O alecrim (Rosmarinus officinalis), tradicionalmente conhecido por seu aroma marcante e uso culinário, vem ganhando destaque na ciência por algo ainda mais surpreendente: seus potenciais efeitos positivos sobre a função cerebral e a saúde cognitiva. Pesquisas recentes – incluindo ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas e meta-análises – vêm explorando como esse fitoterápico pode atuar na melhora da memória, do humor e da atividade cerebral.
Memória: Uma Dose Faz Bem, Mas Cuidado com o Excesso
Um estudo com 28 idosos (média de 75 anos) revelou que uma dose baixa de 750 mg de pó da folha seca de alecrim melhorou significativamente a velocidade da memória em comparação ao placebo (P = 0,01). Curiosamente, a dose mais alta (6.000 mg) teve o efeito oposto, prejudicando o desempenho cognitivo (P < 0,01) [1]. Isso indica que a dosagem é um fator crítico – mais nem sempre é melhor.
Alecrim na Água: Mais Oxigênio para o Cérebro
Outra pesquisa com 80 adultos saudáveis mostrou efeitos positivos do consumo de água com infusão de alecrim. Os participantes apresentaram melhorias sutis na cognição, principalmente durante tarefas que exigiam esforço mental. Isso foi atribuído a uma melhor resposta cerebrovascular – ou seja, maior eficiência na entrega e utilização de oxigênio pelo cérebro [2].
Resultados Promissores em Animais de Laboratório
Uma revisão sistemática com meta-análise de estudos em animais indicou que o extrato de alecrim melhora o desempenho cognitivo tanto em animais saudáveis quanto em modelos com comprometimento cognitivo. O tamanho do efeito foi de 1,19 para animais intactos e 0,57 para os com déficit cognitivo. Ainda assim, os pesquisadores observaram alta heterogeneidade entre os estudos, sugerindo que os efeitos podem variar conforme o protocolo utilizado [3].
Inalando Alecrim: Aromaterapia com Benefícios Cognitivos
O aroma do alecrim também demonstrou ter efeitos mensuráveis. A simples exposição ao cheiro da planta melhorou o desempenho em tarefas de memória e aumentou a sensação de alerta em adultos saudáveis [4]. Um dos mecanismos propostos envolve o composto 1,8-cineol, que é absorvido pela corrente sanguínea e cuja concentração plasmática correlacionou-se com um desempenho cognitivo superior [5].
Evidências no Cérebro: O Que Mostram os Exames de EEG
Estudos com eletroencefalograma (EEG) mostraram aumento na densidade espectral de potência nas faixas de frequência theta, delta e beta após o consumo de alecrim. Esses padrões estão associados à concentração, ao relaxamento e à atividade cognitiva, sugerindo um impacto direto nas funções neurais [6].
Uso Contínuo: Melhora no Humor e na Função Cognitiva
Em um estudo com homens japoneses saudáveis, o consumo contínuo de extrato de alecrim por quatro semanas resultou em melhorias tanto no humor quanto nas funções cognitivas – principalmente entre os participantes que apresentavam níveis mais altos de distúrbios de humor no início do estudo [7].
Os achados indicam que o Rosmarinus officinalis tem potencial como um nootrópico natural – ou seja, uma substância capaz de melhorar o desempenho cognitivo. Seja por meio da ingestão ou da aromaterapia, os benefícios podem incluir melhora na memória, no humor e na atividade cerebral.
Referências
1) A Pengelly et al. Short-term study on the effects of rosemary on cognitive function in an elderly population. Journal of medicinal food (2011). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21877951/
2) M Moss et al. Acute ingestion of rosemary water: Evidence of cognitive and cerebrovascular effects in healthy adults. Journal of psychopharmacology (Oxford, England) (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30318972/
3) SM Hussain et al. Cognition enhancing effect of rosemary (Rosmarinus officinalis L.) in lab animal studies: a systematic review and meta-analysis. Brazilian journal of medical and biological research = Revista brasileira de pesquisas medicas e biologicas (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35170682/
4) M Moss et al. Aromas of rosemary and lavender essential oils differentially affect cognition and mood in healthy adults. The International journal of neuroscience (2003). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12690999/
5) M Moss et al. Plasma 1,8-cineole correlates with cognitive performance following exposure to rosemary essential oil aroma. Therapeutic advances in psychopharmacology (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23983963/
6) A Muduroglu-Kirmizibekmez et al. Investigation of the acute impact of rosemary consumption on brain activity in healthy volunteers. Nutritional neuroscience (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38970803/
7) R Araki et al. Effects of Continuous Intake of Rosemary Extracts on Mental Health in Working Generation Healthy Japanese Men: Post-Hoc Testing of a Randomized Controlled Trial. Nutrients (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33233510/