Recomendações Dietéticas para o Manejo da Doença de Crohn

A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal, que pode afetar qualquer parte do sistema digestivo — da boca ao ânus — mas é mais comum no final do intestino delgado (íleo) e no início do intestino grosso (cólon).

Causas da doença de Crohn

A causa exata ainda não é totalmente conhecida, mas envolve uma combinação de fatores:

  • Genéticos – histórico familiar aumenta o risco.

  • Imunológicos – o sistema imunológico ataca erroneamente o trato digestivo.

  • Ambientais – fatores como tabagismo, dieta, estresse e uso de certos medicamentos (como AINEs) podem piorar ou desencadear a doença.

Sintomas comuns

Os sintomas variam dependendo da localização e gravidade da inflamação, mas podem incluir:

  • Dor abdominal (geralmente no lado inferior direito)

  • Diarreia crônica (às vezes com sangue ou muco)

  • Perda de peso

  • Fadiga

  • Febre

  • Fissuras anais ou fístulas

  • Má absorção de nutrientes (em casos mais graves)

Diagnóstico

Geralmente envolve uma combinação de exames:

  • Exames de sangue e fezes (para detectar inflamação e infecção)

  • Endoscopia ou colonoscopia com biópsia

  • Exames de imagem como tomografia ou ressonância magnética

Tratamento

Não há cura definitiva, mas o tratamento busca controlar os sintomas e reduzir a inflamação:

  1. Medicamentos:

    • Anti-inflamatórios (como a mesalazina)

    • Corticoides

    • Imunossupressores (como azatioprina)

    • Biológicos (ex: infliximabe, adalimumabe)

    • Antibióticos (em casos de infecção associada)

  2. Cirurgia:

    • Em casos graves ou complicações (como obstruções, fístulas ou abscessos), pode ser necessária a remoção de partes do intestino.

  3. Estilo de vida:

    • Parar de fumar

    • Controle do estresse

    • Evitar álcool

    • Manter atividade física

  4. Dieta:

Com base nas diretrizes e estudos atuais, as seguintes recomendações dietéticas são eficazes para o manejo da doença de Crohn:

Nutrição Enteral

Recomendada como alternativa aos corticosteroides para induzir a remissão na doença de Crohn. É particularmente benéfica para pacientes com doença leve a moderada e para aqueles que não responderam a terapias biológicas [1] [2].

Dietas de Reintrodução Alimentar

Após o tratamento com nutrição enteral, dietas estruturadas de reintrodução alimentar podem ajudar a manter a remissão. Essas dietas fornecem uma abordagem sistemática para a reintrodução de alimentos [1].

Dietas de Exclusão

A Dieta de Exclusão da Doença de Crohn (CDED) e a Dieta de Carboidratos Específicos (SCD) têm se mostrado promissoras no manejo dos sintomas e no alcance da remissão. Essas dietas se concentram na eliminação de grupos alimentares específicos que podem desencadear os sintomas [3].

Dietas com baixo teor de fibras

Em casos de doença estenosante, recomenda-se uma dieta com baixo teor de fibras para prevenir obstrução mecânica. Fibras alimentares devem ser evitadas durante crises ou quando há estenoses [1].

Dieta Low Fodmap

Estudos indicam que uma dieta com baixo teor de FODMAPs pode melhorar significativamente os sintomas gastrointestinais em pacientes com doença de Crohn (DC). Uma revisão de 12 artigos encontrou evidências substanciais que sustentam a eficácia da LFD no alívio dos sintomas associados à DC [4].

Em um estudo envolvendo pacientes egípcios com DC em remissão, mas apresentando sintomas gastrointestinais funcionais, a dieta low fodmap levou a uma melhora média de 38,45% nos sintomas e melhorou significativamente a qualidade de vida de 90% das participantes do sexo feminino [5].

Foi demonstrado que a alteração da ingestão de FODMAPs afeta a microbiota intestinal em pacientes com DC quiescente. Um ensaio controlado revelou que, embora a abundância bacteriana total tenha permanecido inalterada, a abundância relativa de bactérias benéficas aumentou durante a dieta com baixo teor de FODMAPs, sugerindo um efeito prebiótico [6].

Embora a dieta com baixo teor de FODMAP possa ajudar a controlar os sintomas, é crucial supervisionar sua implementação devido ao risco de deficiências nutricionais, especialmente em pacientes com DC que já podem apresentar desnutrição [7][8].

