Para que serve a quetiapina?

Quetiapina é um medicamento antipsicótico atípico usado principalmente para tratar certas condições de saúde mental.

Usos da Quetiapina

1. Esquizofrenia

- A quetiapina é utilizada para gerenciar tanto os sintomas positivos (por exemplo, alucinações, delírios) quanto os sintomas negativos (por exemplo, retraimento social, apatia) da esquizofrenia. A dose inicial será definida pelo psiquiatra, mas geralmente começa com 25 mg duas vezes ao dia, aumentando gradualmente com base na resposta e tolerabilidade.

2. Transtorno Bipolar

- Transtorno Bipolar I: Para o tratamento de episódios maníacos e mistos, bem como episódios depressivos. Dose inicial de 50 mg duas vezes ao dia, com aumentos graduais.

- Transtorno Bipolar II: Usada para tratar episódios depressivos associados ao transtorno. Dose inicial de 50 mg uma vez ao dia, geralmente ao deitar.

- Terapia de Manutenção: Frequentemente utilizada em combinação com estabilizadores de humor para tratamento a longo prazo.

3. Transtorno Depressivo Maior (TDM)

- Quando usada como adjuvante a antidepressivos, a quetiapina pode ajudar a gerenciar os sintomas da depressão maior. A dose inicial é frequentemente de 50 mg uma vez ao dia, ao deitar, com possíveis aumentos graduais. Em todas as condições a dosagem pode variar dependendo do indivíduo, da condição sendo tratada e da resposta ao medicamento. Sempre siga as instruções do médico que prescreveu sua medicação.

4. Outros Usos

- A quetiapina é às vezes utilizada fora das indicações aprovadas (off label) para condições como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), insônia e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Como a quetiapina funciona?

A quetiapina funciona alterando as ações de neurotransmissores no cérebro. Especificamente, ela afeta:

- Receptores Dopaminérgicos D2: A quetiapina bloqueia esses receptores, o que ajuda a reduzir os sintomas psicóticos.

- Receptores Serotoninérgicos 5-HT2*: O bloqueio desses receptores pode melhorar o humor e reduzir a ansiedade.

- Receptores Histamínicos H1: A antagonização desses receptores contribui para seus efeitos sedativos.

- Receptores Adrenérgicos Alfa-1: O bloqueio desses receptores pode levar à hipotensão ortostática.

Efeitos Colaterais mais comuns da quetiapina

- Sonolência e sedação: o álcool pode potencializar os efeitos sedativos da quetiapina e aumentar o risco de efeitos colaterais, como sonolência e problemas de coordenação. É melhor evitar ou limitar o consumo de álcool enquanto estiver em tratamento com quetiapina. Descansar mais é importante.

- Boca seca:

  • Ingestão de Líquidos: Beber água regularmente e chupar cubos de gelo pode ajudar a aliviar a boca seca.

  • Gomas de Mascar Sem Açúcar ou Balas Duras: Estes podem estimular a produção de saliva.

  • Evitar Cafeína e Álcool: Estas substâncias podem piorar a desidratação oral.

- Constipação:

  • Aumentar a Ingestão de Fibras: Consumir alimentos ricos em fibras, como frutas, vegetais, grãos integrais e legumes.

  • Hidratação Adequada: Beber bastante água para ajudar a movimentar as fibras pelo trato digestivo.

  • Exercício Regular: Atividade física pode estimular a motilidade intestinal.

  • Alimentos Probióticos: Consumir iogurtes ou suplementos contendo probióticos pode ajudar a regular a função intestinal.

- Aumento do apetite e ganho de peso:

  • Refeições Balanceadas: Comer refeições equilibradas com porções adequadas de proteínas, carboidratos complexos e gorduras saudáveis.

  • Monitoramento de Calorias: Manter um diário alimentar pode ajudar a controlar a ingestão calórica.

  • Lanches Saudáveis: Optar por lanches saudáveis como frutas, vegetais, iogurte grego e nozes.

  • Atividade Física: Incorporar exercícios regulares na rotina diária para ajudar a controlar o peso.

- Náuseas e vômitos:

  • Pequenas Refeições Frequentes: Comer pequenas porções de alimentos ao longo do dia pode ajudar a reduzir a náusea.

  • Alimentos Neutros e Não Irritantes: Optar por alimentos suaves, como bolachas de água e sal, torradas e arroz branco.

  • Gengibre: O gengibre pode ajudar a aliviar a náusea; pode ser consumido em chá, cápsulas ou balas de gengibre.

