De acordo com o artigo “Down syndrome: searching for the genetic culprits” (Disease Models & Mechanisms, Setembro 2011), a síndrome de Down (SD) deve-se à trissomia do cromossoma 21. O cromossomo 21 possui cerca de 310 genes e a trissomia aumenta a expressão dos mesmos, contribuindo para alterações cognitivas, cardíacas, morfológicas, além de aumento do risco de leucemia e Alzheimer.
Estudos em humanos com trissomias parciais indicaram que áreas específicas contribuem para determinados fenótipos (ex. características faciais, hipotonia), sugerindo uma organização regional da trissomia .
Modelos de camundongos mostram que a triplicação de uma “região crítica” isolada não reproduz todos os fenômenos da SD, contrariando a ideia de que poucos genes dominantes sejam responsáveis .
Descobertas importantes
Dyrk1a e cardiopatia congénita: Estudo de janeiro de 2024 identificou o gene Dyrk1a (localizado em Hsa21) como causador de defeitos cardíacos em modelo murino. A inibição farmacológica da enzima DYRK1A reverte parcialmente esses defeitos.
Genes dos recetores de interferon: Um trabalho de 2023 em camundongos (modelo Dp16) demonstrou que quatro receptores extra de interferon, quando triplicados, mediam características cardíacas, craniofaciais e cognitivas. A remoção parcial desses genes melhorou alguns aspetos, mas evidenciou que outros genes também são necessários.
Terapia ao nível de cromossomos: Técnicas em cultura celular, usando o RNA XIST, conseguiram “silenciar” o cromossomo 21 extra in vitro — um passo promissor para investigações futuras.
Estratificação molecular: Um estudo de 2024 identificou subgrupos moleculares distintos em indivíduos com SD, com base em perfis de expressão imune e celular. Isso sugere que tratamentos personalizados poderão ser desenvolvidos no futuro.
Genômica nutricional
Enquanto as terapias genéticas não estão disponíveis podemos lançar mão de terapias nutricionais. Genes são modulados por nutrientes e compostos bioativos. Um exemplo disto é o uso de EGCG para redução da dismorfia facial em pessoas com T21.
O estudo Green tea extracts containing epigallocatechin‑3‑gallate modulate facial development in Down syndrome (Scientific Reports, 25 Fevereiro 2021) teve como objetivo avaliar o potencial terapêutico do extrato de chá verde contendo EGCG (GTE‑EGCG) para atenuar as dismorfologias faciais associadas à síndrome de Down (SD).
Dismorfia facial (ou dismorfologia facial) é o termo dados às alterações na forma, proporção ou simetria do rosto em comparação com o padrão considerado típico para a idade e etnia de uma pessoa. Essas alterações podem ser sutis ou evidentes, e muitas vezes fazem parte de síndromes genéticas ou distúrbios do desenvolvimento, como é o caso da síndrome de Down.
Exemplos comuns de dismorfias faciais incluem:
Rosto mais achatado ou largo que o normal
Hipoplasia maxilar (desenvolvimento incompleto do maxilar)
Ponte nasal baixa ou achatada
Fissuras palpebrais (fendas dos olhos) inclinadas para cima ou para baixo
Orelhas de implantação baixa ou de forma incomum
Macroglossia (língua aumentada)
Prognatismo (mandíbula projetada)
Neste estudo foram acompanhados 287 indivíduos: 63 com SD sem EGCG, 13 com SD com EGCG, 4 mosaicos e 207 controles euploides. O termo "euploide" refere-se a uma pessoa com cariótipo normal, ou seja, com o número padrão de cromossomos — 46 cromossomos em 23 pares, sem nenhuma trissomia (como a do cromossomo 21, que causa a síndrome de Down).
Achados principais
0–3 anos:
Sem uso de EGCG → ~57% das distâncias lineares faciais diferiam dos controles.
Com uso de EGCG → redução para ~25%, ou seja, rosto das crianças com SD tornou-se visivelmente mais semelhante aos rostos euploides.
4–12 anos: tendência menos clara, resultado misto.
13–18 anos: sem melhora, diferenças mantiveram-se em >50% — indicando que janelas de tratamento precoce são essenciais.
Limitações
Estudo observacional, com uso ad libitum (auto-medicação), variando marcas, doses e durações.
Amostra pequena no grupo tratado (n = 13), sem randomização (aleatorização).
Ausência de grupo euploide com tratamento para isolar possíveis efeitos secundários.
Considerações de segurança
Dose crítica: alta dose pode piorar o desenvolvimento facial e ósseo em ambos os modelos - como mostrado em camundongos.
Risco hepático: EGCG em altas doses pode provocar toxicidade — a EFSA recomenda não exceder ~800 mg/dia em adultos. Em geral utiliza-se o máximo de 9 a 10 mg/kg/dia.