Sódio e função adrenal na dieta cetogênica

A restrição de carboidratos na dieta pode ser acompanhada inicialmente de sintomas iniciais como dores de cabeça, fadiga, insônia, ansiedade e recuperação lenta após exercícios. Tais sintomas conhecidos coletivamente como "gripe Atkins ou cetogênica", frequentemente são descritos por leigos como "fadiga adrenal". Se você buscar no PubMed não encontrará este termo pois "fadiga adrenal" não é um diagnóstico médico objetivo.

De qualquer forma, o que a ciência diz sobre restrição de carboidratos e/ou cetose nutricional e função adrenal prejudicada com produção inadequada de cortisol ou adrenalina? E o que pessoas que beneficiam-se da restrição de carboidratos (pacientes diabéticos, obesos, com determinados tipos de câncer, epilepisa, transtorno afetivo bipolar, Alzheimer) devem fazer para conseguir manter a dieta sem sintomas adrenais?

Carboidratos, quando consumidos, são armazenados principalmente no fígado e músculos como glicogênio. Este glicogênio atua como uma fonte de energia de reserva. No entanto, cada grama de glicogênio requer cerca de 3-4 gramas de água para ser armazenado efetivamente. As moléculas de glicogênio são hidrofílicas, o que significa que atraem água. Portanto, quando seu corpo armazena glicogênio, ele também armazena uma quantidade significativa de água para mantê-lo hidratado e funcional.

Ao contrário, quando deixamos de consumir carboidratos e usamos nossos estoques de hidrogênio, excretamos a água que estava armazenada. Com isso, perdemos juntos alguns eletrólitos (especialmente sódio).

O sódio é fundamental para o equilíbrio de volume de água nas células e vasos. Sódio demais faz mal, mas sódio de menos também. O nível deste mineral no sangue é regulado pelas ações dos rins e das glândulas suprarrenais. A ingestão excessiva de sal faz os rins aceleram sua excreção. A ingestão insuficiente faz com que as glândulas suprarrenais produzam um hormônio chamado aldosterona que faz com que seus rins conservem sódio. Por outro lado, ao fazer isso, os rins são fisiologicamente obrigados a desperdiçar potássio. E desperdiçar muito potássio não é bom porque músculos, coração e nervos s precisam deste mineral para funcionar bem.

A quantidade reduzida de sódio disponível na circulação aciona a glândula adrenal para aumentar a produção de aldosterona. Ao mesmo tempo, aumenta a produção adrenal do hormônio do estresse (cortisol) e do hormônio de luta ou fuga (adrenalina). Níveis aumentados de cortisol e adrenalina podem comprometer o sono, um dos sintomas da dieta restrita em carboidratos.

Sal, potássio, adrenalina e cortisol estão intimamente conectados. Por isto, tantos dizem que a dieta restrita em carboidratos geram "fadiga adrenal" (termo leigo). Mas, a verdade é que para que o corpo se mantenha em equilíbrio, quando reduzimos carboidratos precisamos suplementar eletrólitos. É tão simples quanto isto.

Cortar carboidratos faz o corpo usar mais gordura como fonte de gordura. à cetose nutricional ao longo de várias semanas, muitas funções básicas do corpo sofrem mudanças profundas:

A gordura (e as cetonas feitas de gordura) substituem a glicose como combustível primário. No processo, a sensibilidade a vários hormônios, incluindo insulina e leptina melhora. Além disso, os rins começam a excretar mais sódio. Para os que são propensos a reter sódio (que causa inchaço, pressão alta, insuficiência cardíaca congestiva, edema/inchaço no tornozelo), essa excreção aumentada de sódio com cetose nutricional pode ser uma bênção.

Mas, uma vez que qualquer excesso de sódio e água tenha sido eliminado do corpo nas primeiras semanas de uma dieta cetogênica, um novo equilíbrio entre ingestão de sódio e excreção de sódio deve ocorrer para que a circulação sanguínea adequada (também conhecida como volume circulante) possa ser mantida. No entanto, se, neste estado ceto-adaptado, o sódio da dieta for restrito, o cérebro e rins sinalizam as supra-renais para aumentar a aldosterona e o cortisol. O que isso significa é que uma combinação de cetose nutricional mais restrição de sal leva ao estresse adrenal.

