Levodopa x Carbidopa

A produção de dopamina depende de precursores. Os aminoácidos penilalanina e tirosina, obtidos da dieta, são convertidos em L-dopa e depois em dopamina, com a participação de uma série de co-fatores. Pacientes com Parkinson possuem diminuição de dopamina, o que gera sintomas como tremores. Infelizmente, a dopamina não pode ser administrada diretamente pois não atravessa a barreira hematoecefálica. Assim, medicamentos como levodopa (L-Dopa) são utilizados.

A levodopa entra no sistema nervoso central (SNC) e ali pode ser convertida em dopamina pela enzima dopa descarboxilase, aliviando os sintomas motores do Parkinson. No entanto, grande parte da levodopa pode transformada em dopamina antes de atingir o cérebro. Isto pode gerar efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e queda da pressão arterial. Além disso, sem chegar ao cérebro o medicamento não alivia os sintomas do Parkinson.

Para evitar a conversão da levodopa em dopamina na periferia, administra-se a carbidopa ou benserazida (co-beneldopa), inibidores periféricos da enzima dopa descarboxilase. Sua função é impedir que a levodopa seja convertida em dopamina fora do cérebro. Isso permite que mais levodopa chegue ao SNC, aumentando sua eficácia e reduzindo os efeitos colaterais periféricos. Se estes medicamentos não forem administrados, apenas 1 a 3% da levodopa atinge o cérebro.

A carbidopa não atravessa a barreira hematoencefálica, então não interfere na conversão da levodopa em dopamina dentro do cérebro.

Em que horário a levodopa deve ser utilizada?

A levodopa deve ser utilizada preferencialmente pela manhã, em jejum. Ela é transportada para o cérebro por transportadores de aminoácidos grandes neutros (LAT-1), que também transportam aminoácidos presentes em proteínas da dieta, como a tirosina e a fenilalanina.

Assim, refeições, especialmente ricas em proteína, competem com a levodopa pelos mesmos transportadores no intestino e na barreira hematoencefálica. Isso pode reduzir a absorção e o transporte da levodopa para o cérebro, diminuindo sua eficácia.

Se o paciente for utilizar a medicação em outro horário é importante dar um intervalo de pelo menos 2 horas após o último consumo de alimentos fonte de proteína. É possível tomar levodopa com alimentos fonte de carboidratos (ex.: torradas ou biscoitos), se houver desconforto gástrico.

Farmacocinética da levodopa e metabolismo da levodopa (You et al., 2018).

Em resumo:

  • Levodopa é o medicamento principal que atua no cérebro.

  • Carbidopa potencializa o efeito da levodopa, reduzindo sua degradação periférica e os efeitos adversos.

  • No jejum, não há competição entre a levodopa e os aminoácidos das proteínas da dieta nos transportadores intestinais e no cérebro. Sem a interferência das proteínas, os níveis de levodopa no sangue são mais estáveis, garantindo um efeito terapêutico mais previsível.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estratégias nutricionais para o controle da pressão arterial

A hipertensão, ou pressão arterial elevada, é uma condição médica comum em que a pressão do sangue nas artérias está consistentemente alta. Ela pode ocorrer por uma variedade de razões, e em muitos casos, os fatores são multifatoriais. As causas podem ser divididas em dois tipos principais: hipertensão primária e hipertensão secundária.

1. Hipertensão Primária (Essencial)

A hipertensão primária não tem uma causa única identificável, mas é geralmente influenciada por fatores genéticos e ambientais. Ela se desenvolve ao longo do tempo e tende a ser mais comum à medida que as pessoas envelhecem. Fatores que contribuem para a hipertensão primária incluem:

  • Genética e História Familiar: Se seus pais ou outros membros da família têm hipertensão, você pode ter um risco maior de desenvolver a condição.

  • Idade: Com o envelhecimento, os vasos sanguíneos tendem a se tornar mais rígidos, o que pode aumentar a pressão arterial.

  • Excesso de Sal (Sódio) na Dieta: Dietas ricas em sódio podem levar à retenção de líquidos, aumentando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial.

  • Baixo Potássio na Dieta: O potássio ajuda a equilibrar os efeitos do sódio. Dietas com baixo teor de potássio podem contribuir para o aumento da pressão arterial.

