A microbiota intestinal humana varia consideravelmente entre os indivíduos e ao longo do tempo dentro de cada pessoa, sendo influenciada por fatores como genética, dieta, suplementos nutricionais e uso de antibióticos. Nos últimos anos, os estudos sobre a disbiose intestinal se expandiram para diversas doenças, e uma bactéria tem se destacado entre elas: Akkermansia muciniphila. Esta bactéria Gram-negativa tem mostrado correlações com uma série de doenças, incluindo distúrbios metabólicos e intestinais, além de doenças neuropsicológicas.
O que é Akkermansia muciniphila?
Akkermansia muciniphila é uma bactéria anaeróbica Gram-negativa que produz ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs). Ela foi isolada pela primeira vez de fezes humanas em 2004 e coloniza a interface mucosa entre o epitélio intestinal oxigênico e o lúmen anóxico do trato digestivo. Sua abundância pode representar até 5% das bactérias intestinais em condições normais.
Estudos mostraram que A. muciniphila tende a ser mais abundante em indivíduos saudáveis e magros, em comparação com aqueles com sobrepeso ou obesidade. Além disso, sua presença está associada à diversidade metagenômica e à coexistência com outras bactérias benéficas, como Faecalibacterium prausnitzii e Methanobrevibacter smithii.
Akkermansia muciniphila e a Saúde Intestinal
Uma das funções essenciais de A. muciniphila é a manutenção da integridade da barreira intestinal e da camada de muco. Ela facilita a produção de muco, o que contribui para a espessura da camada mucosa, a redução da permeabilidade intestinal e a prevenção da passagem de lipopolissacarídeos (LPS) bacterianos para a corrente sanguínea. Em doenças como a Doença Inflamatória Intestinal (DII), onde a camada de muco é mais fina, a abundância de A. muciniphila é frequentemente reduzida, o que prejudica a barreira intestinal e aumenta a permeabilidade.
Akkermansia muciniphila e Doenças Neuropsicológicas
Nos últimos anos, estudos começaram a explorar o impacto de A. muciniphila em doenças neuropsicológicas. Embora seja mais conhecida por seu papel em distúrbios metabólicos e gastrointestinais, sua análise tem sido estendida para condições como depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Pesquisas indicam que alterações na abundância de A. muciniphila estão associadas a esses distúrbios, levantando questões importantes sobre o papel da bactéria no desenvolvimento e progressão de doenças neuropsicológicas.
Uma questão crucial é se A. muciniphila desempenha um papel único na patogênese dessas doenças ou se sua modulação poderia servir como uma estratégia terapêutica. A manipulação dessa bactéria, seus proteínas da membrana externa ou seus metabolitos pode oferecer novos caminhos para o tratamento de doenças neuropsicológicas a longo prazo.
Potencial Terapêutico de Akkermansia muciniphila
Akkermansia muciniphila é uma bactéria intestinal conhecida por sua capacidade de produzir ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como o propionato e o acetato. Esses compostos têm efeitos benéficos no corpo, incluindo a manutenção da função da barreira epitelial, diminuição de danos oxidativos no DNA, regulação da produção de citocinas, promoção de efeitos anti-inflamatórios e melhoria da saúde metabólica. Além disso, os SCFAs podem melhorar a função do sistema imunológico e estimular o metabolismo, com destaque para o aumento da oxidação de gorduras e ativação do tecido adiposo marrom.
Akkermansia muciniphila e a Integridade Neurovascular
Estudos demonstraram que A. muciniphila tem um papel importante na manutenção da integridade da barreira hematoencefálica (BBB). Em condições patológicas, inflamações podem danificar essa barreira e comprometer a função cerebral. A ausência de A. muciniphila foi associada ao aumento da permeabilidade da BBB, o que pode facilitar o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. Por outro lado, dietas ricas em cetonas, que aumentam a abundância de A. muciniphila, melhoraram o fluxo sanguíneo cerebral e facilitaram a remoção de proteínas tóxicas, como o amyloid β (Aβ).
