Magro com colesterol alto?

Paciente jovem, magro, chegou ao consultório após diagnóstico de doença inflamatória intestinal. Universitário, morando longe da família. Antes do diagnóstico adotava uma dieta a base de carboidratos processados (macarrão instantâneo, nuggets, pizza, chocolates, bolos…). Após o diagnóstico testou uma variedade de dietas e percebeu que os sintomas da doença cessavam com a dieta com baixo teor de carboidratos, com carnes, ovos e uma variedade de vegetais de baixo índice glicêmico. Um estudo de caso foi publicado por Tóth e colaboradores (2016) mostrando os benefícios de dieta similar para paciente de 14 anos com doença de Crohn.

Contudo, meu paciente desenvolveu dislipidemia com a dieta cetogênica. Pacientes magros com LDL-c alto e as características de perfil de colesterol descritas abaixo são chamados Lean Mass Hyper Responders (LMHRs). O termo, traduzido livremente para Hiper-respondedores de Massa Magra, refere-se a um grupo específico de indivíduos com baixo percentual de gordura corporal que exibem uma resposta única a dietas pobres em carboidratos ou cetogênicas, desenvolvendo (Norwitz et al., 2021):

  • LDL alto: LDL significa lipoproteína de baixa densidade e é frequentemente considerada o colesterol "ruim". Muitos destes pacientes apresental LDL-c ≥200 mg/dL (quando geralmente considera-se ideal ≤ 100).

  • HDL alto: HDL significa lipoproteína de alta densidade e é frequentemente considerada o colesterol "bom". Hiper-respondedores frequentemente apresentam HDL ≥80 mg/dL (acima de 60 mg/dL é considerado excelente).

  • Triglicerídeos baixos: Os triglicerídeos são outro tipo de gordura encontrada no sangue. Hiper-respondedores de massa magra apresentam valores ≤70 mg/dL (é arriscado quando estes valores encontram-se ≥ 150 mg/dL).

O LDL-c tão alto é incomum e pode ser preocupante para alguns com aumento do acúmulo de placas de gordura nos vasos (Budoff et al., 2024). No entanto, é importante observar que os LMHRs são geralmente indivíduos magros e metabolicamente saudáveis e respondem de forma diferente, sem evidência de dano cardíaco .

Os mecanismos exatos por trás dos LMHRs ainda estão sendo pesquisados, mas uma teoria principal é o Modelo de Energia Lipídica (LEM). Este modelo sugere que quando os indivíduos em uma dieta pobre em carboidratos esgotam suas reservas de glicogênio, seus corpos podem depender mais da gordura como combustível. Isso pode levar a um aumento nas partículas de LDL, o que pode elevar os níveis de colesterol LDL.

É uma preocupação?

Embora o colesterol LDL alto seja frequentemente associado a um risco aumentado de doenças cardíacas, a situação para os LMHRs é mais complexa. Muitos estudos mostraram que os LMHRs têm um perfil lipídico favorável no geral, com colesterol HDL alto e triglicerídeos baixos compensando o LDL elevado.

A baixa proporção de triglicerídeos (TG) para colesterol HDL, um marcador de boa saúde metabólica, previu maiores aumentos de colesterol LDL. Esses dados sugerem que, em contraste com o padrão típico de dislipidemia, uma maior elevação do colesterol LDL em uma dieta restrita em carboidratos tende a ocorrer no contexto de risco cardiometabólico baixo. Mesmo assim, em uma série de casos publicada por Norwitz e colaboradores (2022b), a reintrodução moderada de carboidratos produziu uma diminuição acentuada no colesterol LDL.

No caso do meu paciente, uma das metas é o controle da doença inflamatória intestinal. Assim, mantivemos a dieta escolhida, com um acompanhamento dos marcadores cardiometabólicos e de saúde intestinal. Cada caso é um caso.

É crucial consultar um profissional de saúde para avaliar seus fatores de risco individuais e determinar o melhor curso de ação. Hiper-respondedores de massa magra não necessitam sempre usar medicamentos para redução de colesterol, como estatinas. Converse com seu cardiologista. Na minha consulta de nutrição vou te ajudar a entender seu perfil lipídico, discutir quaisquer preocupações e fornecer orientação personalizada.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeitos antiagregantes dos polifenois

A agregação e deposição de α-sinucleína (αS) são as principais características patológicas da doença de Parkinson, demência com corpos de Lewy, atrofia de múltiplos sistemas e outras α-sinucleinopatias. A propagação da αS no cérebro desempenha um papel fundamental no início e na progressão destas doenças.

Os oligômeros αS são espécies neurotóxicas e críticas na patogênese das α-sinucleinopatias. Uma forma de impedir a agregação é com a ingestão adequada de compostos fenólicos e tratamento da disbiose intestinal.

Miricetina, curcumina, ácido rosmarínico, ácido ferúlico, antocianinas e catequinas (como EGCG) são alguns dos compostos fenólicos antioxidantes, capazes de neutralizar radicais livres, ligar-se a metais pesados e inibir a agregação de αS.

