Há evidências de que o BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Factor) pode estar associado à criatividade, embora de forma indireta e ainda não totalmente compreendida. Vou detalhar como isso pode ocorrer:
1. Papel do BDNF no cérebro
Neuroplasticidade: o BDNF promove crescimento, diferenciação e sobrevivência de neurônios.
Sinaptogênese e PLP (potenciação de longo prazo): facilita a formação e o fortalecimento de sinapses, essenciais para aprendizagem, memória e flexibilidade cognitiva.
Regiões relevantes: especialmente alto no hipocampo, córtex pré-frontal e estriado, áreas ligadas à memória, planejamento, flexibilidade cognitiva e recompensa — todas associadas a aspectos da criatividade.
2. Relação com processos cognitivos ligados à criatividade
Memória associativa: criatividade envolve combinar ideias distantes. O BDNF, ao melhorar plasticidade no hipocampo, favorece a recuperação e recombinação de memórias.
Flexibilidade cognitiva: níveis mais altos de BDNF estão associados a maior capacidade de mudar estratégias cognitivas, algo essencial para pensamento divergente.
Humor e motivação: BDNF também está relacionado à regulação do humor. Estados afetivos positivos (facilitados por bons níveis de BDNF) podem ampliar o pensamento criativo.
3. Evidências indiretas
Meditação e mindfulness: podem aumentar BDNF e, em paralelo, favorecer pensamento criativo.
Exercício físico: aumenta BDNF circulante e no cérebro; também foi associado a maior desempenho em tarefas de criatividade.
Transtornos do humor: baixos níveis de BDNF são encontrados em depressão, condição que frequentemente reduz a flexibilidade cognitiva e pode impactar negativamente a criatividade (embora alguns estados depressivos leves estejam historicamente ligados à produção artística).
Genética: o polimorfismo Val66Met do gene BDNF influencia secreção de BDNF. Alguns estudos sugerem que portadores da variante Met têm diferenças em memória de trabalho e flexibilidade cognitiva, o que pode afetar certos estilos de criatividade.
Mais BDNF → maior plasticidade neural → melhor memória associativa + flexibilidade cognitiva + regulação emocional → maior potencial criativo.
Mas: criatividade é multifatorial — inclui personalidade, ambiente, motivação, experiências culturais — então o BDNF seria apenas um modulador biológico entre muitos.
Por outro lado, uma pessoa pode ser ao mesmo tempo criativa e ansiosa. Na verdade, há bastante pesquisa mostrando que esses dois aspectos podem se sobrepor em alguns contextos. Pessoas criativas tendem a ter alta sensibilidade cognitiva e emocional — notam detalhes, nuances e conexões que outros não percebem. Essa mesma sensibilidade pode facilitar preocupação, ruminação e ansiedade.
Ansiedade como “hiperatenção”
Ansiedade envolve um sistema de hipervigilância (atenção ampliada para riscos). Esse mesmo estado de alerta pode também gerar associações inesperadas ou pensar em múltiplas possibilidades, algo útil em criatividade. Ou seja: a mesma mente que “vê perigos em todo lugar” pode também “ver conexões em todo lugar”.
Ansiedade leve ou moderada pode impulsionar a produtividade criativa (ex.: pressão de prazos, excitação antes de performar).
Há até estudos mostrando que pessoas criativas apresentam maior prevalência de transtornos de humor e ansiedade, mas também maior resiliência em transformar experiências difíceis em produção criativa.
Ansiedade crônica e intensa tende a inibir criatividade, porque reduz a flexibilidade cognitiva e consome energia mental.
Neurobiologia compartilhada: criatividade e ansiedade envolvem a rede default mode (imaginação, simulação mental) e o córtex pré-frontal (controle, planejamento). Dependendo de como essas redes se equilibram, a mesma base neural pode produzir ideias criativas ou preocupações ansiosas.
Fitoterápicos que modulam BDNF
O artigo “Botanicals as Modulators of Neuroplasticity: Focus on BDNF” revisa diversas plantas cujos extratos ou princípios ativos demonstraram aumentar expressão de BDNF (mRNA ou proteína) em modelos animais ou culturais celulares (Sangiovanni et al., 2017).
Óleos essenciais e compostos voláteis
Menos numerosos, mas há alguns estudos interessantes:
Óleos de coníferas: Pinus halepensis e Tetraclinis articulata. Em modelo de Alzheimer em ratos, a inalação desses óleos por 21 dias aumentou expressão de BDNF (especialmente com T. articulata) no hipocampo, junto com melhora de memória e diminuição de marcadores inflamatórios (Postu et al., 2022).
Lavanda (óleo de lavanda): em modelo com corticosterona, uso crônico de óleo de lavanda (“Lavender Essential Oil”, LEO) aumentou níveis de BDNF e melhorou neurogênese e complexidade dendrítica, prevenindo efeitos negativos do corticosterona no comportamento de depressão/ansiedade (Sánchez-Vidaña et al., 2019).
α-pinene, um composto presente em alguns óleos de coníferas/pinheiro: administração por inalação aumentou expressão de BDNF mRNA no cérebro de camundongos, associado a efeitos ansiolíticos-como nos comportamentos em labirinto elevado (Kasuia et al., 2015).
Misturas aromáticas: mistura de óleos de limão e alecrim, lavanda e laranja em modelo de Alzheimer em camundongos também demonstrou aumento de BDNF, além de redução de tau e β-amilóide (Okuda et al., 2020).
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Mecanismos comuns
Os estudos apontam alguns caminhos pelos quais esses fitoterápicos / óleos parecem aumentar o BDNF:
Vias de transcrição via CREB: Muitos compostos ativam a via cAMP/PKA → CREB (cAMP response element-binding protein), que por sua vez induz a expressão de BDNF (Zhang et al., 2019).
Redução de estresse oxidativo e inflamação: menos dano oxidativo/inflamatório permite melhor expressão de fatores neurotróficos como BDNF (Macedo et al., 2025).
Modulação de vias de sinalização downstream de receptor TrkB: ou seja, BDNF ativando seu receptor TrkB, que leva à ativação de via ERK, AKT, mTOR etc., favorecendo sinaptogênese, plasticidade sináptica (Sangiovanni et al., 2017).
Neurogênese / suporte estrutural: aumento de sobrevivência de neurônios, aumento de densidade dendrítica, crescimento de espinhas sinápticas (Sánchez-Vidaña et al., 2019).