Fibras e microbiota

O termo fibra alimentar refere-se a “polímeros de carboidratos, em geral, com dez ou mais unidades monoméricas, que são resistentes à hidrólise por enzimas endógenas e à absorção no intestino delgado de humanos. Contudo, alguns oligossacarídeos, com menos unidades monoméricas também possuem ação como fibra, incluindo:

  • Inulina é um polissacarídeo e possui uma cadeia longa de frutose. A quantidade de unidades de frutose na inulina pode variar amplamente, de 2 a 60 unidades ou mais. Em alguns casos, pode ter até 200 unidades de frutose. Está presente na chicória, alcachofra e alho.

  • Frutooligossacarídeos (FOS): oligossacarídeos comumente compostos por 2 a 10 unidades de frutose, ligadas a uma unidade de glicose. Presentes nos aspargos, chicória, cebola, alho, tomate.

  • Galactooligossacarídeos (GOS): oligossacarídeos geralmente compostos por 3 a 8 unidades de galactose, ligadas a uma unidade de glicose. São derivados de laticínios.

Existem muitas outras fontes de fibras dietéticas em grãos integrais, vegetais, frutas e legumes. Falo mais sobre o tema neste vídeo:

Desde a era paleolítica, quando os caçadores-coletores comiam principalmente frutas e grãos silvestres, até a era agrícola, quando as safras começaram a ser cultivadas, os antigos consumiam mais de 100 g de diversas fibras dietéticas digeríveis e indigestíveis de plantas por dia. Durante milhões de anos, a microbiota intestinal humana forneceu serviços nutricionais vitais através da digestão da lactose e da celulose, da degradação de toxinas e da biossíntese de vitaminas, moléculas sinalizadoras e outras substâncias essenciais.

Na era da industrialização, no entanto, as pessoas passaram a consumir muito menos fibras das dietas, representando um grande desafio para os humanos se adaptarem ao padrão alimentar e aos ambientes profundamente alterados. Em relação aos genomas humanos altamente conservados, a flexibilidade dos micróbios intestinais permitiu as suas respostas rápidas às mudanças de comportamento alimentar e garantiu o estabelecimento de uma nova simbiose com os humanos.

Embora as alterações no microbioma intestinal possam facilitar a adaptação humana ao ambiente em mudança do ponto de vista da evolução, a nova simbiose humano-microbioma, muito diferente daquela mantida durante milhões de anos, pode provocar impactos profundos na saúde humana. Alterações no microbioma intestinal humano têm sido implicadas em uma ampla gama de condições complexas e crônicas, incluindo obesidade, diabetes, câncer e doenças cardiovasculares e podem ser responsáveis pela carga crescente de doenças não transmissíveis em todo o mundo.

Como vimos no vídeo acima, a fibra alimentar pode ser classificada em três tipos com base nas propriedades fisiológicas de sua polimerização de unidades monoméricas (UM)

  1. Polissacarídeos não amiláceos (UM ≥ 10), como celulose, hemicelulose, pectinas, inulina e vários hidrocolóides.

  2. Amidos resistentes (UM ≥ 10), são derivados de grãos e sementes moídas, batata crua, milho verde, banana verde, batata cozida e resfriada, flocos de milho.

  3. Oligossacarídeos resistentes/não digeríveis (UM: 3–9), como galacto-oligossacarídeos (GOS), xilo-oligossacarídeos (XOS) e galactosídeos. Vimos as fontes acima.

Impacto da dieta na microbiota

Pessoas que consomem uma variedade maior de fibras possuem um microbioma mais diverso, um sistema imune menos reativo e um corpo menos inflamado. Para pessoas que não toleram bem fibras, a introdução de alimentos fermentados na dieta torna o sistema digestivo mais tolerante e a microbiota mais diversa e saudável.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Tipos de fibras

As dietas ocidentais são tipicamente ricas em gorduras saturadas e açúcar e pobres em fibras e isto gera desafios para o microbioma intestinal. O nosso microbioma – que é a coleção total de todos os genes com os quais os micróbios contribuem para o nosso corpo – e o nosso sistema imunitário estão intrinsecamente ligados.

As bactérias que temos no intestino são cruciais para nossa saúde. Ajudam-nos a digerir os alimentos, são essenciais para o sistema imunitário e estão ligadas a uma ampla gama benefícios, em relação à saúde gastrointestinal, física, cardiometabólica e mental.

O consumo de 25 a 35 gramas de fibra ao dia se correlaciona com uma menor incidência de diabetes tipo 2, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e cancro do cólon. E mais, precisamos variar também os tipos de fibras que consumimos. Falo sobre o tema neste vídeo:

Raramente, dietas pobres em fibras são indicadas, devido a problemas de saúde específicos, como distúrbios inflamatórios intestinais na fase aguda. Mas, para a maioria das pessoas uma dieta rica em fibras é fundamental para a saúde intestinal.

