A sinergia entre saúde mental e saúde cerebral

A ilustração abaixo representa a complexidade e a interconexão entre saúde mental e saúde cerebral, destacando os múltiplos fatores que contribuem para ambas.

No centro da imagem está o cérebro humano, simbolizando o ponto de convergência entre dois grandes domínios:

  • Saúde mental (acima do cérebro)

  • Saúde cerebral (abaixo do cérebro)

Ambas são influenciadas por uma rede interligada de fatores biológicos, sociais e ambientais que são representados ao redor.

O lado esquerdo da imagem foca nos fatores comportamentais, sociais e genéticos que influenciam o cérebro e a mente, agrupados nas seguintes categorias:

1. Social, cognitive, and affective impairments:

  • Interação social

  • Emoções

  • Cognição

2. Lifestyle choices (escolhas de estilo de vida):

  • Sono

  • Exercício físico

  • Alimentação

3. Genética:

  • Genes

  • CNVs (Variações no número de cópias de genes)

  • PRS (Pontuações de risco poligênico)

  • Epigenética

4. Estresse:

  • Um fator crítico que interage com todos os anteriores, afetando profundamente o funcionamento cerebral.

Esses componentes contribuem para prejuízos que afetam tanto a saúde mental quanto a saúde do cérebro.

O lado direito da imagem explora os fatores externos e biológicos compartilhados que afetam o cérebro, incluindo:

Exposoma e determinantes sociais

  • Discriminação

  • Desigualdades socioeconômicas

  • Poluentes

Mecanismos patofisiológicos compartilhados

  • Estresse celular

  • Microbioma

  • Inflamação

  • Sobrecarga alostática (desgaste do corpo por estresse crônico)

Modelos neurocognitivos

São explicações — modelos teóricos ou computacionais que buscam descrever e prever como o cérebro funciona e como certas alterações podem levar a sintomas mentais ou neurológicos.

  • Sobrecarga alostática: descreve como o estresse crônico desgasta o sistema corporal e cerebral

  • Codificação preditiva: É um modelo que explica o cérebro como um “órgão de previsão” que constantemente compara expectativas com a realidade sensorial. Explica como alterações nesse sistema de previsão poderiam gerar sintomas como delírios, hipersensibilidade ou ansiedade.

O artigo defende que:

Doenças mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia e autismo não podem ser separadas das condições neurológicas, como AVC, epilepsia ou neurodegeneração. Há mecanismos comuns e fatores compartilhados que tornam artificial essa separação. A ciência e a medicina devem integrar essas duas áreas para promover uma abordagem mais holística e eficaz.

Sinergia entre Saúde Mental e Saúde Cerebral: Uma Abordagem Holística

Se você estiver atuando em ambiente clínico, pesquisa ou até em políticas públicas, esse modelo integrado é muito utilizado em áreas como psiquiatria funcional, saúde mental integrativa e terapia informada pela neuropsicologia.

Por exemplo, podemos usar imagens cerebrais e biomarcadores (como fMRI, qEEG, SPECT) para entender como o funcionamento cerebral se relaciona com os sintomas mentais. Isso muda o modelo de “o que há de errado com você?” para “o que está acontecendo com o seu cérebro?”.

Entender o que acontece no cérebro permite a adaptação de intervenções com base nos padrões neurais — por exemplo, hiperatividade na amígdala pode sugerir tratamentos focados em trauma ou ansiedade.

As novas abordagens combinam o modelo biopsicossocial tradicional com insights neurobiológicos:

  • Bio: Nutrição, inflamação, equilíbrio hormonal, eixo intestino-cérebro.

  • Psico: Terapia cognitivo-comportamental, terapias para traumas, trabalho narrativo.

  • Social: Relações, ambiente, comunidade.

  • Neuro: Circuitos cerebrais, sistemas de neurotransmissores, neuroplasticidade.

Podemos pensar em uma psiquiatria do estilo de vida, que promove mudanças de estilo de vida que beneficiam tanto a saúde mental quanto a cerebral:

  • Exercício físico: Aumenta o BDNF, ajuda na depressão e ansiedade.

  • Higiene do sono: Essencial para regulação emocional, memória e "limpeza" cerebral.

  • Nutrição: Dietas anti-inflamatórias, ômega-3 e saúde intestinal.

  • Mindfulness e meditação: Comprovadamente fortalecem o córtex pré-frontal e acalmam o sistema límbico.

As estratégias acima devem ser combinados com psicoeducação para ajudar os pacientes a entenderem seus transtornos com base no funcionamento cerebral — não apenas como falhas psicológicas. Isso reduz o estigma e empodera o processo de recuperação.

É importante enfatizar que o cérebro é plástico, pode mudar, por meio de terapia, aprendizado, ambiente, hábitos e, quando necessário, medicamentos, neurofeedback, treinamento cognitivo, etc.

Psiquiatria de Precisão

Mais informações permitem que abandonemos a abordagem de tentativa e erro na medicação, integrando:

  • Farmacogenética

  • Nutrigenética

  • Metabolômica

  • Exames de imagem cerebral

  • Fenotipagem digital (ex.: rastreamento de sono, humor e comportamento por apps ou dispositivos).

Estes rastreamentos também permitem a identificação precoce de riscos, antes mesmo que os sintomas apareçam como transtornos completos. Equipes multidisciplinares constituídas por psiquiatras, neurologistas, psicólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais são altamente valorizadas pois o trabalho conjunto permite uma abordagem mais abrangente, precisa e eficaz.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/