Genética e detox de metais pesados

O processo de desintoxicação de metais pesados no corpo humano é complexo e envolve várias enzimas e proteínas que atuam nas duas fases de desintoxicação: Fase 1 (Fase de modificação) e Fase 2 (Fase de conjugação). Esses processos ajudam a transformar e eliminar substâncias tóxicas, como metais pesados (mercúrio, chumbo, arsênico, cádmio), que podem ser prejudiciais à saúde.

Principais genes envolvidos na desintoxicação de metais pesados

Fase 1 - Fase de Modificação (Metabolismo de Substâncias)

Enzimas do fígado, como as citocromo P450 (CYPs), alteram os metais pesados e outras toxinas, tornando-os mais reativos e mais fáceis de serem conjugados na fase 2.

1. CYP1A1 (Citocromo P450 1A1)

O gene CYP1A1 codifica uma enzima do sistema CYP450, envolvida no metabolismo de xenobióticos (substâncias estranhas ao corpo) e metais pesados. Atua na oxidação de substâncias lipofílicas, tornando-as mais reativas para que possam ser processadas na fase 2.

2. CYP2E1 (Citocromo P450 2E1)

O gene CYP2E1 codifica enzima que desempenha papel crucial no metabolismo de metais pesados e toxinas ambientais. Está envolvido na metabolização de compostos como o álcool, mas também influencia a detoxificação de mercúrio e tolueno.

3. CYP3A4 (Citocromo P450 3A4)

O gene CYP3A4 é uma das enzimas mais abundantes no fígado e está envolvido na metabolização de muitos compostos tóxicos, incluindo alguns metais pesados. Ajuda na oxidação de substâncias que serão posteriormente conjugadas na fase 2.

4. NADPH Quinona Redutase (NQO1)

O gene NQO1 codifica uma enzima que ajuda a reduzir compostos reativos durante a fase 1 da desintoxicação, protegendo o corpo de danos oxidativos que podem ocorrer durante o metabolismo de metais pesados.

Fase 2 - Fase de Conjugação (Fase de Eliminação)

Aqui, os metabólitos reativos produzidos na fase 1 são conjugados a grupos moleculares que tornam os compostos mais solúveis em água, facilitando sua excreção pela urina ou bile.

1. GST (Glutationa S-transferase)

O gene GST codifica uma família de enzimas, sendo as mais relevantes GSTM1, GSTT1, e GSTP1. Essas enzimas desempenham um papel essencial na conjugação de toxinas com glutationa (um antioxidante). A glutationa se liga a metais pesados, como mercúrio, arsênico e cádmio, tornando-os mais fáceis de serem excretados.

2. SULT (Sulfo Transferase)

  • O gene SULT codifica enzimas responsáveis pela sulfatação, um tipo de conjugação que permite a eliminação de metais pesados e outras toxinas.

  • As sulfotransferases ajudam a adicionar grupos sulfato a substâncias, tornando-as solúveis em água e permitindo sua excreção.

3. UGT (UDP-glucuronosiltransferase)

  • O gene UGT codifica enzimas responsáveis pela glucuronidação, um processo que adiciona o ácido glucurônico a substâncias lipofílicas, tornando-as hidrossolúveis e prontas para excreção.

  • Essas enzimas ajudam na detoxificação de metais pesados e outras toxinas, como produtos de degradação de hormônios.

4. MTP (Metalothioneína)

  • O gene MTP codifica a metalotioneína, uma proteína que se liga a metais pesados como cádmio, mercúrio e cobre, ajudando a armazená-los de forma segura no corpo até que possam ser eliminados.

  • A metalotioneína tem um papel essencial na proteção celular contra a toxicidade dos metais pesados.

5. ABCC (Proteínas ABC de Transporte)

  • Os genes da família ABCC (também conhecidos como MDRs, como ABCC1, ABCC2) codificam transportadores envolvidos na excreção de toxinas e metais pesados pelas células.