  • Obesidade: O excesso de peso pode aumentar a resistência dos vasos sanguíneos e levar a um aumento da pressão arterial.

  • Sedentarismo: A falta de atividade física pode contribuir para o aumento da pressão arterial, além de aumentar o risco de obesidade e outras condições relacionadas.

  • Consumo Excessivo de Álcool: O consumo excessivo de álcool pode elevar a pressão arterial, especialmente se consumido de forma crônica.

  • Tabagismo: Fumar danifica os vasos sanguíneos e aumenta a pressão arterial, além de aumentar o risco de outras doenças cardíacas.

  • Estresse: O estresse crônico pode levar a picos temporários de pressão arterial e, ao longo do tempo, contribuir para a hipertensão.

  • Dieta Pouco Saudável: Alimentos processados, ricos em gorduras saturadas e trans, também podem influenciar negativamente a pressão arterial.

2. Hipertensão Secundária

A hipertensão secundária ocorre devido a uma condição médica subjacente e é frequentemente mais grave. Algumas das causas mais comuns incluem:

  • Doenças Renais: Problemas nos rins, como insuficiência renal crônica ou doença renal policística, podem causar retenção de líquidos e aumentar a pressão arterial.

  • Distúrbios Endócrinos:

    • Hipertireoidismo: A glândula tireoide hiperativa pode afetar a regulação da pressão arterial.

    • Síndrome de Cushing: A produção excessiva de cortisol, o hormônio do estresse, pode levar a um aumento da pressão arterial.

    • Feocromocitoma: Tumores das glândulas suprarrenais que podem produzir hormônios que aumentam a pressão arterial.

  • Apneia do Sono: A apneia obstrutiva do sono, caracterizada por interrupções na respiração durante o sono, pode levar a aumentos nos níveis de pressão arterial devido ao estresse causado pela falta de oxigênio.

  • Medicações:

    • Certos medicamentos, como anticoncepcionais orais, descongestionantes, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e drogas ilícitas (como cocaína e anfetaminas), podem elevar a pressão arterial.

  • Problemas Cardiovasculares: Algumas doenças cardíacas, como insuficiência cardíaca ou estreitamento das artérias (aterosclerose), podem contribuir para o aumento da pressão arterial.

  • Gravidez (Pré-eclâmpsia): A hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia pode ocorrer durante a gravidez, geralmente após a 20ª semana, e pode ser perigosa tanto para a mãe quanto para o bebê.

Fatores de Risco Comuns

Além das causas diretas da hipertensão, certos fatores de risco podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento da condição:

  • Sexo: Homens têm mais risco de desenvolver hipertensão em idades mais jovens, mas as mulheres têm risco maior após a menopausa.

  • Raça ou Etnia: A hipertensão é mais prevalente em pessoas de ascendência africana.

  • Histórico Familiar de Hipertensão: Pessoas com pais ou irmãos hipertensos têm maior risco.

  • Estilo de Vida Sedentário: A falta de atividade física contribui diretamente para o aumento da pressão arterial.

  • Obesidade: O excesso de peso é um dos principais fatores de risco para hipertensão, pois aumenta o volume de sangue que circula pelos vasos sanguíneos.

Estratégias nutricionais para controle da pressão arterial

A Dieta DASH é uma das dietas mais recomendadas para quem busca controlar a pressão arterial. Ela é rica em alimentos que ajudam a reduzir a pressão arterial e inclui:

  • Frutas e vegetais: São ricos em potássio, magnésio e fibras, que ajudam a controlar a pressão arterial.

  • Grãos integrais: Arroz integral, aveia, quinoa e outros grãos integrais são fontes de fibras que ajudam a controlar o colesterol e a pressão arterial.

  • Laticínios com baixo teor de gordura: O cálcio presente no leite e derivados pode ajudar a reduzir a pressão arterial.

  • Proteínas magras: Inclua fontes de proteínas saudáveis, como aves, peixes, legumes, nozes e sementes.

  • Redução de sódio: A Dieta DASH recomenda limitar a ingestão de sódio a 2.300 mg por dia (idealmente 1.500 mg para pessoas com hipertensão).