A Proteína de Membrana Externa Amuc_1100
A proteína Amuc_1100 é uma das proteínas da membrana externa mais expressas por A. muciniphila e desempenha um papel importante na manutenção da homeostase imunológica do hospedeiro e na melhoria da função da barreira intestinal. A interação entre Amuc_1100 e a mucina é essencial para a colonização bacteriana no trato intestinal. Além disso, a proteína ativa vias de sinalização que regulam a expressão de proteínas da junção apertada, essenciais para a integridade da barreira intestinal e neurovascular. Recentemente, também foi sugerido que Amuc_1100 desempenha um papel na regulação do metabolismo de aminoácidos, o que pode ter implicações terapêuticas em doenças intestinais e neuropsicológicas.
Akkermansia muciniphila em Doenças Neuropsicológicas
O conceito de "eixo microbiota-intestino-cérebro" tem ganhado destaque nos últimos anos, mostrando a conexão entre o microbioma intestinal e doenças do sistema nervoso central (SNC). A disbiose, ou desequilíbrio da microbiota, foi associada ao desenvolvimento de várias condições neurológicas. No caso de A. muciniphila, estudos indicam que a abundância dessa bactéria varia conforme a doença. Por exemplo, a quantidade de A. muciniphila diminui em condições como esclerose lateral amiotrófica (ELA) e transtornos neuropsiquiátricos, enquanto aumenta em doenças como Parkinson e esclerose múltipla.
A pesquisa sugere que a modulação de A. muciniphila pode ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças neuropsicológicas, melhorando a função da barreira hematoencefálica e modulando a inflamação. No entanto, a relação da bactéria com doenças como Alzheimer e autismo ainda não está completamente esclarecida, necessitando de mais estudos para determinar seu impacto.
Akkermansia muciniphila: Impacto em Doenças Neuropsicológicas e Esclerose Múltipla
Akkermansia muciniphila, uma bactéria intestinal, tem mostrado ser relevante em diversas condições de saúde, incluindo doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas. Estudos recentes têm explorado sua relação com distúrbios como atrofia de múltiplos sistemas (MSA), esclerose múltipla (EM) e distúrbios psicossociais, sugerindo que a abundância dessa bactéria pode influenciar o curso de várias doenças.
Akkermansia muciniphila e Distúrbios Psicossociais
Estudos humanos indicam que a abundância de A. muciniphila nos fecais de bebês de 2,5 meses está negativamente correlacionada com os sintomas de distúrbios psicológicos maternos durante a gestação, como a angústia psicológica pré-natal (PPD). Esse achado, proveniente do estudo FinnBrain Birth, sugere que a PPD crônica pode afetar a presença dessa bactéria nos filhos, o que poderia influenciar o desenvolvimento deles (Aatsinki et al., 2020).
Akkermansia muciniphila na Atrofia Múltipla de Sistemas (MSA)
A MSA é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta adultos e se caracteriza por sintomas como parkinsonismo, ataxia cerebelar e falha autonômica. Estudos metagenômicos mostraram um aumento da abundância de A. muciniphila nas fezes de pacientes com MSA, enquanto outros gêneros como Megamonas e Bifidobacterium estavam diminuídos. Embora o mecanismo por trás do aumento de A. muciniphila na MSA não esteja totalmente esclarecido, acredita-se que a bactéria ajude a restaurar a homeostase imunológica, um processo que ainda necessita ser mais investigado (Wan et al., 2019).
Akkermansia muciniphila e Esclerose Múltipla (EM)
A EM é uma doença autoimune do sistema nervoso central, caracterizada por desmielinização e danos axonais. Estudos indicam que A. muciniphila está associada ao aumento de respostas inflamatórias em pacientes com EM. A presença dessa bactéria foi observada em maiores quantidades em pacientes com EM, especialmente naqueles não tratados ou em remissão da doença. Em contraste, a diminuição de A. muciniphila foi associada a uma resposta imunológica anti-inflamatória, o que pode representar uma possível estratégia terapêutica para a EM (Cekanaviciute et al., 2017; Jangi et al., 2016).
