Fitoquímicos no tratamento da depressão

O artigo Phytochemical constituents as future antidepressants: a comprehensive review (coleta até 2015), traz uma revisão dos fitoquímicos indicados no estudo da depressão, uma das principais causas de incapacidade global. Drogas convencionais têm eficácia, mas acarretam efeitos adversos e baixa adesão. Além disso, após um ano de acompanhamento medicamentos, muitos pacientes sentem-se prontos para o washout.

O "washout" de medicação antidepressiva é o período em que a pessoa começa a reduzir a dose até a interrupção do uso de um antidepressivo para permitir que o organismo elimine completamente a substância antes de iniciar outro tratamento — seja outro antidepressivo, outro tipo de medicação ou uma abordagem terapêutica diferente, como o uso de fitoterápicos.

O estudo busca justamente alternativas naturais: fitoquímicos com potencial antidepressivo ➝ revisando dados pré-clínicos e mecânicos até 2015.

Grupos Químicos com Potencial Antidepressivo

Diversos metabólitos vegetais foram identificados por exibirem atividade antidepressiva em modelos animais (principalmente testes de imobilidade como FST e TST):

  • Fitoquímicos fenólicos: flavonoides (naringenina, quercetina, luteolina, kaempferol), proantocianidinas, coumarinas, lignanas.

  • Alcaloides: berberina, β‑carbolinas, diterpenos alcaloides, piperina.

  • Terpenos e terpenoides: eugenol, ginsenosídeos, sésquiterpenos.

  • Saponinas/triterpenos.

  • Aminas e carboidratos específicos.

Mecanismos de Ação Moleculares

Os principais alvos moleculares pelos quais esses fitoquímicos agem incluem:

Modulação de monoaminas (5‑HT, NA, DA)

  • Naringenina: aumenta serotonina, noradrenalina e BDNF.

  • Piperina: inibe MAO, eleva 5‑HT e BDNF, regula o eixo HPA.

  • Berberina: efeitos serotoninérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos comprovados.

  • Proantocianidinas: aumentam níveis de 5‑HT no cérebro.

Fatores neurotróficos e neurogênese

  • Elevação de BDNF observada com naringenina e piperina, importante para a plasticidade neural.

Eixo HPA e modulação do estresse

  • Vários compostos (piperina, quercetina) atenuam hiperativação do eixo hipotálamo‑pituitária‑adrenal, reduzindo cortisol e comportamentos depressivos.

Anti-inflamação e antioxidantes

  • Quercetina e kaempferol reduzem citocinas pró-inflamatórias (TNF‑α, IL‑6), atuam como antioxidantes, oferecendo neuroproteção.

Outras vias: GABA, glutamato, cálcio

  • Previsões por enriquecimento funcional indicam influência também em sinapses GABAérgicas, glutamatérgicas, e regulação do cálcio celular .

Compostos de Destaque

  • Naringenina: aumento de monoaminas, BDNF e receptores de glicocorticoides.

  • Piperina (da pimenta‑do‑reino): potente inibidor de MAO e modulador do HPA.

  • Berberina: múltiplas vias monoaminérgicas.

  • Quercetinas: efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores.

  • Eugenol, ginsenosídeos, hyperforina (da erva de São João / St John’s wort / Hypericum perforatum), β‑carbolinas, riparinas: cada um com ações específicas em neurotransmissores, BDNF ou eixo HPA.

O Hypericum perforatum (erva-de‑são‑joão) já é aprovado na União Europeia para depressão leve a moderada, atuando via reabsorção de monoaminas, GABA e inibição de MAO.

Limitações e Perspectivas

O estudo fornece um panorama sólido de fitoquímicos promissores em depressão, indicando que compostos como naringenina, piperina, berberina e quercetinas atuam por múltiplas vias (monoaminas, BDNF, HPA, inflamação). No entanto, a tradução para aplicações clínicas exige rigorosos estudos de segurança, eficácia e formulação.

  • A maioria dos dados vem de modelos animais, testes agudos; há falta de dados clínicos adequados.

  • Pode haver variabilidade na biodisponibilidade e toxicidade em humanos.

  • Complexidade dos extratos vegetais torna difícil um único mecanismo principal.

  • A próxima fase deve avançar da pesquisa básica para ensaios controlados em humanos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/