Um estudo comparou uma dieta cetogênica com 4% de energia proveniente de carboidratos a uma dieta com 35% de energia de carboidratos. Após 1 mês os indivíduos com baixo teor de carboidratos tiveram maiores taxas de produção de cortisol. O aumento da produção de cortisol, um sinal de estresse, era improvável devido à cetose nutricional em si, mas sim causado pela restrição de sal destes pacientes.

Já quando a dieta cetogênica é bem formulada, com suplementação de eletrólitos, os níveis de cortisol permanecem normais. A ingestão de sódio recomendada para a maioria das pessoas durante uma dieta cetogênica bem formulada tem sido de 5 gramas por dia (entre comida, caldo de ossos e suplementação). Dito isto, ainda há variações entre indivíduos que necessariamente modificam este conselho. Por isto, o acompanhamento nutricional é fundamental.

Além disso, pessoas com pressão alta ou retenção de líquidos que persiste após a cetoadaptação, e particularmente se estiverem tomando um medicamento diurético, não devem aumentar sua ingestão de sódio acima de 3 gramas por dia até que esses sintomas sejam resolvidos e o medicamento diurético possa ser interrompido. Outra questão é que pessoas que tomam rotineiramente medicamentos AINEs como ibuprofeno (Motrin, Advil) ou (Aleve, Naprosyn) são mais "sensíveis ao sódio" porque esses medicamentos bloqueiam a excreção de sal pelos rins e aumentam a pressão arterial.

Já indivíduos que fazem exercícios físicos pesados ​​no calor terão mais perda de sódio no suor, o que pode aumentar a necessidade diária de sódio acima do nível de 5 gramas.

Atenção! Sal e sódio não são a mesma coisa. 1 colher de chá de sal (cloreto de sódio) equivale a 5 gramas de sal = 2,3 gramas de sódio (o resto é cloreto).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Aldosterona e dieta cetogênica

Que a dieta cetogênica é u ma estratégia interessantíssima para pessoas com diabetes tipo 2, síndrome metabólica, obesidade e a doença cardiovascular todo mundo sabe. Mas o que faz com os níveis de aldosterona?

A aldosterona é o mineralocorticoide mais potente produzido pelo córtex suprarrenal. Causa retenção de sódio e perda de potássio. Nos rins, a aldosterona provoca a transferência de sódio do lúmen do túbulo distal para as células tubulares em troca de potássio e hidrogênio.

Estudos de perda de peso usando redução calórica demonstraram uma diminuição na aldosterona, mais excreção de sódio água. Para os propensos a reter sódio (que gera inchaço, pressão alta, insuficiência cardíaca congestiva, edema/inchaço no tornozelo), essa excreção maior de sódio com a dieta acaba sendo uma bênção. E o que acontece na dieta cetogênica?

Um estudo prospectivo controlado de alimentação avaliou as concentrações de aldosterona e renina ao longo de 6 semanas em uma dieta cetogênica hipocalórica (25% de restrição energética) + placebo (DC+PL), dieta cetogênica + suplemento de sal de cetona (DC+SC) e uma dieta com baixo teor de gordura (BTG). A ingestão de sódio consistiu em 6100 mg, 2300 mg e 2000 mg para os grupos DC+SC, DC+PL e BTG, respectivamente.

Ambas as dietas cetogênicas forneceram 40 gramas (g) por dia de carboidratos, 1,5 g/kg de peso de referência de proteína e as calorias restantes fornecidas como gordura. A dieta BTG forneceu 25% de gordura total, 1,5 g/kg de peso de referência de proteína e 100 g de carboidratos.

A aldosterona sérica foi coletada em jejum na posição ereta nas semanas 0, 2, 4 e 6. Vinte e quatro participantes nos grupos de dieta cetogênica foram pareados por idade e índice de massa corporal, então divididos nos grupos DC+PL ou DC+SC. Um grupo separado de 12 participantes pareados foi recrutado especificamente para o grupo BTG.

A idade média foi de 33 anos. O peso diminuiu 6, 8 e 7 kg em média nos grupos DC+SC, DC+PL e BTG, respectivamente, ao longo de 6 semanas (p<0,05 para todos). A pressão arterial sistólica (PAS) melhorou de 117 e 115 mmHg nos grupos DC+SC e DC+PL para 110 mmHg ao longo de 6 semanas, enquanto a PAS média basal de 118 no grupo de dieta BTG não mudou.