2. Aumentar a Ingestão de Potássio

O potássio é um mineral essencial que ajuda a equilibrar os efeitos do sódio no organismo e relaxa as paredes dos vasos sanguíneos, o que pode reduzir a pressão arterial. Algumas fontes de potássio incluem:

  • Bananas

  • Batatas e batatas-doces

  • Espinafre e outros vegetais de folhas verdes

  • Feijão e lentilhas

  • Tomates

  • Abacates

3. Reduzir o Consumo de Sódio

O sódio é um dos principais responsáveis pelo aumento da pressão arterial. Reduzir o consumo de alimentos ricos em sódio pode ajudar a controlar a pressão arterial. Algumas estratégias incluem:

  • Evitar alimentos processados e enlatados, como sopas prontas, carnes processadas, alimentos congelados e fast food, que são ricos em sódio.

  • Optar por temperos naturais, como ervas frescas, especiarias e limão, em vez de sal.

  • Ler rótulos e escolher produtos com baixo teor de sódio.

4. Aumentar a Ingestão de Magnésio

O magnésio é outro mineral importante para o controle da pressão arterial. Ele ajuda a relaxar os vasos sanguíneos e a regular o fluxo sanguíneo. Fontes ricas em magnésio incluem:

  • Espinafre e outras folhas verdes escuras

  • Amêndoas, castanhas e sementes

  • Grãos integrais

  • Leguminosas (feijão, lentilhas, grão-de-bico)

Em estudos, é comum a suplementação de magnésio. As doses de magnésio elementar mais descritas variam entre 365 a 450 mg/dia.

5. Incluir Ácidos Graxos Ômega-3

Os ômega-3 são ácidos graxos essenciais que têm efeitos benéficos na saúde cardiovascular. Eles ajudam a reduzir a inflamação e a melhorar a saúde dos vasos sanguíneos, o que pode ajudar a controlar a pressão arterial. Fontes ricas em ômega-3 incluem:

  • Peixes gordurosos (salmão, sardinha, atum, cavala)

  • Sementes de chia e linhaça

  • Nozes

6. Controle do Consumo de Álcool

O consumo excessivo de álcool pode aumentar a pressão arterial. Para controlar a pressão arterial, é importante limitar o consumo de álcool:

  • Homens devem consumir até 2 doses de álcool por dia.

  • Mulheres devem limitar a ingestão a 1 dose por dia.

  • Uma dose equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados.

7. Consumir Alimentos Ricos em Fibras

As fibras ajudam a melhorar a saúde intestinal e a controlar o peso, o que também pode ter um impacto positivo na pressão arterial. Alimentos ricos em fibras incluem:

  • Frutas (como maçãs, peras, morangos)

  • Vegetais

  • Grãos integrais (arroz integral, aveia, quinoa)

  • Leguminosas (feijão, lentilhas, grão-de-bico)

8. Aumentar a Ingestão de Antioxidantes

Alimentos ricos em antioxidantes, como flavonoides e polifenóis, ajudam a proteger os vasos sanguíneos e a melhorar a saúde cardiovascular. Alguns alimentos ricos em antioxidantes incluem:

  • Frutas vermelhas (morango, framboesa, mirtilo)

  • Cacau amargo (sem açúcar)

  • Chá verde

  • Uvas (e suco de uva roxa)

  • Cebola roxa e alho

9. Controlar o Peso Corporal

Manter um peso saudável é fundamental para o controle da pressão arterial. A obesidade aumenta a carga sobre o sistema cardiovascular e pode contribuir para a hipertensão. Para isso, adotar uma alimentação equilibrada, controlar as porções e praticar atividade física regular é essencial.

10. Evitar Alimentos Processados e Refinados

Os alimentos ultraprocessados, como fast food, salgadinhos, biscoitos industrializados e refrigerantes, são ricos em sódio, gorduras saturadas e trans, que podem aumentar a pressão arterial. É importante priorizar alimentos frescos e naturais.

11. Tomar chás e shots selecionados

Existem alguns chás e "shots" naturais que podem ajudar na redução da pressão arterial, devido às suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e relaxantes. Embora esses remédios naturais não substituam o tratamento médico para hipertensão, eles podem ser úteis como parte de um estilo de vida saudável.