Os polifenóis também possuem efeito prebiótico alimentando bactérias intestinais benéficas, o que reduz a inflamação e a neuroinflamação, melhora a imunidade e promove saúde metabólcia. Por sua vez, a microbiota intestinal saudável converte ativamente polifenóis alimentares em ácidos fenólicos, alguns dos quais são biodisponíveis, aumentando a resiliência a distúrbios neurológicos.

Os polifenóis presentes nos alimentos são geralmente conjugados com açúcares ou ácidos orgânicos, ou estão presentes como oligômeros não conjugados, como taninos condensados. Uma pequena quantidade da ingestão de polifenóis (cerca de 5–10%) pode ser absorvida no intestino delgado. Polifenóis mais complexos, especialmente oligoméricos e estruturas poliméricas, como taninos condensados ​​ou hidrolisáveis, chegam ao cólon quase inalterados, onde são metabolizados pela microbiota intestinal junto com conjugados excretados no lúmen intestinal através da bile. O resultado é a geração de compostos menos complexos e mais disponíveis para a absorção.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Perfil de aminoácidos por espectrometria de massa

O perfil de aminoácidos por espectrometria de massa é uma técnica avançada usada para analisar e quantificar aminoácidos em amostras biológicas. Esta abordagem fornece informações detalhadas sobre a composição, quantidade e variações dos aminoácidos presentes em uma amostra, o que pode ser valioso para diversas aplicações clínicas.

Princípios da Espectrometria de Massa para Aminoácidos

  1. Preparação da Amostra:

    • Extração: A amostra (sangue, urina, tecido, etc.) é preparada para a análise, que pode incluir a extração dos aminoácidos e a remoção de componentes interferentes.

    • Derivatização: Muitas vezes, os aminoácidos são derivados para melhorar a detecção e a quantificação. A derivatização ajuda a aumentar a volatilidade e a estabilidade dos aminoácidos para análise por espectrometria de massa. Reagentes comuns incluem o ácido trifluoroacético (TFA) e o derivado de ácido isobutílico (IB).

  2. Ionização:

    • Métodos de Ionização: Os aminoácidos derivados são ionizados usando técnicas como a ionização por eletrosspray (ESI) ou a ionização por matriz de laser (MALDI). A ionização converte os aminoácidos em íons carregados, que podem ser analisados pela espectrometria de massa.

  3. Análise por Espectrometria de Massa:

    • Separação e Detecção: O espectrômetro de massa separa os íons com base na sua razão massa/carga (m/z) e os detecta, gerando um espectro de massa que mostra a intensidade dos íons detectados em função do m/z.

    • Identificação e Quantificação: A partir do espectro de massa, os aminoácidos podem ser identificados e quantificados com base nos seus padrões de fragmentação e intensidades relativas.

  4. Análise de Dados:

    • Perfil de Aminoácidos: O resultado é um perfil detalhado dos aminoácidos presentes na amostra, incluindo suas concentrações relativas. As análises podem incluir a comparação com padrões conhecidos e a interpretação dos resultados com base em bancos de dados e algoritmos de software.

Exame de paciente realizado na Rede Sarah

Aplicações Clínicas e de Pesquisa

  1. Diagnóstico de Doenças Metabólicas:

    • Erros inatos do metabolismo: Análise de perfis de aminoácidos para detectar desordens metabólicas hereditárias, como fenilcetonúria e doenças relacionadas ao ciclo da ureia.

  2. Estudos Nutricionais:

    • Perfil Nutricional: Avaliação do estado nutricional e do equilíbrio de aminoácidos, que pode ajudar no diagnóstico de deficiências nutricionais, processos catabólicos ou desordens de absorção.

  3. Pesquisa Biomédica:

    • Biomarcadores: Identificação de biomarcadores de doenças e condições fisiológicas baseadas em perfis de aminoácidos alterados.

    • Metabolômica: Estudos de metabolômica que exploram a influência das alterações metabólicas na saúde e na doença.

  4. Monitoramento de Tratamentos:

    • Avaliação de Resposta a Tratamentos: Monitoramento de mudanças nos perfis de aminoácidos durante o tratamento para ajustar terapias e avaliar a eficácia do tratamento.

Vantagens da Espectrometria de Massa

  • Alta Sensibilidade e Especificidade: Permite a detecção e quantificação de aminoácidos com alta precisão, até em concentrações muito baixas.

  • Análise Detalhada: Fornece um perfil abrangente dos aminoácidos, incluindo informações sobre modificações pós-traducionais e fragmentação dos compostos.

  • Capacidade de Multiplexação: Permite a análise simultânea de múltiplos aminoácidos e outras biomoléculas em uma única análise.

Limitações e Desafios

  • Complexidade da Amostra: Preparação e análise de amostras complexas podem ser desafiadoras e podem exigir passos extensivos de preparação.

  • Interpretação dos Dados: A análise e interpretação dos dados requerem conhecimento especializado e a disponibilidade de bancos de dados e algoritmos avançados.

Conclusão

O perfil de aminoácidos por espectrometria de massa é uma ferramenta poderosa para a análise detalhada de aminoácidos em diversas aplicações clínicas e de pesquisa. Oferece uma visão abrangente sobre a composição e quantidade dos aminoácidos, ajudando no diagnóstico, monitoramento e compreensão das condições metabólicas e fisiológicas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/