Você já parou para pensar em como o que você come todos os dias pode influenciar diretamente os trilhões de micro-organismos que vivem no seu intestino? O estudo Assessing the Influence of Vegan, Vegetarian and Omnivore Oriented Westernized Dietary Styles on Human Gut Microbiota: A Cross-Sectional Study fez exatamente isso: analisou como diferentes estilos alimentares ocidentais — vegano, vegetariano e onívoro — moldam a nossa microbiota intestinal. E os resultados são surpreendentes.
O objetivo do estudo
O foco principal do estudo foi entender como diferentes padrões alimentares — especialmente em países ocidentais — afetam a composição da microbiota intestinal humana, ou seja, os micro-organismos que habitam o intestino e desempenham papéis essenciais na digestão, imunidade e até na saúde mental.
Como o estudo foi conduzido?
Os pesquisadores realizaram um estudo transversal, com a participação de 260 adultos saudáveis divididos entre veganos, vegetarianos e onívoros, todos residentes na Alemanha. Foram coletadas amostras fecais e questionários dietéticos detalhados.
A metodologia incluiu análises avançadas de sequenciamento do DNA microbiano, permitindo identificar e quantificar as bactérias presentes em cada grupo.
Principais descobertas
Diferenças significativas entre os grupos
A microbiota de veganos e vegetarianos apresentou uma maior diversidade bacteriana — o que geralmente está associado a uma melhor saúde intestinal.
O grupo onívoro mostrou uma composição bacteriana menos variada e maior abundância de bactérias potencialmente inflamatórias.
Presença de bactérias benéficas
Dietas baseadas em vegetais favoreceram o crescimento de gêneros como Prevotella, Roseburia e Faecalibacterium, todos relacionados a efeitos anti-inflamatórios e produção de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato.
Já dietas com maior consumo de carne e gordura animal estavam associadas a bactérias como Bacteroides, que têm relação com inflamação e doenças metabólicas quando em excesso.
Consumo de fibras é chave
Um fator central para essas diferenças foi o consumo de fibras alimentares. Dietas veganas e vegetarianas tendem a ser mais ricas em fibras, o que nutre diretamente as bactérias benéficas do intestino.
Estilo de vida ocidental influencia, mas a dieta é decisiva
Mesmo em contextos ocidentais semelhantes, a escolha alimentar individual se mostrou um dos principais fatores moduladores da microbiota.
Efeitos além do intestino
A microbiota intestinal não afeta apenas a digestão. Os autores destacam que uma flora intestinal mais equilibrada pode influenciar a saúde mental, imunológica e até metabólica. Por isso, entender o impacto da dieta é essencial para a medicina preventiva.
O impacto global da dieta na microbiota intestinal: o que aprendemos com 21 mil pessoas?
Após explorarmos um estudo com 260 adultos na Alemanha, um novo artigo publicado na revista Nature Communications amplia ainda mais o panorama. Com dados de 21.561 indivíduos de 25 países, este estudo global mergulha nas assinaturas da microbiota intestinal associadas a dietas veganas, vegetarianas e onívoras — e os resultados oferecem insights poderosos para a saúde pública e a medicina personalizada (Fackelmann et al., 2025).
Escopo do estudo
Essa pesquisa é uma das maiores análises já realizadas sobre a relação entre dieta e microbioma intestinal. Utilizando dados autodeclarados de dieta e exames microbiológicos de amostras fecais, os autores traçaram um mapa das bactérias intestinais associadas a diferentes padrões alimentares ao redor do mundo.
O que o estudo encontrou?
Assinaturas microbianas distintas por padrão alimentar
Os veganos apresentaram um perfil microbiano significativamente diferente dos onívoros, com aumento de bactérias anti-inflamatórias e produtoras de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato.
Os vegetarianos tinham uma composição intermediária entre veganos e onívoros, reforçando a ideia de que a exclusão parcial de produtos animais já impacta positivamente a microbiota.
Diversidade microbiana: quanto mais plantas, melhor
A diversidade microbiana foi significativamente maior em indivíduos com maior consumo de alimentos de origem vegetal.
Essa diversidade está associada a melhor regulação do sistema imunológico, menor inflamação sistêmica e redução do risco de doenças crônicas.
Associações com desfechos clínicos
A análise também correlacionou os perfis microbianos com marcadores de saúde como IMC, colesterol, glicemia e pressão arterial.
Indivíduos com padrões microbianos mais semelhantes aos dos veganos/vegetarianos apresentaram menores taxas de obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.
Presença de microrganismos protetores
Faecalibacterium prausnitzii, Akkermansia muciniphila e Roseburia spp. foram mais comuns em dietas baseadas em plantas, todas associadas a proteção contra inflamações intestinais e distúrbios metabólicos.
Dados além da dieta: estilo de vida, localização e genética
Embora a dieta tenha sido o principal fator analisado, o estudo controlou variáveis como idade, IMC, uso de antibióticos, nível de atividade física e país de residência. Mesmo com essas diferenças, a dieta continuou sendo o principal modulador da composição microbiana, o que reforça seu papel crucial.
Conectando com o primeiro estudo
O primeiro artigo mostrou como, mesmo dentro de uma população relativamente homogênea (adultos na Alemanha), a dieta já era suficiente para gerar mudanças importantes na microbiota. Este segundo estudo global confirma essas descobertas e vai além, mostrando que as mesmas tendências se repetem em larga escala, mesmo com diferentes culturas, estilos de vida e genéticas.
Conclusão: a ciência confirma — o intestino prefere plantas
Ambos os estudos, em escalas diferentes, convergem em um ponto central: dieta baseada em plantas favorece uma microbiota intestinal mais rica, diversa e funcional. Essa microbiota, por sua vez, está associada a melhores indicadores de saúde, menor risco de doenças metabólicas e inflamatórias, e maior longevidade. Portanto, se você está buscando um estilo de vida mais saudável, a ciência deixa claro: o caminho começa no prato — e passa pelo intestino.
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