ALTERAÇÕES DO DNA MITOCONDRIAL NO TDAH E TEA

Pesquisadores identificaram uma “relação significativa” entre o maior número de cópias de DNA mitocondrial (mtDNA-cn) e a ocorrência de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA). Os resultados da revisão sistemática e meta-análise foram publicados no periódico Frontiers in Psychiatry (Al-Kafaji et al., 2023).

Em estudos anteriores, tanto o aumento quanto a diminuição do mtDNA-cn no sangue e outros tecidos foram associados a transtornos do neurodesenvolvimento, sugerindo um papel diverso e complicado do mtDNA-cn alterado nesses transtornos. Neste estudo, os autores realizaram uma meta-análise para resumir as evidências atuais sobre a relação entre o mtDNA-cn e o TEA/TDAH.

Os pesquisadores identificaram 14 estudos nos bancos de dados MEDLINE-PubMed, Scopus e EMBASE que abrangem 666 casos de TDAH e TEA e 585 controles. Buscando uma avaliação mais precisa do mtDNA-cn no TDAH e TEA, os autores reuniram os resultados por meio de meta-análise de efeitos aleatórios, relatados como uma média geométrica da taxa de resposta média estimada e intervalo de confiança de 95%.

A análise geral revelou diferenças no mtDNA-cn em amostras de sangue (k=10) e tecido cerebral e amostras orais (k=4), o que sugere mtDNA-cn significativamente maior em pacientes com TDAH/TEA em comparação aos controles (p=0,0275). A análise estratificada de acordo com o tipo de tecido não exibiu aumento significativo no mtDNA-cn em amostras de sangue entre pacientes e controles (p=0,284), enquanto mtDNA-cn maior foi encontrado em amostras não sanguíneas em pacientes do que em controles (p=0,0122).

A estratificação com base na composição das células sanguíneas (p=0,074), bem como a correspondência por idade para amostras de sangue (p=0,214) não revelou diferenças significativas entre pacientes e controles. Em amostras não sanguíneas com correspondência por idade, no entanto, os pesquisadores identificaram um aumento significativo no mtDNA-cn entre pacientes e controles (p<0,001). Finalmente, a análise com correspondência por idade e estratificação entre TDAH e TEA não mostrou diferença significativa no mtDNA-cn entre pacientes com TEA e controles (p=0,385), enquanto houve um aumento significativo no mtDNA-cn entre pacientes com TDAH e controles (p=0,033).

Nesta primeira meta-análise da avaliação do mtDNA-cn em TEA/TDAH, os resultados mostraram mtDNA-cn elevado em TEA e TDAH, enfatizando ainda mais a implicação da disfunção mitocondrial em distúrbios do neurodesenvolvimento, escreveram os autores na conclusão do estudo. No entanto, os resultados indicam que o mtDNA-cn no sangue não se reflete em outros tecidos no TEA/TDAH, e a verdadeira relação entre o mtDNA-cn derivado do sangue e o TEA/TDAH ainda precisa ser definida em estudos futuros.

Pesquisas sugerem que a disfunção mitocondrial pode contribuir para a fisiopatologia do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ligando déficits no metabolismo energético a sintomas neurológicos e comportamentais comumente observados no TDAH. Aqui está um resumo da conexão e das evidências que apoiam essa relação:

O Papel das Mitocôndrias na Função Neuronal

As mitocôndrias são essenciais para a produção de ATP e para o fornecimento de energia celular, especialmente em órgãos que demandam muita energia, como o cérebro. A função mitocondrial impacta processos como a transmissão sináptica, a plasticidade e a saúde dos neurônios, todos cruciais para o funcionamento cognitivo normal.

No contexto do TDAH, a disfunção mitocondrial pode levar a um déficit energético, afetando a taxa de disparo neuronal, a liberação de neurotransmissores e a função cerebral geral, que estão diretamente relacionadas à atenção, ao foco e ao controle de impulsos.

Estresse Oxidativo e TDAH

A disfunção mitocondrial frequentemente acompanha um aumento do estresse oxidativo, que pode danificar componentes celulares e comprometer ainda mais a produção de energia. Marcadores elevados de estresse oxidativo foram encontrados em indivíduos com TDAH, sugerindo que o comprometimento mitocondrial pode desempenhar um papel nos desequilíbrios oxidativos observados neste transtorno.

Ligações Genéticas e TDAH

Estudos genéticos apontam possíveis vínculos entre o TDAH e genes mitocondriais ou genes que regulam a função mitocondrial. Variações em genes associados à função mitocondrial, como aqueles envolvidos no metabolismo energético e na regulação do estresse oxidativo, foram associadas aos sintomas de TDAH e podem contribuir para a hereditariedade do transtorno.