  • Essas proteínas ajudam a transportar substâncias conjugadas (como glutationa) para fora das células, facilitando sua eliminação.

Outros Genes Importantes para a Detoxificação de Metais Pesados

1. SOD (Superóxido Dismutase)

  • O gene SOD codifica enzimas antioxidantes que protegem as células contra os danos oxidativos causados pelo metabolismo de toxinas e metais pesados.

2. GCLC (Glutamato Cisteína Ligase Catalítica)

  • O gene GCLC participa da síntese de glutationa, um importante antioxidante envolvido tanto nas fases 1 quanto 2 da desintoxicação de metais pesados.

A detoxificação de metais pesados envolve uma rede complexa de genes e enzimas que atuam para metabolizar, transformar e eliminar esses compostos do corpo. Em resumo:

  • Fase 1 envolve genes como CYP450, NQO1 e outros que oxidam e modificam toxinas.

  • Fase 2 envolve GST, UGT, SULT, e outras enzimas que conjugam os produtos da fase 1 para facilitar sua excreção.

Genética, dieta e estilo de vida saudável desempenham papéis importantes na eficácia dessas vias de desintoxicação. A personalização do tratamento e da exposição a metais pesados pode ser baseada em fatores genéticos individuais.

Potencializando a genética

Potencializar a ação de genes envolvidos na desintoxicação de metais pesados é fundamental para melhorar a capacidade do corpo de lidar com toxinas e substâncias prejudiciais. Isso é especialmente relevante se você tiver polimorfismos genéticos que afetam o funcionamento dessas vias de detoxificação. Abaixo, discutirei formas de potencializar essas vias tanto para a fase 1 (modificação) quanto para a fase 2 (conjugação) da desintoxicação, além de como lidar com polimorfismos genéticos.

Fase 1 - Fase de Modificação (Metabolismo de Substâncias)

1. CYP450 (Citocromo P450)

O sistema CYP450 é responsável pela oxidação de muitas toxinas, incluindo metais pesados. Se você possui variantes genéticas desfavoráveis nos genes CYP1A1, CYP2E1, ou CYP3A4, o processo de detoxificação pode ser menos eficiente. Algumas formas de potencializar a ação do CYP450 incluem:

  • Dieta rica em antioxidantes: Alimentos ricos em vitamina C, vitamina E, selênio, zinco e polifenóis (presentes em frutas como maçãs, morangos, e chá verde) ajudam a reduzir os danos oxidativos durante o metabolismo das toxinas, facilitando a função das enzimas CYP450.

  • Compostos naturais que induzem o CYP450: Alguns compostos podem ajudar a aumentar a atividade das enzimas do CYP450, como o brócolis, couve e mostarda, que contêm compostos chamados indóis, conhecidos por aumentar a atividade de algumas enzimas do CYP450.

  • Exposição ao sol: A exposição à luz solar pode ativar certas enzimas CYP450 no fígado.

2. NQO1 (NADPH Quinona Redutase 1)

A enzima NQO1 ajuda a reduzir compostos reativos e a proteger as células de danos oxidativos. Polimorfismos em NQO1 podem levar a uma redução da atividade dessa enzima. Para potencializar o funcionamento do NQO1, considere:

  • Consumo de alimentos ricos em antioxidantes: Como frutas vermelhas, couve, abacate, e citrus. Eles ajudam a reduzir os danos oxidativos causados pelos metabólitos reativos.

  • Suplementação de Coenzima Q10: Este antioxidante pode ajudar a melhorar a função do NQO1.

  • Açafrão (curcumina): O composto ativo do açafrão, a curcumina, tem mostrado potencial para melhorar a atividade de NQO1.

Fase 2 - Fase de Conjugação (Fase de Eliminação)

1. GST (Glutationa S-transferase)

A glutationa S-transferase é uma das enzimas mais importantes da fase 2 de desintoxicação. Ela ajuda a conjugação de metais pesados com glutationa, tornando-os mais fáceis de excretar. Polimorfismos nos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 podem afetar a função da GST.