Chá de Hibisco

  • Benefícios: O chá de hibisco tem propriedades diuréticas e anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir a pressão arterial. Estudos mostraram que beber chá de hibisco regularmente pode diminuir a pressão arterial em pessoas com hipertensão leve a moderada.

  • Como consumir: Prepare o chá com flores secas de hibisco, deixando em infusão por cerca de 5 a 10 minutos. Beber 1 a 3 xícaras por dia pode ser benéfico.

Chá de Alho

  • Benefícios: O alho tem compostos como a alicina, que são conhecidos por ajudar a relaxar os vasos sanguíneos e melhorar a circulação, ajudando a reduzir a pressão arterial. O chá de alho pode também ajudar a reduzir a pressão arterial em pessoas com hipertensão.

  • Como consumir: Ferva 2 a 3 dentes de alho amassados em uma xícara de água por cerca de 10 minutos. Coe e beba uma vez por dia.

Chá Verde

  • Benefícios: O chá verde é rico em antioxidantes, como os polifenóis, que têm efeitos benéficos na saúde cardiovascular, incluindo a redução da pressão arterial. Ele também pode melhorar a função endotelial e ajudar na dilatação dos vasos sanguíneos.

  • Como consumir: Prepare o chá verde com folhas frescas ou saquinhos e beba 1 a 2 xícaras por dia.

Chá de Camomila

  • Benefícios: A camomila possui propriedades relaxantes e anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir o estresse e, consequentemente, baixar a pressão arterial. Além disso, pode ajudar na qualidade do sono, fator importante para o controle da pressão arterial.

  • Como consumir: Prepare uma infusão com flores secas de camomila, deixando em infusão por cerca de 5 a 10 minutos. Beber 1 a 2 xícaras antes de dormir.

Chá de Gengibre

  • Benefícios: O gengibre é conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias e vasodilatadoras, ajudando a melhorar a circulação sanguínea e a reduzir a pressão arterial. Pode ser útil tanto para a pressão alta quanto para a saúde cardiovascular geral.

  • Como consumir: Ferva uma fatia de gengibre fresco em água por 10 minutos e beba 1 xícara por dia.

Shot de Limão e Gengibre

  • Benefícios: O limão ajuda a alcalinizar o corpo e contém potássio, que pode ajudar a controlar a pressão arterial. O gengibre, por sua vez, tem propriedades anti-inflamatórias e vasodilatadoras. Juntos, eles podem ser eficazes na redução da pressão arterial.

  • Como consumir: Prepare um shot espremendo o suco de meio limão e adicionando 1 colher de chá de gengibre fresco ralado. Misture com um pouco de água morna ou purificada e beba imediatamente, de preferência pela manhã.

Shot de Beterraba

  • Benefícios: A beterraba é rica em nitratos, que podem ajudar a relaxar os vasos sanguíneos e melhorar o fluxo sanguíneo, contribuindo para a redução da pressão arterial.

  • Como consumir: Faça um suco fresco de beterraba (aproximadamente 1/2 beterraba), pode adicionar um pouco de limão ou gengibre para dar mais sabor. Beba 1 shot por dia.

Shot de Aipo e Limão

  • Benefícios: O aipo é um vegetal rico em potássio, um mineral importante para a regulação da pressão arterial. Ele também tem propriedades diuréticas, ajudando a reduzir o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial. O limão, como mencionado, também ajuda a regular a pressão.

  • Como consumir: Esprema o suco de 2 talos de aipo e de meio limão, e beba imediatamente. Este shot pode ser consumido uma vez por dia, preferencialmente pela manhã.

Shot de Curcuma (Cúrcuma)

  • Benefícios: A cúrcuma tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes poderosas. Ela pode ajudar a melhorar a função endotelial e reduzir a inflamação, fatores que afetam a pressão arterial.

  • Como consumir: Misture 1 colher de chá de cúrcuma em pó com uma pitada de pimenta preta (que ajuda a aumentar a absorção da cúrcuma), suco de meio limão e um pouco de água morna. Beba um shot pela manhã.

Exemplo de Plano Alimentar para Reduzir a Pressão Arterial

Em jejum: chá ou shot (escolher um acima)

  • Café da manhã: Aveia com banana, amêndoas e chia.

  • Lanche da manhã: Maçã ou pera ou melancia.

