Níveis de Niacina em Pacientes com Câncer

Vários estudos investigaram os níveis de niacina em pacientes com câncer, com foco especial naqueles com tipos específicos de câncer ou condições que podem afetar o metabolismo da niacina. Aqui estão os resultados relevantes:

Pacientes com Câncer Carcinoide

Pacientes com câncer carcinoide frequentemente apresentam deficiência de niacina devido ao aumento da síntese de serotonina, que desvia o triptofano da produção de niacina. O tumor carcinoide é um tipo de câncer neuroendócrino que se origina em células produtoras de hormônios encontradas em várias partes do corpo, sendo mais comum no trato gastrointestinal e nos pulmões.

Um estudo constatou que a deficiência bioquímica de niacina foi significativamente mais comum em pacientes com câncer carcinoide e síndrome carcinoide (SCC), com 10 de 36 pacientes apresentando deficiência em comparação aos controles. Este estudo destaca que a deficiência de niacina é prevalente entre esses pacientes, embora não especifique a porcentagem exata de redução nos níveis de niacina [1].

Tumores Neuroendócrinos Produtores de Serotonina

Subtipo de tumor carcinoide que especificamente produzem serotonina. Esses tumores podem causar sintomas típicos da síndrome carcinoide: rubor facial, diarreia, broncoespasmo, entre outros.Em pacientes com tumores neuroendócrinos produtores de serotonina (TNEs), a deficiência de niacina é prevalente.

Um estudo avaliou o estado da niacina antes e depois da suplementação e constatou que os níveis de metabólitos urinários de niacina antes da suplementação foram menores nos pacientes em comparação com controles saudáveis, com 45% dos pacientes apresentando níveis abaixo do normal. A suplementação de niacina normalizou o estado da niacina na maioria dos pacientes com deficiência [2].

Pacientes com Câncer em Nutrição Parenteral

Um estudo envolvendo pacientes com câncer recebendo nutrição parenteral total (NPT) constatou que a deficiência de niacina pareceu ser a mais prevalente, ocorrendo em 40% dos pacientes estudados. Isso sugere que pacientes com câncer em NPT podem apresentar reduções significativas nos níveis de niacina [3].

Esses achados ressaltam a importância do monitoramento e da potencial suplementação de niacina em pacientes com câncer para prevenir complicações relacionadas à deficiência.

Como avaliar niacina?

A melhor forma de avaliar a niacina (vitamina B3) depende do objetivo clínico e do contexto do paciente, mas, em geral, para avaliar o status nutricional ou suspeita de deficiência, a avaliação metabólica urinária (metabolômica) costuma ser mais sensível e específica do que os exames bioquímicos convencionais.

Por que pacientes com câncer podem ter redução de niacina?

  1. Baixa ingestão alimentar: Náuseas, vômitos, anorexia e alterações no paladar são comuns.

  2. Má absorção intestinal: Câncer gastrointestinal ou efeitos da quimioterapia podem prejudicar a absorção.

  3. Aumento da demanda metabólica: O câncer e a resposta inflamatória aumentam o consumo de vitaminas.

  4. Diminuição do triptofano: O triptofano é precursor da niacina. Processos inflamatórios desviam o triptofano para vias inflamatórias (como a via da quinurenina).

  5. Disfunção hepática ou renal: Pode prejudicar a conversão e excreção adequada de metabólitos da niacina.

Prevenção da deficiência

  • Monitorar de perto pacientes em risco (com câncer gastrointestinal, caquexia, radioterapia extensa, má absorção).

  • Dieta rica em niacina: carnes magras, fígado, peixes, leguminosas, grãos integrais e amendoim.

Consequências da deficiência de niacina

A deficiência leve pode ser subclínica, mas quadros moderados a graves levam a:

O que fazer: abordagens clínicas

Reposição nutricional

  • Suplementação oral de niacina: doses variam de 15 mg/dia (profilática) até 100–500 mg/dia em casos de deficiência diagnosticada.

  • Utilizar nicotinamida, que não causa rubor (flushing) como o ácido nicotínico.

  • Em casos graves, pode ser necessário suplementação parenteral ou via sonda.

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Referências

1) GM Shah et al. Biochemical assessment of niacin deficiency among carcinoid cancer patients. The American journal of gastroenterology (2005). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16181385/

2) G Bouma et al. Niacin (Vitamin B3) Supplementation in Patients with Serotonin-Producing Neuroendocrine Tumor. Neuroendocrinology (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26335390/

3) RI Inculet et al. Water-soluble vitamins in cancer patients on parenteral nutrition: a prospective study. JPEN. Journal of parenteral and enteral nutrition (1987). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/3110440/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/