A perimenopausa é uma fase de transição reprodutiva que envolve alterações hormonais significativas, com sintomas como insônia, ansiedade, depressão, fadiga, ondas de calor e alterações cognitivas. Este artigo destaca como a nutrição personalizada e a medicina de precisão podem auxiliar no manejo desses sintomas, focando em três polimorfismos (COMT, FUT2, MTHFR) genéticos que influenciam a saúde metabólica e hormonal
Polimorfismos são variações na sequência do DNA que ocorrem naturalmente na população. Eles representam diferenças em um único "letra" (nucleotídeo) do código genético — por isso são chamados de SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms).
Imagina que um gene tenha essa sequência de bases nitrogenadas:
...AAGGCT**C**TGA...
Em outra pessoa, o mesmo trecho pode ser:
...AAGGCT**T**TGA...
Essa troca da base C por T é um polimorfismo.
1. Polimorfismo COMT (Catecol-O-Metiltransferase)
COMT é uma enzima que degrada catecolaminas (dopamina, adrenalina) e estrogênios catecólicos. Atua na regulação do humor e do metabolismo de estrógenos.
Polimorfismo chave:
Val158Met (rs4680) – altera a atividade da enzima:
Val/Val (alta atividade): degrada dopamina rapidamente → pode levar a baixos níveis de dopamina → menos resiliência ao estresse, piora do humor.
Alimentação rica em tirosina
Fontes de tirosina: ovos, peixes, peru, amêndoas, sementes de abóbora → aumentam dopamina naturalmente.
Suplementação com tirosina pode ajudar na produção de dopamina.
Chocolate amargo com moderação: pode estimular dopamina (mas cuidado com a ansiedade).
Alimentos ricos em zinco e ferro: essenciais para conversão de neurotransmissores (carne vermelha magra, lentilha, espinafre).
Estratégias para equilíbrio do cortisol: adaptação ao estresse, sono e atividade física moderada.
Met/Met (baixa atividade): degrada lentamente → pode levar a excesso de dopamina e estrogênios tóxicos → maior risco de ansiedade, tensão, enxaqueca, cânceres dependentes de estrogênio.
Priorizar desintoxicação hepática de estrogênios com crucíferos (brócolis, couve) e compostos como DIM e indol-3-carbinol.
Consumir:
Crucíferos: brócolis, couve-flor, couve, rúcula → ajudam a eliminar estrogênio.
Alho, cebola, ovos: ricos em enxofre → suporte à fase 2 da detox hepática.
Chá-verde e cúrcuma: antioxidantes que equilibram a inflamação.
Frutas vermelhas: ricas em polifenóis → proteção contra danos oxidativos do excesso de catecóis.
Evitar xenoestrogênios (plásticos, cosméticos com parabenos).
Aumentar metilação com apoio de B12, B6 e metilfolato.
2. Polimorfismo FUT2 (Fucosiltransferase 2)
Afeta secreção de antígenos no muco intestinal e, portanto, a diversidade do microbioma – essencial para metabolismo estrogênico e imunidade.
Polimorfismo chave:
rs601338 (G428A)
Non-secretoras (AA): menor diversidade intestinal, propensão à disbiose, deficiências de B12, inflamação e risco de doenças autoimunes.
Suplementação com probióticos específicos (Bifidobacterium, Lactobacillus).
Secretoras (AG/GG): microbiota mais diversa, melhor resposta imune e digestiva.
Ingestão de prebióticos (fibras solúveis, inulina).
Checar e corrigir níveis de B12, zinco e ferro.
Alimentação rica em polifenóis (chá verde, frutas vermelhas) e pobre em ultraprocessados.
3. Polimorfismo MTHFR (Metilenotetrahidrofolato Redutase)
Essencial para o ciclo da metilação → produção de neurotransmissores, detox hormonal, síntese de DNA e metabolismo da homocisteína.
Polimorfismos chave:
C677T (rs1801133) e A1298C (rs1801131)
C677T homozigoto (TT): atividade enzimática reduzida em até 70% → maior risco de hiper-homocisteinemia, depressão, problemas vasculares e má detox hormonal.
A1298C: afeta ciclo da metilação com menor impacto que C677T, mas combinados agravam quadro.
Evitar ácido fólico sintético → usar metilfolato (5-MTHF).
Suplementar com B12 metilada, B6 e riboflavina (B2).
Dieta rica em folato natural: vegetais verdes escuros, leguminosas, abacate.
Monitorar níveis de homocisteína e ajustar suporte de cofatores conforme necessário.
Como Interpretar e Integrar os Polimorfismos
Interação entre genes: Polimorfismos não atuam isoladamente. Por exemplo, uma mulher com MTHFR alterado e COMT lenta pode ter dificuldades em eliminar estrogênios, aumentando sintomas como irritabilidade, enxaqueca e risco de câncer.
História clínica + genética = precisão terapêutica. É essencial integrar sintomas, exames laboratoriais e genótipos para direcionar condutas.