  • Almoço: Salada de folhas verdes com azeite de oliva, quinoa, grão-de-bico, abacate e peito de frango grelhado.

  • Lanche da tarde: Iogurte natural com frutas vermelhas e linhaça. Adicionar um chá ou shot extra.

  • Jantar: Salmão grelhado com brócolis no vapor e batata-doce assada.

Essas estratégias nutricionais não apenas ajudam a reduzir a pressão arterial, mas também promovem a saúde cardiovascular e o bem-estar geral.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Akkermansia muciniphila: O Papel no Microbioma Intestinal e Sua Relevância em Doenças Neuropsicológicas

A microbiota intestinal humana varia consideravelmente entre os indivíduos e ao longo do tempo dentro de cada pessoa, sendo influenciada por fatores como genética, dieta, suplementos nutricionais e uso de antibióticos. Nos últimos anos, os estudos sobre a disbiose intestinal se expandiram para diversas doenças, e uma bactéria tem se destacado entre elas: Akkermansia muciniphila. Esta bactéria Gram-negativa tem mostrado correlações com uma série de doenças, incluindo distúrbios metabólicos e intestinais, além de doenças neuropsicológicas.

O que é Akkermansia muciniphila?

Akkermansia muciniphila é uma bactéria anaeróbica Gram-negativa que produz ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs). Ela foi isolada pela primeira vez de fezes humanas em 2004 e coloniza a interface mucosa entre o epitélio intestinal oxigênico e o lúmen anóxico do trato digestivo. Sua abundância pode representar até 5% das bactérias intestinais em condições normais.

Estudos mostraram que A. muciniphila tende a ser mais abundante em indivíduos saudáveis e magros, em comparação com aqueles com sobrepeso ou obesidade. Além disso, sua presença está associada à diversidade metagenômica e à coexistência com outras bactérias benéficas, como Faecalibacterium prausnitzii e Methanobrevibacter smithii.

Akkermansia muciniphila e a Saúde Intestinal

Uma das funções essenciais de A. muciniphila é a manutenção da integridade da barreira intestinal e da camada de muco. Ela facilita a produção de muco, o que contribui para a espessura da camada mucosa, a redução da permeabilidade intestinal e a prevenção da passagem de lipopolissacarídeos (LPS) bacterianos para a corrente sanguínea. Em doenças como a Doença Inflamatória Intestinal (DII), onde a camada de muco é mais fina, a abundância de A. muciniphila é frequentemente reduzida, o que prejudica a barreira intestinal e aumenta a permeabilidade.

Akkermansia muciniphila e Doenças Neuropsicológicas

Nos últimos anos, estudos começaram a explorar o impacto de A. muciniphila em doenças neuropsicológicas. Embora seja mais conhecida por seu papel em distúrbios metabólicos e gastrointestinais, sua análise tem sido estendida para condições como depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Pesquisas indicam que alterações na abundância de A. muciniphila estão associadas a esses distúrbios, levantando questões importantes sobre o papel da bactéria no desenvolvimento e progressão de doenças neuropsicológicas.

Uma questão crucial é se A. muciniphila desempenha um papel único na patogênese dessas doenças ou se sua modulação poderia servir como uma estratégia terapêutica. A manipulação dessa bactéria, seus proteínas da membrana externa ou seus metabolitos pode oferecer novos caminhos para o tratamento de doenças neuropsicológicas a longo prazo.

Potencial Terapêutico de Akkermansia muciniphila

Akkermansia muciniphila é uma bactéria intestinal conhecida por sua capacidade de produzir ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como o propionato e o acetato. Esses compostos têm efeitos benéficos no corpo, incluindo a manutenção da função da barreira epitelial, diminuição de danos oxidativos no DNA, regulação da produção de citocinas, promoção de efeitos anti-inflamatórios e melhoria da saúde metabólica. Além disso, os SCFAs podem melhorar a função do sistema imunológico e estimular o metabolismo, com destaque para o aumento da oxidação de gorduras e ativação do tecido adiposo marrom.