A aldosterona média basal de 13,6 e 13,6 ng/dL nos grupos DC+SC e DC+PL aumentou para 33,3 e 27,3 ng/dL ao longo de 6 semanas (p<0,001). A aldosterona média basal de 8 ng/dL no grupo de dieta de BTG mudou não significativamente para 11,5 ng/dL ao longo de 6 semanas (p>0,05). Usando associações de valores previstos, aumentos em cetonas foram positivamente associados com aldosterona mais alta (R2=0,86; p<0,001).

Conclusão: Os participantes deste estudo em uma dieta cetogênica apresentaram níveis significativamente elevados de aldosterona ao longo do estudo, enquanto os participantes em uma dieta com baixo teor de gordura apresentaram pouca mudança. Inesperadamente, a aldosterona foi significativamente maior na dieta cetogênica com alto teor de sódio vs. baixo teor de sódio. Houve uma associação significativa entre cetonas e aldosterona, sugerindo que as cetonas podem desempenhar um papel estimulante na síntese ou secreção de aldosterona.

Este resultado foi inesperado uma vez que com a restrição de carboidrato há maior excreção de sódio e a queda de sódio leva a aumento de renina e aldosterona para conservação do mineral. Contudo, uma vez que qualquer excesso de sódio e água tenha sido eliminado do corpo nas primeiras semanas de uma dieta cetogênica, um novo equilíbrio entre ingestão de sódio e excreção de sódio deve ocorrer para que a circulação sanguínea adequada possa ser mantida.

Se, neste estado ceto-adaptado, o sódio da dieta for restrito, o cérebro e os rins enviam sinais para as supra-renais, que aumentam a produção de aldosterona, do hormônio do estresse cortisol e do hormônio de luta ou fuga adrenalina. Resultado? Sem sal há mais cansaço e estresse. Como níveis aumentados de cortisol e adrenalina são hormônios do estresse que impedem um sono adequado, indivíduos em dieta cetogênica devem receber maior suplementação de sódio. A dieta cetogênica neste estudo já possuía mais sódio do que as outras dietas, mas possivelmente estes indivíduos precisariam de ajustes de todos os eletrólitos e não só o sódio.

Em geral, indica-se:

  • 4–6 gramas de sódio

  • 3,5–5 gramas de potássio

  • 400–600 mg de magnésio

  • 1 grama de cálcio

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Mecanismos da dieta cetogênica na depressão

O termo depressão compreende uma vasta gama de experiências, mas os denominadores mais comuns são tristeza, perda de interesse por atividades antes apreciadas, desesperança e baixa energia. Estes sentimentos arrastam-se por longos períodos gerando uma queda na vitalidade.

Teorias apontam mudanças nos níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina, mas as coisas não são tão simples. Estes neurotransmissores são, sem dúvida, importantes para a regulação do humor, mas não refletem a complexidade em torno da depressão. Por exemplo, em mulheres, quedas hormonais, especialmente no período da perimenopausa e menopausa aumentam o risco de depressão e também declínio cognitivo.

Um em cada quatro mulheres corre o risco de vir a ter depressão em algum momento da vida; entre os homens, a probabilidade é de um em sete. A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 280 milhões de pessoas sofram de depressão no mundo.

Entre os gatilhos para depressão encontram-se o estresse, a neuroinflamação (por viroses, envelhecimento, alergias, disbiose, dieta inadequada, obesidade,...), a genética. Não há um gene único que aumente o risco de depressão, nem de outros transtornos psiquiátricos (como o transtorno afetivo bipolar). Já foram encontrados centenas de genes que desempenham pequenos papeis no sistema nervoso. E a interação entre genética e ambiente é importante.

Mecanismos ligando obesidade, inflamação e depressão (Fu et al., 2023)

Em momentos de estresse produzimos cortisol, um hormônio que mobiliza energia e reduz a inflamação. Mas em situações de estresse crônico, como quando precisamos tomar uma decisão de vida ou nas doenças crônicas (como obesidade) a elevação constante de cortisol faz com que o corpo se habitue. Após um tempo, deixa de reagir ao cortisol e a inflamação aumenta ainda mais.

Pessoas acima do peso também produzem mais citocinas inflamatórias. O tecido adiposo não é uma reserva de energia passiva e estas citocinas ativam o sistema imune. Mais de 40 genes relacionados à depressão também estão relacionados à inflamação. Quanto maior é o aumento de proteína C reativa, um marcador de inflamação, menor é o bem estar e mais sintomas de depressão tendem a aparecer.