Dieta carnivora

A dieta carnívora, que consiste principalmente em produtos de origem animal, pode estar alinhada com alguns aspectos das dietas de eliminação, mas carece de pesquisas abrangentes para validar sua eficácia ou segurança para pacientes com Crohn. Falo sobre o tema neste vídeo:

Apesar de ser uma opção para fazer o paciente entrar em remissão, não é uma estratégia a ser utilizada a longo prazo. Não existem outros estudos, nem acompanhamento a longo prazo. Precisa de ajuda para recuperar ou manter a saúde? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Suplementos

As evidências atuais não apoiam o uso de probióticos ou prebióticos para induzir ou manter a remissão na doença de Crohn [1].

A desnutrição é comum na doença de Crohn, afetando até 85% dos pacientes. Deficiências nutricionais, particularmente em relação à anemia e à osteoporose, são prevalentes [9]. Suplementos podem ser necessários.
Há pesquisas em andamento sobre o papel da vitamina D em doenças inflamatórias intestinais, incluindo a doença de Crohn. A suplementação pode ser benéfica, particularmente em pacientes com deficiências [10].

Os ácidos graxos ômega-3 encontrados no óleo de peixe foram revisados ​​por suas propriedades anti-inflamatórias, o que pode ser vantajoso para pacientes com doença de Crohn [11].

A curcumina é um polifenol promissor na redução da atividade da doença em alguns estudos, sugerindo que pode ser benéfico para pacientes com doença de Crohn [12].

Proteína de Soro de Leite e Soja demonstraram afetar positivamente a composição corporal em pacientes com doença de Crohn submetidos a determinadas terapias, potencialmente auxiliando no estado nutricional e no controle da inflamação [13].

Recomenda-se o rastreamento da deficiência de vitamina C, visto que deficiências foram observadas em pacientes com doença de Crohn. A suplementação profilática pode ser benéfica [14]. Precisa de ajuda para recuperar ou manter a saúde? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Referências

1) J Lee et al. British Dietetic Association evidence-based guidelines for the dietary management of Crohn's disease in adults. Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association (2013). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24313460/

2) M Więcek et al. Diet as therapeutic intervention in Crohn's disease. Przeglad gastroenterologiczny (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35664022/

3) FA Cusimano et al. Diet as a treatment for inflammatory bowel disease: is it ready for prime time?. Current opinion in gastroenterology (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35762695/

4) RI Russell et al. Review article: dietary and nutritional management of Crohn's disease. Alimentary pharmacology & therapeutics (1991). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1909585/

5) SL Popa et al. Diet Advice for Crohn's Disease: FODMAP and Beyond. Nutrients (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33291329/

6) MH Elhusseiny et al. Low FODMAP diet in Egyptian patients with Crohn's disease in remission phase with functional gastrointestinal symptoms. JGH open : an open access journal of gastroenterology and hepatology (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30483557/

7) EP Halmos et al. Consistent Prebiotic Effect on Gut Microbiota With Altered FODMAP Intake in Patients with Crohn's Disease: A Randomised, Controlled Cross-Over Trial of Well-Defined Diets. Clinical and translational gastroenterology (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27077959/

8) PR Gibson et al. Use of the low-FODMAP diet in inflammatory bowel disease. Journal of gastroenterology and hepatology (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28244679/

9) MC Lomer et al. Dietary and nutritional considerations for inflammatory bowel disease. The Proceedings of the Nutrition Society (2011). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21450124/

10) A Parian et al. Dietary Supplement Therapies for Inflammatory Bowel Disease: Crohn's Disease and Ulcerative Colitis. Current pharmaceutical design (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26561079/

11) TU Maioli et al. Non-pharmacologic strategies for the management of intestinal inflammation. Biomedicine & Pharmacotherapy (2022). https://doi.org/10.1016/j.biopha.2021.112414

12) B Malinowski et al. The Rundown of Dietary Supplements and Their Effects on Inflammatory Bowel Disease-A Review. Nutrients (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32423084/

13) JF Machado et al. Whey and soy protein supplements changes body composition in patients with Crohn's disease undergoing azathioprine and anti-TNF-alpha therapy. Nutricion hospitalaria (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25795947/

14) BD Linaker et al. Scurvy and vitamin C deficiency in Crohn's disease. Postgraduate medical journal (1979). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/432168/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/