Akkermansia muciniphila e a Integridade Neurovascular

Estudos demonstraram que A. muciniphila tem um papel importante na manutenção da integridade da barreira hematoencefálica (BBB). Em condições patológicas, inflamações podem danificar essa barreira e comprometer a função cerebral. A ausência de A. muciniphila foi associada ao aumento da permeabilidade da BBB, o que pode facilitar o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. Por outro lado, dietas ricas em cetonas, que aumentam a abundância de A. muciniphila, melhoraram o fluxo sanguíneo cerebral e facilitaram a remoção de proteínas tóxicas, como o amyloid β (Aβ).

A Proteína de Membrana Externa Amuc_1100

A proteína Amuc_1100 é uma das proteínas da membrana externa mais expressas por A. muciniphila e desempenha um papel importante na manutenção da homeostase imunológica do hospedeiro e na melhoria da função da barreira intestinal. A interação entre Amuc_1100 e a mucina é essencial para a colonização bacteriana no trato intestinal. Além disso, a proteína ativa vias de sinalização que regulam a expressão de proteínas da junção apertada, essenciais para a integridade da barreira intestinal e neurovascular. Recentemente, também foi sugerido que Amuc_1100 desempenha um papel na regulação do metabolismo de aminoácidos, o que pode ter implicações terapêuticas em doenças intestinais e neuropsicológicas.

Akkermansia muciniphila em Doenças Neuropsicológicas

O conceito de "eixo microbiota-intestino-cérebro" tem ganhado destaque nos últimos anos, mostrando a conexão entre o microbioma intestinal e doenças do sistema nervoso central (SNC). A disbiose, ou desequilíbrio da microbiota, foi associada ao desenvolvimento de várias condições neurológicas. No caso de A. muciniphila, estudos indicam que a abundância dessa bactéria varia conforme a doença. Por exemplo, a quantidade de A. muciniphila diminui em condições como esclerose lateral amiotrófica (ELA) e transtornos neuropsiquiátricos, enquanto aumenta em doenças como Parkinson e esclerose múltipla.

A pesquisa sugere que a modulação de A. muciniphila pode ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças neuropsicológicas, melhorando a função da barreira hematoencefálica e modulando a inflamação. No entanto, a relação da bactéria com doenças como Alzheimer e autismo ainda não está completamente esclarecida, necessitando de mais estudos para determinar seu impacto.

Akkermansia muciniphila: Impacto em Doenças Neuropsicológicas e Esclerose Múltipla

Akkermansia muciniphila, uma bactéria intestinal, tem mostrado ser relevante em diversas condições de saúde, incluindo doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas. Estudos recentes têm explorado sua relação com distúrbios como atrofia de múltiplos sistemas (MSA), esclerose múltipla (EM) e distúrbios psicossociais, sugerindo que a abundância dessa bactéria pode influenciar o curso de várias doenças.

Akkermansia muciniphila e Distúrbios Psicossociais

Estudos humanos indicam que a abundância de A. muciniphila nos fecais de bebês de 2,5 meses está negativamente correlacionada com os sintomas de distúrbios psicológicos maternos durante a gestação, como a angústia psicológica pré-natal (PPD). Esse achado, proveniente do estudo FinnBrain Birth, sugere que a PPD crônica pode afetar a presença dessa bactéria nos filhos, o que poderia influenciar o desenvolvimento deles (Aatsinki et al., 2020).

Akkermansia muciniphila na Atrofia Múltipla de Sistemas (MSA)

A MSA é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta adultos e se caracteriza por sintomas como parkinsonismo, ataxia cerebelar e falha autonômica. Estudos metagenômicos mostraram um aumento da abundância de A. muciniphila nas fezes de pacientes com MSA, enquanto outros gêneros como Megamonas e Bifidobacterium estavam diminuídos. Embora o mecanismo por trás do aumento de A. muciniphila na MSA não esteja totalmente esclarecido, acredita-se que a bactéria ajude a restaurar a homeostase imunológica, um processo que ainda necessita ser mais investigado (Wan et al., 2019).

Akkermansia muciniphila e Esclerose Múltipla (EM)

A EM é uma doença autoimune do sistema nervoso central, caracterizada por desmielinização e danos axonais. Estudos indicam que A. muciniphila está associada ao aumento de respostas inflamatórias em pacientes com EM. A presença dessa bactéria foi observada em maiores quantidades em pacientes com EM, especialmente naqueles não tratados ou em remissão da doença. Em contraste, a diminuição de A. muciniphila foi associada a uma resposta imunológica anti-inflamatória, o que pode representar uma possível estratégia terapêutica para a EM (Cekanaviciute et al., 2017; Jangi et al., 2016).

