A produção de corpos cetônicos e o uso no cérebro

O cérebro utiliza energia produzida a partir de glicose, lactato e corpos cetônicos. Em diversas situações, como epilepsia, Alzheimer, menopausa, transtorno bipolar, câncer cerebral, o metabolismo da glicose estará comprometido e a produção de lactato também cairá. Neste momento o cérebro fica mais dependente de corpos cetônicos para funcionar bem.

A produção de corpos cetônicos ocorre principalmente no fígado. A cetogênese, que é o processo de conversão de ácidos graxos em corpos cetônicos (como acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona), ocorre nas mitocôndrias hepáticas. O fígado exporta esses corpos cetônicos para outros tecidos, incluindo o cérebro.

Os astrócitos, um tipo de célula glial no cérebro, podem metabolizar ácidos graxos, mas não são um local principal para a cetogênese. Em vez disso, os astrócitos estão envolvidos na manutenção do equilíbrio energético do cérebro e no suporte aos neurônios. Embora possam metabolizar ácidos graxos de cadeia curta e média (que podem contribuir para a produção de energia local ou outros processos celulares), eles geralmente não produzem quantidades significativas de corpos cetônicos.

Os astrócitos absorvem os corpos cetônicos produzidos pelo fígado durante períodos de jejum, dietas cetogênicas ou exercícios prolongados. Esses corpos cetônicos são então utilizados como uma fonte alternativa de energia para o cérebro.

Tipos de Gorduras e Produção de Corpos Cetônicos:

Nem todas as gorduras são adequadas para a produção de corpos cetônicos. Os ácidos graxos de cadeia longa, que são a forma principal de gorduras na dieta, precisam de carnitina para entrar nas mitocôndrias e passar pela β-oxidação. Os ácidos graxos de cadeia média (como os encontrados no óleo de coco ou no óleo de triglicerídeos de cadeia média - MCT) são mais facilmente convertidos em corpos cetônicos no fígado, porque conseguem evitar algumas das restrições de transporte.

Os astrócitos não são adaptados para oxidar grandes quantidades de ácidos graxos de cadeia longa de forma eficiente para produzir corpos cetônicos. A conversão de ácidos graxos em corpos cetônicos é um processo energeticamente intensivo e não é uma via metabólica primária nessas células. Mas produzem certa quantidade e ainda captam os corpos cetônicos que atravessam a barreira hematoencefálica.

Estes corpos cetônicos são enviados aos neurônios. Estas células são as estrelas do cérebro e expressam todas as enzimas de degradação (por exemplo, d-β-hidroxibutirato desidrogenase, acetoacetato-succinil-CoA transferase e acetoacetil CoA-tiolase) necessárias para a cetólise (metabolismo do corpo cetônico). B. Dentro das mitocôndrias dos neurônios, os corpos cetônicos são convertidos em acetil coenzima A (acetil-CoA), que entra no ciclo do ácido tricarboxílico (ciclo TCA), produzindo moléculas de adenosina trifosfato (ATP).

Aprenda mais na plataforma do cérebro.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

NAC PROTEGE O FÍGADO NO CASO DE USO DE EXTRATO DE CHÁ VERDE OU EGCG

Há evidências científicas que sugerem que o extrato de chá verde - especialmente nas formas concentradas - pode, em alguns casos, causar lesões hepáticas agudas. Esses efeitos são raros, mas estão associados ao consumo de altas doses ou ao uso prolongado do extrato. A causa parece ser a indução de estresse oxidativo e inflamação. Respostas imunológicas aos polifenóis podem também contribuir para os danos hepáticos (Grajecki e al., 2022).

Os polifenóis presentes no chá verde, particularmente as catequinas, são geralmente benéficos em doses moderadas, mas em concentrações elevadas podem gerar estresse oxidativo ou interferir na função mitocondrial das células hepáticas, causando danos ao fígado.

O EGCG tem sido bastante utilizado para melhoria cognitiva e funcionalidade, incluindo em crianças com trissomia do cromossomo 21 (Cleuta-Walti et al., 2022). Na T21, os extratos de chá verde também reduzem a dismorfia facial (Starbuck et al., 2021). Para garantir os benefícios do uso do chá verde e, ao mesmo tempo, proteger o fígados, podemos associar a suplementação de EGCG ao NAC.

Como o NAC pode ajudar

A N-acetilcisteína (NAC) é um precursor da glutationa, um dos principais antioxidantes do corpo. Ele é amplamente utilizado em casos de intoxicação hepática (como por overdose de paracetamol) devido à sua capacidade de aumentar os níveis de glutationa no fígado, reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação. Nesse contexto, o NAC pode ajudar a proteger o fígado contra os danos causados pelos polifenóis em excesso no extrato de chá verde.

Cuidados e recomendações

  1. Evite doses altas de extrato de chá verde: Siga sempre as orientações de um médico ou nutricionista, especialmente se você estiver tomando suplementos concentrados.

  2. Monitore os sinais de lesão hepática: Fique atento a sintomas como fadiga extrema, icterícia (pele ou olhos amarelados), urina escura ou desconforto abdominal.

  3. Consulte um médico antes de usar NAC: Embora seja geralmente seguro, o uso prolongado ou indiscriminado pode ter efeitos colaterais.

  4. Prefira o chá verde natural: O consumo de chá verde na forma de infusão tem menores riscos associados.

O equilíbrio é essencial: em doses adequadas, tanto o chá verde quanto o NAC podem ter efeitos positivos na saúde geral e no fígado. Aprenda mais sobre nutrição na T21 aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Compostos em ervas e chá melhoram o sono e o funcionamento diurno.