Passar longos períodos de tempo sentados leva à inflamação dos músculos e do tecido adiposo. A privação de sono e as toxinas ambientais têm o mesmo efeito. Alimentos processados levam à inflamação do estômago e intestino. Tabaco gera inflamação no sistema respiratório. E, como tudo está ligado, o cérebro sofre. Inflamação constante faz o cérebro interpretar que estamos sob ataque constante. Ela gera substâncias para nos defender, o que consome nossa energia. Ele nos esconde do perigo (é comum o deprimido querer ficar embaixo das cobertas). Um terço de todas as depressões parece ser provocada pela inflamação.

Claro que nem toda depressão pode ser justificada por inflamação e estresse. Mas, na escala de cinzas que começa com o estresse psicossocial e termina com mecanismos de defesa biológica difíceis de controlar, há o que possamos fazer. Atividade física, sono de qualidade, terapia, medicação quando necessária, dieta e suplementação antiinflamatória fazem parte do tratamento.

Em termos biológicos, a depressão é tão estranha quanto a pneumonia ou o diabetes. Nem a pneumonia, nem o diabetes, nem a depressão têm absolutamente nada a ver com falta de caráter. Aconselhar alguém deprimido a se alegrar e recompor-se é como dizer aos pulmões com pneumonia para se recompor. Ou para o pâncreas do diabético a se recompor. Tal como devemos procurar tratamento para pneumonia ou diabetes, também o devemos fazer em caso de depressão.

O acesso do paciente com transtorno de humor a uma equipe multidisciplinar mínima com psiquiatra, psicólogo, educador físico e nutricionista deveria ser direito de todos.

Intervenções nutricionais na depressão

A combinação de estratégias é muito importante pois, entre 30% e 40% dos pacientes não respondem adequadamente à farmacoterapia e psicoterapia para o tratamento da depressão. Estas devem ser acompanhadas de outras estratégias. A dieta pode afetar a depressão de várias maneiras, incluindo:

  • regulação do metabolismo do triptofano,

  • redução da inflamação,

  • equilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA),

  • modulação do eixo micróbio-intestino-cérebro,

  • aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF),

  • regulação epigenética.

Dieta cetogênica no tratamento da depressão

Pesquisas emergentes da psiquiatria nutricional e neuronutrição têm se concentrado na identificação de distúrbios metabólicos fundamentais dentro dos neurônios e em todo o corpo envolvendo resistência à insulina, inflamação, estresse oxidativo e alterações do microbioma intestinal. Todos esses quatro distúrbios metabólicos fundamentais estão presentes na depressão maior (2) e transtornos de ansiedade subjacentes (3) e podem ser modulados diretamente pelo uso da terapia metabólica cetogênica (TMC).

Modelos pré-clínicos demonstram que a intolerância à glicose está diretamente associada à ansiedade e que a resistência à insulina desencadeia comportamentos depressivos. No tecido cerebral, a resistência à insulina resulta em hipometabolismo cerebral da glicose e um ciclo vicioso de necessidades energéticas não atendidas. Em estudos humanos, o hipometabolismo cerebral da glicose é uma característica da depressão maior, do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e do transtorno afetivo bipolar (TAB).

A TMC, também conhecida como dieta cetogênica terapêutica é uma dieta com baixo teor de carboidratos, moderada em proteínas e rica em gorduras que suporta uma mudança metabólica fundamental de glicose para corpos cetônicos como a principal fonte de combustível. As TMC clássicas são formuladas com proporções estritas de macronutrientes, mais comumente 4:1 e 3:1 (gordura: proteína + carboidratos), e demonstraram eficácia em epilepsia intratável e distúrbios genéticos.

Mais recentemente, as TMC clássicas modificadas com proporções mais baixas de macronutrientes de 2,5:1, 2:1 e 1,5:1 e 1:1 foram utilizadas em pesquisas e na prática clínica. Elas permitem mais variedade na dieta, são mais fáceis de sustentar por longo períodos, além de atenderem mais facilmente às necessidades de micronutrientes, exceto vitamina D.

