutrição e saúde mental

A crononutrição tem sido cada vez mais estudada em relação às doenças mentais, pois a alimentação e o horário das refeições influenciam diretamente os ritmos biológicos, a saúde do cérebro e o equilíbrio hormonal. Alguns pontos principais dessa conexão incluem:

🌙 Ritmo circadiano e saúde mental

O cérebro segue um ritmo biológico de 24 horas, regulado pelo ciclo de luz e escuridão. Quando a alimentação está desalinhada com esse ritmo, podem surgir desequilíbrios neuroquímicos, aumentando o risco de doenças como:
🔹 Depressão – Alterações no metabolismo da serotonina e melatonina por refeições desreguladas.
🔹 Ansiedade – Oscilações hormonais devido a horários irregulares de alimentação.
🔹 Transtorno bipolar – A relação entre jejum, picos de insulina e variações no humor.
🔹 Esquizofrenia – Estudos indicam que distúrbios metabólicos e do sono podem agravar os sintomas.

🍽️ Alimentação noturna e impacto no cérebro

Comer tarde da noite ou em horários irregulares pode prejudicar a neuroplasticidade e aumentar a inflamação no cérebro, fatores ligados a transtornos psiquiátricos.

🧠 Jejum intermitente e neuroproteção

Práticas como restrição alimentar temporal (comer dentro de uma janela específica) demonstram efeitos neuroprotetores, reduzindo o risco de ansiedade e depressão ao melhorar a resposta ao estresse e equilibrar neurotransmissores.

⚖️ Equilíbrio hormonal e bem-estar mental

A crononutrição regula hormônios essenciais para o cérebro:
Cortisol – Excesso de estresse pode ser controlado com horários regulares de refeição. O pico é entre 6h e 8h da manhã.
Melatonina – Importante para o sono, sua produção é afetada pela alimentação à noite.
Grelina e leptina – Controlam a fome e o metabolismo, impactando o humor. A grelina aumenta cerca de 1 a 2 horas antes do horário habitual das refeições, estimulando o apetite. A leptina tem pico à noite e durante o sono (principalmente entre 00h e 4h) para inibir a fome e manter a energia durante o jejum noturno. Tem queda durante o dia, especialmente antes das refeições, quando a grelina está mais alta.

🔬 Ajustar o horário das refeições de acordo com o ritmo biológico pode ser uma estratégia poderosa para prevenir e tratar transtornos mentais, além de melhorar a qualidade de vida. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Patogênese do TOC e estratégias nutricionais corretivas

A patogênese do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é multifatorial, envolvendo uma complexa interação entre fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e psicológicos. Nos últimos anos, pesquisas têm destacado o papel de mecanismos biológicos específicos, como neuroinflamação, estresse oxidativo, alterações no metabolismo glicolítico cerebral, deficiências nutricionais, disfunção mitocondrial e excitotoxicidade glutamatérgica. Abaixo, descrevo como esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção do TOC:

1. Neuroinflamação

A neuroinflamação tem sido associada ao TOC, com evidências de ativação microglial e aumento de citocinas pró-inflamatórias (como IL-6, TNF-α e IL-1β) em pacientes com o transtorno.

A inflamação crônica pode alterar a função de circuitos cerebrais envolvidos no TOC, como o córtex orbitofrontal, cíngulo anterior e núcleo caudado, que fazem parte do circuito córtico-estriado-tálamo-cortical (CSTC).

A neuroinflamação também pode levar à disfunção da barreira hematoencefálica, permitindo a entrada de moléculas pró-inflamatórias periféricas no cérebro.

Podemos reduzir a neuroinflamação com o uso de ômega-3, curcumina, vitamina D e NAC.

2. Estresse Oxidativo

O estresse oxidativo ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e a capacidade do organismo de neutralizá-las com antioxidantes.

Em pacientes com TOC, estudos relatam níveis elevados de marcadores de estresse oxidativo (como malondialdeído) e redução de antioxidantes (como glutationa).

