Biodisponibilidade dos carotenoides

Os carotenoides, incluindo o licopeno, são compostos funcionais com várias atividades biológicas e farmacológicas. No entanto, sua baixa solubilidade em água e estabilidade levam à baixa biodisponibilidade oral, o que limita a suplementação.

A absorção do licopeno in vivo é afetada pela solubilidade, estabilidade, tipo de isômero, capacidade emulsificante, dificuldade em formar micelas in vivo e interação com componentes alimentares. Emulsões, micelas, lipossomas, dispersões sólidas, microcápsulas, nanopartículas, eletrofiação e outros sistemas de administração de fármacos podem ser usados ​​como boas estratégias para melhorar a estabilidade e a biodisponibilidade do licopeno.

A disponibilidade no alimento depende da forma e tempo de cozimento, tempo de armazenamento, tipo de processamento, fonte alimentar, quantidade de gordura e fibras na dieta, além da digestibilidade. Fatores antinutricionais podem afetar a disponibilidade dos carotenos, incluindo:

  • Fibras e fitatos: Podem interferir na absorção dos carotenos ao reduzir a emulsificação e digestão das gorduras, necessárias para sua absorção.

  • Polifenóis: Podem formar complexos que reduzem a solubilidade dos carotenos.

O processamento também tem uma influência na quantidade de caroteno absorvido:

  • Corte e exposição ao ar: Oxidação ocorre quando alimentos ricos em carotenos são cortados ou expostos ao oxigênio.

  • Cozimento: O calor pode tanto melhorar quanto reduzir a disponibilidade de carotenos:

    • Benefício: O calor rompe as paredes celulares e a matriz vegetal, liberando carotenos para absorção (ex.: cenouras cozidas têm maior disponibilidade de beta-caroteno do que cruas).

    • Perda: Cozimento excessivo ou temperaturas muito altas podem degradar os carotenos.

Os carotenos são lipossolúveis, o que significa que precisam da presença de gordura na refeição para serem absorvidos eficientemente.

  • Dietas com baixa gordura: Reduzem a biodisponibilidade de carotenos.

  • Presença de óleos ou fontes de gordura saudável: Melhora a absorção.

Existem vários tipos de carotenos e estes podem estar ligados a diferentes matrizes alimentares. Em vegetais de folhas verdes (ex.: espinafre), eles estão associados a proteínas e fibras, tornando-os menos biodisponíveis. Em frutas como manga e mamão, os carotenos são mais facilmente disponíveis devido à menor quantidade de fibras insolúveis.

Alimentos processados em forma de purês ou sucos, como purê de abóbora ou suco de cenoura, aumentam a biodisponibilidade porque as células vegetais já foram quebradas.

A forma de caroteno também é relevante. O trans-beta-caroteno é mais estável, mas pode ser convertido para a forma cis durante o cozimento, reduzindo a biodisponibilidade.

A biodisponibilidade do suplemento é a fração do nutriente disponível que pode ser absorvida e utilizada pelo organismo para funções metabólicas. Pode ser afetado pela forma química do nutriente (sais orgânicos, sais inorgânicos, quelados, lipossomas etc), forma de apresentação (líquido, comprimido revestido etc), dosagem, interação com outros nutrientes, o armazenamento (contato com luz, calor, umidade) e fatores relacionados ao indivíduo, incluindo:

  • Capacidade de absorção intestinal: Problemas no trato gastrointestinal, como síndrome do intestino irritável, doença celíaca ou pancreática, podem reduzir a absorção de carotenos.

  • Deficiência de vitamina A: O organismo pode priorizar a conversão do beta-caroteno em vitamina A, aumentando sua utilização.

  • Status lipídico: A presença de gorduras é essencial para emulsificação e absorção; pessoas com má digestão de gorduras (como na insuficiência pancreática) apresentam menor biodisponibilidade.

  • Idade: em idosos, a capacidade digestiva pode cair, impactando a absorção de nutrientes.

  • Uso de medicamentos: podem reduzir a absorção ou aumentar a excreção.

  • Estresse e hábitos de vida: podem afetar a digestão e motilidade intestinal, a necessidade de antioxidantes.

Astaxantina e luteína

Estes dois compostos pertencem à família dos carotenoides, sendo classificados como xantofilas, pois contém oxigênio na estrutura. Possuem propriedades antioxidantes e desempenham importantes papeis na saúde humana.

