Um estudo inovador publicado na Nature Neuroscience (Yuan et al., 2025) apresenta evidências robustas de que a α‑sinucleína, proteína central na patologia de Parkinson, pode se acumular nos rins, especialmente quando há comprometimento da função renal, e migrar até o sistema nervoso central. Este acúmulo fora do cérebro já havia sido também observado no intestino (Stokholm et al., 2016).
No estudo de 2025 foram encontrados os seguintes achados:
Análises post-mortem em humanos mostraram predominância de formas mal dobradas e fosforiladas de α‑sinucleína em 10 de 11 pacientes com Parkinson ou demência por corpos de Lewy, localizadas em fibras nervosas próximas a pequenos vasos renais.
Pacientes com doença renal crônica (sem sintomas neurológicos) também tinham depósitos renais da proteína pS129 — com sinais precoces no tronco cerebral e medula espinhal.
Rins como órgão de limpeza — e alerta
Em camundongos saudáveis, a α‑sinucleína injetada na corrente sanguínea foi rapidamente removida pelos rins. No entanto, em roedores com insuficiência renal, a proteína persistiu no sangue e acumulou-se nos rins. A enzima cathepsina, presente nos rins, foi apontada como importante na degradação da α‑sinucleína — atividade que diminui com danos renais .
Ao injetar focos de fibrilas de α‑sinucleína diretamente no rim de ratos, observou‑se a propagação da proteína para a medula espinal e diversas regiões cerebrais, resultando em patologia típica de Parkinson e perda de neurónios dopaminérgicos na substância negra. A interrupção cirúrgica dos nervos renais impediu essa propagação, confirmando que o trajeto é nervo-dependente .
Alfa‑sinucleína circulante — mais um vetor
Camundongos geneticamente modificados sem α‑sinucleína nos glóbulos vermelhos apresentaram redução significativa da patologia cerebral e preservação neuronal — reforçando o papel do sangue como via para a proteína.
Caminhos futuros
Avaliar métodos para detectar α‑sinucleína renal como marcador preditivo.
Desenvolver terapias que fortaleçam a função de limpeza renal ou bloqueiem o tráfego da proteína via nervos.
Investigar medicamentos que estimulem as enzimas de degradação ou imunoterapias que eliminem α‑sinucleína circulante, especialmente em pacientes renais.