Disfunção mitocondrial e problemas gastrointestinais no autismo

O estresse oxidativo é comum no TEA e pode ser causado pela disfunção mitocondrial. Mais radicais livres circulantes associam-se a aumento de carbonilação, peroxidação lipídica, aumento da inflamação, oxidação de proteínas e de DNA. Estas questões também estão ligadas a alterações nas junções estreitas de intestino, sintomas gastrointestinais, danos à barreira hematoencefálica, neuroinflamação e mudanças comportamentais.

O círculo superior esquerdo fornece um resumo das anormalidades mitocondriais bioquímicas identificadas em crianças com TEA. Outras caixas resumem biomarcadores, anormalidades genéticas, sintomas clínicos e tratamentos estudados para disfunção mitocondrial associada ao TEA (Frye, 2020).

Evidências emergentes identificaram discretamente disfunções mitocondriais como denominadores etiológicos comuns em doenças gastrointestinais. Porém, é importante perceber que as disfunções mitocondriais não são apenas consequências de doenças. Em vez disso, as mitocôndrias danificadas agravam gravemente a patogênese, qualificando-se assim como fatores perpetráveis ​​dignos de direcionamento profilático e terapêutico.

O estresse oxidativo e nitrosativo devido a estímulos endógenos e exógenos desencadeia lesão mitocondrial causando a produção de padrões moleculares associados ao dano mitocondrial (mtDAMPs), que, em um loop feed-forward, infligem danos inflamatórios no tecido. A inflamação gastroduodenal e as lesões ulcerativas aumentam em função do estresse, hábitos alimentares restritivos, tabagismo, alcoolismo, uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, viroses, disbiose e a própria disfunção mitocondrial etc.

A dinâmica estrutural mitocondrial e a mitofagia são parâmetros cruciais de controle de qualidade que determinam a extensão da mitopatologia e os resultados da doença. Curiosamente, além dos fatores endógenos, as mitocôndrias também fazem crosstalk e, por sua vez, são afetadas negativamente por patobiontes intestinais colonizados durante a disbiose luminal.

Um dos fatores que levam à problemas mitocondriais no autismo é a deficiência de carnitina (Kepka et al., 2021), que pode ser causada por deleção de determinados genes. A deficiência de L-carnitina associa-se a sintomas, como:

  • Baixo tônus muscular

  • Fraqueza

  • Cansaço

  • Irritabilidade

  • Atraso no desenvolvimento motor

  • Baixo consumo de alimentos

  • Dificuldade respiratória

  • Perda urinária

  • Baixa produção de energia

  • Regressão

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Esofagite eosinofílica no autismo

Esofagite eosinofílica é mais comum no TEA. O diagnóstico pode estar camuflado e presente mesmo com IgE negativo. Os sintomas podem ficar muito camuflados.Esofagite eosinofílica é uma doença crônica mediada pelo sistema imunitário do esôfago resultando em inflamação predominante de eosinófilos no esôfago; pode causar sintomas semelhantes a refluxo, disfagia, dor, dificuldade de deglutição e impactação alimentar.

A esofagite eosinofílica está bastante associada às alergias mistas. O diagnóstico é feito por endoscopia com biópsia, um exame invasivo mas que vale a pena se a seletividade alimentar é severa, com choro ou piora mesmo com a terapia alimentar. Alergias são cinco vezes mais frequentes em indivíduos no espectro autista do que em controles. Estima-se que até 52% apresentem sintomas e sinais de alergias, o que contrasta com 10% em relação à população controle.

A associação com os processos alérgicos, alimentares e respiratórios como rinite alérgica e asma tem sido reconhecida. Os infiltrados inflamatórios nas mucosas intestinais e no tecido cerebral podem estar presentes, células mononucleares periféricas produzem menos anticorpos IgA, IgG e IgM, é menor o número de macrófagos e células CD20 + B. Testes cutâneos positivos com alergenos, presença dos marcadores celulares IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, IL-12, IL-13, TNF-beta,TNF-alfa e BSA (brain specific autoantibody) são achados em indivíduos no espectro e alérgicos. Pais de crianças com autismo também parece ter mais alergias do que aqueles de crianças sem autismo.

Pacientes no espectro autista com alergia apresentam mais autoanticorpos anti-MBP (myelin basic protein) e antiMAG (myelin associated glycoprotein), do que os sem alergias. Peptídeos microbianos podem reagir com tecidos cerebrais. Vários sensibilizantes alimentares podem ser prejudiciais para autistas, como gliadina, proteínas do leite de vaca e da soja, aumentando a permeabilidade da barreira intestinal e hematoencefálica, o que facilita o processo alérgico (absorção de grandes moléculas), e mudanças de comportamento no autismo.

Alérgenos podem ser responsáveis pela produção de anticorpos contra a proteína do citoesqueleto neuronal, dos neurofilamentos e da proteína básica da mielina. Estes anticorpos interferem na função neuromuscular agravando alterações sensório-motoras.

Nutrição e TEA - https://andreiatorres.com/cursos-online/tea

Referências: Cardoso, & da Rocha, 2020 - DOI - 10.5935/2236-5117.2021v58a14

Xu et al., 2018 - doi: 10.1001/jamanetworkopen.2018.0279.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Tratamentos naturais para excesso de fungos e candidíase

Fungos (leveduras) estão presentes no organismo de todas as pessoas, incluindo a Cândida. Contudo, em situações de baixa imunidade e disbiose intestinal, alguns microorganismos multiplicam-se excessivamente, causando problemas.

A presença excessiva de fungos no intestino, conhecida como candidíase intestinal ou, incorretamente, como síndrome fúngica, pode manifestar-se de diversas formas. Dizemos que o termo síndrome fúngica é incorreto pois síndromes são questões em que as causas não são facilmente determinadas. Se determinamos que um problema são fungos em excesso não deveríamos chamar síndrome fúngica. De qualquer forma, o termo popularizou-se na internet.

