A pesquisa sugere que a modulação de A. muciniphila pode ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças neuropsicológicas, melhorando a função da barreira hematoencefálica e modulando a inflamação. No entanto, a relação da bactéria com doenças como Alzheimer e autismo ainda não está completamente esclarecida, necessitando de mais estudos para determinar seu impacto.
Akkermansia muciniphila: Impacto em Doenças Neuropsicológicas e Esclerose Múltipla
Akkermansia muciniphila, uma bactéria intestinal, tem mostrado ser relevante em diversas condições de saúde, incluindo doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas. Estudos recentes têm explorado sua relação com distúrbios como atrofia de múltiplos sistemas (MSA), esclerose múltipla (EM) e distúrbios psicossociais, sugerindo que a abundância dessa bactéria pode influenciar o curso de várias doenças.
Akkermansia muciniphila e Distúrbios Psicossociais
Estudos humanos indicam que a abundância de A. muciniphila nos fecais de bebês de 2,5 meses está negativamente correlacionada com os sintomas de distúrbios psicológicos maternos durante a gestação, como a angústia psicológica pré-natal (PPD). Esse achado, proveniente do estudo FinnBrain Birth, sugere que a PPD crônica pode afetar a presença dessa bactéria nos filhos, o que poderia influenciar o desenvolvimento deles (Aatsinki et al., 2020).
Akkermansia muciniphila na Atrofia Múltipla de Sistemas (MSA)
A MSA é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta adultos e se caracteriza por sintomas como parkinsonismo, ataxia cerebelar e falha autonômica. Estudos metagenômicos mostraram um aumento da abundância de A. muciniphila nas fezes de pacientes com MSA, enquanto outros gêneros como Megamonas e Bifidobacterium estavam diminuídos. Embora o mecanismo por trás do aumento de A. muciniphila na MSA não esteja totalmente esclarecido, acredita-se que a bactéria ajude a restaurar a homeostase imunológica, um processo que ainda necessita ser mais investigado (Wan et al., 2019).
Akkermansia muciniphila e Esclerose Múltipla (EM)
A EM é uma doença autoimune do sistema nervoso central, caracterizada por desmielinização e danos axonais. Estudos indicam que A. muciniphila está associada ao aumento de respostas inflamatórias em pacientes com EM. A presença dessa bactéria foi observada em maiores quantidades em pacientes com EM, especialmente naqueles não tratados ou em remissão da doença. Em contraste, a diminuição de A. muciniphila foi associada a uma resposta imunológica anti-inflamatória, o que pode representar uma possível estratégia terapêutica para a EM (Cekanaviciute et al., 2017; Jangi et al., 2016).
Uma pesquisa recente, envolvendo 576 pacientes com EM, revelou que A. muciniphila estava significativamente mais presente em pacientes não tratados e naqueles com formas recidivantes-remitentes e progressivas da doença, mas não apresentou diferenças significativas entre os grupos tratados com terapias modificadoras de doença (iMSMS Consortium, 2022). Curiosamente, em um estudo piloto, a suplementação de vitamina D aumentou a abundância de A. muciniphila em pacientes não tratados, o que pode sugerir um papel para a vitamina D no tratamento da EM (Cantarel et al., 2015).
Akkermansia muciniphila e Doença de Parkinson (DP)
Em estudos pós-morte, foi sugerido que a doença de Parkinson (DP) pode começar no intestino, com inclusões de ɑ-sinucleína sendo transportadas do trato gastrointestinal para o cérebro via nervo vago. Diversas pesquisas demonstraram que pacientes com DP têm uma abundância elevada de A. muciniphila no intestino, o que pode ser influenciado por mudanças no comportamento alimentar e fatores como constipação crônica e tratamentos medicamentosos.
Embora a abundância de A. muciniphila seja alta, a produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs) é reduzida, possivelmente devido a outros microrganismos presentes. Curiosamente, A. muciniphila também é mais abundante em pacientes com distúrbios comportamentais, como o transtorno de comportamento do sono REM, um dos primeiros sinais da DP. Isso levanta a possibilidade de que alterações na abundância dessa bactéria possam servir como biomarcadores para diagnóstico precoce da doença. Estudos de longo prazo são necessários para avaliar essa hipótese e a influência dos medicamentos de DP na abundância dessa bactéria.
Akkermansia muciniphila, Doença de Alzheimer (DA) e Déficits Cognitivos
Estudos em roedores alimentados com dieta rica em gordura (HFD) mostram que a redução de A. muciniphila está associada ao declínio cognitivo, mas a suplementação com dietas cetogênicas aumenta sua abundância e reduz o risco de neurodegeneração. Em modelos transgênicos de DA, a abundância de A. muciniphila mostra correlação com a presença de β-amiloide, embora o efeito da suplementação oral dessa bactéria mostre benefícios cognitivos em várias condições experimentais. Em humanos, a bactéria foi encontrada mais abundante em pacientes com DA em estágio inicial, o que aponta para seu potencial terapêutico.
Akkermansia muciniphila no Autismo e Epilepsia
No Transtorno do Espectro Autista (TEA), os resultados sobre a abundância de A. muciniphila são conflitantes, com algumas pesquisas mostrando aumento e outras redução dessa bactéria. No entanto, modelos de transplante fecal de microbioma de indivíduos com TEA para camundongos sugeriram que a alteração do microbioma pode reproduzir comportamentos típicos de autismo, incluindo um aumento de A. muciniphila. Em modelos animais de epilepsia, a abundância de A. muciniphila é reduzida, mas em crianças com paralisia cerebral e epilepsia, os níveis são mais elevados, sugerindo que a modulação microbiana poderia representar uma terapia inovadora para convulsões.
Potencial Terapêutico da A. muciniphila
A modulação da abundância de A. muciniphila apresenta um grande potencial terapêutico. Intervenções como dieta, exercício, suplementos e até procedimentos cirúrgicos têm mostrado aumentar essa bactéria e melhorar os sintomas de doenças metabólicas e neuropsiquiátricas. Em modelos animais, a suplementação de A. muciniphila aliviou déficits cognitivos e comportamentais, enquanto dietas cetogênicas demonstraram aumentar sua presença, ajudando na proteção contra doenças neurodegenerativas.
Contodo, a pesquisa sobre o impacto de A. muciniphila em doenças como a MSA e a EM aponta para a necessidade de mais estudos para entender os mecanismos imunológicos subjacentes e como esses podem ser utilizados para desenvolver terapias mais eficazes.
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