O artigo de 2017 intitulado "Nutritional Factors Affecting Adult Neurogenesis and Cognitive Function", publicado na revista Advances in Nutrition, oferece uma revisão abrangente sobre como fatores nutricionais influenciam a neurogênese adulta e a função cognitiva, com ênfase especial na região do hipocampo, essencial para a memória e o aprendizado.
Neurogênese Adulta: Importância e Influências
A neurogênese adulta refere-se à geração contínua de novos neurônios a partir de células estaminais neurais (NSCs), principalmente no giro dentado do hipocampo. Este processo é vital para a plasticidade neuronal, manutenção da homeostase cerebral e recuperação de lesões. No entanto, diversos fatores podem modulá-lo:
Fatores Intrínsecos Negativos: O envelhecimento, a neuroinflamação, o estresse oxidativo e lesões cerebrais podem reduzir a neurogênese.
Fatores Extrínsecos Negativos: Estilos de vida pouco saudáveis, como dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares, além do consumo excessivo de álcool e opioides, estão associados à diminuição da neurogénese.
Nutrientes e Compostos que Estimulam a Neurogênese
O artigo destaca vários componentes dietéticos que demonstraram promover a neurogénese e melhorar a função cognitiva:
Polifenóis: Compostos como curcumina (encontrada no açafrão), resveratrol (presente na pele de uvas vermelhas), polifenóis de mirtilo e ácido salviônico possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Estes compostos modulam vias moleculares como SIRT1, Wnt, NF-κB e Nrf2, que estão envolvidas na regulação da neurogênese.
Ácidos Gordos Poli-insaturados (PUFAs): Ácidos como o DHA e o EPA, encontrados em peixes gordos e algumas sementes, são essenciais para a estrutura e função das membranas neuronais. Eles desempenham um papel crucial na plasticidade sináptica, fundamental para o aprendizado e a memória.
Restrição Calórica: Estudos em roedores indicam que a restrição calórica pode aumentar a proliferação de NSCs e a diferenciação neuronal no giro dentado, possivelmente mediada por fatores neurotróficos como o BDNF.
Vitaminas do complexo B: Vitaminas como o folato e a cobalamina (vitamina B12) desempenham papéis cruciais na metilação do DNA e na síntese de neurotransmissores. Deficiências dessas vitaminas podem reduzir a neurogénese e afetar negativamente a função cognitiva.
Nutrientes e Compostos que Prejudicam a Neurogênese
1. Gorduras e Açúcares
Dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares refinados têm sido associadas à diminuição da neurogênese adulta. Esses alimentos podem induzir inflamação e estresse oxidativo, prejudicando a função das células-tronco neurais e a plasticidade sináptica.
2. Descuido durante a gravidez
Dietas maternas ricas em gorduras ou açúcares podem prejudicar a neurogénese no hipocampo dos filhotes, afetando negativamente a memória e o aprendizado. Esses efeitos podem ser mediadores por alterações epigenéticas que influenciam a expressão de genes relacionados à neurogênese (Melgar-Locatelli et al., 2023).
Mecanismos Moleculares Subjacentes
A influência dos nutrientes na neurogênese envolve várias vias moleculares:
BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro): Nutrientes como PUFAs, zinco e polifenóis podem aumentar os níveis de BDNF, promovendo a sobrevivência e diferenciação neuronal.
IGF-1 (Fator de Crescimento Semelhante à Insulina 1): A suplementação com certos nutrientes (DHA, polifenois) pode elevar os níveis de IGF-1 no hipocampo, melhorando a neurogênese e a função cognitiva. Exercícios aeróbicos também aumentam os níveis de IGF-1 circulante.
CREB (Proteína de Ligação ao Elemento de Resposta ao AMP cíclico): Compostos como o resveratrol podem ativar o CREB, promovendo a síntese de BDNF e, consequentemente, a neurogênese.
Implicações para o Envelhecimento e Doenças Neurodegenerativas
A diminuição da neurogênese está associada ao declínio cognitivo relacionado à idade e a doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e risco de depressão e ansiedade (Anaker, & Hen, 2017; Moreno-Jiménez et al., 2019). Estratégias nutricionais que promovem a neurogênese podem, portanto, oferecer abordagens terapêuticas promissoras para preservar a função cognitiva durante o envelhecimento.