Astaxantina

Um carotenoide da classe das xantofilas, conhecido por sua coloração vermelho-alaranjada. É encontrado em organismos como algas, camarões, salmão, lagostas e krill.

Funções/Benefícios:

  • Antioxidante poderoso: Protege as células contra os danos causados pelos radicais livres, que podem levar ao envelhecimento precoce e doenças crônicas.

  • Saúde da pele: Reduz os danos causados pelos raios UV, promove elasticidade e hidratação da pele.

  • Saúde ocular: Pode ajudar a proteger os olhos contra a fadiga e doenças relacionadas à idade, como degeneração macular.

  • Desempenho físico: Reduz a inflamação e a fadiga muscular após exercícios intensos.

  • Saúde cardiovascular: Ajuda a reduzir os níveis de colesterol oxidado e melhora a circulação.

    Suplemento de alta absorção: diluído em TCM e extraído de Haematococcus pluvialis (microalga de alga doce).

Luteína

Outro carotenoide da classe das xantofilas, de cor amarelo-alaranjada, encontrado em vegetais verdes escuros (como espinafre, couve e brócolis), gema de ovo e frutas.

Funções/Benefícios:

  • Saúde dos olhos: A luteína se acumula na mácula (região central da retina), protegendo os olhos dos danos causados pela luz azul e reduzindo o risco de degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e catarata.

  • Antioxidante: Neutraliza os radicais livres, ajudando a proteger as células contra danos.

  • Saúde da pele: Assim como a astaxantina, contribui para a proteção contra os danos UV.

  • Função cognitiva: Alguns estudos sugerem que a luteína também pode contribuir para a saúde cerebral e a preservação das funções cognitivas, especialmente em idosos.

    Suplemento de alta absorção: diluído em TCM e extraído da flor de Tagetes erecta.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Papel do estrogênio no lipedema

O lipedema é uma condição dolorosa caracterizada pelo acúmulo bilateral e desproporcional de gordura subcutânea, principalmente na parte inferior do corpo, afetando cerca de 11% da população feminina. Acredita-se que o início da patofisiologia do lipedema ocorra durante períodos de flutuação hormonal, como puberdade, gravidez ou menopausa. Embora a identificação e caracterização do lipedema tenham melhorado e compreenda-se mais sobre a genética do lipedema, a etiologia subjacente da doença ainda não está totalmente elucidada.

O estrogênio, um hormônio chave na regulação do metabolismo lipídico e de glicose dos adipócitos, bem como na distribuição de gordura corporal feminina, é postulado como um fator contributivo na patofisiologia do lipedema.

O tecido adiposo é crucial para o metabolismo energético e homeostase, e os receptores de estrogênio (ERs, principalmente ERα e ERβ) desempenham papéis centrais em sua regulação. Estrogênios modulam diretamente as funções do tecido adiposo por meio da interação com esses receptores, influenciando processos como a diferenciação de adipócitos, armazenamento de lipídios e liberação de adipocinas. A atividade dos ERs também está ligada à distribuição de gordura corporal, com impacto na saúde metabólica.

Estudos mostram que a deficiência de estrogênio ou alterações nos ERs estão associadas à obesidade, resistência à insulina e inflamação. Em mulheres, a menopausa – marcada pela redução dos níveis de estrogênio – contribui para mudanças na distribuição de gordura, aumentando o risco de doenças metabólicas. Além disso, os ERs desempenham papéis distintos no tecido adiposo branco e marrom, regulando o equilíbrio entre armazenamento de energia e termogênese. A desregulação do acúmulo de gordura via sinalização do estrogênio provavelmente ocorre por dois mecanismos:

Alteração na distribuição dos receptores de estrogênio nos adipócitos (relação ERα/ERβ) e subsequente sinalização metabólica.

  • O ERα é o receptor mais amplamente estudado e geralmente associado a efeitos protetores na regulação metabólica. Está ligado ao aumento da sensibilidade à insulina, à redução do armazenamento excessivo de gordura e à melhora da homeostase energética.

  • Uma menor expressão ou atividade do ERα pode contribuir para o acúmulo de gordura subcutânea, típico do lipedema.