- Refluxo gastroesofágico

  • Evitar Alimentos Gatilho: Reduzir ou eliminar alimentos que desencadeiam refluxo, como alimentos picantes, cítricos, chocolate, cafeína e álcool.

  • Refeições Menores e Mais Frequentes: Comer refeições menores pode ajudar a prevenir o refluxo.

  • Evitar Deitar Após as Refeições: Esperar pelo menos 2-3 horas após comer antes de deitar.

Efeitos Colaterais Graves a serem reportados imediatamente para o médico

- Sintomas extrapiramidais (por exemplo, tremores, rigidez)

- Discinesia tardia (movimentos musculares involuntários)

- Hipotensão ortostática (queda súbita da pressão arterial ao levantar)

- Alterações metabólicas (por exemplo, aumento da glicose no sangue, colesterol)

- Aumento do risco de suicídio, especialmente em adultos jovens e crianças

- Síndrome neuroléptica maligna (uma condição potencialmente fatal caracterizada por rigidez muscular, febre e instabilidade autonômica) - raro

- Agranulocitose (uma diminuição perigosa de glóbulos brancos) - raro

- Prolongamento do intervalo QT (ritmo cardíaco anormal) - raro

Precauções e Contraindicações da quetiapina

- Gravidez e Amamentação: Use apenas se os benefícios potenciais justificarem o risco potencial para o feto ou o bebê.

- Pacientes Idosos com Psicose Relacionada à Demência: Aumento do risco de morte, muitas vezes devido a causas cardiovasculares ou infecciosas.

- Função Hepática e Renal: Cautela em pacientes com comprometimento hepático ou renal; ajustes na dosagem podem ser necessários.

- Doenças Cardiovasculares: Use com cautela em pacientes com histórico de doença cardiovascular ou cerebrovascular.

- Diabetes: Monitore de perto os níveis de açúcar no sangue, pois a quetiapina pode aumentar o risco de hiperglicemia.

Interações medicamentosas com a quetiapina

A quetiapina pode interagir com outros medicamentos, levando a aumento de efeitos colaterais ou redução da eficácia. Algumas interações notáveis incluem:

- Inibidores da CYP3A4 (por exemplo, cetoconazol, eritromicina): Podem aumentar os níveis de quetiapina.

- Indutores da CYP3A4* (por exemplo, fenitoína, carbamazepina): Podem diminuir os níveis de quetiapina.

- Depressores do SNC (por exemplo, álcool, benzodiazepínicos): Podem intensificar os efeitos sedativos.

- Medicamentos Anti-hipertensivos: Podem aumentar o risco de hipotensão ortostática.

- Suplementos: Alguns estudos sugerem que a quetiapina pode interagir com suplementos de cálcio e ferro, afetando a absorção do medicamento. É geralmente aconselhável tomar esses suplementos em horários diferentes da medicação para evitar possíveis interações.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Leite materno, apego seguro e neurodesenvolvimento

O contato mãe-bebê, especialmente durante a amamentação, desempenha um papel crucial no neurodesenvolvimento e na saúde cerebral da criança. Esse vínculo pode influenciar positivamente vários aspectos do desenvolvimento neural, imunológico e emocional do bebê.

Benefícios da Amamentação para o Neurodesenvolvimento

1. Nutrientes Essenciais: O leite materno é rico em nutrientes essenciais, incluindo ácidos graxos ômega-3 (DHA), que são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro. A composição nutricional do leite materno é perfeitamente adaptada para promover o crescimento e o desenvolvimento neuronal.

2. Desenvolvimento Cognitivo: Estudos mostram que crianças amamentadas tendem a ter melhor desempenho em testes de inteligência e de desenvolvimento cognitivo. A amamentação tem sido associada a um aumento no QI e a melhor desempenho acadêmico.

3. Regulação Hormonal: A amamentação estimula a liberação de hormônios como a oxitocina, tanto na mãe quanto no bebê. A oxitocina, conhecida como o "hormônio do amor", está associada à formação de vínculos afetivos e pode influenciar o desenvolvimento social e emocional.

Contato Afetivo e Prazeroso

1. Apego Seguro: O contato próximo e a interação durante a amamentação ajudam a construir um apego seguro entre a mãe e o bebê. Esse vínculo é crucial para o desenvolvimento emocional saudável e pode proporcionar uma base segura para a exploração do mundo e o desenvolvimento de habilidades sociais.

