ARRANQUE DOS MILAGRES: a dieta que apoia o tratamento do câncer

Não existe uma pessoa igual à outra, um câncer igual ao outro, uma experiência idêntica à outra. Contudo, existem dicas alimentares que podem te ajudar a enfrentar o tratamento do câncer mais forte, mais bem disposto, mais bem nutrido, com melhor imunidade, bom funcionamento intestinal e mais conforto.

Dificuldades alimentares durante o tratamento do câncer

Estresse, cansaço, falta de tempo, sensibilidade a odores e efeitos colaterais da quimio ou radioterapia podem dificultar o preparo de alimentos para alguém em tratamento de câncer. Alterações cognitivas, como perda de memória, podem até representar um risco à segurança se você usar um fogão ou outro aparelho quente.

Dicas para facilitar o preparo dos alimentos:

  • Peça por ajuda. A maioria das pessoas (familiares, amigos) quer ajudar, mas não sabe como. Preparar alimentos ou fornecer refeições é uma maneira fácil de alguém ajudá-lo durante o tratamento.

  • Certifique-se de que a pessoa que prepara a refeição conhece suas necessidades alimentares. Se houver alimentos que você não pode comer, forneça uma lista. Peça à pessoa que vai preparar suas refeições estar com você na consulta de nutrição.

  • Compartilhe uma receita se seu ente querido não tiver certeza do que preparar.

  • Caso tenha enjoo ou pouco apetite, faça várias refeições pequenas ao dia, ao invés de poucas refeições volumosas. Pequenas e simples refeições facilitam a melhor digestão, geram menos problemas estomacais e garantem mais energia. Se necessário, use pratos e xícaras menores para ajudar a controlar o tamanho das porções.

  • Prepare os alimentos assando, cozinhando lentamente, grelhando ou fervendo em água. Evite frituras pois podem piorar alguns problemas digestivos. Claro, se você precisa ganhar peso adicione azeite de oliva, óleo de abacate, manteiga, creme de leite ou óleo de coco aos seus pratos. Eles aumentam calorias e melhoram o sabor de alimentos. Teste sua tolerância, especialmente se estiver pensando em adotar a dieta cetogênica.

  • Alterações no paladar e no olfato são efeitos colaterais comuns do tratamento do câncer. Se sentir um gosto metálico na boca, mude para utensílios e pratos de plástico.

  • Mantenha os aromas no mínimo. A sensibilidade a cheiros ou odores é um efeito colateral do tratamento do câncer. Você pode usar um ventilador na cozinha para para mover os aromas dos alimentos e os cheiros da cozinha para longe de você.

  • Lembre da higiene. Lave as mãos após usar o banheiro e antes de comer. Cozinhe bem os alimentos e cozinhe as carnes na temperatura adequada. Siga a tabela de temperatura na página de Segurança Alimentar. Não reutilize utensílios ou superfícies que tenham entrado em contato com carne crua. Rotule os alimentos preparados com uma data de validade.

  • Planeje suas refeições e a lista de compras ao mesmo tempo: ao elaborar seu cardápio para a semana, anote todos os mantimentos necessários para preparar cada refeição, para que você só precise ir ao supermercado uma vez.

  • Manter-se hidratado é importante, então beba líquidos entre as refeições, mas pare de beber 30 minutos antes de uma refeição ou lanche para aumentar o apetite. Mas, limite as bebidas com durante as refeições para que alimentos mais sólidos com calorias possam ser consumidos. Uma forma de melhorar a hidratação é pelo consumo de alimentos com umidade como tomates, frutas, outros vegetais, gelatina, sopas, pudins e sorvetes fornecem água. Além disso, alimentos úmidos requerem menos corte e mastigação, o que economiza energia para comer o resto do alimento preparado.

  • Não deixe a vida social de lado. Sente-se e coma com seus amigos e familiares e converse sobre algo diferente do tratamento e da preparação da refeição. Socializar é importante para a cabeça e para o coração.

  • Armazene as sobras corretamente: Se você planeja fazer refeições com antecedência ou usar sobras, certifique-se de armazená-las com segurança. Embale e leve à geladeira ou congele as sobras dentro de 2 horas após servir. Etiquete e coloque a data em cada recipiente. Coma sobras refrigeradas dentro de 2 dias.

Melhore sua imunidade

Glóbulos brancos saudáveis, nossas células de defesa, são danificados durante o tratamento. Neutropenia é uma condição em que você tem níveis abaixo do normal de neutrófilos (um tipo de glóbulo branco). Evite alimentos associados a doenças transmitidas por alimentos, como:

  • Carnes cruas ou mal cozidas, incluindo sushi

  • Leite não pasteurizado

  • Queijos macios feitos com leite não pasteurizado, como feta, queijo azul, Roquefort, Stilton, brie ou queijos caseiros não pasteurizados

  • Pastas de carne refrigeradas ou patê

  • Peixe defumado ou camarão pré-cozido ou carne de caranguejo

  • Brotos como brotos de feijão, brotos de alfafa ou brotos de brócolis

  • Frutas e vegetais frescos pré-cortados. Compre-os inteiros, lave-os e corte-os você mesmo.