  • O ERβ é mais expresso no tecido adiposo subcutâneo, onde regula o equilíbrio metabólico. Uma superexpressão ou ativação excessiva do ERβ pode promover o aumento de gordura subcutânea e a hipertrofia dos adipócitos, características centrais do lipedema.

  • A relação entre ERα e ERβ afeta a distribuição de gordura corporal. Um predomínio de ERα está associado à redução da gordura visceral, enquanto o ERβ parece desempenhar um papel na regulação da gordura subcutânea. Além disso, pode limitar a ação lipolítica (quebra de gordura) mediada pelo ERα, contribuindo para o acúmulo localizado de gordura resistente.

  • Os receptores de estrogênio nos adipócitos do lipedema estão distribuídos de forma mais concentrada nas áreas afetadas, o que pode promover o acúmulo de gordura, especialmente durante períodos de alterações hormonais, como a puberdade, gravidez ou menopausa.

  • O lipedema pode ser influenciado por um desequilíbrio entre os receptores ERα e ERβ, com a redução da atividade do ERα (responsável pela lipólise e homeostase inflamatória) e/ou a superexpressão do ERβ (promotora de crescimento de adipócitos subcutâneos).

2) Aumento da liberação de enzimas esteroidogênicas produzidas pelos adipócitos, levando a um aumento na liberação paracrina de estrogênio.

O tecido adiposo não é apenas um depósito de energia, mas também atua como um órgão endócrino capaz de produzir hormônios e enzimas envolvidas na esteroidogênese, ou seja, na síntese de hormônios esteroides, como o estrogênio e o cortisol. No contexto do lipedema, alterações na produção e atividade dessas enzimas podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento e progressão da condição.

Enzimas Esteroidogênicas no Tecido Adiposo

  1. Aromatase (CYP19A1):

    • A aromatase é uma enzima esteroidogênica essencial no tecido adiposo que converte andrógenos (como testosterona e androstenediona) em estrogênios (como estradiol e estrona).

    • No lipedema, a atividade aumentada da aromatase pode levar a um ambiente rico em estrogênio no tecido adiposo subcutâneo, favorecendo:

      • Proliferação de adipócitos.

      • Acúmulo de gordura localizada.

      • Inflamação crônica, agravando o quadro.

  2. 11β-HSD1 (Hidroxiesteroide Desidrogenase Tipo 1):

    • Essa enzima converte cortisona inativa em cortisol ativo no tecido adiposo, aumentando a disponibilidade local de cortisol.

    • Níveis elevados de 11β-HSD1 no lipedema podem:

      • Promover a hipertrofia de adipócitos.

      • Estimular o acúmulo de gordura.

      • Exacerbar inflamação e disfunção metabólica no tecido adiposo.

A gordura do lipedema tem uma característica mais "fibrosa" e densa do que a gordura comum, e isso está relacionado com a ação do estrogênio na formação de novos adipócitos e na alteração da estrutura do tecido adiposo.

Essas alterações podem resultar em:

  • Aumento da ativação do receptor ativado por proliferador de peroxissoma gama (PPARγ).

  • Entrada de ácidos graxos livres nos adipócitos.

  • Aumento da captação de glicose.

  • Angiogênese.

  • Diminuição da lipólise (queima de gordura), biogênese e função mitocondrial.

Anticoncepcionais orais podem conter estrogênio, exacerbando os sintomas do lipedema nas mulheres predispostas. Converse com seu ginecologista sobre métodos contraceptivos alternativos.

Suplementação para mulheres com lipedema e alterações estrogênicas

1. Antioxidantes e Anti-inflamatórios Naturais

O lipedema está associado a processos inflamatórios crônicos. Suplementos que reduzem a inflamação podem ser úteis:

  • Ômega-3 (óleo de peixe ou óleo de krill): Ajuda a reduzir a inflamação sistêmica.

  • Curcumina (derivada da cúrcuma): Um potente anti-inflamatório natural.

  • Vitamina E: Ajuda a melhorar a circulação e tem propriedades antioxidantes.

  • Quercetina: Um flavonoide com propriedades anti-inflamatórias que pode reduzir o inchaço.

2. Suplementos para o Sistema Linfático

O sistema linfático pode estar comprometido no lipedema:

  • Gotu Kola (Centella Asiatica): Pode ajudar a melhorar a circulação linfática e reduzir edemas.

  • Bromelaína: Uma enzima encontrada no abacaxi, que auxilia no controle do inchaço e da inflamação.