Uma pesquisa recente, envolvendo 576 pacientes com EM, revelou que A. muciniphila estava significativamente mais presente em pacientes não tratados e naqueles com formas recidivantes-remitentes e progressivas da doença, mas não apresentou diferenças significativas entre os grupos tratados com terapias modificadoras de doença (iMSMS Consortium, 2022). Curiosamente, em um estudo piloto, a suplementação de vitamina D aumentou a abundância de A. muciniphila em pacientes não tratados, o que pode sugerir um papel para a vitamina D no tratamento da EM (Cantarel et al., 2015).

Akkermansia muciniphila e Doença de Parkinson (DP)

Em estudos pós-morte, foi sugerido que a doença de Parkinson (DP) pode começar no intestino, com inclusões de ɑ-sinucleína sendo transportadas do trato gastrointestinal para o cérebro via nervo vago. Diversas pesquisas demonstraram que pacientes com DP têm uma abundância elevada de A. muciniphila no intestino, o que pode ser influenciado por mudanças no comportamento alimentar e fatores como constipação crônica e tratamentos medicamentosos.

Embora a abundância de A. muciniphila seja alta, a produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs) é reduzida, possivelmente devido a outros microrganismos presentes. Curiosamente, A. muciniphila também é mais abundante em pacientes com distúrbios comportamentais, como o transtorno de comportamento do sono REM, um dos primeiros sinais da DP. Isso levanta a possibilidade de que alterações na abundância dessa bactéria possam servir como biomarcadores para diagnóstico precoce da doença. Estudos de longo prazo são necessários para avaliar essa hipótese e a influência dos medicamentos de DP na abundância dessa bactéria.

Akkermansia muciniphila, Doença de Alzheimer (DA) e Déficits Cognitivos

Estudos em roedores alimentados com dieta rica em gordura (HFD) mostram que a redução de A. muciniphila está associada ao declínio cognitivo, mas a suplementação com dietas cetogênicas aumenta sua abundância e reduz o risco de neurodegeneração. Em modelos transgênicos de DA, a abundância de A. muciniphila mostra correlação com a presença de β-amiloide, embora o efeito da suplementação oral dessa bactéria mostre benefícios cognitivos em várias condições experimentais. Em humanos, a bactéria foi encontrada mais abundante em pacientes com DA em estágio inicial, o que aponta para seu potencial terapêutico.

Akkermansia muciniphila no Autismo e Epilepsia

No Transtorno do Espectro Autista (TEA), os resultados sobre a abundância de A. muciniphila são conflitantes, com algumas pesquisas mostrando aumento e outras redução dessa bactéria. No entanto, modelos de transplante fecal de microbioma de indivíduos com TEA para camundongos sugeriram que a alteração do microbioma pode reproduzir comportamentos típicos de autismo, incluindo um aumento de A. muciniphila. Em modelos animais de epilepsia, a abundância de A. muciniphila é reduzida, mas em crianças com paralisia cerebral e epilepsia, os níveis são mais elevados, sugerindo que a modulação microbiana poderia representar uma terapia inovadora para convulsões.

Potencial Terapêutico da A. muciniphila

A modulação da abundância de A. muciniphila apresenta um grande potencial terapêutico. Intervenções como dieta, exercício, suplementos e até procedimentos cirúrgicos têm mostrado aumentar essa bactéria e melhorar os sintomas de doenças metabólicas e neuropsiquiátricas. Em modelos animais, a suplementação de A. muciniphila aliviou déficits cognitivos e comportamentais, enquanto dietas cetogênicas demonstraram aumentar sua presença, ajudando na proteção contra doenças neurodegenerativas.

Contodo, a pesquisa sobre o impacto de A. muciniphila em doenças como a MSA e a EM aponta para a necessidade de mais estudos para entender os mecanismos imunológicos subjacentes e como esses podem ser utilizados para desenvolver terapias mais eficazes.

Como saber que tipos de bactérias tenho no intestino?

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/