Ortorexia: as expectativas irreais em relação à dieta

O interesse pela dieta para prevenção de doenças e longevidade cresce cada vez mais. Muitas pessoas começam dietas com nenhum ou pouco conhecimento e até sem necessidade, de forma autoprescrita (sem acompanhamento profissional).

Com as terapias dietéticas se tornando mais comuns, o uso indevido e a incompreensão de seu papel como tratamento são generalizados. Alguns pacientes têm expectativas irrealistas do que a dieta pode oferecer e até mesmo percepção alterada do que é considerado um sintoma (por exemplo, considerando a variação intestinal normal da constipação ou diarreia), e há um equívoco comum de que a comida é uma causa, em vez de um tratamento para a maioria dos problemas de saúde.

Um exagero disso é a ortorexia, uma condição na qual o paciente evita alimentos específicos na crença de que serão prejudiciais. Pacientes com ortorexia sempre atribuirão seus sintomas à comida. Por exemplo, a síndrome do intestino irritável é influenciada por alterações na tireoide, diabetes, sedentarismo, estresse, ansiedade e não só pela alimentação. Mas, Pacientes com ortorexia atribuem tudo à dieta e tornam-se neuróticos, restringindo uma série de alimentos.

A obsessão pela dieta saudável pode revelar uma desordem psiquiátrica. Se não há alimentos consideráveis saudáveis a pessoa pira, se come um bombonzinho uma vez por ano se mata de culpa, se pune. As consequências desse extremismo podem incluir doenças, carências de nutrientes, desnutrição, estresse físico e mental. O problema, claro, não é se alimentar de forma saudável mas sim como isto está influenciando sua saúde.

A alimentação deve ser fonte de prazer e saúde e não de estresse e doença. Para saber se os cuidados estão sendo excessivos preste atenção em sinais clínicos como queda de cabelo, problemas de pele, funcionamento intestinal, nervosismo, falta de energia, tristeza, angústia, medos desproporcionais (de desenvolver diabetes, de ter câncer, de infartar, de morrer) depressão, ansiedade.

Também observe o impacto que a dieta tem na sua vida social. Você deixa de fazer as coisas que ama, de estar próximo das pessoas que mais te fazem bem para não sair da dieta? Como isso influencia sua vida/suas emoções/sua felicidade? O alimento controla seu dia inteiro? Você dorme pensando no que irá comer no café da manhã? Toma café da manhã já preocupado com a refeição do resto do dia e onde conseguirá todos os alimentos saudáveis que precisa? Passa fome se não houverem opções que você considera saudáveis disponíveis à mesa? Você julga o que os outros comem?

Um estudo mostrou que pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) acreditam que a dieta desempenha um papel significativo na patogênese de sua doença e na exacerbação de seus sintomas. Eles frequentemente adotam dietas restritivas que podem levar à desnutrição, ansiedade e estresse. Estudos recentes encontraram uma correlação entre DII e transtornos alimentares, como anorexia nervosa e ARFID (Transtorno de Ingestão Alimentar Restritiva Evitativa) e até 77% desenvolviam ortorexia (avaliada pelo questionário padronizado de Donini ORTO-15).

Em geral, os seres humanos podem prosperar com dietas muito diferentes. A pessoa que viveu até os 90 anos em Minas Gerais consumiu durante a vida uma dieta bem diferente da pessoa que viveu até os 90 anos no Japão. Quando estamos saudáveis somos adaptáveis e podemos acomodar nossas preferências em um plano alimentar nutritivo. Em caso de doença, procure um profissional habilitado. Temos data de validade e a opção de colocarmos em nossa boca coisas que alimentam tanto nosso corpo, quanto nossa alma.

Pessoas em sofrimento devem buscar acompanhamento especializado, de psicólogo, psiquiatra e nutricionista. A terapia é unida ao aconselhamento nutricional, abordagem que ajuda o paciente a repensar a alimentação, fugindo de dietas rigorosas, respeitando desejos, preferências, emoções, cultura e regionalidade.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/