O aumento da produção de glutationa envolve:

  • Alimentos ricos em enxofre como alho, cebola, brócolis, e couve ajudam na síntese de glutationa, essencial para a ação das GST.

  • Suplementação de N-acetilcisteína (NAC): precursor direto da glutationa e pode aumentar seus níveis no corpo, potencializando a detoxificação.

  • Vitamina C: ajuda a regenerar a glutationa, promovendo uma desintoxicação mais eficiente.

  • Outros antioxidantes: além da vitamina C, considere vitamina E, selênio, zinco e manganês, pois ajudam a reduzir o estresse oxidativo e apoiar o funcionamento da glutationa.

2. UGT (UDP-glucuronosiltransferase)

As enzimas UGT fazem a glucuronidação, um processo que torna as substâncias mais solúveis em água, permitindo sua excreção. Polimorfismos genéticos podem afetar a eficiência desse processo. Para otimizar a função das UGTs:

  • Consumo de alimentos ricos em flavonoides: Como citrus, frutas vermelhas, e chá verde. Os flavonoides aumentam a atividade de UGT, melhorando a capacidade de conjugação e eliminação de toxinas.

  • Açafrão (Curcumina): A curcumina também tem mostrado efeitos benéficos sobre a atividade das UGTs.

  • Vitaminas B12 e B9: Esses nutrientes são importantes para a metilação e podem ajudar a melhorar a detoxificação.

3. SULT (Sulfo Transferase)

As sulfotransferases ajudam na conjugação de compostos com sulfato, facilitando sua eliminação. O gene SULT1A1, por exemplo, tem polimorfismos que podem afetar a eficiência da sulfatação. Para otimizar essa enzima:

  • Alimentos ricos em enxofre (como alho, cebola e couve) são benéficos, já que o enxofre é essencial para a sulfatação.

  • Suplementação de glicina: A glicina é um aminoácido que pode ajudar na sulfatação.

4. Metalotioneína (MTP)

A metalotioneína se liga a metais pesados como cádmio, mercúrio, e arsênico, ajudando na sua desintoxicação e armazenamento. Para potencializar a ação da metalotioneína:

  • Consumo de zinco e selênio: O zinco é um cofator essencial para a síntese de metalotioneína. Alimentos como castanhas, sementes e mariscos são fontes ricas de zinco.

  • Suplementação de selênio: O selênio é importante para a proteção contra os danos de metais pesados, especialmente o mercúrio.

5. Transportadores ABC (ABCC)

Os transportadores ABC ajudam a excretar substâncias conjugadas (como glutationa) para fora das células. Para otimizar sua função:

  • Compostos naturais como quercetina (encontrada em cebolas e maçãs) podem aumentar a função dos transportadores ABC.

  • Prática regular de exercícios físicos pode melhorar a atividade dos transportadores ABC.

Ações Gerais para Potencializar a Detoxificação

Além das abordagens específicas para cada fase, algumas estratégias gerais podem ajudar a melhorar a capacidade do corpo de se desintoxicar de metais pesados, especialmente em caso de polimorfismos:

  1. Alimentação saudável e balanceada: Priorizar uma dieta rica em antioxidantes, fibra e compostos bioativos que promovem a desintoxicação.

  2. Hidratação adequada: A ingestão de água limpa ajuda a eliminar toxinas através da urina e da transpiração.

  3. Exercícios físicos regulares: Aumentam a circulação e ajudam a eliminar toxinas através da transpiração e do sistema linfático.

  4. Suplementação: Caso indicado por um profissional de saúde, pode-se fazer uso de suplementos de NAC, vitamina C, vitamina E, zinco, selênio, e antioxidantes que aumentam as enzimas de detoxificação.

  5. Sauna: é mais que suar, é uma estratégia que melhora a função cardiovascular, ativa proteínas de choque térmico para reparo celular, reduz inflamação, alivia dor, melhora humor.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/