2. Redução do Estresse: O contato pele a pele e a presença amorosa da mãe durante a amamentação ajudam a reduzir os níveis de cortisol (hormônio do estresse) no bebê, promovendo um ambiente neuroquímico mais favorável ao desenvolvimento cerebral.

3. Estímulo Sensorial: A interação constante com a mãe durante a amamentação fornece estímulos sensoriais importantes, incluindo toque, voz e contato visual, que são cruciais para o desenvolvimento neural.

Epigenética e Predisposição Genética

1. Modificação Epigenética: A amamentação e o contato afetivo podem influenciar a expressão gênica através de mecanismos epigenéticos. Fatores ambientais, como o cuidado materno, podem levar a modificações no DNA do bebê que regulam a expressão de genes relacionados ao desenvolvimento neural e à resposta ao estresse.

2. Desligamento de Genes de Predisposição: Algumas pesquisas sugerem que o ambiente afetivo positivo pode "desligar" genes associados a predisposições para doenças neurológicas ou transtornos psiquiátricos. Esse processo é mediado por alterações epigenéticas que modificam a forma como os genes são expressos sem alterar a sequência do DNA.

A amamentação, quando acompanhada de um contato amoroso e prazeroso com a mãe, oferece inúmeros benefícios para a saúde cerebral e o neurodesenvolvimento do bebê. O ambiente afetivo positivo, a nutrição adequada e a regulação hormonal colaboram para um desenvolvimento cognitivo, emocional e social saudável. Além disso, esses fatores podem influenciar a expressão gênica de maneira benéfica, contribuindo para a saúde a longo prazo.

Mas e a mãe que não amamenta? Como desenvolverá apego seguro com o bebê, apoiando seu neurodesenvolvimento?

O desenvolvimento de um apego seguro com o bebê não depende exclusivamente da amamentação. Saiba que mesmo que você não consiga ou possa amamentar, poderá fortalecer o vínculo mãe-bebê de diversas formas:

1. Contato físico: Segurar o bebê, abraçá-lo e fazer pele com pele são ótimas maneiras de criar uma conexão emocional forte. O toque físico transmite segurança e conforto.

2. Olhar e comunicação: Olhar nos olhos do bebê, sorrir e conversar com ele desde cedo ajuda a criar um laço afetivo. Mesmo que o bebê não entenda as palavras, ele sente a atenção e o carinho.

3. Rotina e consistência: Estabelecer uma rotina previsível ajuda o bebê a sentir-se seguro. Saber o que esperar e quando esperar cria um ambiente de confiança.

4. Responder às necessidades do bebê: Atender às necessidades da criança, como fome, sono e conforto, mostra que ele pode confiar na mãe e nos seus outros cuidadores para obter o que precisa.

5. Jogo e interação: Brincar com o bebê, cantar canções de embalar e ler histórias são formas divertidas e eficazes de criar uma conexão emocional.

6. Tempo de qualidade: Passar tempo de qualidade com o bebê, sem distrações, permite que a mãe e o bebê criem memórias e fortaleçam seu vínculo.

7. Apoio emocional: Demonstrar amor e apoio, estar presente emocionalmente e criar um ambiente seguro e amoroso são essenciais para o desenvolvimento de um apego seguro.

Cada mãe e bebê são únicos, e é importante encontrar o que funciona melhor para ambos. O amor e a dedicação da mãe são os principais fatores que contribuem para um vínculo seguro e saudável.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta cetogênica e glioblastoma multiforme (GBM) IDH selvagem

O glioblastoma multiforme (GBM) é um tipo agressivo e mais comum de tumor cerebral primário em adultos. É caracterizada por crescimento rápido e tendência a infiltrar-se no tecido cerebral circundante, dificultando o tratamento.

Status do IDH no Glioblastoma

A determinação do status de IDH é importante para o diagnóstico, prognóstico e tomada de decisão terapêutica. Isso normalmente é feito através de testes moleculares do tecido tumoral obtido durante uma biópsia ou cirurgia.

- Mutação IDH (Isocitrato Desidrogenase): Os glioblastomas podem ser classificados com base na presença ou ausência de mutações nos genes IDH1 ou IDH2. GBMs mutantes de IDH tendem a ter um prognóstico melhor e respondem de maneira diferente aos tratamentos em comparação com GBMs de tipo selvagem de IDH.

