Passos no tratamento nutricional das enxaquecas

A enxaqueca é um distúrbio neurológico muito comum, com uma prevalência de aproximadamente 16,2%. É classificada por dores de cabeça recorrentes moderadas a intensas, com ou sem aura, muitas vezes durando entre 4 e 27 horas, com muitos sintomas associados, incluindo náuseas, vômitos e sensibilidade a vários estímulos ambientais.

Embora os mecanismos exatos ainda não sejam totalmente compreendidos, alterações na excitabilidade do sistema nervoso central, despolarização neuronal espontânea, problemas na tireoide, disbiose intestinal e funcionamento anormal das mitocôndrias têm sido associadas às enxaquecas. Como o glutamato é o neurotransmissor excitatório mais abundante, ele está frequentemente ligado a discussões etiológicas, de prevenção e de tratamento relacionadas às enxaquecas.

8 passos no tratamento nutricional das enxaquecas

1. Manejar o estresse - As pessoas que sofrem de enxaqueca têm os estímulos elétricos mais intensos, por isso têm um cérebro mais sensível a tudo. O cérebro processa as emoções, os sentimentos, a dor e os estímulos externos, como barulho, som e luz, de forma mais intensa, por isso, é comum quem sofre de enxaqueca ter depressão ou ansiedade, justamente por causa dessa sensibilidade emocional ser maior. O manejo do estresse pode envolver psicoterapia, atividade física, mudança de rotinas, uso de adaptógenos, como Rhodiola rosea, Whitania somnifera e Bacopa monnieri. O manejo do estresse também é importante para manter a microbiota intestinal em equilíbrio, evitando-se a disbiose.

2. Tratar o intestino - Existem relações diretas e indiretas entre a enxaqueca e o eixo intestino-cérebro. Esta inter-relação parece ser influenciada por múltiplos fatores, tais como mediadores inflamatórios, perfil da microbiota intestinal, neuropeptídeos, hormônios do estresse, nutrientes e pós-bióticos. Explico o programa de tratamento da disbiose intestinal em meu curso online. Aqui você tem um resumo:

3. Estabilizar a glicemia - a hiperglicemia (níveis elevados de açúcar no sangue) pode causar dores de cabeça devido a alterações hormonais (que podem causar constrição dos vasos sanguíneos no cérebro) ou desidratação. Quando o açúcar no sangue está muito alto, seu corpo tenta compensar livrando o corpo do açúcar extra através da urina. O excesso de micção pode causar desidratação, o que pode resultar em dores de cabeça.

4. Reduzir estresse oxidativo - O estresse oxidativo é transduzido em um sinal neural pelo canal iônico TRPA1 nos receptores da dor meníngea, provocando inflamação neurogênica, um evento chave na enxaqueca. Assim, as enxaquecas podem ser uma resposta ao estresse oxidativo cerebral. Para reduzir o estresse oxidativo, reduza açúcar na dieta, previna infecções e trate doenças, reduza o contato com toxinas (cigarro, álcool, poluição, plásticos, tintas, metais pesados), consuma uma dieta rica em antioxidantes, presentes em alimentos como chá verde, açafrão, cacau, frutas cítricas, alho, cebola roxa, ervas (salsinha, cebolinha, hortelã, sálvia, orégano), condimentos (canela, cravo, gengibre…).

5. Manter peso saudável - a enxaqueca têm sido associada a excesso de peso ou de gordura corporal. Atividade física e alimentação balanceada são importantes para a redução das enxaquecas (Di Vincenzo et al., 2020; Rivera-Mancilla et al., 2021).

6. Excluir alimentos desencadeantes - A nutrição é um fator ambiental amplamente discutido que pode afetar o curso da enxaqueca. Foi identificada uma longa lista de alimentos envolvidos no mecanismo da enxaqueca, como chocolate, frutas cítricas, nozes, sorvete, tomate, cebola, laticínios, bebidas alcoólicas, café, cafeína, glutamato monossódico, histamina, tiramina, feniletilamina, nitritos, aspartame, sucralose e glúten. Alguns alimentos ou ingredientes podem desencadear dores de cabeça apenas em subgrupos de pacientes (por exemplo, grupos celíacos), enquanto outros podem causar enxaquecas em caso de abstinência (como a cafeína). A exclusão dos alimentos desencadeantes contribui para a diminuição da inflamação.

7. Fornecer ao cérebro fontes alternativas de energia - existem evidências fortes de que as enxaquecas associam-se à disfunção mitocondrial e deficiência energética cerebral. Nos últimos anos, o uso de dietas ricas em gordura e com baixo teor de carboidratos ganhou popularidade como um possível tratamento para a enxaqueca. O Grupo Internacional de Estudo da Dieta Cetogênica cita a enxaqueca como uma das doenças neurológicas que podem potencialmente se beneficiar do tratamento dietético cetogênico. As terapias dietéticas cetogênicas podem afetar a enxaqueca de várias maneiras: (i) substituindo o combustível cerebral da glicose por corpos cetônicos; (ii) através da influência positiva da cetose sistêmica nas vias da fisiopatologia da enxaqueca, como redução da neuroinflamação; (iii) como moléculas sinalizadoras, os corpos cetônicos poderiam aumentar o funcionamento mitocondrial, reduzir o estresse oxidativo, alterar a excitabilidade cerebral, alterar a depressão disseminada cortical, reduzir a inflamação sistêmica e alterar o microbioma intestinal. Para atingir cetose sistêmica elevada, é necessário seguir uma dieta rica em gordura, moderada em proteínas e muito pobre em carboidratos, como a dieta cetogênica clássica com proporções cetogênicas de 3:1 ou 4:1 (Neri et al., 2023). Para auxiliar a entrada em cetose podemos também suplementar TCM, cetonas exógenas, carnitina ou mesmo butirato (derivado de uma microbiota diversa).

8. Corrigir carência nutricionais - vitaminas do complexo B (especialmente B2, mas todas são importantes), ômega-3 e magnésio são apenas alguns dos nutrientes necessários ao bom funcionamento cerebral. O magnésio, por exemplo, tem sido uma opção de tratamento proposta para enxaquecas devido ao seu bloqueio do receptor glutamatérgico N-metil-d-aspartato (NMDA), um receptor conhecido por ser um contribuinte ativo para a transmissão da dor e depressão disseminada cortical. O magnésio também é conhecido por ser um fator metabólico chave no funcionamento mitocondrial. Além disso, o magnésio inibe a ativação do sistema trigêmino-vascular. A deficiência de magnésio é comum e pesquisas mostraram que níveis significativamente mais baixos de magnésio podem ser encontrados no soro, saliva, cabelo e líquido cefalorraquidiano de indivíduos com enxaqueca durante e entre as crises. Outro suplemento interessante é a coenzima Q10 para melhorar o funcionamento mitocondrial.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/