Publicado na Diabetology & Metabolic Syndrome (2025), o estudo “Exploring the perceptions of obesity, health habits, stigma, and eating behaviors in Brazil” avaliou mais de 2.500 brasileiros - entre pessoas com obesidade, profissionais de saúde e o público em geral - e revelou falhas importantes na percepção, diagnóstico e cuidado com essa doença crônica.
Apesar de 76% das pessoas entrevistadas reconhecerem a obesidade como uma doença, a maior parte ainda acredita que a perda de peso depende exclusivamente de esforço individual. Essa visão é refletida em números preocupantes:
65% das pessoas com obesidade acreditam que dieta e exercício físico bastam para tratar a condição;
60% relataram ter usado medicamentos para emagrecer sem supervisão médica;
Apenas 5% sabiam que uma redução de 5 a 10% no peso corporal já oferece benefícios clínicos relevantes, como melhora da pressão arterial, da glicemia e do perfil lipídico.
A obesidade é muita doença crônica relacionada a questões emocionais, metabólicas, sociais. O tratamento multidisciplinar é fundamental e pode exigir tratamento endocrinológico, psicológico, psiquiátrico e até cirúrgico. É importante enxergar as diferentes estratégias no contexto amplo do cuidado à obesidade, sem reduzi-la a uma questão de comportamento ou força de vontade. Trata-se de uma doença crônica e complexa, influenciada por fatores genéticos, ambientais e metabólicos. A decisão em relação a cada possível estratégia deve considerar as particularidades de cada pessoa, respeitando sua autonomia e combatendo o estigma ainda presente.
A pesquisa mostrou que 61% das pessoas com obesidade nunca receberam diagnóstico formal, o que revela não apenas uma falha no acolhimento clínico, mas também os efeitos do estigma sobre a busca por ajuda profissional. Muitos evitam procurar atendimento por medo de julgamento, experiências prévias negativas ou por não se verem como “doentes”.
Do ponto de vista dos profissionais de saúde, o estudo também identificou lacunas. Embora 93% concordem que a obesidade é uma doença, cerca de metade admite não se sentir preparada para orientar pacientes com segurança e consistência - o que reforça a necessidade de formação específica e contínua sobre o tema.
Esse panorama reforça um ponto importante: enquanto a obesidade continuar sendo tratada apenas como uma questão de força de vontade ou estilo de vida, milhares de pessoas permanecerão sem diagnóstico, sem acompanhamento adequado e vulneráveis a abordagens ineficazes ou até prejudiciais.
O estigma relacionado à obesidade não é apenas uma questão social ou cultural - ele tem consequências reais e graves para a saúde física e mental das pessoas que vivem com essa doença crônica.
Estudos mostram que o preconceito e a discriminação com base no peso estão associados a pior qualidade de vida, aumento do risco de depressão e ansiedade, menor adesão ao tratamento e até redução da expectativa de vida.
O que é estigma de peso?
Estigma de peso é o preconceito, julgamento ou discriminação que uma pessoa sofre por causa do seu peso corporal. Esse preconceito pode vir de colegas, familiares, profissionais de saúde e até da própria pessoa - quando ela internaliza as mensagens negativas que recebe ao longo da vida.
Impactos do estigma na saúde:
Atraso no diagnóstico: muitas pessoas evitam procurar atendimento médico por medo de serem julgadas.
Tratamento inadequado: Profissionais de saúde, muitas vezes sem perceber, podem oferecer cuidados menos completos, focando apenas no peso e ignorando outros aspectos da saúde.
Aumento do risco de distúrbios alimentares: O estigma pode levar a comportamentos compensatórios prejudiciais, como restrição severa, compulsão alimentar e uso inadequado de medicamentos para emagrecimento.
Piora na saúde mental: Estudos indicam que o estigma está associado a maiores taxas de depressão, ansiedade e baixa autoestima.
Combater o estigma é essencial para o tratamento da obesidade?
A obesidade é uma doença multifatorial e recidivante, que não se resume a peso ou aparência. Tratar essa condição de forma ética e humanizada aumenta as chances de adesão ao tratamento, melhora os resultados clínicos e reduz o sofrimento psicológico.