Fibras provenientes de fontes distintas podem ter ações diferentes no corpo. Um estudo avaliou como diferentes fontes de fibras - proteína de ervilha (fonte e arabinano), casca de frutas cítricas (pectina cítrica), casca de tomate, fibra de laranja, fibra de maçã, fibra de casca de aveia, cacau, sementes de chia e farelo de arroz influenciava a microbiota intestinal de camundongos.

Especificamente, a abundância de B. thetaiotaomicron aumentou na presença de pectina cítrica e fibra de ervilha, enquanto os níveis de B. ovatus aumentaram na presença de beta-glucano de cevada e farelo de cevada. Outras fibras que resultaram em aumento de membros das cepas de Bacteroides no estudo foram inulina de alto peso molecular, maltodextrina resistente e psyllium.

Aprofundando-se, a equipe identificou quais carboidratos bioativos nas preparações de fibras forneciam as fontes alimentares preferidas para as diferentes cepas.

Em humanos isso é muito importante. Uma variedade de cepas gera mais saúde. A perda de diversidade microbiana está ligada à síndrome do intestino irritável (SII), maior risco de certos tipos de câncer, doenças autoimunes e até transtornos mentais.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Suplementos úteis para mulheres na pré-menopausa

Podemos pensar em muitos suplementos para mulheres em suas diversas fases da vida. Tenho uma playlist com mais de 50 vídeos sobre este tema no YouTube. Toda suplementação deve ser individualizada de acordo com genética, sintomas, exames bioquímicos, carências apresentadas, padrão alimentar seguido, nível de atividade física, preferências, renda, dentre tantos outros aspectos.

Alguns suplementos são óbvios como ferro para quem está com anemia, mas hoje quero falar de suplementos não tão comuns, mas que são muito úteis para muitas mulheres acima dos 40 anos.

1. MSM (Metilsulfonilmetano)

O metilsulfonilmetano (MSM) é uma substância orgânica natural que contém enxofre e tem muitas funções biológicas, como efeitos antioxidantes, antiinflamatórios, nutritivos para os tecidos. Algumas indicações:

- Saúde das Articulações: Reduz a inflamação e a dor, sendo benéfico para condições como osteoartrite.

- Estética: Melhora a elasticidade e previne rugas, apoiando o envelhecimento saudável da pele. Promove cabelos e unhas mais fortes e saudáveis.

- Desintoxicação: Melhora a função hepática e auxilia na remoção de toxinas do corpo.

- Suporte Imunológico: fortalece o sistema imune e combate o estresse oxidativo.

A dose típica varia entre 1.000 e 3.000 mg ao dia, mas o ideal é que aumente a dosagem lentamente para prevenir efeitos colaterais, como desconfortos digestivos ou reações cutâneas. No Brasil, eu prescrevo para minhas pacientes o MSM manipulado e na Europa este aqui.

2. Ashwagandha (Withania somnifera)

Esta erva tradicional da medicina Ayurvédica também é conhecida como ginseng indiano e tem vários efeitos benéficos à saúde:

- Redução de Estresse: Atua como um adaptógeno, ou seja, ajudando o corpo a resistir a estressores de todos os tipos, sejam físicos, químicos ou biológicos.

- Energia e Vitalidade: Aumenta os níveis de energia, a resistência e a vitalidade geral pelo estímulo da biogênese mitocondrial. Atenção: não deve ser usada por pessoas com hipertireoidismo e pressão arterial mais baixa.

- Equilíbrio Hormonal: Apoia o sistema endócrino, ajudando a equilibrar os hormônios, especialmente durante a menopausa, melhorando libido e qualidade do sono. Lembre que uma boa noite de sono é um dos principais ingredientes para a longevidade.

- Função Cognitiva: Melhora a memória e a função cognitiva, protegendo contra o declínio cognitivo relacionado à idade, reduzindo a ansiedade e sintomas de depressão. Uma das formas de fazer isso é pela redução de cortisol. Para reduzir cortisol, alimentos ricos em vitamina C (como laranjas) e betasitosterol (como abacate), também ajudam. Se você já tem cortisol baixo, evite.

- Suporte Imunológico: contribui para a função imunológica e reduz a inflamação, diminuindo dores e aumentando o bem-estar. Se você tem algum problema genético de acúmulo de ferro, não indico a Ashwagandha.

Extratos são mais potentes que os pós. Por isso, as doses variam nas prescrições. Em gosto dos extratos e prescrevo manipulados no Brasil. Na Europa indico este e este, com 200 mg do extrato. Cuidado com doses excessivas. Evite ultrapassar 600 mg ao dia (2x 300 mg) e tente não ultrapassar mais que dois meses de uso. Esse é um suplemento que devemos ciclar ao longo do tempo para evitar anedonia.