O chá verde é relatado como tendo amplos resultados benéficos para a saúde em estudos epidemiológicos, que foram atribuídos ao seu conteúdo flavonoide. Um estudo investigou se o flavonoide epigalocatequina galato (EGCG) modula a atividade cerebral e o humor autorrelatado em um estudo cruzado duplo-cego controlado por placebo (Scholey et al., 2012).

Os participantes completaram avaliações basais do funcionamento cognitivo e cardiovascular, humor e um eletroencefalograma (EEG) em estado de repouso antes e depois 120 minutos após a administração de 300 mg de EGCG ou placebo correspondente. A administração de EGCG foi associada a um aumento geral significativo na atividade alfa, beta e teta, também refletida na atividade geral do EEG, mais dominante nas regiões frontal e central da linha média, especificamente no giro frontal e giro frontal medial.

Em comparação com o placebo, o tratamento com EGCG também aumentou a calma autoavaliada e reduziu o estresse autoavaliado. Esse padrão de resultados sugere que os participantes na condição EGCG podem ter ficado em um estado mais relaxado e atento após consumir EGCG. Isso está de acordo com o consumo generalizado de chá verde por suas supostas propriedades relaxantes/refrescantes.

Melhora Cognitiva com uso de EGCG

  1. Aumento da Atenção e Alerta

    • A EGCG demonstrou melhorar o estado de alerta e a atenção sustentada, provavelmente devido à sua interação com os sistemas de catecolaminas no cérebro. Pode melhorar o foco e a clareza mental no curto prazo.

  2. Memória e Aprendizado

    • A administração aguda de EGCG tem sido associada a efeitos positivos na memória e nos processos de aprendizado. Isso é atribuído ao seu papel em aumentar a neuroplasticidade e a função do hipocampo.

Neuroproteção

  1. Redução do Estresse Oxidativo

    • A EGCG atua como um potente antioxidante, eliminando radicais livres e reduzindo danos oxidativos nas células neuronais. Esse efeito antioxidante agudo pode ajudar a preservar a função cognitiva, especialmente em condições de estresse.

  2. Inibição da Neuroinflamação

    • Estudos sugerem que a EGCG reduz a neuroinflamação ao modular vias inflamatórias, como a NF-κB, o que pode proteger contra déficits cognitivos agudos.

Humor e Resposta ao Estresse

  1. Efeitos Ansiolíticos

    • A EGCG demonstrou ter efeitos calmantes, possivelmente por modular a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA). Isso pode ajudar a reduzir o estresse agudo e melhorar o humor.

  2. Recuperação Cognitiva Induzida pelo Estresse

    • A EGCG pode facilitar a recuperação de déficits cognitivos induzidos pelo estresse, como problemas de memória ou foco, ao regular os níveis de cortisol e melhorar a função cerebral.

Mecanismos de Ação

  • Modulação de Neurotransmissores

    • A EGCG influencia os sistemas neurotransmissores dopaminérgico, serotoninérgico e glutamatérgico, que são cruciais para a regulação do humor, desempenho cognitivo e estado de alerta.

  • Penetração na Barreira Hematoencefálica

    • Embora a EGCG possa atravessar a barreira hematoencefálica, seus efeitos agudos são dose-dependentes e podem ser potencializados com estratégias que aumentem sua biodisponibilidade.

Considerações Práticas

  • Dosagem: Os efeitos neurocognitivos agudos são mais frequentemente observados em doses que variam de 100 a 300 mg, geralmente derivadas de extratos de chá verde.

  • Efeitos Sinérgicos: Quando combinada com cafeína (como no chá verde), os efeitos de melhoria cognitiva e de humor da EGCG podem ser amplificados.

Ácido rosmarínico

O ácido rosmarínico é um composto bioativo presente em diversas ervas culinárias, como alecrim, orégano, sálvia, tomilho e hortelã-pimenta. Estudos indicam que ele influencia positivamente o sono, regulando neurotransmissores no cérebro, como o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a acetilcolina.

Um estudo de intervenção dividiu 89 adultos saudáveis ​​(idade média de 31 anos) que relatavam ter sono ruim em dois grupos. Um tomou uma mistura de ácido rosmarínico e EGCG (fornecendo pelo menos 65 miligramas dos dois combinados) em forma de cápsula todas as noites antes de dormir por 30 dias, enquanto a outra metade tomou um placebo (Tubbs et al., 2021).

Os investigadores descobriram que os participantes que tomaram a mistura de rosmarínico e EGCG apresentaram melhor qualidade de sono e insônia menos grave do que aqueles que tomaram o placebo. Além disso, aqueles que tomaram a mistura não apresentaram nenhuma deficiência cognitiva, mas demonstraram melhorias na atenção diurna, memória de trabalho e avaliação de risco (Zeidabadi et al., 2020).

A sálvia também é útil na menopausa, pois é rica em fitoesterógenos que podem se ligar aos receptores de estradiol, promovendo o estímulo da enzima óxido nítrico sintase envolvida na produção do óxido nítrico. O óxido nítrico dilata as artérias superficiais da pele, otimizando a perda de calor, o que faz com que a mulher tenha menos fogachos (Moradi et al., 2023). A sálvia pode ser suplementada na forma de extrato seco, na forma de tintura ou consumida após uma infusão, na forma de chá. Indico 2 a 3 xícaras de chá de sálvia ao dia para melhora dos fogachos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/