Uma pesquisa recente, envolvendo 576 pacientes com EM, revelou que A. muciniphila estava significativamente mais presente em pacientes não tratados e naqueles com formas recidivantes-remitentes e progressivas da doença, mas não apresentou diferenças significativas entre os grupos tratados com terapias modificadoras de doença (iMSMS Consortium, 2022). Curiosamente, em um estudo piloto, a suplementação de vitamina D aumentou a abundância de A. muciniphila em pacientes não tratados, o que pode sugerir um papel para a vitamina D no tratamento da EM (Cantarel et al., 2015).
Akkermansia muciniphila e Doença de Parkinson (DP)
Em estudos pós-morte, foi sugerido que a doença de Parkinson (DP) pode começar no intestino, com inclusões de ɑ-sinucleína sendo transportadas do trato gastrointestinal para o cérebro via nervo vago. Diversas pesquisas demonstraram que pacientes com DP têm uma abundância elevada de A. muciniphila no intestino, o que pode ser influenciado por mudanças no comportamento alimentar e fatores como constipação crônica e tratamentos medicamentosos.
Embora a abundância de A. muciniphila seja alta, a produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs) é reduzida, possivelmente devido a outros microrganismos presentes. Curiosamente, A. muciniphila também é mais abundante em pacientes com distúrbios comportamentais, como o transtorno de comportamento do sono REM, um dos primeiros sinais da DP. Isso levanta a possibilidade de que alterações na abundância dessa bactéria possam servir como biomarcadores para diagnóstico precoce da doença. Estudos de longo prazo são necessários para avaliar essa hipótese e a influência dos medicamentos de DP na abundância dessa bactéria.
Akkermansia muciniphila, Doença de Alzheimer (DA) e Déficits Cognitivos
Estudos em roedores alimentados com dieta rica em gordura (HFD) mostram que a redução de A. muciniphila está associada ao declínio cognitivo, mas a suplementação com dietas cetogênicas aumenta sua abundância e reduz o risco de neurodegeneração. Em modelos transgênicos de DA, a abundância de A. muciniphila mostra correlação com a presença de β-amiloide, embora o efeito da suplementação oral dessa bactéria mostre benefícios cognitivos em várias condições experimentais. Em humanos, a bactéria foi encontrada mais abundante em pacientes com DA em estágio inicial, o que aponta para seu potencial terapêutico.
Akkermansia muciniphila no Autismo e Epilepsia
No Transtorno do Espectro Autista (TEA), os resultados sobre a abundância de A. muciniphila são conflitantes, com algumas pesquisas mostrando aumento e outras redução dessa bactéria. No entanto, modelos de transplante fecal de microbioma de indivíduos com TEA para camundongos sugeriram que a alteração do microbioma pode reproduzir comportamentos típicos de autismo, incluindo um aumento de A. muciniphila. Em modelos animais de epilepsia, a abundância de A. muciniphila é reduzida, mas em crianças com paralisia cerebral e epilepsia, os níveis são mais elevados, sugerindo que a modulação microbiana poderia representar uma terapia inovadora para convulsões.
Potencial Terapêutico da A. muciniphila
A modulação da abundância de A. muciniphila apresenta um grande potencial terapêutico. Intervenções como dieta, exercício, suplementos e até procedimentos cirúrgicos têm mostrado aumentar essa bactéria e melhorar os sintomas de doenças metabólicas e neuropsiquiátricas. Em modelos animais, a suplementação de A. muciniphila aliviou déficits cognitivos e comportamentais, enquanto dietas cetogênicas demonstraram aumentar sua presença, ajudando na proteção contra doenças neurodegenerativas.
Contodo, a pesquisa sobre o impacto de A. muciniphila em doenças como a MSA e a EM aponta para a necessidade de mais estudos para entender os mecanismos imunológicos subjacentes e como esses podem ser utilizados para desenvolver terapias mais eficazes.
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