  • Extrato de Castanha-da-Índia: Ajuda na circulação venosa e pode reduzir o inchaço.

3. Suplementos para Regulação Hormonal

Como o lipedema é frequentemente exacerbado por alterações nos níveis de estrogênio, especialmente em fases como puberdade, gravidez e menopausa, alguns suplementos podem ajudar:

  • Magnésio: Auxilia no equilíbrio hormonal e no relaxamento muscular.

  • Vitamina D: Essencial para o equilíbrio hormonal e saúde óssea.

  • DIM (Diindolilmetano): Um composto encontrado em vegetais crucíferos (como brócolis) que ajuda a metabolizar o estrogênio de forma mais eficiente.

  • Ácido Fólico e Vitaminas do Complexo B: Suporte à saúde hormonal e ao metabolismo de neurotransmissores.

4. Suplementos para Saúde Vascular

Problemas vasculares são comuns no lipedema:

  • Picnogenol (extrato de casca de pinheiro): Ajuda a melhorar a elasticidade vascular e reduz inflamação.

  • Coenzima Q10: Melhora a circulação e fornece suporte energético celular.

5. Suplementos para Controle de Peso e Saúde Metabólica

Embora o lipedema não esteja diretamente relacionado à obesidade, manter um peso saudável pode ajudar a controlar os sintomas:

  • Berberina: Pode ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir inflamações.

  • Probióticos: Suportam a saúde intestinal, o que pode impactar positivamente o metabolismo.

6. Suplementos de Colágeno

  • Colágeno Hidrolisado: Ajuda a melhorar a elasticidade da pele e a reduzir a flacidez, que pode ocorrer com a progressão do lipedema. Atenção: não use colágeno após cirurgias ou procedimentos invasivos, para evitar o risco de fibrose.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Uso da bromelina no tratamento do lipedema

A bromelina, um conjunto de enzimas proteolíticas extraídas do abacaxi, tem sido explorada como uma abordagem complementar para o tratamento do lipedema devido às suas propriedades anti-inflamatórias, fibrinolíticas e de melhoria da circulação linfática. Embora não seja uma cura, ela pode ajudar a aliviar alguns dos sintomas associados ao lipedema.

Mecanismos e benefícios do uso da bromelina no lipedema

1. Propriedades Anti-Inflamatórias

  • A bromelina reduz a produção de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-6, que estão associadas à inflamação crônica presente no lipedema.

  • Essa ação anti-inflamatória pode aliviar a dor e o desconforto nas áreas afetadas.

2. Ação Fibrinolítica

  • No lipedema, o tecido adiposo afetado pode apresentar fibrose, dificultando a drenagem linfática e piorando o quadro clínico.

  • A bromelina auxilia na quebra de fibrina e outros componentes que contribuem para a rigidez do tecido, promovendo uma maior elasticidade.

3. Melhora da Circulação Linfática e Vascular

  • A bromelina promove a circulação sanguínea e linfática, reduzindo o acúmulo de fluidos e aliviando o edema.

  • Também ajuda a prevenir a formação de coágulos sanguíneos, promovendo a saúde vascular.

4. Redução de Hematomas

  • Pacientes com lipedema frequentemente relatam tendência a hematomas devido à fragilidade capilar. A bromelina pode ajudar a reduzir hematomas e melhorar a recuperação dos tecidos.

5. Potencial de Redução da Dor

  • Estudos indicam que a bromelina pode atuar como um analgésico natural, reduzindo a dor associada ao lipedema.

Modo de Uso

  • Formas de consumo: A bromelina é geralmente administrada por via oral, na forma de cápsulas ou comprimidos, ou através do consumo de alimentos ricos nessa enzima, como o abacaxi.

  • Dosagem: Não há uma dosagem padrão para o tratamento de lipedema, mas doses de 500mg/dia, duas vezes ao dia são comuns em estudos de outras condições inflamatórias.

  • Precauções: Não deve ser usada por pessoas com distúrbios de coagulação, alergias ao abacaxi ou em uso de anticoagulantes.

Embora a bromelina tenha propriedades promissoras para o manejo de sintomas como dor e inflamação no lipedema, a suplementação deve ser acompanhada de dieta cetogênica antiinflamatória, atividade física e drenagem linfática para maior efeito.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/