As TMC exploram a capacidade natural do corpo de produzir corpos cetônicos (d-beta-hidroxibutirato (BHB), acetoacetato e acetona) no fígado a partir de ácidos graxos, mantendo o consumo de carboidratos muito baixo. A produção aguda e sustentada de corpos cetônicos produz uma mudança fundamental na energia do combustível dentro das células, particularmente neurônios, que podem redirecionar radicalmente e depender rapidamente de BHB e acetoacetato prontamente disponíveis para energia celular. Os corpos cetônicos também aumentam a densidade vascular na barreira hematoencefálica, o que pode aumentar notavelmente a disponibilidade de corpos cetônicos para o metabolismo energético do cérebro em 40 vezes. As cetonas são uma fonte de energia para o SNCe os neurônios.

Tanto na cetose nutricional aguda quanto na de longo prazo, os corpos cetônicos têm uma série de efeitos biológicos que alteram diretamente o estado de energia celular do cérebro, aumentam a densidade mitocondrial e melhoram a morfologia mitocondrial, que demonstrou ser alterada em transtornos de humor.

Pesquisas recentes mostram que uma dieta cetogênica (KD) reduz as taxas de disparo neuronal, modula canais iônicos e cascatas de sinalização celular e estimula a síntese bioquímica e a neurotransmissão de GABA ao inibir a glutamato descarboxilase, um importante neurotransmissor inibitório envolvido no disparo neuronal e na ansiogênese. O BHB ativa a transcrição de genes relacionados a antioxidantes ao inibir histonas desacetilases, desencadeando mudanças adaptativas de longo prazo na expressão gênica. Além disso, em concentrações fisiológicas, os corpos cetônicos reduzem a neuroinflamação por meio de ação direta nos receptores acoplados à proteína G.

Talvez o mais importante, a KD aumenta diretamente o NAD+, o que reduz espécies reativas de oxigênio e aumenta a produção de ATP mitocondrial. Também é utilizado como substrato para sirtuínas e enzimas PARP associadas ao reparo e longevidade do DNA.

A psiquiatra Lori Calabrese relata neste artigo o uso da dieta cetogênica para a remissão de sintomas de pacientes com depressão e ansiedade generalizada. Pacientes com transtorno de ansiedade tendem a responder mais rapidamente do que pacientes com diagnóstico de depressão, apesar de estes também poderem alcançar remissão dos sintomas com a combinação medicação, psicoterapia e pelo menos 7 semanas de dieta cetogênica. A Dra. Calabrese deu uma entrevista para o podcast metabolic mind em 2024.

Resumindo, embora os mecanismos exatos da dieta cetogênica no tratamento da depressão ainda sejam objeto de debate, as teorias principais destacam alguns pontos:

  • Neuroproteção

    • Energia alternativa para o cérebro: As cetonas, produzidas pelo corpo durante a cetose, podem fornecer uma fonte de energia alternativa para as células cerebrais, protegendo-as de danos e promovendo a saúde neuronal.

    • Redução do estresse oxidativo O estresse oxidativo está associado a diversos problemas de saúde, incluindo a depressão. As cetonas podem ajudar a reduzir esse estresse, contribuindo para a proteção neuronal.

  • Efeitos anti-inflamatórios

    • Redução da inflamação cerebral: A inflamação crônica no cérebro tem sido associada à depressão. A dieta cetogênica pode ajudar a reduzir essa inflamação, contribuindo para a melhora do humor.

    • Melhora da função mitocondrial: As mitocôndrias são as "usinas de energia" das células. A dieta cetogênica pode melhorar sua função, o que, por sua vez, pode reduzir a inflamação e melhorar a saúde mental.

  • Melhora da saúde metabólica

    • Regulação da insulina: A resistência à insulina está ligada à depressão. A dieta cetogênica pode melhorar a sensibilidade à insulina, o que pode ter um efeito positivo no humor.

    • Estabilização do açúcar no sangue: As oscilações nos níveis de açúcar no sangue podem afetar o humor. A dieta cetogênica pode ajudar a estabilizar esses níveis, contribuindo para uma sensação de bem-estar.

  • Equilíbrio de neurotransmissores

    • Influência na produção de neurotransmissores: A dieta cetogênica pode influenciar a produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que estão envolvidos na regulação do humor.

    • Redução dos sintomas depressivos: Algumas pesquisas sugerem que a dieta cetogênica pode ajudar a reduzir os sintomas depressivos, possivelmente através de sua influência nos neurotransmissores.

Além disso, probióticos, micronutrientes e outras substâncias ativas exibem efeitos antidepressivos significativos ao regular as vias acima. Elas fornecem insights para o desenvolvimento de alimentos antidepressivos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/