Disbiose intestinal e intolerância à histamina

Reações adversas aos alimentos incluem qualquer tipo de reação anormal relacionada à ingestão de comida. Incluem:

  • Reação alérgica: resposta inadequada do sistema imunológico a um antígeno (na maioria dos casos de natureza proteica) presente em alimentos, que é acompanhada por mecanismos imunológicos IgE ou não IgE (celulares). Sua prevalência cumulativa é de 3–6%, aparecendo muito mais frequentemente em crianças. O teste de anticorpos IgG ou IgA de alimentos não é de importância clínica fundamental para o diagnóstico. Os níveis desses anticorpos podem refletir um distúrbio de permeabilidade intestinal, independentemente de sua origem, que geralmente é pós-infecciosa. Uma forma específica de reação alimentar adversa com característica imunopatológica é a doença celíaca, na qual a disposição genética e as influências epigenéticas levam a reações imunológicas adversas.

  • Intolerância alimentar: resposta anormal não imunológica do organismo à ingestão de alimentos ou seus componentes em uma dosagem normalmente tolerada. É ao mesmo tempo um termo simplificado para hipersensibilidade alimentar não alérgica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A hipersensibilidade alimentar está entre as reações indesejáveis aos alimentos que ocorrem com mais frequência . Ela afeta de 15 a 20% da população e pode ser o resultado dos efeitos farmacológicos dos ingredientes alimentares, sensibilidade ao glúten não celíaca ou mau funcionamento de enzima(s) ou proteínas de transporte. O diagnóstico é difícil. Um exemplo é a intolerância à histamina.

Intolerância à histamina

A histamina é um mediador do sistema neuro-imuno-endócrino. Influencia funções fisiológicas de vários tecidos e células, incluindo a imunidade. No organismo, a síntese é feita pela descarboixilação do aminoácido L-histidina pela enzima L-histidina descarboxilase. É armazenada nos mastócitos e basófilos, além de células enterocromafins. Quando liberada media respostas inflamatórias, vasodilatação, produção de ácido clorídrico, secreções no sistema respiratório. No sistema nervoso influencia a termorregulação, o estado de alerta, o apetite, funções cognitivas e comportamentais.

A meia-vida da histamina no plasma é curta, alguns minutos e a quantidade de histamina circulante é controlada principalmente geneticamente. Contudo, também há influência do estado nutricional e fisiopatológico, da microbiota intestinal e do uso de medicamentos e drogas.

A intolerância à histamina inclui um conjunto de reações indesejáveis como resultado da histamina acumulada ou ingerida na alimentação. Quando o excesso de histamina é gerado pelo alimento também usa-se o termo “reações adversas à histamina ingerida”.

A intolerância à histamina é acompanhada por diminuição da atividade da enzima DAO, levando a um aumento da concentração de histamina no plasma e ao surgimento de reações adversas. Em algumas publicações, o estado de diminuição da atividade da DAO é referido como deficiência de DAO. A deficiência da enzima pode ser de origem genética, patológica ou farmacológica.

A função da diamina oxidase (DAO) no enterócito (Hrubisko et al., 2021)

A gota vermelha com a letra H mostra a histamina liberada de dos alimentos. A membrana basolateral cria uma barreira e a histamina obtida do alimento é metabolizada pela enzima DAO (a gota vermelha com H com um contorno verde). Mas, dependendo da atividade individual da DAO, determinada geneticamente, da quantidade de histamina consumida, do estado fisiológico do organismo, da permeabilidade intestinal e do consumo de álcool, outras aminas biogênicas (presentes na banana, kiwi, frutas cítricas, soja, castanhas) e ingestão de medicamentos uma quantidade significativa de histamina pode passar à corrente sanguínea.

Os sintomas de intolerância à histamina incluem rubor, coceira, náuseas, vômitos e dores abdominais, rinite, dispneia, hipotensão, vertigem, taquicardia, dentre outros.

A dificuldade do diagnóstico está na inconstância dos sintomas e variedade de manifestações no mesmo indivíduos após estímulos semelhantes. Além disso, outras doenças podem causar uma variedade dos mesmos sintomas como tumores neuroendórinos, urticária, úlcera péptica, refluxo, doenças inflamatórias intestinais, desordens do metabolismo dos carboidratos, etc.

A intolerância à histamina é diferente da intoxicação momentânea por histamina. Na intolerância a quantidade de histamina circulante é muito menor do que na intoxicação que acontece, por exemplo, após o consumo excessivo de peixes como atum, cavala e arenque. As manifestações de intoxicação por histamina podem incluir erupção cutânea, dor abdominal, vômito, diarreia e falta de ar e, eventualmente, até morte.

Tratamento da intolerância histamínica

O tratamento da intolerância histamínica envolve a eliminaçao de aimentos ricos em histamina normalmente por 10 a 14 dias (podendo chegar a 2 meses), seguida por uma fase de reintrodução gradual dos alimentos removidos. Nas duas fases, recomenda-se o uso da enzima DAO exógena antes das refeições principais (em geral, 3 vezes ao dia) (Sánchez-Pérez et al., 2022a). A suplementação de vitamina C, cobre e B6 também é considerada em outros estudos.

Também é importante tratar a disbiose intestinal, comum em pacientes com intolerância histamínica (Sánchez-Pérez et al., 2022b) e pode causar dor abdominal (de Palma et al.., 2022). A suplementação com microrganismos probióticos pode levar a tais modulações do microbioma que reduziriam a produção da enzima microbiana L-histidina descarboxilase. A pré-condição, portanto, é a administração de cepas que não produzem L-histidina descarboxilase. Em um caso ideal, essas seriam cepas capazes de degradar histamina e outras aminas biogênicas.

Cerca de 117 bactérias, em 7 filos principais, são produtoras de histamina (Mou et al., 2021) e a tabela abaixo mostra as principais:

Bactérias produtoras de histamina (Hrubisko et al., 2021)

A modulação da microbiota é uma área promissora de pesquisa (Fiorani et al., 2023). Aprenda mais sobre o tema aqui. E ainda assim, se estas estratégias forem insuficientes para a remissão dos sintomas, outros profissionais deverão ser consultados para avaliação de colite e outras doenças. Medicamentos anti-histamínicos podem ser usados por tempo limitado.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/