Seguem alguns sintomas relacionados ao excesso de fungos, principalmente Candida albicans. É importante ressaltar que nem todos os sintomas abaixo são exclusivos de excesso de fungos e podem estar relacionados a outros problemas de saúde.

Sintomas comuns:

  • Gastointestinais:

    • Diarreia ou constipação alternada

    • Gases excessivos

    • Inchaço abdominal

    • Náuseas e vômitos

    • Azia

    • Dores de cabeça

    • Sensação de boca amarga

    • Aftas

    • Perda de apetite

  • Outros:

    • Fadiga crônica

    • Alterações de humor (irritabilidade, ansiedade, depressão)

    • Problemas de pele (eczema, psoríase)

    • Infecções frequentes

    • Dificuldade de concentração

    • Desordens do sono

    • Os tratamentos naturais para a síndrome fúngica e infecções por Candida que têm respaldo científico incluem várias intervenções dietéticas e de estilo de vida, probióticos e compostos naturais específicos.

Intervenções Dietéticas e de Estilo de Vida

1. Dieta com Baixo Teor de Açúcar: o açúcar é um importante nutriente para a Candida. Este fungo possui sensores para glicose e transportadores como CaHgt4 e CgSnf3 (Ende et al., 2019). Diabéticos, por exemplo, têm uma maior taxa de crescimento de cândida quando a glicose está alta (Man et al., 2017). Assim, reduzir o consumo de açúcar pode fazer sentido, apesar dos estudos serem controversos. De qualquer forma, quem consome muito açúcar tende a ter uma dieta menos saudável e maior comprometimento imune. Muitos nutrientes são importantes para uma boa imunidade:

2. Dieta com Baixo Teor de Carboidratos: Limitar os carboidratos pode reduzir o crescimento da Candida. Um estudo de caso mostrou que uma paciente de 33 anos diagnosticada com candidíase vulvovaginal entrou em remissão com uma dieta cetogênica, baixíssima em carboidratos (Yar et al., 2022).

3. Evitar Alimentos Processados e reduzir o consumo de álcool: Alimentos processados frequentemente contêm açúcares e aditivos que podem promover o crescimento da Candida. O álcool aumenta a permeabilidade intestinal facilita a translocação de beta-glucanos de fungos para a corrente sanguínea, gerando efeitos sistêmicos (Jawhara, 2023).

4. Aumentar a Ingestão de Fibra: As fibras podem ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue e promover bactérias intestinais saudáveis. Prebióticos como frutooligossacarídeos (FOS) atenuam sintomas inflamatórios intestinais e previnem infecções. Além disso, ajudam a aumentar bactérias boas, como bifidobactérias, que competem com a bactérias ruins e fungos (Rousseau et al., 2005).

5. Suplementar probióticos (Andrade et al., 2022)

  • Lactobacillus (rhamnosus LR32, helveticus CBS N116411, plantarum SD5870, acidophilus NCFM, casei L324m, paracasei 28.4, reuteri DSM 17938 e ATCC PTA 5289): Probióticos com eficácia na inibição do crescimento da Candida e na restauração da flora intestinal saudável .

  • Saccharomyces (boulardii, cerevisiae CNCM I-3856): leveduras que competem com a Candida e ajudam a restaurar a saúde intestinal.

  • Streptococcus salivarius K12: reduz o curso da doença

6. Vírus que competem com os biofilmes bacterianos - falo sobre o tema neste vídeo:

7. Correção de carências nutricionais

A deficiência de nutrientes como vitamina D, vitamina E, selênio e ômega-3 associa-se a piores resultados durante o tratamento dos fungos. Estes nutrientes impactam o metabolismo de carboidratos, a qualidade da membrana intestinal, o nível inflamatório global e o modulam o estresse oxidativo.

8. Compostos Naturais

  • Alho (Allium sativum): O alho tem propriedades antifúngicas bem documentadas. Estudos mostraram que extratos de alho podem inibir o crescimento de Candida albicans. O alho fresco contém alicina, um composto rico em enxofre que reduz biofilmes produzidos pela cândida (Shuford et al., 2005).

  • Óleo de Coco: O óleo de coco contém ácido caprílico e ácido láurico, que têm propriedades antifúngicas e podem ajudar a reduzir as populações de Candida (Ogbolu et al., 2007).

  • Óleo de Melaleuca (Tea Tree Oil): O óleo de melaleuca na concentração mínima de 0,25% demonstrou ter atividade antifúngica contra espécies de Candida quando usado topicamente (Hammer, Carson, & Riley, 1998).

  • Óleo de Orégano: O óleo de orégano contém carvacrol e timol, compostos com propriedades antifúngicas fortes contra a Candida e seus biofilmes (Hacioglu, Oyardi, & Kirinti, 2021).

  • Berberina: Encontrada em plantas como a goldenseal (hidraste) e a barberry (bérberis), a berberina tem propriedades antifúngicas e pode inibir o crescimento da Candida e reduzir seu biofilme (da Silva et al., 2016).

  • Ácido Caprílico: Este ácido graxo, encontrado no óleo de coco, tem propriedades antifúngicas que podem ajudar a reduzir os níveis de Candida .

  • Extrato de Folha de Oliveira: Contém oleuropeína, que tem propriedades antifúngicas, antivirais e antibacterianas (Nataša Zorić et al., 2016).

Vários outros compostos possuem atividade antifúngica (Jawhara, 2023)

Estes tratamentos naturais podem contribuir para o gerenciamento de infecções por Candida. Aprenda mais no curso de modulação da microbiota intestinal ou marque aqui sua consulta de nutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/