  • Frutas e vegetais frescos não lavados

  • Nozes e sementes não torradas ou cruas

  • Tofu cru ou tempeh

  • Comida de bares e saladas de buffets

  • Molhos para saladas “frescos”, salsas, molhos, etc.

  • Maionese caseira com ovos crus

  • Bolos recheados com creme não refrigerados

  • Água de poço, a menos que seja testada ou fervida por 1 minuto antes de beber ou fervida por 3 minutos

  • Converse com seu nutricionista sobre a correção de possíveis carências nutricionais

AJUDA PERSONALIZADA

Está com medo de fazer escolhas erradas? Está sentindo muita dor e não sabe qual suplemento tomar? Precisa de suporte mais contínuo em relação à alimentação? Neste caso marque sua consulta online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Benefícios e contra-indicações do jejum intermitente

Estudos mostram que o jejum intermitente pode gerar uma série de benefícios para o corpo. Quando a prática de jejum gera uma restrição calórica de 20 a 25% das calorias habitualmente consumidas, observam-se benefícios na saúde metabólica (Patterson et al., 2015), como redução do peso, níveis de colesterol, proteína C reativa, glicemia e insulinemia. As melhorias metabólicas podem ser suficientes, a longo prazo, para a redução do risco de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer

Apesar dos possíveis benefícios, existem contra-indicações para o jejum:

  • Gestantes

  • Crianças e adolescentes

  • Pessoas com baixa massa magra

  • Indivíduos com caquexia do câncer ou relacionada ao envelhecimento

  • Pessoas com história passada de transtorno alimentar (anorexia nervosa, bulimia, transtorno da compulsão alimentar periódica)

Existem muitas formas de jejum intermitente por aí. Como iniciante, comece devagar, preferencialmente com acompanhamento. Sinta-se à vontade para testar diferentes métodos e acompanhe a plataforma da saúde metabólica para aprender mais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Microbiota e saúde ginecológica

Infecções podem ser causa de câncer. Alguns microorganismos estão diretamente ligados ao desenvolvimentos de tumores, como vírus da hepatite B e C, vírus HIV, Helicobacter pylori, e HPV.

A disbiose intestinal é um gatilho indireto para o desenvolvimento do câncer. Quando a qualidade e diversidade bacteriana intestinal está alterada há alteração imune, mais inflamação, ativação de oncogenes, desregulação metabólica, maior o risco de infecções, maior necessidade de antibióticos, fatores que comprometem ainda mais a qualidade da microbiota e atrapalham a absorção de nutrientes.

https://www.intechopen.com/chapters/84076

Quando a microbiota é saudável, suprime tumores. Isto porque ajuda no aumento de absorção de nutrientes protetores e antioxidantes, melhora a função de barreira intestinal, ajuda a reparar o DNA, ativa vias de sinalização, tem ação antiinflamatória.

Contudo, quando a microbiota é disbiótica ganha características oncogênicas. A disbiose altera a permeabilidade intestinal, degrada mucina, gera inflamação, aumenta espécies reativas de oxigênio, produz substâncias que geram dano ao material genético, inflamação, ativam vias de sinalização anômalas, desregulam a imunidade. Aprenda a tratar a disbiose aqui.

A parte de cima da figura mostra os mecanismos oncogênicos, como a produção de espécie reativas de oxigênio (ROS), a hiperpermeabilidade intestinal, os danos ao DNA, a inflamação, a disrupção de vias de sinalização. A parte de baixo da figura aponta mecanismos protetores e supressores de tumor como potencial antioxidante do equol (metabólito da soja), melhoria da barreira intestinal, reparo do DNA, estratégias antiinflamatórias, melhoria de vias de sinalização (Bhatt et al., 2017)

Microbioma e câncer ginecológico

Um saudável microbioma gastrointestinal (GI) é tipicamente preenchido por cinco principais filos bacterianos: Firmicutes, Bacteroidetes, Actinobacteria, Proteobacteria, e Fusobactérias. Essas bactérias representam aproximadamente 90% da microbiota total no intestino.

O microbioma GI apoia funções que incluem o desenvolvimento do sistema imunológico, digestão, metabolismo de gordura, homeostase epitelial, regulação nervosa entérica eangiogênese. Como tal, a perturbação do microbioma, denominada disbiose, pode impactar esses processos importantes e resultar em doenças, incluindo certos tipos de câncer.

