Já chegamos de fábrica com várias programações. Como a programação para crescer até aproximadamente os 20 anos. O envelhecimento também é considerado um processo fisiopatológico geneticamente e epigeneticamente programado, onde o equilíbrio entre alteração e reparo celular define a velocidade do envelhecimento biológico [7]. Os genes influenciam o envelhecimento e a longevidade, incluindo aqueles que regulam a manutenção somática e os sistemas de resposta ao estresse, como observado em síndromes de envelhecimento acelerado como as síndromes de Hutchinson-Gilford e de Werner [8].
O envelhecimento geneticamente programado envolve mecanismos como o encurtamento dos telômeros e o sistema KEAP1-NRF2, que protege contra o estresse oxidativo, conectando influências genéticas e ambientais [5] [6].
Tem gente que dá sorte?
Sim, existem pessoas que possuem uma genética abençoada. Aproximadamente 20% da variação na longevidade é atribuível a fatores genéticos, com maior impacto em idades extremas.
Vários genes estão associados à extensão da vida saudável:
FOXO3 (transcrição de respostas a estresse, reparo de DNA e metabolismo).
SIRT1 (regulação do metabolismo energético, inflamação, senescência).
APOE (metabolismo lipídico e risco de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas).
GHR/IGF-1 (eixo somatotrópico relacionado à resistência ao estresse oxidativo).
BPIFB4 variante associada a longevidade (LAV-BPIFB4) correlaciona-se com menor inflamação, melhor função cardiovascular e resposta imune.
Epigenética e envelhecimento
Epigenética refere-se a modificações que regulam expressão gênica sem alterar a sequência de DNA. Envelhecer envolve mudanças epigenéticas profundas:
Hipometilação global do DNA e hipermetilação em loci específicos.
Perda de heterocromatina e alterações de histonas que desregulam a expressão gênica.
Ativação de elementos transponíveis com impacto negativo na homeostase celular.
Interação entre genética e epigenética
Variações genéticas influenciam o estado epigenético (por exemplo, meQTLs que afetam metilação em genes de regulação).
LAV-BPIFB4 pode modular modificações histônicas e alterar a epigenética em modelos experimentais, incluindo redução da “idade epigenética” em camundongos.
Fatores de estilo de vida
O envelhecer também é influenciado por fatores ambientais, incluindo o estresse oxidativo [1] [2]. A Teoria do Estresse Oxidativo do Envelhecimento (OSTA) postula que o envelhecimento é impulsionado pelo acúmulo de danos oxidativos; no entanto, estudos em camundongos com expressão alterada de antioxidantes frequentemente não mostram alterações na expectativa de vida, mas sim em patologias relacionadas à idade [3] [4].
Alimentação equilibrada, restrição calórica moderada e exercício físico estão associados a padrões epigenéticos mais favoráveis e maior saúde ao longo da vida.
Estresse, tabagismo, sono insuficiente e outros fatores negativos aceleram alterações epigenéticas associadas ao envelhecimento.
As influências ambientais e epigenéticas tornam-se ainda mais predominantes na segunda metade da vida [5]. O exposoma, que engloba todas as exposições ambientais, impacta significativamente o envelhecimento e o surgimento de doenças relacionadas à idade, potencialmente por meio do estresse oxidativo, da inflamação e da modulação epigenética [2]. Por isso, se cuidar muito bem vai influenciará se você chegará ou não aos 80 anos e se ultrapassará esta marca.
Biomarcadores epigenéticos (relógios epigenéticos)
Medidas de metilação em CpGs permitem estimar “idade biológica”, que pode divergir da idade cronológica e correlacionar-se com risco de doenças e mortalidade.
Relógios como PhenoAge, GrimAge e outros aperfeiçoam essa estimativa e ajudam a avaliar intervenções sobre o envelhecimento.
Figura adaptada de Ciaglia et al., 2025
Muitas pessoas assistem vídeos na internet e saem suplementando de tudo, na tentativa de desacelerar o envelhecimento. O próprio David Sinclair já precisou se retratar sobre seus estudos com resveratrol e sirtuínas. O que a ciência aponta hoje é que, se polifenóis como resveratrol ajudarem, provavelmente as concentrações benéficas são baixíssimas, obtidas pela dieta (que é o fator mais importante, junto à atividade física) ou pela suplementação em baixa dose.
Longevidade humana resulta da interação entre genética, alterações epigenéticas e ambiente. Entender esses mecanismos permite identificar alvos para promover envelhecimento saudável e reduzir doenças associadas à idade.
Referências
1) UE Warraich et al. Aging - Oxidative stress, antioxidants and computational modeling. Heliyon (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32509998/
2) MA Kareem et al. The Role of the Exposome in Aging and Age-Related Diseases: A Comprehensive Review. Journal of pharmacy & bioallied sciences (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40511040/
3) YH Edrey et al. Revisiting an age-old question regarding oxidative stress. Free radical biology & medicine (2014). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24704971/
4) AB Salmon et al. Update on the oxidative stress theory of aging: does oxidative stress play a role in aging or healthy aging?. Free radical biology & medicine (2009). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20036736/
5) P Hamet et al. Genes of aging. Metabolism: clinical and experimental (2003). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14577056/
6) D Matsumaru et al. The KEAP1-NRF2 System in Healthy Aging and Longevity. Antioxidants (Basel, Switzerland) (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34943032/
7) RK Mikheev et al. [Molecular and cellular mechanisms of ageing: modern knowledge (literature review)]. Problemy endokrinologii (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37968951/
8) JA Knight et al. The biochemistry of aging. Advances in clinical chemistry (2000). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11040957/
9) A Płóciniczak et al. The Complexity of Oxidative Stress in Human Age-Related Diseases-A Review. Metabolites (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40710578/
10) E Di Carlo et al. Oxidative Stress and Age-Related Tumors. Antioxidants (Basel, Switzerland) (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39334768/