3. Triphala

Triphala é uma mistura tradicional da medicina ayurvédica composta por três frutas secas: amalaki (Emblica officinalis), bibhitaki (Terminalia belerica) e haritaki (Terminalia chebula). É conhecida por suas propriedades antioxidantes, desintoxicantes e de suporte ao sistema digestivo.

- Saúde Digestiva: Promove uma digestão saudável e movimentos intestinais regulares, reduzindo a constipação e o inchaço.

- Desintoxicação: Ajuda na desintoxicação do corpo e na melhoria da função hepática.

- Propriedades Antioxidantes: Fornece forte suporte antioxidante, protegendo as células contra danos e reduzindo a inflamação.

- Controle de Peso: Apoia o controle de peso saudável ao melhorar a digestão e o metabolismo.

- Suporte Imunológico: Aumenta a função imunológica e a saúde geral.

Pessoas saudáveis podem usar diariamente. A dose típica do pó fica entre 500 e 1.000 mg, geralmente duas vezes ao dia. E comum iniciar com uma dose menor e ir aumentando gradualmente, conforme a necessidade. No Brasil faço a prescrição magistral e na Europa indico a da vitaworld, a PureRaw e a da qidosha.

4. Shatavari (Asparagus racemosus)

Shatavari (Asparagus racemosus) é uma planta amplamente utilizada na medicina ayurvédica, conhecida por suas propriedades tonificantes e nutritivas, especialmente para o sistema reprodutivo feminino. O nome "shatavari" significa "a que possui cem maridos", refletindo sua reputação como um potente tonificante para a libido feminina.

- Equilíbrio Hormonal: Apoia a saúde reprodutiva feminina e o equilíbrio hormonal, especialmente durante a menopausa.

- Alívio da Menopausa: Reduz os sintomas da menopausa, como ondas de calor e mudanças de humor.

- Saúde Digestiva: Melhora a digestão e apoia a saúde gastrointestinal.

- Suporte Imunológico: Fortalece o sistema imunológico e fornece proteção antioxidante.

- Redução de Estresse: Atua como um adaptógeno, ajudando o corpo a lidar com o estresse físico e emocional.

A dose varia de 250mg a 1.500 mg ao dia. Sempre começamos com doses mais baixas. No Brasil prescrevo manipulada e na Europa indico a Qidosha, a PureRaw e a vitaworld.

5. Açafrão (Crocus sativus)

Planta cujo estigma (a parte feminina da flor) é utilizado como especiaria e suplemento devido às suas propriedades medicinais e culinárias. O açafrão é valorizado por seu sabor distinto, cor vibrante e benefícios potenciais para a saúde.

- Melhora do Humor: Melhora o humor e reduz os sintomas de depressão e ansiedade.

- Função Cognitiva: Aumenta a memória e a função cognitiva, protegendo contra o declínio cognitivo relacionado à idade.

- Saúde Ocular: Apoia a saúde ocular e pode melhorar a visão.

- Alívio da TPM: Alivia os sintomas da síndrome pré-menstrual (TPM).

- Propriedades Antioxidantes: Crocina e safranal fornecem proteção antioxidante poderosa, reduzindo a inflamação e o estresse oxidativo.

Doses variam entre 30 e 200 mg ao dia. Prescrevo manipulado no Brasil e na Europa indico a vitaworld.

6. NADH (Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo)

Esta coenzima ocorre naturalmente no corpo e é crucial para:

- Aumento da produção de energia celular: melhora os níveis gerais de energia e ajuda a combater a fadiga.

- Função Cognitiva: Apoia a saúde cerebral e a função cognitiva, potencialmente melhorando a memória e a clareza mental. Em um estudo com pacientes com Alzheimer, 10mg/dia de NADH foi suplementado por 8 a 12 semanas. Com base no miniexame do estado mental, a melhoria mínima foi de 6 pontos e a melhoria máxima de 14 pontos com valor médio de 8,35 pontos. A melhoria com base na escala de deterioração global (GDS) foi de um mínimo de 1 ponto e um máximo de 2 pontos com um valor médio de 1,82. Nenhum efeito colateral ou adverso foi relatado pelos pacientes ou seus cuidadores.

- Anti-envelhecimento: NADH possui propriedades antioxidantes, contribuindo para a neutralização de radicais livres, reparo celular e processos anti-envelhecimento.

- Desempenho Físico: Melhora o desempenho atlético e a recuperação ao melhorar a função mitocondrial.

- Suporte ao Humor: Pode ajudar a melhorar o humor e reduzir os sintomas de depressão.

As doses variam tipicamente entre 5 e 20 mg ao dia. Pode ser tomado a qualquer momento do dia. No Brasil prescrevo manipulado após avaliação e na Europa indico o vitaworld ou qidosha no caso de necessidade de doses maiores.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/