As mitocôndrias desempenham um papel na síntese de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que frequentemente estão desregulados no TDAH. O desequilíbrio de dopamina é uma característica central do TDAH, e a disfunção mitocondrial pode contribuir para a redução na síntese, liberação ou recaptação da dopamina, levando aos déficits de atenção e à hiperatividade observados em indivíduos afetados.

Estudos de neuroimagem mostraram uma redução no metabolismo energético cerebral e alterações na atividade de enzimas mitocondriais em alguns indivíduos com TDAH. Alguns estudos também relataram níveis anormais de lactato no cérebro, um marcador de disfunção mitocondrial, em pacientes com TDAH, indicando problemas no metabolismo energético em regiões específicas do cérebro associadas à atenção e ao controle de impulsos.

Abordagens Terapêuticas Potenciais

Há um crescente interesse em terapias que visam a função mitocondrial, como suplementos destinados a apoiar a saúde mitocondrial, além de protocolos de dieta cetogênica no caso de resistência insulínica cerebral.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição no tratamento da distonia

Na distonia, uma condição caracterizada por movimentos musculares involuntários e contrações, a disfunção mitocondrial e a desregulação do equilíbrio entre os neurotransmissores GABA (ácido gama-aminobutírico) e glutamato desempenham papéis importantes. Ambas as condições contribuem para o desequilíbrio da atividade neuronal e podem amplificar os sintomas motores típicos da distonia.

1. Disfunção Mitocondrial

As mitocôndrias, conhecidas como "usinas de energia" das células, produzem a maior parte do ATP (adenosina trifosfato) necessário para as funções celulares, especialmente no cérebro, que é altamente dependente de energia. Na distonia, uma disfunção mitocondrial pode reduzir a produção de ATP, o que impacta negativamente a função neuronal, contribuindo para:

- Aumento do estresse oxidativo: A disfunção mitocondrial leva ao acúmulo de radicais livres, danificando células nervosas e podendo afetar áreas do cérebro que regulam o movimento, como os gânglios da base.

- Redução da sinalização neuronal: Menos energia mitocondrial pode diminuir a liberação e a recaptura de neurotransmissores, agravando desequilíbrios entre GABA e glutamato.

2. Desregulação GABA-Glutamato

O GABA e o glutamato são neurotransmissores fundamentais para o equilíbrio entre inibição e excitação no sistema nervoso:

- Glutamato: É o principal neurotransmissor excitatório no cérebro e facilita a comunicação neuronal. Níveis excessivos de glutamato podem hiperativar os neurônios, gerando atividade motora descontrolada, o que pode exacerbar os movimentos involuntários na distonia.

- GABA: Age como o principal neurotransmissor inibitório, ajudando a controlar a excitabilidade neural. Na distonia, há uma redução na ação do GABA em algumas regiões do cérebro, especialmente nos gânglios da base, o que diminui a capacidade do cérebro de regular movimentos, contribuindo para os espasmos musculares.

Interação entre Disfunção Mitocondrial e Desregulação GABA-Glutamato

A disfunção mitocondrial e a desregulação entre GABA e glutamato estão interligadas e podem gerar um ciclo de retroalimentação negativa:

- A disfunção mitocondrial prejudica a produção e a liberação de GABA, tornando mais difícil para o cérebro inibir os sinais motores excessivos.

- Com o aumento do glutamato e a falta de inibição adequada do GABA, ocorre uma hiperexcitação neuronal, agravando os sintomas da distonia.

Em resumo, o desequilíbrio energético devido à disfunção mitocondrial e a desregulação do GABA e glutamato criam um ambiente neural propenso à atividade motora irregular. Essas descobertas são pontos de interesse em estudos para novas abordagens terapêuticas, como o uso de antioxidantes e estratégias que busquem restaurar o equilíbrio neuronal.

Além disso, é importante corrigir a resistência insulínica, se houver. A distonia se relaciona com um desequilíbrio nos neurotransmissores (dopamina, GABA, entre outros), e, embora não afete diretamente o metabolismo da glicose, a saúde neurológica e o metabolismo podem influenciar-se mutuamente.

O hormônio insulina regula os níveis de glicose no sangue e desempenha um papel crucial no metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas. Na resistência insulínica, níveis desregulados de glicose podem afetar o sistema nervoso central e agravar transtornos neurológicos em geral, podendo, indiretamente, influenciar sintomas motores ou neurológicos.

Em pessoas com diabetes, o descontrole da glicose pode causar complicações neurológicas (neuropatia diabética), que alteram a função dos nervos, embora isso seja mais comum em formas de neuropatia periférica.

É importante que o tratamento da distonia ou do diabetes seja bem coordenado entre os especialistas, incluindo nutricionista pois a saúde metabólica e neurológica podem influenciar-se mutuamente em algumas situações específicas. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/