Microbiota e saúde ginecológica

Infecções podem ser causa de câncer. Alguns microorganismos estão diretamente ligados ao desenvolvimentos de tumores, como vírus da hepatite B e C, vírus HIV, Helicobacter pylori, e HPV.

A disbiose intestinal é um gatilho indireto para o desenvolvimento do câncer. Quando a qualidade e diversidade bacteriana intestinal está alterada há alteração imune, mais inflamação, ativação de oncogenes, desregulação metabólica, maior o risco de infecções, maior necessidade de antibióticos, fatores que comprometem ainda mais a qualidade da microbiota e atrapalham a absorção de nutrientes.

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Quando a microbiota é saudável, suprime tumores. Isto porque ajuda no aumento de absorção de nutrientes protetores e antioxidantes, melhora a função de barreira intestinal, ajuda a reparar o DNA, ativa vias de sinalização, tem ação antiinflamatória.

Contudo, quando a microbiota é disbiótica ganha características oncogênicas. A disbiose altera a permeabilidade intestinal, degrada mucina, gera inflamação, aumenta espécies reativas de oxigênio, produz substâncias que geram dano ao material genético, inflamação, ativam vias de sinalização anômalas, desregulam a imunidade. Aprenda a tratar a disbiose aqui.

A parte de cima da figura mostra os mecanismos oncogênicos, como a produção de espécie reativas de oxigênio (ROS), a hiperpermeabilidade intestinal, os danos ao DNA, a inflamação, a disrupção de vias de sinalização. A parte de baixo da figura aponta mecanismos protetores e supressores de tumor como potencial antioxidante do equol (metabólito da soja), melhoria da barreira intestinal, reparo do DNA, estratégias antiinflamatórias, melhoria de vias de sinalização (Bhatt et al., 2017)

Microbioma e câncer ginecológico

Um saudável microbioma gastrointestinal (GI) é tipicamente preenchido por cinco principais filos bacterianos: Firmicutes, Bacteroidetes, Actinobacteria, Proteobacteria, e Fusobactérias. Essas bactérias representam aproximadamente 90% da microbiota total no intestino.

O microbioma GI apoia funções que incluem o desenvolvimento do sistema imunológico, digestão, metabolismo de gordura, homeostase epitelial, regulação nervosa entérica eangiogênese. Como tal, a perturbação do microbioma, denominada disbiose, pode impactar esses processos importantes e resultar em doenças, incluindo certos tipos de câncer.

Em contraste, um microbioma vaginal saudável é normalmente preenchido por membros do filo Firmicutes, especialmente Lactobacillus crispatus, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus iners e Lactobacillus jensenii. Semelhante à microbiota GI, a abundância relativa de cada uma dessas bactérias pode mudar com o tempo.

Perturbações da microbiota vaginal podem contribuir para sintomas vaginais, incluindo dor, disfunção sexual e sintomas urinários. O tratamento do câncer, fatores ambientais e condições médicas pré-existentes podem alterar a microbiota gastrointestinal e vaginal (Chase et al., 2015).

Numa mulher saudável, a microbiota do intestino e da vagina está separada por um sistema de barreira multinível que inclui, entre outros fatores, camada de muco, secreção de mediadores imunológicos solúveis e epitélio intacto com junções estreitas. Quando este multifacetado sistema de barreira falha, bactérias patogênicas podem se translocar através do intestino e epitélio vaginal, causando inflamação crônica de baixo grau que leva a doenças, incluindo câncer.

Há uma relação complexa entre a microbiota probiótica, patogênica e comensal no intestino e na vagina. Em ambos os locais da mucosa, as bactérias probióticas (amarelas) têm funções benéficas, incluindo a redução do pH localmente, reforçando a imunidade da mucosa ao interagir com IgA e alterando a secreção do peptídeo antimicrobiano (AMP), bloqueando o crescimento do patógeno (vermelho) na camada de muco e bloqueando a adesão do patógeno. às células epiteliais.

Além disso, as bactérias probióticas podem desempenhar um papel benéfico, melhorando a colonização comensal (verde). Tanto no intestino como na vagina, estas funções benéficas ajudam a melhorar a função da barreira epitelial. Quando a microbiota é perturbada, no entanto, as bactérias patogénicas são capazes de proliferar no muco e aderir às células epiteliais intestinais e vaginais. Neste estado de disbiose, a função da barreira epitelial é perturbada e as bactérias patogénicas são capazes de se translocar através do epitélio, resultando em inflamação e infecção.

A translocação microbiana também pode resultar em inflamação crônica e de baixo grau no intestino e na vagina, o que pode causar sintomas gastrointestinais e vaginais e pode até levar à carcinogênese. Por outro lado, os cânceres do trato gastrointestinal e tratos reprodutivos causam inflamação que resulta em disbiose, gerando um ciclo de feedback positivo que pode resultar na promoção de mais doenças.

Manutenção da microbiota saudável é muito importante

Muitos fatores afetam a composição da microbiota intestinal e vaginal, incluindo etnia, níveis de estresse, estilo de vida, alimentação, uso de suplementos, infecções, uso de antibióticos e anticoncepcionais, níveis hormonais (Lehtoranta et al., 2022).

O consumo de alimentos fermentados (kefir, kombucha, kimchi, iogurte, coalhada, picles) gera vários efeitos benéficos para a microbiota humana. Estes alimentos são ricos em bactérias probióticas, como lactobacillus, que melhoram a colonização bacteriana, a imunidade, a defesa contra patógenos.

A administração de probióticos orais reduz o risco de infecções gastrointestinais, urinárias e vaginais. Além disso, há a possibilidade de uso de probióticos intravaginais (prescritos por ginecologista) para redução de vaginoses.

Tratamento da candidíase de repetição

A levedura Candida spp. faz parte da microflora vaginal normal das mulheres. Contudo, um excesso de Candida pode levar ao desenvolvimento de candidíase vulvovaginal, a qual normalmente é resultado de uma perturbação no ecossistema microbiano da paciente.

A candidíase manifesta-se com coceiras intensas, inchaço, manchas vermelhas, corrimento vaginal branco e espesso. Outra doença chata é a hidradenite supurativa. Gera inflamação e causa lesões dolorosas e exsudativas em áreas de glândulas apócrinas densas.

A intervenção nutricional inclui a restrição de carboidratos na dieta. Um estudo de caso mostrou que a dieta cetogênica ajuda no manejo de ambas as doenças. Após 43 dias de dieta os sintomas cessaram (Yar et al., 2022). A dieta cetogênica pode melhorar ou piorar a microbiota. Depende de como ela é feita. Falo mais sobre o tema neste vídeo:

Dieta cetogênica e câncer ginecológico

Alguns tipos de pacientes beneficiam-se grandemente da dieta cetogênica, especialmente aqueles com excesso de peso ou hiperinsulinemia. A dieta cetogênica também parece ser a ideal para certos tipos de câncer, como aqueles de cabeça e pescoço.

Ainda não há consenso em relação à dieta cetogênica no câncer ginecológico. Contudo, uma revisão de 2022 mostrou a importância do consumo de plantas. Nem toda dieta cetogênica é igual, uma dieta rica em bacon é distinta de uma dieta rica em azeite de oliva ou azeitonas. Converse sempre com um nutricionista oncológico sobre o seu caso.

MAIS SOBRE O TEMA:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/