Patogênese do TOC e estratégias nutricionais corretivas

A patogênese do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é multifatorial, envolvendo uma complexa interação entre fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e psicológicos. Nos últimos anos, pesquisas têm destacado o papel de mecanismos biológicos específicos, como neuroinflamação, estresse oxidativo, alterações no metabolismo glicolítico cerebral, deficiências nutricionais, disfunção mitocondrial e excitotoxicidade glutamatérgica. Abaixo, descrevo como esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção do TOC:

1. Neuroinflamação

A neuroinflamação tem sido associada ao TOC, com evidências de ativação microglial e aumento de citocinas pró-inflamatórias (como IL-6, TNF-α e IL-1β) em pacientes com o transtorno.

A inflamação crônica pode alterar a função de circuitos cerebrais envolvidos no TOC, como o córtex orbitofrontal, cíngulo anterior e núcleo caudado, que fazem parte do circuito córtico-estriado-tálamo-cortical (CSTC).

A neuroinflamação também pode levar à disfunção da barreira hematoencefálica, permitindo a entrada de moléculas pró-inflamatórias periféricas no cérebro.

Podemos reduzir a neuroinflamação com o uso de ômega-3, curcumina, vitamina D e NAC.

2. Estresse Oxidativo

O estresse oxidativo ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e a capacidade do organismo de neutralizá-las com antioxidantes.

Em pacientes com TOC, estudos relatam níveis elevados de marcadores de estresse oxidativo (como malondialdeído) e redução de antioxidantes (como glutationa).

O estresse oxidativo pode danificar neurônios e contribuir para a disfunção dos circuitos CSTC, além de afetar a sinalização serotoninérgica e dopaminérgica, que estão desreguladas no TOC.

Podemos lançar de suplementos como coenzima Q10, vitamina E, vitamina C, resveratrol e glutationa.

3. Alteração do Metabolismo Glicolítico Cerebral

Estudos de neuroimagem funcional (como PET e fMRI) mostram alterações no metabolismo da glicose em regiões cerebrais associadas ao TOC, como o córtex orbitofrontal e o estriado.

A disfunção no metabolismo energético pode levar à incapacidade de modular adequadamente a atividade neuronal, contribuindo para a persistência de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos.

A hipótese de que a disfunção mitocondrial pode estar ligada a essas alterações metabólicas também tem sido explorada.

Aqui podemos pensar em ácido alfa-lipoico, magnésio, riboflavina, tiamina e até na dieta cetogênica.

4. Deficiências Nutricionais

Deficiências de nutrientes como vitamina D, vitaminas do complexo B (especialmente B12 e folato), magnésio, zinco e ômega-3 têm sido associadas a sintomas de TOC.

Esses nutrientes são essenciais para a síntese de neurotransmissores, regulação do sistema imunológico e proteção contra o estresse oxidativo.

Por exemplo, a deficiência de vitamina D pode afetar a função serotoninérgica, enquanto o ômega-3 tem propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras. A correção de qualquer carência nutricional é fundamental. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

5. Disfunção Mitocondrial

A mitocôndria é crucial para a produção de energia celular e a regulação do metabolismo oxidativo. Disfunções mitocondriais podem levar à redução da produção de ATP, aumentando o estresse oxidativo e afetando a função neuronal.

Em pacientes com TOC, há evidências de alterações na biogênese e função mitocondrial, o que pode contribuir para a disfunção dos circuitos cerebrais envolvidos no transtorno.

A disfunção mitocondrial também pode estar relacionada à excitotoxicidade glutamatérgica, já que a falta de energia pode comprometer a capacidade das células de manter o equilíbrio iônico.

Coenzima Q10, L-carnitina, Ácido alfa-lipoico, B2 e B3 são alguns dos suplementos possíveis. Um exame genético nos ajuda a entender melhor a bioquímica de cada paciente. Vale a pena fazer.

6. Excitotoxicidade Glutamatérgica

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central. Em excesso, pode levar à excitotoxicidade, causando dano neuronal e morte celular.

No TOC, há evidências de desregulação do sistema glutamatérgico, com aumento dos níveis de glutamato em regiões como o córtex orbitofrontal e o estriado.

A excitotoxicidade glutamatérgica pode contribuir para a hiperatividade dos circuitos CSTC, perpetuando os sintomas do TOC.

Além disso, a disfunção nos receptores NMDA e AMPA, que modulam a sinalização glutamatérgica, tem sido implicada na fisiopatologia do transtorno. Magnésio, NAC, taurina e B6 são alguns dos suplementos que combatem a excitotoxicidade glutamatérgica.

Interação entre os Mecanismos

Esses mecanismos não atuam de forma isolada, mas interagem entre si. Por exemplo:

  • A neuroinflamação pode aumentar o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial.

  • O estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial podem exacerbar a excitotoxicidade glutamatérgica.

  • Deficiências nutricionais podem agravar a neuroinflamação e o estresse oxidativo.

  • Alterações genéticas como as das enzimas envolvidas no ciclo da metilação (a mais comum é a 5-MTHF) e na síntese e degradação de neurotransmissores devem também ser investigadas.

  • Pacientes com TOC que apresentam distúrbio do sono podem ser beneficiar de suplementos como melatonina, Ashwagandha, rhodiola, taurina, teanina ou glicina.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/