O estresse oxidativo pode danificar neurônios e contribuir para a disfunção dos circuitos CSTC, além de afetar a sinalização serotoninérgica e dopaminérgica, que estão desreguladas no TOC.

Podemos lançar de suplementos como coenzima Q10, vitamina E, vitamina C, resveratrol e glutationa.

3. Alteração do Metabolismo Glicolítico Cerebral

Estudos de neuroimagem funcional (como PET e fMRI) mostram alterações no metabolismo da glicose em regiões cerebrais associadas ao TOC, como o córtex orbitofrontal e o estriado.

A disfunção no metabolismo energético pode levar à incapacidade de modular adequadamente a atividade neuronal, contribuindo para a persistência de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos.

A hipótese de que a disfunção mitocondrial pode estar ligada a essas alterações metabólicas também tem sido explorada.

Aqui podemos pensar em ácido alfa-lipoico, magnésio, riboflavina, tiamina e até na dieta cetogênica.

4. Deficiências Nutricionais

Deficiências de nutrientes como vitamina D, vitaminas do complexo B (especialmente B12 e folato), magnésio, zinco e ômega-3 têm sido associadas a sintomas de TOC.

Esses nutrientes são essenciais para a síntese de neurotransmissores, regulação do sistema imunológico e proteção contra o estresse oxidativo.

Por exemplo, a deficiência de vitamina D pode afetar a função serotoninérgica, enquanto o ômega-3 tem propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras. A correção de qualquer carência nutricional é fundamental. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

5. Disfunção Mitocondrial

A mitocôndria é crucial para a produção de energia celular e a regulação do metabolismo oxidativo. Disfunções mitocondriais podem levar à redução da produção de ATP, aumentando o estresse oxidativo e afetando a função neuronal.

Em pacientes com TOC, há evidências de alterações na biogênese e função mitocondrial, o que pode contribuir para a disfunção dos circuitos cerebrais envolvidos no transtorno.

A disfunção mitocondrial também pode estar relacionada à excitotoxicidade glutamatérgica, já que a falta de energia pode comprometer a capacidade das células de manter o equilíbrio iônico.

Coenzima Q10, L-carnitina, Ácido alfa-lipoico, B2 e B3 são alguns dos suplementos possíveis. Um exame genético nos ajuda a entender melhor a bioquímica de cada paciente. Vale a pena fazer.

6. Excitotoxicidade Glutamatérgica

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central. Em excesso, pode levar à excitotoxicidade, causando dano neuronal e morte celular.

No TOC, há evidências de desregulação do sistema glutamatérgico, com aumento dos níveis de glutamato em regiões como o córtex orbitofrontal e o estriado.

A excitotoxicidade glutamatérgica pode contribuir para a hiperatividade dos circuitos CSTC, perpetuando os sintomas do TOC.

Além disso, a disfunção nos receptores NMDA e AMPA, que modulam a sinalização glutamatérgica, tem sido implicada na fisiopatologia do transtorno. Magnésio, NAC, taurina e B6 são alguns dos suplementos que combatem a excitotoxicidade glutamatérgica.

Interação entre os Mecanismos

Esses mecanismos não atuam de forma isolada, mas interagem entre si. Por exemplo:

  • A neuroinflamação pode aumentar o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial.

  • O estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial podem exacerbar a excitotoxicidade glutamatérgica.

  • Deficiências nutricionais podem agravar a neuroinflamação e o estresse oxidativo.

  • Alterações genéticas como as das enzimas envolvidas no ciclo da metilação (a mais comum é a 5-MTHF) e na síntese e degradação de neurotransmissores devem também ser investigadas.

  • Pacientes com TOC que apresentam distúrbio do sono podem ser beneficiar de suplementos como melatonina, Ashwagandha, rhodiola, taurina, teanina ou glicina.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Alteração do metabolismo glicolítico cerebral no TOC

Vários estudos investigaram as alterações no metabolismo cerebral da glicose em indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) usando imagens de tomografia por emissão de pósitrons (PET). Foi evidenciado:

  • Aumento do metabolismo em regiões cerebrais específicas:

    • Córtex frontal orbital: Vários estudos relataram metabolismo de glicose significativamente maior no córtex frontal orbital de pacientes com TOC em comparação com controles saudáveis ​​[1] [2] [3].

