Não confunda neolamarckismo com epigenética

Ouvi um professor falando em aula que a epigenética é um tipo de neolamarckismo ou comprova esta teoria. Discordo. O neolamarckismo e a epigenética são dois conceitos que, à primeira vista, podem parecer conectados, mas que possuem nuances e implicações distintas na compreensão da evolução.

Neolamarckismo: Uma Teoria Histórica

A teoria de Jean-Baptiste Lamarck, um naturalista francês, postulava que os organismos poderiam transmitir para seus descendentes características que adquiriram durante a vida, em resposta a necessidades ambientais. Por exemplo, uma girafa esticando o pescoço para alcançar folhas altas transmitiria essa característica para seus filhotes, que nasceriam com pescoços mais longos.

A teoria de Lamarck foi amplamente rejeitada após o surgimento da teoria da evolução por seleção natural de Darwin, que enfatiza a importância das mutações aleatórias e da seleção natural na evolução.

O neolamarckismo tentou reviver e modificar algumas das ideias de Jean-Baptiste Lamarck, um naturalista francês conhecido por sua teoria da evolução baseada na "herança dos caracteres adquiridos".

Os neolamarckistas acreditam que os organismos podem adquirir novas características como resposta direta às condições ambientais, e que essas características podem ser herdadas pelas gerações seguintes. No entanto, o neolamarckismo busca reconciliar essa ideia com novas descobertas científicas, embora geralmente sem sucesso no campo da biologia moderna.

A teoria foi rapidamente eclipsada pela genética mendeliana e pela síntese moderna da evolução, que explicam a herança através dos genes e da seleção natural. No entanto, em algumas áreas, como na epigenética, há estudos que mostram que certas mudanças na expressão gênica, influenciadas pelo ambiente, podem afetar a descendência, o que levou alguns a reconsiderar aspectos da herança lamarckiana, embora em um contexto completamente diferente do original.

Epigenética: Uma Nova Perspectiva

A epigenética estuda as mudanças hereditárias na atividade dos genes que não envolvem alterações na sequência do DNA. Essas modificações podem ser influenciadas por fatores ambientais e podem ser transmitidas para as próximas gerações.

  • Mecanismos epigenéticos: Mecanismos como a metilação do DNA e as modificações nas histonas podem afetar a expressão gênica sem alterar a sequência de bases nitrogenadas do DNA.

  • Implicações para a evolução: A epigenética abre novas perspectivas para entender como o ambiente pode influenciar a evolução, mas não representa um retorno ao lamarckismo clássico.

Relação entre Neolamarckismo e Epigenética

  • Semelhanças aparentes: Tanto o neolamarckismo quanto a epigenética envolvem a ideia de que características adquiridas durante a vida podem ser transmitidas para as próximas gerações.

  • Diferenças cruciais: A epigenética não desafia o dogma central da biologia molecular (DNA → RNA → proteína), pois as mudanças epigenéticas não alteram a sequência do DNA. Além disso, a epigenética não implica que os organismos possam direcionar a ocorrência de mutações específicas em resposta a necessidades ambientais.

Ao meu ver, a epigenética não é um retorno ao lamarckismo. Embora ofereça um mecanismo pelo qual o ambiente pode influenciar a hereditariedade, ela não desafia a teoria da evolução por seleção natural. Fornece um mecanismo adicional para entender como a variabilidade genética pode surgir e como o ambiente pode influenciar a expressão gênica.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/