O artigo "Inflammation and depression: an evolutionary framework for the role of physical activity and exercise" propõe uma abordagem evolutiva para compreender a ligação entre inflamação, depressão e o papel da atividade física como intervenção terapêutica.
Evolução, Inflamação e Depressão
A depressão pode ser entendida como uma resposta adaptativa evolutiva a ameaças ambientais, como infecções e ferimentos. Em contextos ancestrais, sintomas depressivos — como fadiga, isolamento social e perda de interesse — poderiam ter promovido comportamentos de conservação de energia e evitado riscos adicionais, facilitando a recuperação.
Esses comportamentos estão associados a uma ativação do sistema imunológico, resultando em inflamação. No entanto, no ambiente moderno, caracterizado por estresse crônico e estilos de vida sedentários, essa resposta inflamatória pode tornar-se desregulada, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos depressivos.
A inflamação de baixo grau, caracterizada por níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias como IL-6, TNF-α e PCR, está frequentemente presente em indivíduos com depressão. Essas moléculas inflamatórias podem afetar negativamente a neurotransmissão, a neuroplasticidade e a função do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, mecanismos implicados na patogênese da depressão.
Atividade Física como Modulação Imunológica
A prática regular de exercício físico induz adaptações musculares que promovem um perfil anti-inflamatório sistêmico. Durante o exercício, os músculos esqueléticos liberam miocinas, como a IL-6, que, apesar de inicialmente pró-inflamatória, estimula a produção de citocinas anti-inflamatórias como IL-10 e IL-1ra. Além disso, o exercício reduz a expressão de receptores do tipo Toll (TLR4) e a ativação do inflamassoma NLRP3, diminuindo a produção de IL-1β. Essas mudanças contribuem para a redução da inflamação sistêmica associada à depressão.
A intensidade do exercício influencia a resposta inflamatória e os sintomas depressivos. Estudos indicam que o treinamento físico moderado é eficaz na redução de sintomas depressivos e níveis de TNF-α, sem aumentar o estresse percebido. Por outro lado, exercícios de alta intensidade podem reduzir sintomas depressivos, mas também podem elevar os níveis de IL-6 e TNF-α, além de aumentar o estresse percebido, sugerindo que exercícios moderados podem ser mais benéficos para a saúde mental.
Benefícios Neurobiológicos do Exercício
Além dos efeitos anti-inflamatórios, o exercício físico promove a neurogênese e a plasticidade sináptica, especialmente no hipocampo e no córtex pré-frontal, áreas cerebrais associadas à regulação do humor. O aumento da expressão de fatores neurotróficos, como o BDNF, contribui para a melhoria da função cognitiva e da resiliência ao estresse, desempenhando um papel crucial na recuperação de quadros depressivos.
Assim, o exercício físico regular emerge como uma estratégia terapêutica valiosa no manejo da depressão, alinhando-se às necessidades biológicas humanas moldadas ao longo da evolução.