    • Núcleo caudado: Taxas metabólicas aumentadas foram observadas bilateralmente nos núcleos caudados em pacientes com TOC [2] [3].

    • Córtex cingulado anterior: Metabolismo elevado de glicose no córtex cingulado anterior também foi observado [4].

  • Metabolismo diminuído em outras regiões do cérebro:

    • Giro cingulado posterior e cúneo: pacientes com acumulação compulsiva, um subtipo de TOC, apresentaram metabolismo de glicose significativamente menor nessas regiões em comparação a pacientes com TOC sem acumulação e controles saudáveis ​​[5].

Alternativas de tratamento

  • Farmacoterapia [6].

  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC) [7] [8] [9].

  • Dieta restrita em glúten

O impacto da restrição de glúten em indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) foi explorado em alguns estudos, embora evidências diretas que vinculem especificamente dietas sem glúten (DFG) à melhora dos sintomas do TOC sejam limitadas.

Um estudo discutiu a relação entre doença celíaca (DC) e transtornos psiquiátricos, incluindo TOC. Ele destacou que indivíduos com DC podem apresentar sintomas de TOC, sugerindo uma possível ligação entre a ingestão de glúten e a gravidade do TOC. No entanto, este estudo não avaliou diretamente os efeitos da restrição de glúten nos sintomas de TOC [10].

  • Dieta cetogênica [11]

A dieta cetogênica (DC), caracterizada por alta ingestão de gordura e baixa ingestão de carboidratos, pode oferecer benefícios potenciais para indivíduos com TOC. A dieta cetogênica é conhecida por apoiar a neuroproteção por meio de vários mecanismos, incluindo:

  • Suporte de energia neuronal

  • Redução da inflamação

  • Melhoria do estresse oxidativo

  • Reversão da disfunção mitocondrial

Referências:

  1. TE Nordahl et al. Cerebral glucose metabolic rates in obsessive compulsive disorder. Neuropsychopharmacology : official publication of the American College of Neuropsychopharmacology (1989). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2803479/

  2. LR Baxter et al. Local cerebral glucose metabolic rates in obsessive-compulsive disorder. A comparison with rates in unipolar depression and in normal controls. Archives of general psychiatry (1987). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/3493749/

  3. LR Baxter et al. Cerebral glucose metabolic rates in nondepressed patients with obsessive-compulsive disorder. The American journal of psychiatry (1988). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/3264118/

  4. SE Swedo et al. Cerebral glucose metabolism in childhood-onset obsessive-compulsive disorder. Archives of general psychiatry (1989). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2786402/

  5. S Saxena et al. Cerebral glucose metabolism in obsessive-compulsive hoarding. The American journal of psychiatry (2004). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15169692/

  6. I Apostolova et al. Effects of behavioral therapy or pharmacotherapy on brain glucose metabolism in subjects with obsessive-compulsive disorder as assessed by brain FDG PET. Psychiatry research (2010). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20947317/

  7. S Saxena et al. Rapid effects of brief intensive cognitive-behavioral therapy on brain glucose metabolism in obsessive-compulsive disorder. Molecular psychiatry (2008). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18180761/

  8. SE Swedo et al. Cerebral glucose metabolism in childhood-onset obsessive-compulsive disorder. Revisualization during pharmacotherapy. Archives of general psychiatry (1992). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1514873/

  9. JM Schwartz et al. Systematic changes in cerebral glucose metabolic rate after successful behavior modification treatment of obsessive-compulsive disorder. Archives of general psychiatry (1996). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8629886/

  10. TR Sharma et al. Psychiatric comorbidities in patients with celiac disease: Is there any concrete biological association?. Asian journal of psychiatry (2011). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23051084/

  11. A Lounici et al. Ketogenic Diet as a Nutritional Metabolic Intervention for Obsessive-Compulsive Disorder: A Narrative Review. Nutrients (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39796465/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/