- IDH-Wildtype (IDH Selvagem): Este termo se refere aos glioblastomas que não apresentam mutações nos genes IDH1 ou IDH2. GBMs de tipo selvagem de IDH são a forma mais comum e geralmente estão associados a um pior prognóstico em comparação com seus equivalentes mutantes de IDH.

Características do Glioblastoma IDH-Wildtype

1. Epidemiologia: GBMs de tipo selvagem com IDH geralmente ocorrem em adultos mais velhos, com pico de incidência em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos. Eles representam a maioria dos casos de GBM.

2. Prognóstico: Pacientes com GBM de tipo selvagem de IDH geralmente apresentam uma sobrevida global mais curta em comparação com aqueles com GBMs mutantes de IDH. A sobrevida média é geralmente de 12 a 15 meses com tratamento padrão. Pacientes com GBM de tipo selvagem IDH podem ser elegíveis para ensaios clínicos explorando novas abordagens de tratamento, incluindo terapias direcionadas, imunoterapias e novos agentes quimioterápicos.

3. Características moleculares: Além da ausência de mutações no IDH, os GBMs de tipo selvagem do IDH frequentemente exibem outras alterações genéticas, como amplificação do gene EGFR, perda de heterozigosidade no cromossomo 10 e mutações no promotor TERT.

4. Tratamento: O tratamento padrão para GBM de tipo selvagem com IDH inclui ressecção cirúrgica segura máxima seguida de radioterapia combinada com quimioterapia com temozolomida. Devido à natureza agressiva e ao pior prognóstico do GBM de tipo selvagem com IDH, há pesquisas em andamento sobre novas terapias e estratégias de tratamento.

Dieta cetogênica e GBM IDH selvagem

A dieta cetogênica é uma dieta rica em gorduras (70 a 80% das calorias), com proteína moderada (10 a 20% das calorias) e baixo teor de carboidratos (5 a 10% das calorias). Tem sido investigada como uma terapia complementar para vários tipos de câncer, incluindo o glioblastoma multiforme (GBM) IDH selvagem, devido ao seu potencial para alterar o metabolismo das células cancerígenas.

A dieta cetogênica força o corpo a entrar em um estado de cetose, onde a principal fonte de energia passa a ser os corpos cetônicos derivados das gorduras, em vez da glicose proveniente dos carboidratos.

As células cancerígenas, incluindo as do GBM, muitas vezes têm dificuldade em metabolizar corpos cetônicos e dependem mais da glicose para crescimento e sobrevivência.

Corpos cetônicos são uma fonte de energia alternativa para células normais, mas as células cancerígenas muitas vezes não conseguem usá-los eficientemente. Além disso, possuem propriedades anti-inflamatórias que podem ser benéficas para pacientes com câncer. Por fim, os corpos cetônicos reduzem o risco de convulsões em pacientes com tumores cerebrais.

Produção e metabolização de corpos cetônicos (Dal Bello et al., 2022)

Evidências Científicas da dieta cetogênica no GBM

- Estudos Pré-Clínicos: Alguns estudos em modelos animais mostraram que a dieta cetogênica pode retardar o crescimento do tumor e aumentar a eficácia de tratamentos convencionais, como a radioterapia e a quimioterapia ou uso de bevacizumabe, um anticorpo monoclonal, que bloqueia a ação do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), impedindo o crescimento de vasos sanguíneos que alimentam tumores malígnos (1).

- Ensaios Clínicos: Ensaios clínicos em humanos são limitados, mas alguns estudos preliminares indicam que a dieta cetogênica pode ser segura e potencialmente benéfica como terapia adjuvante no tratamento do GBM (2).

A dieta cetogênica deve ser iniciada e monitorada por profissionais de saúde, incluindo médicos e nutricionistas, para garantir que as necessidades nutricionais sejam atendidas e para monitorar possíveis efeitos colaterais, como cansaço, constipação, náuseas e distúrbios metabólicos.

Cada vez mais neurologistas e oncologistas propõem a combinação das terapias convencionais com a dieta cetogênica, devido aos seus benefícios como maior eficácia da quimio e radioterapia, possível proteção das células saudáveis ​​da toxicidade das terapias convencionais, dada a sua capacidade de aumentar a capacidade oxidativa celular, controle das convulsões induzidas pelos tumores no SNC.

Entretanto, é necessário aprimorar os ensaios clínicos testando a dieta cetogênica em maior escala. Para tanto, seria importante que cada departamento de oncologia tivesse especialistas em nutrição trabalhando e colaborando com a equipe médica para integrar a abordagem terapêutica clássica com a nutricional.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/