Em contraste, um microbioma vaginal saudável é normalmente preenchido por membros do filo Firmicutes, especialmente Lactobacillus crispatus, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus iners e Lactobacillus jensenii. Semelhante à microbiota GI, a abundância relativa de cada uma dessas bactérias pode mudar com o tempo.

Perturbações da microbiota vaginal podem contribuir para sintomas vaginais, incluindo dor, disfunção sexual e sintomas urinários. O tratamento do câncer, fatores ambientais e condições médicas pré-existentes podem alterar a microbiota gastrointestinal e vaginal (Chase et al., 2015).

Numa mulher saudável, a microbiota do intestino e da vagina está separada por um sistema de barreira multinível que inclui, entre outros fatores, camada de muco, secreção de mediadores imunológicos solúveis e epitélio intacto com junções estreitas. Quando este multifacetado sistema de barreira falha, bactérias patogênicas podem se translocar através do intestino e epitélio vaginal, causando inflamação crônica de baixo grau que leva a doenças, incluindo câncer.

Há uma relação complexa entre a microbiota probiótica, patogênica e comensal no intestino e na vagina. Em ambos os locais da mucosa, as bactérias probióticas (amarelas) têm funções benéficas, incluindo a redução do pH localmente, reforçando a imunidade da mucosa ao interagir com IgA e alterando a secreção do peptídeo antimicrobiano (AMP), bloqueando o crescimento do patógeno (vermelho) na camada de muco e bloqueando a adesão do patógeno. às células epiteliais.

Além disso, as bactérias probióticas podem desempenhar um papel benéfico, melhorando a colonização comensal (verde). Tanto no intestino como na vagina, estas funções benéficas ajudam a melhorar a função da barreira epitelial. Quando a microbiota é perturbada, no entanto, as bactérias patogénicas são capazes de proliferar no muco e aderir às células epiteliais intestinais e vaginais. Neste estado de disbiose, a função da barreira epitelial é perturbada e as bactérias patogénicas são capazes de se translocar através do epitélio, resultando em inflamação e infecção.

A translocação microbiana também pode resultar em inflamação crônica e de baixo grau no intestino e na vagina, o que pode causar sintomas gastrointestinais e vaginais e pode até levar à carcinogênese. Por outro lado, os cânceres do trato gastrointestinal e tratos reprodutivos causam inflamação que resulta em disbiose, gerando um ciclo de feedback positivo que pode resultar na promoção de mais doenças.

Manutenção da microbiota saudável é muito importante

Muitos fatores afetam a composição da microbiota intestinal e vaginal, incluindo etnia, níveis de estresse, estilo de vida, alimentação, uso de suplementos, infecções, uso de antibióticos e anticoncepcionais, níveis hormonais (Lehtoranta et al., 2022).

O consumo de alimentos fermentados (kefir, kombucha, kimchi, iogurte, coalhada, picles) gera vários efeitos benéficos para a microbiota humana. Estes alimentos são ricos em bactérias probióticas, como lactobacillus, que melhoram a colonização bacteriana, a imunidade, a defesa contra patógenos.

A administração de probióticos orais reduz o risco de infecções gastrointestinais, urinárias e vaginais. Além disso, há a possibilidade de uso de probióticos intravaginais (prescritos por ginecologista) para redução de vaginoses.

Tratamento da candidíase de repetição

A levedura Candida spp. faz parte da microflora vaginal normal das mulheres. Contudo, um excesso de Candida pode levar ao desenvolvimento de candidíase vulvovaginal, a qual normalmente é resultado de uma perturbação no ecossistema microbiano da paciente.

A candidíase manifesta-se com coceiras intensas, inchaço, manchas vermelhas, corrimento vaginal branco e espesso. Outra doença chata é a hidradenite supurativa. Gera inflamação e causa lesões dolorosas e exsudativas em áreas de glândulas apócrinas densas.

A intervenção nutricional inclui a restrição de carboidratos na dieta. Um estudo de caso mostrou que a dieta cetogênica ajuda no manejo de ambas as doenças. Após 43 dias de dieta os sintomas cessaram (Yar et al., 2022). A dieta cetogênica pode melhorar ou piorar a microbiota. Depende de como ela é feita. Falo mais sobre o tema neste vídeo:

Dieta cetogênica e câncer ginecológico

Alguns tipos de pacientes beneficiam-se grandemente da dieta cetogênica, especialmente aqueles com excesso de peso ou hiperinsulinemia. A dieta cetogênica também parece ser a ideal para certos tipos de câncer, como aqueles de cabeça e pescoço.

Ainda não há consenso em relação à dieta cetogênica no câncer ginecológico. Contudo, uma revisão de 2022 mostrou a importância do consumo de plantas. Nem toda dieta cetogênica é igual, uma dieta rica em bacon é distinta de uma dieta rica em azeite de oliva ou azeitonas. Converse sempre com um nutricionista oncológico sobre o seu caso.

MAIS SOBRE O TEMA:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/